domingo, 24 de maio de 2015

Estado português falha no recurso a tribunais angolanos por expropriação nos diamantes




Quatro anos depois de ver revogada a licença de exploração de diamantes que detinha em parceria com a angolana Endiama, a sociedade pública portuguesa SPE continua sem ver fim à vista para o diferendo. O recurso aos tribunais angolanos revelou-se infrutífero. 

Numa ação intentada em janeiro, a Sociedade Portuguesa de Empreendimentos (SPE) pedia uma indemnização de 100 milhões de dólares ao Estado Angolano. Segundo o jornal Agora, um acórdão de 24 de Março último proferido pelo Tribunal Supremo de Angola (TSA) julgou improcedente a queixa apresentada há dois anos. 

A revogação foi classificada pela SPE como acto “ilegal e inamistoso”, com Angola a justificar com um agravamento dos desentendimentos em relação aos investimentos no negócio. Em tribunal, a SPE invocava ilegalidade do acto do ex-ministro da Geologia e Minas e Indústria, Joaquim David, que revogou a licença de exploração de diamantes da Sociedade Mineira do Lucapa (SML), de que é accionista, com 49%, em parceria com a Endiama (51%). 

A revogação foi justificada com o facto de a mina ter estado paralisada durante cerca de ano e meio. O contrato de concessão da SML determinava que a exploração não podia ficar paralisada durante 90 dias seguidos ou 180 intercalados. A empresa portuguesa intentou duas acções arbitrais, sendo uma contra o Estado angolano e outra contra a Endiama. 

A parte angolana, refere o jornal Agora, considera que a SPE dificultou o andamento dos processos, ao ter indicado pessoas impedidas de exercer a função de árbitros. Inicialmente, escolheu Marcelo Rebelo de Sousa, que era membro do Conselho de Estado Português e depois José Miguel Júdice, advogado da Parpública, accionista maioritária da SPE. 

A SPE havia interposto, em Janeiro último, uma acção cautelar no TSA requerendo a suspensão da eficácia do decreto ministerial que revogara a licença de exploração da SML. Também aqui não teve sucesso. 

O relatório e contas de 2014 da Parpública aprovado em assembleia-geral em abril, refere que o processo da SPE contra a Endiama que num tribunal arbitral não chegou ao fim, mantendo-se a arbitragem contra o Estado. A empresa angolana recorreu aos tribunais ordinários, impedindo assim o trabalho tribunal arbitral, tática classificada pela SPE de “ilegítima, ilegal” e inconstitucional. 

Segundo o jornal Público, o processo pode vir a custar 21 milhões de euros ao Estado português, além da perda do capital social. A empresa só tem sobrevivido graças aos apoios financeiros da Parpública. Após um processo “particularmente moroso”, diz a SPE, já foi possível “constituir definitivamente o Tribunal [arbitral] em 20 de Maio de 2014”, e a sua petição inicial já foi entregue. 

O Estado é, com 81%, o accionista maioritário da SPE – herdeira legal da antiga Diamang. A parte remanescente do capital está disseminada por cerca de 4.000 pequenos accionistas, os quais, através de uma representação própria, reclamam um lugar na comissão. 

Segundo o Africa Monitor Intelligence, o cenário de uma saída negociada da SPE da SML, tentada a partir de Nov.2010 por iniciativa da Endiama, comprometeu-se devido a disparidades nunca resolvidas em termos de avaliação da respectiva participação. A Endiama atribuia valor insignificante à participação da SPE na SML.


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