Folha
8 (ao) – 18 abril 2015
A
filha primogénita do Presidente da República, José Eduardo dos Santos tem um
capital acumulado, não se sabendo como, mas, caladamente, sabendo-se, capaz de
garantir uma saída de Angola da alegada crise. Era e é uma soberana
oportunidade de, por livre iniciativa, Isabel dos Santos devolver ao país, o
que lhe terá tirado de forma ilícita e por tráfico de influência, numa clara
violação ao n.º 2 do art.23.º (CRA) “Ninguém pode ser prejudicado, PRIVILEGIADO,
privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da sua
ASCENDÊNCIA, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local de nascimento,
religião, convicções políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de instrução,
condição económica ou social ou profissão”.
No
caso da princesa, poucos podem ter dúvidas, da sua fortuna não advir da privilegiada ascendência, paternal.., pois assim não fosse e teríamos ainda, a primeira
zungueira mulata a rasgar a cidade de Luanda, para, como gosta de afirmar, vender
ovos de ouro.
Desde
2008 que a rainha santa Isabel dos Santos tem vindo a acumular um autêntico
império em Portugal. Nada de anormal. O facto de ser filha do Presidente de
Angola, no poder desde 1979 sem nunca ter sido nominalmente eleito, é
perfeitamente irrelevante para a multiplicação dos ovos de ouro.
Segundo
o Diário Económico, a esposa de Sindika Dokolo, recentemente medalha de ouro
das “olimpíadas” demagógicas da Câmara Municipal do Porto, tem investimentos
directos na banca, nas telecomunicações, na energia e no imobiliário, e
indirectos em quase tudo o resto. Diz o jornal que já investiu um total de três
mil milhões de euros em Portugal.
A
próxima chocadeira deverá ser a compra de uma participação maioritária na
Efacec Power Solutions pela módica quantia de 200 milhões de euros. Isabel dos
Santos, indiferente à crise petrolífera do país onde o seu pai é rei, continua
a não ter dificuldades em descobrir onde chocar os ovos de ouro.
Admitem
os observadores que, ao comprar a Efacec, a rainha santa pretende transportar o
centro de gravidade da multinacional para Angola, beneficiando das
competências de engenharia do grupo que também actua nos sectores da energia,
ambiente, serviços e transportes em vários países africanos, americanos e
asiáticos.
O
ASSALTO AOS
BANCOS
E
porque Isabel não põe os ovos todos numa única chocadeira, no que à banca diz
respeito, Isabel dos Santos detém 19% do BPI e 42% no BIC. Caso se concretize a
OPA dos espanhóis sobre o BPI – a empresária opõe-se ao negócio com o CaixaBank
– Isabel dos Santos poderá sair do BPI e, segundo o Económico, investir
noutros bancos, como o Millennium BCP ou o Banif. E só a participação de
Isabel dos Santos no BPI, à cotação actual, vale 406 milhões de euros.
Nas
telecomunicações, Isabel dos Santos é parceira da Sonae na ZOPT, holding que é
dona da NOS, valendo hoje a sua participação na empresa cerca de 875 milhões
de euros. Na energia, a filha do presidente vitalício de Angola detém 45% do
capital da Amorim Energia, que por sua vez tem 38,4% da Galp. A posição
indirecta da empresária na maior petrolífera portuguesa pode valer-lhe 1,6
milhões.
Feitas
as contas, as participações de Isabel dos Santos em empresas cotadas em
Portugal valem cerca de três mil milhões de euros, somando-se ainda, diz o
Económico, os investimentos pessoais da empresária no sector imobiliário.
Nascida
em 1973 em Baku (Azerbaijão, ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a
URSS), Isabel é a primeira filha de José Eduardo dos Santos, um presidente que
é um sério candidato a um qualquer Prémio Nobel e, igualmente, uma figura cuja
visão é muito superior – segundo os seus súbditos – a Amílcar Cabral e Nelson
Mandela.
Perante
a separação dos pais (a mãe é a jogadora de xadrez russa Tatiana Kukanova),
Isabel foi viver com a mãe em Londres, onde estudou engenharia no King’s
College, e conheceu seu futuro marido, Sindika Dokolo, com quem se casou em
2002.
MIAMI
BEACH UM BAR PARA O DISFARCE
Nessa
época, contam os cronistas do reino, Isabel abriu o seu primeiro negócio, um
bar na baía de Luanda, o Miami. Terá sido nos recantos desse negócio que
descobriu a mina ou chocadeira que a transformaria na mulher mais rica do
continente africano… e arredores.
Os
cronistas anti-regime (leia-se defensores de um Estado de Direito) falam que o
autor do milagre é, isso sim, o seu pai que, no uso dos seus poderes (que gosta
de dizer que são democráticos), tem uma comissão em tudo quanto envolva
dinheiro. Ainda no dia 14.04, foi notícia que todos os investimentos superiores
a 10 milhões de dólares serão exclusivamente tramitados pelo Presidente da
República.
A
ideologia socialista/comunista de Eduardo dos Santos só durou até o final dos
anos 1990, altura em que já tinha quase 20 anos de comando do regime. Foi então
que, por obra divina, abraçou o capitalismo e começou a assinar contratos de
concessão com o capital privado estrangeiro para a exploração dos inesgotáveis
recursos naturais que deveriam ser de todos mas que, obviamente, passaram a
ser seus e dos seus comparsas.
Por
alguma razão, afirmam os cronistas anti-regime, cerca de 70% da população
sobreviva com menos de dois dólares por dia e, segundo a organização
Transparency International, no mundo há apenas 10 países mais corruptos do que
Angola (posição 168 no ranking entre os 178 países analisados).
Passada
a fase do bar, Isabel entra de alma, coração e tudo o mais no negócio dos
diamantes. O presidente reestrutura a Endiama, empresa estatal para a
exploração de diamantes e esta cria uma empresa de lapidação dos mesmos,
aparecendo a sua filha como proprietária de 25% da sociedade.
OS
GRANDES NEGÓCIOS
Por
outro lado, já incapaz de dar luz ao seu Povo, muito menos – como outrora – ao
mundo, Portugal regressa em força a Angola. Foi o caso do “descobridor”
Américo Amorim que, a bordo de uma lucrativa nau de cortiça, consegue que
Eduardo dos Santos conceda uma licença a um banco privado, o BIC. E, na velha
tradição, Isabel dos Santos lá aparece com 25%. E, ganhando-lhe o gosto,
Isabel leva tudo à sua frente.
Isabel
dos Santos, como bem defendem os cronistas e arautos do regime, rejeita as
insinuações de que os seus negócios estão muito relacionados com a presidência
vitalícia do seu pai. Faz sentido. Importa não esquecer que, como ela disse ao
“Financial Times”, aos seis anos de idade vendia ovos como uma qualquer
zungueira dos nossos dias.
O
seu marido, o tal a quem o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, atribuiu
a medalha de ouro da cidade, é mais assertivo quando fala da Isabel: “É muito
tranquila e muito estável, gosta de ter uma perspectiva a longo prazo. Possui
três qualidades que a transformam na grande força de Angola: autoconfiança,
estabilidade e ambição.”
Enquanto
isso, no final do século passado nasceu, obviamente por decreto presidencial, a
primeira operadora de telecomunicações privada de Angola, a Unitel. Em 2001,
entrou no negócio de telefonia móvel, já com 25% nas mãos de Isabel dos Santos.
Apenas um ano depois, a Portugal Telecom (PT) pagou uma batelada de dinheiro
para ficar com 25% da empresa angolana.
A
Unitel é a maior operadora privada de Angola, com mais de 10 milhões de
clientes, quase metade da população, e com lucros elevados.
Recentemente
aporta nas praias lusitanas a Terra Peregrin, a empresa que Isabel dos Santos
usou para lançar a OPA (Oferta Pública de Aquisição) à PT SGPS. Foi criada no
dia 7 de Novembro de 2014 e tem um capital social de 51 mil euros.
Alguns
supostos especialistas portugueses revelaram, indignados, que a Terra
Peregrin possui dois administradores, Isabel dos Santos e Mário Leite, o homem
forte da filha do Presidente para os negócios em Portugal, e que o capital
social é ridículo tento em conta que ofereceu 1,21 mil milhões de euros pela
Portugal Telecom, 1,35 euros por acção.
Ao
que parece, os areópagos políticos e jornalísticos de Lisboa estão a duvidar
da sustentabilidade financeira da Terra Peregrin (pelo seu parco capital
social, 51 mil euros), bem como da sua idoneidade empresarial, por ter sido
fundada há poucos dias.
Ledo
engano. Dinheiro é coisa que não falta a Isabel dos Santos. Para ela tanto faz
ter um capital social de 51 mil euros, 510 mil, ou cinco milhões. O montante
foi escolhido por que era suficiente para mexer com as águas putrefactas em que
se encontra a PT.
Quanto
a ser uma empresa recente, não parece ser um argumento válido. Em Angola, por
exemplo, até seria possível à filha do Presidente avançar com uma empresa a
constituir futuramente.
Além
disso, como cortina de fumo (espesso e opaco) foi uma jogada de mestre.
Enquanto o pessoal anda entretido com estas histórias de embalar (tolos,
sipaios e similares), Isabel está calmamente a preparar outras jogadas, outras
compras. É só esperar.
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