sábado, 18 de abril de 2015

BILIONÁRIA RAINHA TEM FORTUNA PARA TIRAR ANGOLA DA CRISE



Folha 8 (ao) – 18 abril 2015

A filha primo­génita do Presidente da Repú­blica, José Eduardo dos Santos tem um capital acumulado, não se sabendo como, mas, caladamente, sabendo-se, capaz de garantir uma saí­da de Angola da alegada crise. Era e é uma sobera­na oportunidade de, por livre iniciativa, Isabel dos Santos devolver ao país, o que lhe terá tirado de forma ilícita e por tráfico de influência, numa clara violação ao n.º 2 do art.23.º (CRA) “Ninguém pode ser prejudicado, PRIVILEGIA­DO, privado de qualquer direito ou isento de qual­quer dever em razão da sua ASCENDÊNCIA, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local de nascimento, religião, convicções po­líticas, ideológicas ou filo­sóficas, grau de instrução, condição económica ou social ou profissão”.

No caso da princesa, pou­cos podem ter dúvidas, da sua fortuna não advir da privilegiada ascendência, pa­ternal.., pois assim não fosse e teríamos ainda, a primeira zungueira mulata a rasgar a cidade de Luanda, para, como gosta de afirmar, ven­der ovos de ouro.

Desde 2008 que a rainha santa Isabel dos Santos tem vindo a acumular um autêntico império em Por­tugal. Nada de anormal. O facto de ser filha do Presi­dente de Angola, no poder desde 1979 sem nunca ter sido nominalmente eleito, é perfeitamente irrelevan­te para a multiplicação dos ovos de ouro.

Segundo o Diário Econó­mico, a esposa de Sindi­ka Dokolo, recentemen­te medalha de ouro das “olimpíadas” demagógicas da Câmara Municipal do Porto, tem investimentos directos na banca, nas tele­comunicações, na energia e no imobiliário, e indirectos em quase tudo o resto. Diz o jornal que já investiu um total de três mil milhões de euros em Portugal.

A próxima chocadeira de­verá ser a compra de uma participação maioritária na Efacec Power Solutions pela módica quantia de 200 milhões de euros. Isabel dos Santos, indiferente à crise petrolífera do país onde o seu pai é rei, continua a não ter dificuldades em desco­brir onde chocar os ovos de ouro.

Admitem os observadores que, ao comprar a Efacec, a rainha santa pretende transportar o centro de gravidade da multinacio­nal para Angola, benefi­ciando das competências de engenharia do grupo que também actua nos sec­tores da energia, ambiente, serviços e transportes em vários países africanos, americanos e asiáticos.

O ASSALTO AOS BANCOS

E porque Isabel não põe os ovos todos numa úni­ca chocadeira, no que à banca diz respeito, Isabel dos Santos detém 19% do BPI e 42% no BIC. Caso se concretize a OPA dos espanhóis sobre o BPI – a empresária opõe-se ao negócio com o CaixaBank – Isabel dos Santos pode­rá sair do BPI e, segundo o Económico, investir noutros bancos, como o Millennium BCP ou o Ba­nif. E só a participação de Isabel dos Santos no BPI, à cotação actual, vale 406 milhões de euros.

Nas telecomunicações, Isa­bel dos Santos é parceira da Sonae na ZOPT, holding que é dona da NOS, valen­do hoje a sua participação na empresa cerca de 875 milhões de euros. Na ener­gia, a filha do presidente vitalício de Angola detém 45% do capital da Amorim Energia, que por sua vez tem 38,4% da Galp. A po­sição indirecta da empre­sária na maior petrolífera portuguesa pode valer-lhe 1,6 milhões.

Feitas as contas, as partici­pações de Isabel dos San­tos em empresas cotadas em Portugal valem cerca de três mil milhões de eu­ros, somando-se ainda, diz o Económico, os investimentos pessoais da empre­sária no sector imobiliário.

Nascida em 1973 em Baku (Azerbaijão, ex-União das Repúblicas Socialistas So­viéticas, a URSS), Isabel é a primeira filha de José Eduardo dos Santos, um presidente que é um sério candidato a um qualquer Prémio Nobel e, igualmen­te, uma figura cuja visão é muito superior – segundo os seus súbditos – a Amíl­car Cabral e Nelson Man­dela.

Perante a separação dos pais (a mãe é a jogadora de xadrez russa Tatiana Kukanova), Isabel foi viver com a mãe em Londres, onde estudou engenharia no King’s College, e co­nheceu seu futuro marido, Sindika Dokolo, com quem se casou em 2002.

MIAMI BEACH UM BAR PARA O DISFARCE

Nessa época, contam os cronistas do reino, Isabel abriu o seu primeiro ne­gócio, um bar na baía de Luanda, o Miami. Terá sido nos recantos desse negócio que descobriu a mina ou chocadeira que a transformaria na mulher mais rica do continente africano… e arredores.

Os cronistas anti-regime (leia-se defensores de um Estado de Direito) falam que o autor do milagre é, isso sim, o seu pai que, no uso dos seus poderes (que gosta de dizer que são democráticos), tem uma comissão em tudo quanto envolva dinheiro. Ainda no dia 14.04, foi notícia que todos os investimentos superiores a 10 milhões de dólares serão exclusivamente tramitados pelo Presidente da República.

A ideologia socialista/co­munista de Eduardo dos Santos só durou até o final dos anos 1990, altura em que já tinha quase 20 anos de comando do regime. Foi então que, por obra divina, abraçou o capitalismo e começou a assinar con­tratos de concessão com o capital privado estrangeiro para a exploração dos ines­gotáveis recursos naturais que deveriam ser de todos mas que, obviamente, pas­saram a ser seus e dos seus comparsas.

Por alguma razão, afirmam os cronistas anti-regime, cerca de 70% da popula­ção sobreviva com menos de dois dólares por dia e, segundo a organização Transparency Internatio­nal, no mundo há apenas 10 países mais corruptos do que Angola (posição 168 no ranking entre os 178 países analisados).

Passada a fase do bar, Isa­bel entra de alma, coração e tudo o mais no negócio dos diamantes. O presi­dente reestrutura a Endia­ma, empresa estatal para a exploração de diamantes e esta cria uma empresa de lapidação dos mesmos, aparecendo a sua filha como proprietária de 25% da sociedade.

OS GRANDES NEGÓCIOS

Por outro lado, já incapaz de dar luz ao seu Povo, muito menos – como ou­trora – ao mundo, Portugal regressa em força a Ango­la. Foi o caso do “desco­bridor” Américo Amorim que, a bordo de uma lucra­tiva nau de cortiça, conse­gue que Eduardo dos San­tos conceda uma licença a um banco privado, o BIC. E, na velha tradição, Isa­bel dos Santos lá aparece com 25%. E, ganhando-lhe o gosto, Isabel leva tudo à sua frente.

Isabel dos Santos, como bem defendem os cronis­tas e arautos do regime, rejeita as insinuações de que os seus negócios estão muito relacionados com a presidência vitalícia do seu pai. Faz sentido. Importa não esquecer que, como ela disse ao “Financial Ti­mes”, aos seis anos de ida­de vendia ovos como uma qualquer zungueira dos nossos dias.

O seu marido, o tal a quem o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, atri­buiu a medalha de ouro da cidade, é mais assertivo quando fala da Isabel: “É muito tranquila e muito estável, gosta de ter uma perspectiva a longo prazo. Possui três qualidades que a transformam na grande força de Angola: autocon­fiança, estabilidade e am­bição.”

Enquanto isso, no final do século passado nasceu, obviamente por decreto presidencial, a primeira operadora de telecomuni­cações privada de Angola, a Unitel. Em 2001, entrou no negócio de telefonia móvel, já com 25% nas mãos de Isabel dos Santos. Apenas um ano depois, a Portugal Telecom (PT) pagou uma batelada de di­nheiro para ficar com 25% da empresa angolana.

A Unitel é a maior opera­dora privada de Angola, com mais de 10 milhões de clientes, quase metade da população, e com lucros elevados.

Recentemente aporta nas praias lusitanas a Terra Peregrin, a empresa que Isabel dos Santos usou para lançar a OPA (Ofer­ta Pública de Aquisição) à PT SGPS. Foi criada no dia 7 de Novembro de 2014 e tem um capital social de 51 mil euros.

Alguns supostos especia­listas portugueses reve­laram, indignados, que a Terra Peregrin possui dois administradores, Isabel dos Santos e Mário Leite, o homem forte da filha do Presidente para os ne­gócios em Portugal, e que o capital social é ridículo tento em conta que ofere­ceu 1,21 mil milhões de eu­ros pela Portugal Telecom, 1,35 euros por acção.

Ao que parece, os areópa­gos políticos e jornalísticos de Lisboa estão a duvidar da sustentabilidade finan­ceira da Terra Peregrin (pelo seu parco capital social, 51 mil euros), bem como da sua idoneidade empresarial, por ter sido fundada há poucos dias.

Ledo engano. Dinheiro é coisa que não falta a Isabel dos Santos. Para ela tanto faz ter um capital social de 51 mil euros, 510 mil, ou cinco milhões. O montan­te foi escolhido por que era suficiente para mexer com as águas putrefactas em que se encontra a PT.

Quanto a ser uma empre­sa recente, não parece ser um argumento válido. Em Angola, por exemplo, até seria possível à filha do Presidente avançar com uma empresa a constituir futuramente.

Além disso, como cortina de fumo (espesso e opaco) foi uma jogada de mestre. Enquanto o pessoal anda entretido com estas his­tórias de embalar (tolos, sipaios e similares), Isabel está calmamente a prepa­rar outras jogadas, outras compras. É só esperar.


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