João
Chantre – Expresso das Ilhas, opinião (cv)
É
necessário ter a noção básica do custo de oportunidade
O
Comandante acaba de anunciar que perdeu o controlo do barco e este encontra-se
à deriva. As coordenadas de que dispomos neste momento indicam-nos que o
crescimento económico estancou em 1% em média durante os últimos seis anos, a
dívida pública disparou e encontra-se acima dos 120% do PIB (significa que a
dívida do Estado excedeu o valor de todos os bens e serviços produzidos no
país), o desemprego ganhou velocidade e disparou em flexa. Situa-se
nos 16% e na camada jovem o cenário é negro. Estamos sem rumo. Os passageiros
estão recolhidos e a dormir, só pode ser. Resta saber se essa sonolência é
premeditada ou extemporânea! A tomada de consciência pode reinar o caos. O
contra-mestre encontra-se ausente. O seu horizonte é outro, prefere um rumo
mais ao Norte. Prefere mares mais agitados, onde almeja melhor horizonte. É por
isso que os sábios dizem, nada melhor do que aprender a economia via ditado
popular.
Na
terra de pobre quem tem um olho é rei
Em
2011 o comandante apostou em tudo e arriscou usar a máxima potência.
Dar-vos-ei o 13º mês, distribuirei casa a todos, farei da ilha de São Vicente
uma grande economia à volta do mar e farei de Cabo Verde um Dragão no
Atlântico. É verdade, tudo isto é possível e estava escrito algures, só que o
“copy past” nem sempre funciona. Para que tudo aconteça há que haver reformas e
reformas “do trabalho, exigem mudanças”, e sobretudo um pensamento estratégico
ousado, equilibrado e comandado por homens sérios e dedicados à
causa nacional. Ao invés, rapidamente constatou-se que o 13º é insustentável,
a distribuição de casa a todos, apesar de socialmente ser um acto nobre, é
utópico e financeiramente uma catástrofe tão grande com repercussões nas
próximas gerações. A ilha de São Vicente e o Norte estão sem Norte, de tal
forma que o rumo é penoso e desastroso. A priori o Estado não cria
riqueza, ele apenas a retira de quem a produz, isto é, de nós mesmos.
Poupa
hoje, ou trabalha amanhã
Na
Economia tudo começa com um bom planeamento e é muito importante definirmos boas
escolhas e prioridades, pois “não é possível ter sol na eira e chuva no nabal”.
Vivemos uma nova era económica, a corrida ao tesouro. O tesouro passou a ser o
achamento da gruta de “Ali Babá e os seus quarentas ladrões, abre-te Sésamo!”.…Nesses
dias o país passou a conhecer as minas de ouro bem identificadas e distribuídas
por todo o território nacional. Afinal as minas são os salários dos gestores
públicos. Quem detém o segredo, detém a riqueza.neste momento o mais
prestigiante posto é o de Gestor, já não existem critérios, “sou o homem certo
no lugar certo” é o critério que reina, não importa ser avicultor na reserva, o
importante é assumir o comando. Quanto ao resto, logo se vê. Numa era em que
dá-se muita importância à psicometria em complemento à econometria. O que mais
distingue o Gestor é a sua visão, o seu know-how em marketing internacional num
mundo global, a sua capacidade de liderança/empatia/ motivação, a sua
criatividade/ 2015 inovação, a sua seriedade e a sua racionalidade económica
nas decisões tomadas, valências linguística, entre outras.
A
história repete-se. Em contrapartida, o historial negativo do Gestor, a
ganância, a apetência pela corrupção, pelo peculato são valores que jogam
contra quem pretende ser um Gestor de prestígio. A figura do Gestor é quem
assume liderar uma empresa/instituição e decida criar riqueza, criar emprego e
quem cria riqueza e emprego, cria bem-estar e felicidade das suas gentes. A
descaracterização da figura do Gestor, contribuiu para montar uma locomotiva
pesada de burocracia, celas de exilados com pensamento ousado e capacidade
técnica acima da média mas que vai contra os interesses dos pseudo-gestores
dizimando a nossa economia... Logo não é descabido pensar que há diversos
perigos em fazer do Estado um empresário. Primeiramente o Estado é um
administrador excepcionalmente incompetente e não necessariamente suas
empresas terão receitas sustentáveis, e neste caso o prejuízo representa um
perigo por toda a sociedade. As facturas chegarão brevemente.
Somos
democráticos, mas temos uma propensão muito grande para o autoritarismo
A
nossa democracia não está em boa forma. Muitos sistemas parecem disfuncionais.
Precisamos de melhor equilíbrio entre o Estado, o mercado e as comunidades.
Fazer política é a capacidade de pensar, criar soluções, ser servidor,
generoso, apostar na moral e na ética. Não basta ser “Excelência é preciso ser
Excelente”.
No
fundo a democracia é como a cozinha: só conseguiremos uma boa refeição se os
alimentos e os ingredientes estiverem bem combinados. E para muitos povos a
culinária é uma arte! As finanças públicas precisam de uma quimioterapia, a
patologia está encontrada, o Estado apresenta sinais cancerosos. Se calhar, é
urgente adoptar uma educação financeira e psicométrica como disciplinas obrigatórias
desde o ensino básico.
De
repente quando menos esperávamos, a dependência financeira assolou o território
nacional e o culto do chefe todo-poderoso propagou e passou a seguir a
direcção que lhe convém, ignorando todas as regras técnicas básicas. Os
cooperantes voltaram, mas desta vez estão agenciados por crioulos, as receitas
são repartidas. No mundo global estamos confusos. Queremos ser vistos como
bons democratas, temos eleições livres, propagamos a liberdade de expressão e
de pensamento.
Os
nossos valores/princípios são correctos, mas muitas vezes não funcionam. As
pessoas reclamam que o governo não as houve. Muitas vezes o Governo as ouve; o
problema é que as vozes que chegam às autoridades dizem coisas diferentes.
Ora,
desta forma os ideólogos pró-estado sempre terão desculpas. No fundo, o que
falta são decisões eficazes, lideranças fortes e mudança de rumo.
Em
suma, alguém deve ser chamado para resgatar o barco. Analisemos o célebre
economista da Escola de Chicago, Milton Friedman; há quatro maneiras de gastar
dinheiro: primeiro, você gasta o seu próprio dinheiro em si mesmo; segundo
você gasta o seu dinheiro em outra pessoa; terceiro, você gasta o dinheiro de
outra pessoa em sim mesmo e por último você gasta o dinheiro de outra pessoa em
outra pessoa. Enquanto as empresas públicas se encontram em colapso financeiro
os Gestores públicos são considerados os novos-ricos (há sempre excepções) …e
no cômputo geral os médicos e os magistrados são os mais penalizados nesse jogo
de xadrez. Já é tempo de confiarmos na nossa capacidade de auto-governo
através do mercado, em vez de esperarmos que um punhado de burocratas saiba
gastar o nosso dinheiro connosco melhor do que nós mesmos. Façam essa pergunta
às rabidantes! “Fecha-te Sésamo!” It´s time.
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