quinta-feira, 21 de maio de 2015

Cabo Verde. O RUMO DA ECONOMIA



João Chantre – Expresso das Ilhas, opinião (cv)

É necessário ter a noção básica do custo de oportunidade

O Comandante acaba de anunciar que perdeu o contro­lo do barco e este encontra-se à deriva. As coordenadas de que dispomos neste momento indicam-nos que o crescimento económico estancou em 1% em média durante os últimos seis anos, a dívida pública disparou e encontra-se acima dos 120% do PIB (significa que a dívida do Estado excedeu o valor de todos os bens e serviços produzidos no país), o desemprego ganhou velocidade e disparou em flexa. Situa-se nos 16% e na camada jovem o cenário é negro. Esta­mos sem rumo. Os passageiros estão recolhidos e a dormir, só pode ser. Resta saber se essa sonolência é premeditada ou extemporânea! A tomada de consciência pode reinar o caos. O contra-mestre encontra­-se ausente. O seu horizonte é outro, prefere um rumo mais ao Norte. Prefere mares mais agitados, onde almeja melhor horizonte. É por isso que os sábios dizem, nada melhor do que aprender a economia via ditado popular.

Na terra de pobre quem tem um olho é rei

Em 2011 o comandante apos­tou em tudo e arriscou usar a máxima potência. Dar-vos-ei o 13º mês, distribuirei casa a to­dos, farei da ilha de São Vicente uma grande economia à volta do mar e farei de Cabo Verde um Dragão no Atlântico. É verda­de, tudo isto é possível e estava escrito algures, só que o “copy past” nem sempre funciona. Para que tudo aconteça há que haver reformas e reformas “do trabalho, exigem mudanças”, e sobretudo um pensamento estratégico ousado, equilibrado e comandado  por  homens sérios e dedicados à causa nacional. Ao invés, rapidamente constatou­-se que o 13º é insustentável, a distribuição de casa a todos, apesar de socialmente ser um acto nobre, é utópico e finan­ceiramente uma catástrofe tão grande com repercussões nas próximas gerações. A ilha de São Vicente e o Norte estão sem Norte, de tal forma que o rumo é penoso e desastroso. A priori o Estado não cria riqueza, ele ape­nas a retira de quem a produz, isto é, de nós mesmos.

Poupa hoje, ou trabalha amanhã

Na Economia tudo começa com um bom planeamento e é muito importante definirmos boas escolhas e prioridades, pois “não é possível ter sol na eira e chuva no nabal”. Vive­mos uma nova era económica, a corrida ao tesouro. O tesouro passou a ser o achamento da gruta de “Ali Babá e os seus quarentas ladrões, abre-te Sé­samo!”.…Nesses dias o país passou a conhecer as minas de ouro bem identificadas e dis­tribuídas por todo o território nacional. Afinal as minas são os salários dos gestores públicos. Quem detém o segredo, detém a riqueza.neste momento o mais prestigiante posto é o de Gestor, já não existem critérios, “sou o homem certo no lugar certo” é o critério que reina, não importa ser avicultor na reserva, o im­portante é assumir o comando. Quanto ao resto, logo se vê. Numa era em que dá-se muita importância à psicometria em complemento à econometria. O que mais distingue o Gestor é a sua visão, o seu know-how em marketing internacional num mundo global, a sua capa­cidade de liderança/empatia/ motivação, a sua criatividade/ 2015 inovação, a sua seriedade e a sua racionalidade económica nas decisões tomadas, valências linguística, entre outras.

A história repete-se. Em contrapartida, o historial ne­gativo do Gestor, a ganância, a apetência pela corrupção, pelo peculato são valores que jogam contra quem pretende ser um Gestor de prestígio. A figura do Gestor é quem assume liderar uma empresa/instituição e de­cida criar riqueza, criar emprego e quem cria riqueza e emprego, cria bem-estar e felicidade das suas gentes. A descaracterização da figura do Gestor, contribuiu para montar uma locomotiva pesada de burocracia, celas de exilados com pensamento ou­sado e capacidade técnica acima da média mas que vai contra os interesses dos pseudo-gestores dizimando a nossa economia... Logo não é descabido pensar que há diversos perigos em fa­zer do Estado um empresário. Primeiramente o Estado é um administrador excepcionalmen­te incompetente e não necessa­riamente suas empresas terão receitas sustentáveis, e neste caso o prejuízo representa um perigo por toda a sociedade. As facturas chegarão brevemente.

 Somos democráticos, mas temos uma propensão muito grande para o autoritarismo

A nossa democracia não está em boa forma. Muitos sistemas parecem disfuncionais. Precisa­mos de melhor equilíbrio entre o Estado, o mercado e as comunida­des. Fazer política é a capacidade de pensar, criar soluções, ser ser­vidor, generoso, apostar na moral e na ética. Não basta ser “Excelên­cia é preciso ser Excelente”.

No fundo a democracia é como a cozinha: só consegui­remos uma boa refeição se os alimentos e os ingredientes estiverem bem combinados. E para muitos povos a culinária é uma arte! As finanças públicas precisam de uma quimioterapia, a patologia está encontrada, o Estado apresenta sinais cancero­sos. Se calhar, é urgente adoptar uma educação financeira e psi­cométrica como disciplinas obri­gatórias desde o ensino básico.

De repente quando menos esperávamos, a dependência financeira assolou o território nacional e o culto do chefe todo­-poderoso propagou e passou a seguir a direcção que lhe con­vém, ignorando todas as regras técnicas básicas. Os cooperan­tes voltaram, mas desta vez estão agenciados por crioulos, as receitas são repartidas. No mundo global estamos confu­sos. Queremos ser vistos como bons democratas, temos eleições livres, propagamos a liberdade de expressão e de pensamento.

Os nossos valores/princípios são correctos, mas muitas vezes não funcionam. As pessoas re­clamam que o governo não as houve. Muitas vezes o Governo as ouve; o problema é que as vo­zes que chegam às autoridades dizem coisas diferentes.

Ora, desta forma os ideólo­gos pró-estado sempre terão desculpas. No fundo, o que falta são decisões eficazes, lideranças fortes e mudança de rumo.

Em suma, alguém deve ser chamado para resgatar o barco. Analisemos o célebre economista da Escola de Chicago, Milton Friedman; há quatro maneiras de gastar dinheiro: primeiro, você gasta o seu próprio dinhei­ro em si mesmo; segundo você gasta o seu dinheiro em outra pessoa; terceiro, você gasta o dinheiro de outra pessoa em sim mesmo e por último você gasta o dinheiro de outra pessoa em outra pessoa. Enquanto as empresas públicas se encontram em colapso financeiro os Gesto­res públicos são considerados os novos-ricos (há sempre excep­ções) …e no cômputo geral os médicos e os magistrados são os mais penalizados nesse jogo de xadrez. Já é tempo de confiarmos na nossa capacidade de auto­-governo através do mercado, em vez de esperarmos que um punhado de burocratas saiba gastar o nosso dinheiro connosco melhor do que nós mesmos. Fa­çam essa pergunta às rabidantes! “Fecha-te Sésamo!” It´s time.

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