Público,
editorial
No
caso das irregularidades da Lusófona, há um responsável central: a própria
universidade.
O
caso é antigo, remonta a 2009, e foi nessa altura que uma inspecção à
Universidade Lusófona apontou falhas no sistema de creditação de competências,
profissionais e académicas. Fizeram-se recomendações. Mas foi em 2012, quando
se soube que Miguel Relvas, o então ministro-adjunto de Passos Coelho,
conseguira licenciar-se na Lusófona com apenas quatro cadeiras, em 2007, que
rebentou o escândalo. Toda a gente queria saber como era possível tal coisa e,
reagindo à indignação geral, o ministro da Educação ordenou uma inspecção à
universidade, dando-lhe 60 dias para reanalisar os processos de creditação de
competências e tirar daí as devidas consequências. Pois bem: se o caso Relvas
transitou para tribunal, onde ainda está, no geral foram detectados 149 casos de
ex-alunos cujos processos académicos deixaram de ter existência legal. É isso
que se constata da leitura (só agora permitida à imprensa) do extenso processo
resultante da averiguação. A tentação, errada, será a de olhar para a lista e
ver centena e meia de prevaricadores, apontando a dedo ou fazendo alvo de
chacota os que a integram. Isso, além de potencialmente injusto para muitos
(embora não para os que, conscientemente, terão abusado de um sistema de
créditos de “mãos largas”), pode desviar as atenções do principal responsável
pelas irregularidades detectadas: a própria universidade. Os alunos não foram
retirar créditos das gavetas dos gabinetes, estes foram-lhes concedidos em
situações que a Lusófona deve ter admitido como “naturais”, senão teria ela mesma
detectado o que só depois de muita pressão se detectou. Terão sido atribuídos
créditos por competências inexistentes? A Lusófona nega, mas não há certeza
total. A bem da Lusófona e de quem lá se diplomou, era importante que tudo
ficasse mesmo a claro. Feitiço e feiticeiros nasceram lá. Só que o ensino é
outra coisa.
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