O
grupo que tinha como principal missão fiscalizar a desmilitarização das forças
residuais da RENAMO começou a deixar Moçambique na quinta-feira (04.06). EMOCHM
custou aos cofres do Estado mais de 14 milhões de euros.
A
Equipa Militar de Observadores das Hostilidades Militares (EMOCHM) cumpriu dois
mandatos, totalizando 195 dias, enquanto aguardava que se iniciasse o processo
de desmilitarização da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que não
chegou a acontecer por falta de entendimento nas negociações entre o Governo e
o maior partido da oposição.
Enquanto
o Governo defende que a RENAMO deve apresentar a lista dos seus homens a serem
desarmados, o partido da oposição exige a adopção prévia do modelo de
reintegração das suas forças.
A
EMOCHM custou aos cofres do Estado moçambicano 540 milhões de meticais, o
equivalente a mais de 14 milhões de euros.
O
Executivo já tinha criado todas as condições logísticas para a integração das
forças armadas residuais da RENAMO, revelou esta semana o porta-voz do Governo,
Mouzinho Saide. O montante gasto só nesta rubrica equivale a cerca de um milhão
e 700 mil euros. "Para acomodar as forças residuais foram adquiridos
materiais que incluíam tendas, geradores, tanques de água, material de cozinha
e refeitório", precisou Mouzinho Saide.
Falta
de entendimento
O
chefe da EMOCHM, o brigadeiro Terego Tseretse, aponta a falta de entendimento
entre o Governo e a RENAMO como a principal causa do fracasso da missão de
observação. Por isso, na hora de despedida desejou "sucessos nas
negociações e que isso tenha cedo ou tarde uma solução definitiva ou uma
solução aceitável para a segurança, unidade, e prosperidade para beneficio de
todos os moçambicanos".
Para
o analista Calton Cadeado, tanto o Governo como a RENAMO têm responsabilidades
no falhanço da operação. "Não era possível cumprir um processo de
desmobilização, de desmilitarização, de desarmamento", afirma.
O
especialista fala também numa "jogada política da RENAMO e do próprio
Governo", mas não num sentido pejorativo. "Ambas as partes queriam
tirar dividendos políticos naquela situação", explica.
O
Governo e a RENAMO acusam-se mutuamente de responsabilidades no falhanço do
processo de desarmamento das forças armadas residuais da RENAMO. O maior
partido da oposição acusa ainda o Governo de ter decidido unilateralmente pôr
fim à EMOCHM e exige a apresentação de um ofício formal dando conta da extinção
daquela missão.
Os
observadores militares internacionais regressam assim a casa, enquanto os seus
pares moçambicanos voltam aos seus anteriores postos, "aguardando novas
ordens" até que se alcance "a vontade política de estabelecimento de
uma paz duradoura em Moçambique", revelou o chefe da equipa negocial do
Governo, José Pacheco.
"Consequências
drásticas"
Tanto
o Governo como a RENAMO têm reafirmado o seu compromisso de continuar a
trabalhar para que seja alcançado um acordo na mesa negocial com vista à
implementação efectiva do acordo de cessação das hostilidades, assinado entre
as duas partes a 5 de setembro de 2014.
O
processo de observação deverá ser garantido por peritos militares nacionais,
segundo defende o Governo.
O
ativista de boa governação Adelson Rafael considera, no entanto, que a saída
dos observadores militares estrangeiros poderá ter "consequências drásticas"
para o país.
"Aqui
não vamos encontrar o factor de conciliação que existe e podemos correr o risco
de não encontrar mecanismos de controlo dos homens armados da RENAMO",
alerta.
Leonel
Matias (Maputo) – Deutsche Welle
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