Reginaldo
Silva – Rede Angola, opinião
A
cada reunião que se segue da Conferência Internacional da Região dos Grandes
Lagos (CIRGL), presidida actualmente por Angola, a sensação que se fica é, no
mínimo, estranha para quem de fora tem vindo a observar a movimentação desta
jovem organização africana.
Em
fase de implementação está o desdobramento de uma solução que é simultaneamente
diplomática, política e militar e que está na estrada já lá vão mais de 10
anos.
Como
causa mais remota de tudo isto, temos no já distante ano de 1994 o genocídio do
Rwanda e o peso trágico dos seus 800 mil mortos, passando pela instabilidade
endémica em que mergulhou (até aos dias de hoje) o Congo Kinshasa, após o
derrube de Mobuto Sese Seko.
Este
desfecho, como se sabe, contou com o decisivo envolvimento directo das tropas
de Angola ao lado do movimento revolucionário liderado pelo já
falecido/assassinado Laurent Kabila, pouco tempo depois de ter conquistado o
poder.
É
este envolvimento que explica a “promoção” de Angola à condição de novo membro
da região com a qual o nosso país não tem qualquer relacionamento de um ponto
de vista mais geográfico, por não ter qualquer fronteira com algum dos grandes
lagos que a integram, que são sete no total, a saber: Niassa, Tanganica, Kivu,
Eduardo, Alberto, Vitória (o maior) e Turkana.
Se
ficássemos só por esta compartimentação, os países desta região seriam apenas
Moçambique, Malawi, Tanzânia, República Democrática do Congo,
o Burundi, o Rwanda, Quénia, Uganda e Etiópia.
Como
se vê, a região original dos Grandes Lagos já não coincide com a composição
actual da CIRGL.
A
“promoção” angolana continua até hoje a não ser muito bem digerida por alguns
“membros de pleno direito” da dita região, por verem nela a manifestação de
algum expansionismo por parte de Luanda, cuja diplomacia de facto tem estado a
crescer a olhos vistos em matéria de ambições regionais, com Angola a jogar em
vários tabuleiros, para além da SADC.
Em
termos mais concretos, falando do surgimento da CIRGL, tudo começou no ano 2000
na sequência de duas resoluções adoptadas pelo Conselho de Segurança da ONU
(1291/1304) nas quais se pedia a criação de uma conferência internacional sobre
a paz, a segurança e o desenvolvimento na região dos Grandes Lagos.
Quatro
anos depois, em Novembro de 2004, foi aprovada em Dar-es-Salam, por
unanimidade, a Declaração sobre a Paz, a Segurança e o Desenvolvimento da
Região dos Grandes Lagos que deu origem ao Pacto que actualmente é a base do
compromisso que sustenta a CIRGL.
Em
poucas palavras, e muito resumidamente, esta seria a história desta Conferência
Internacional que, pelos vistos, continua a dar mais do que falar do que de
fazer, tendo em conta os raquíticos resultados até agora obtidos na pacificação
e estabilização da região.
O
emprego da palavra estranha que usamos no inicio para classificar a sensação de
quem como nós observa, a alguma distância, a movimentação desta Conferência
Internacional, é claramente um recurso da linguagem diplomática.
Isto
para evitarmos ter de chamar os bois pelo seu próprio nome ou para, em nome da
esperança que é a última a morrer, não assumirmos outras conclusões mais
definitivas quanto ao prolongado impasse em que a região está mergulhada, nos
vários dossiers que a compõem.
Um
impasse que para já passa, sobretudo no caso da RDC, pela manifesta incapacidade
de se eliminarem de uma vez por todas as tais “forças negativas” que já estão
suficientemente identificadas e após se ter decidido que só mesmo “à porrada” é
que elas iria desaparecer.
O
problema é como organizar a prometida caça aos rebeldes, numa região em que os
mesmos protagonistas assumem posições distintas em função da plateia onde se
encontram a falar, como parece ser o caso do próprio Rwanda e mesmo do Uganda.
As
coisas agora agravaram-se ainda mais com a instabilidade a voltar a ameaçar o
Burundi, na sequência das manifestações anti-Nkurunzinza e da fracassada
tentativa de golpe de estado que, por pouco, não dava origem a mais uma guerra
civil, possibilidade que ainda não está de todo posta de lado pelos
observadores.
Na
sequência destes acontecimentos, a CIRGL que está sedeada na capital burundesa,
viu a sua própria soberania ser ameaçada, com a detenção de parte do seu
pessoal que se encontra em Bujumbura, ao ponto da reunião extraordinária que
agora teve lugar em Luanda ter sido forçada a denunciar publicamente esta
situação.
Assim
a CIRGL fica como?
Fica
em muito pouco, convenhamos, para uma organização que nem é respeitada por um
dos seus membros, por sinal um dos que esteve na origem da sua criação.
O
Burundi e o Rwanda são quase irmãos gémeos na hora de se contarem novas e
velhas espingardas, pelo que todos os cuidados ainda são poucos.
Nkurunzinza
fez questão de não mandar ninguém a Luanda, nem dar qualquer satisfação aos
seus pares, enquanto se aguarda pela resposta ao apelo que lhe foi endereçado
para cancelar as eleições previstas para 26 do mês corrente.
De
facto, e dando todos os benefícios da dúvida, começamos a ter cada vez mais
dúvidas do que certezas sobre a evolução dos acontecimentos, ao ponto de já não
sabermos bem qual será o melhor nome para a região
Se
Grandes Lagos, se grandes pântanos?
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