domingo, 24 de maio de 2015

SONHO VER OS ASSASSINOS DE GENOCÍDIO NO TRIBUNAL INTERNACIONAL DE HAIA



RECONSTRUIR A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

William Tonet – Folha 8 digital (ao)

No mês de Maio deci­di remeter­-me a con­fidências.

A primeira é a de estar no caminho de materia­lizar um sonho, antes de morrer, que é a de inun­dar os tribunais interna­cionais com denúncias dos vários genocídios, que vêm ocorrendo em Angola ao longo dos anos, encobertos pela força do petróleo.

Acredito até, que tendo sobrevivido ao genocídio do 27 de Maio de 1977 (na minha família fomos estú­pida e cobardemente pre­sos quatro: meu pai, eu e dois tios meus) os dois últimos, foram enterrados vivos, pela escória assas­sina da DISA, polícia po­lítica de Agostinho Neto.

Chega de bloquear a mi­nha mente, adiar a defesa da memória dos nossos camaradas, amigos e fa­miliares, barbaramente assassinados no 27 de Maio de 1977, por acre­ditarmos, ingenuamente, que os assassinos e cúm­plices, do genocídio de ontem, se possam con­verter ao arrependimen­to e abrir avenidas de diálogo, numa Plataforma Nacional Para a Reconci­liação e Verdade.

A insensibilidade é pe­tulante. A arrogância é boçal. Os maus temem a verdade como o diabo da cruz.

Uma das especialidades deste regime, que ajudei (como muitos outros que acreditaram, em rumo diferente), a chegar e manter-se no poder é o de subverter o quadro da história, apagar as evidên­cias dos crimes pratica­dos, eliminar adversários políticos internos e exter­nos, espalhando o terror, para bloquear as mentes dos milhões de autócto­nes indignados.

Temos andado bloquea­dos, pelo sistema cruel e sanguinário de espiona­gem, da polícia de Estado e das baionetas policiais e militares, que calcorreia por entre os becos e es­quinas das nossas casas e locais de trabalho, por isso nos calamos a cada genocídio. O medo de reagir não nos pode, in­voluntariamente, tornar cúmplices de um grupo que assaltou o poder e se sustenta com o sangue de inocentes. Mudar é preci­so. Hoje, o meu coman­dante Nito Alves saberá que eu, o mais novo in­tegrante do seu gabinete, pois o kota Santinho, já lhe vão faltando as for­ças da idade e o Dedé, está acometido de uma doença, mas ainda assim, continuam fiéis, tal como o Michel e muitos outros, que não traiem a tua me­mória. Por isso, coman­dante Nito, pese Eduardo dos Santos me ter retira­do a carteira profissional de advogado e adminis­trativamente, através de um acto eivado de malda­de e boçalismo, orientado o seu cacique do Ensino Superior a não reconhe­cer o meu diploma, nada me tem afastado da cru­zada de levar o crime co­metido contra ti e nossos camaradas, num total de 80.000, aos tribunais in­ternacionais.

Haia vai, seguramente, começar por analisar este Genocídio que, felizmen­te, não prescreve, levando os criminosos e assassi­nos a pagarem, por todos crimes hediondos come­tidos de 1977 à esta parte. Juridicamente estará, a denúncia, melhor forma­tada e estruturada, para acolhimento processual.

Neste Maio 2015, conti­nua a repousar em Paz, sabendo que o teu lega­do, jamais será esquecido. Hoje, a maioria te dá razão e, pese alguns excessos, quem não os tem, sabem que eras um verdadeiro patriota, honesto e aves­so a gatunagem dos bens do erário público. Hoje é reconhecida a tua pureza e comprometimento com as populações mais caren­ciadas, enquanto os teus algozes, são vistos como traidores da esquerda e vendilhões do país.

A podridão por onde trilha o país, a corrupção insti­tucional, a discriminação, o racismo, as injustiças, as prisões arbitrárias, os assassinatos selectivos e os genocídios, são as imagens de marca de um MPLA transfigurado.

Nunca imaginei, que nos­sos ex-camaradas fossem capazes do cometimento de tanta maldade sangui­nária, ao ponto de não se coibirem de através de balas assassinas, recorrentemente, assassinarem quem lhes quer, por ve­zes, apenas, sugerir outro caminho, diferente do da cultura da morte.

Não foi para este quadro dantesco de Angola, que os verdadeiros naciona­listas foram para os hú­mus libertários. Tinham o sonho de uma verda­deira independência e da concessão e respeito por todos os institutos das liberdades, nunca que para a manutenção do poder, fosse necessário “inaugu­rar” rios de sangue...

Comandante Nito Alves, acreditas-te no pedes­tal da tua inocência que Agostinho Neto (cheguei a admirá-lo, numa certa fase), fosse um líder, com­prometido com a esquer­da revolucionária. Não! Ele estava comprometido com o poder, o culto de personalidade, a discrimi­nação, o racismo, a elimi­nação física dos adversá­rios e o capitalismo voraz, que rouba ao país, para investir, no exterior...

Numa só palavra, era um médico profundamente assassino. Um falso mito, um bluff! Politicamente, para nossa desgraça co­lectiva, era uma nulidade, cujo maior feito foi ter, colocado, nas estatísticas, 80.000 (oitenta mil) as­sassinatos contra adver­sários políticos, internos e externos.

Por isso o meu sonho, de ver todos aqueles que directa ou indirectamen­te, participaram nos as­sassinatos do 27 de Maio de 1977, na Sexta-Feira Sangrenta e nos crimes de Monte Sumi de 16 de Abril de 2015, possam res­ponder pelos crimes de GENOCÍDIO.

Continuar calado é favo­recer os algozes e esti­mular a perpetuação de outro crime maior. PAZ as almas de todos os ca­maradas do 27 de Maio de 1977. Paz a alma de todos os compatriotas do Mon­te Sumi, mortos pela bar­bárie de um regime que nos envergonha e todos deveríamos sair a rua até a sua saída do poder, para que Angola, não mais co­nheça crimes de genocí­dio e volte a respirar LI­BERDADE.


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