Adérito
Caldeira – Verdade (mz)
Na
sequência da onda de ataques contra imigrantes que não cessam na África do Sul
- apesar dos apelos do Presidente Jacob Zuma, da acção da Polícia e do repúdio
da maioria dos sul-africanos -, alguns cidadãos moçambicanos começam a boicotar
a presença de sul-africanos no país.
Nesta
quarta-feira (15) os trabalhadores moçambicanos, de uma empresa que presta
serviços de construção à Vale Moçambique em Moatize, na província central de
Tete, paralisaram as suas actividades exigindo que os seus colegas de nacionalidade
sul-africana abandonassem Moçambique, numa aparente retaliação aos ataques
xenófobos de que os compatriotas têm sido vítimas.
Ainda
na quarta-feira (15) mais de uma centena de trabalhadores de nacionalidade
sul-africana abandonaram o local e foram alojados na cidade de Tete. A
interrupção laboral continuou durante a manhã desta quinta-feira (16) enquanto
a direcção da empresa, através do diálogo, procurava encontrar uma solução para
o diferendo.
Mais
a sul, na província de Inhambane, trabalhadores sul-africanos que prestam
serviços à empresa Sasol, que explora gás natural em Temane, foram confrontados
com um cartaz, quando entravam para a faina, que os questionava: “Porquê a
xenofobia?”.
A
situação ficou tensa mas não houve nenhum tipo de violência. A maioria dos
trabalhadores de nacionalidade sul-africana teve de abandonar as instalações.
Um pequeno grupo de trabalhadores sul-africanos, que ocupam cargos de chefia,
permaneceu no local.
Em
Maputo o Presidente Filipe Nyusi voltou a condenar a onda de xenofobia na
África do Sul e garantiu o apoio do Governo aos imigrantes afectados.
"Assistimos com grande preocupação e angústia ao sofrimento dos nossos
concidadãos, que estão a ser vítimas de actos de xenofobia no país irmão.
Renovamos a nossa solidariedade com as famílias enlutadas afectadas, perante as
vítimas e as suas famílias no país. Quero manifestar a determinação do meu
Governo de tudo fazer para mitigar o sofrimento desses nossos irmãos
prestando-lhes toda a assistência necessária", assegurou o Presidente de
Moçambique.
Repatriamento
começou
Entretanto
nesta quinta-feira (16) começaram a regressar ao país alguns dos imigrantes que
estavam refugiados em campos criados pelo Governo sul-africano nos arredores da
cidade de Durban. Autocarros e camiões foram mobilizados para transportar pelo
menos 90 cidadãos, e também os seus parcos haveres que conseguiram salvar dos
vândalos, que deverão ser acomodados, temporariamente, num centro de trânsito
criado pelo Governo em Boane, na província de Maputo.
O
director para os Assuntos Jurídicos e Consulares da diplomacia moçambicana,
Fernando Manhiça, em declarações à agência Lusa, afastou a existência de
vítimas mortais moçambicanas nesta nova crise xenófoba, referindo que dos dois
casos noticiados pela Imprensa de Maputo um não chegou a morrer e outro faleceu
por motivos não relacionados com os episódios de violência.
Fernando
Manhiça disse ainda que uma mensagem que está a circular via telemóvel, e nas
redes sociais, desaconselhando deslocações de cidadãos moçambicanos à África do
Sul, não é oficial. Contudo, admite que o risco é elevado.
"O
Alto Comissariado (de Moçambique em Pretória) está profundamente preocupado com
a possibilidade de as pessoas viajarem para a África do Sul", afirmou o
director do Ministério dos Negócios Estrangeiros, recomendando "todo o
tipo de cautelas, porque há já ameaças e as viaturas podem ser vandalizadas e
as pessoas agredidas", não apenas em Durban e na província de Kwazulu-
Natal, mas noutras mais próximas de Maputo.
Uns
marcham contra enquanto outros continuam a atacar estrangeiros
Cerca
de dez mil cidadãos sul-africanos, anónimos, líderes religiosos, académicos,
músicos e políticos, marcharam, na manhã desta quinta-feira (16), pelas
principais avenidas da cidade de Durban, na província do Kwazulu-Natal, em
repúdio aos ataques xenófobos protagonizados por outros sul-africanos e que já
causaram a morte de pelo menos cinco cidadãos estrangeiros.
A
marcha, pacífica, esteve para ser ensombrada quando alguns cidadãos
sul-africanos apareceram a manifestar-se contra ela e defendendo os actos de
xenofobia.
A
polícia interveio, usando gás lacrimogéneo, canhões de água e bombas de efeito
moral, e conseguiu conter e dispersar o pequeno grupo. Ainda durante a manhã,
na província de Gauteng, um grupo de sul-africanos vandalizou lojas de imigrantes
e proferiu insultos xenófobos na região de Benoni.
Na foto: Ataque xenófobo de sul-africanos.
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