José
Manuel Silva – Jornal de Notícias, opinião
Em
setembro de 2014, a Ordem dos Médicos recebeu um grito de alerta de uma colega
especialista em
Medicina Geral e Familiar (MGF), colocada num ACES da Zona
Norte da ARS-LVT. Era a única médica para cerca de 5000 utentes, dos quais 2000
faziam parte da sua lista. A situação era agravada pela incompreensão e até
agressividade de alguns utentes, que não queriam perceber que é impossível uma
única médica de família (MF) responder às necessidades de 5000 pessoas.
A
seu pedido, a médica foi recebida pela diretora-executiva do ACES. Expôs a sua
situação e o seu estado de esgotamento e pediu alguma flexibilização do seu
horário (não uma redução), devido ao facto de viver a 30 km e ter dois filhos
pequenos. Explicou ainda que a escala de Atendimento Complementar noutro Centro
de Saúde, para a qual era compulsivamente escalada ao fim de semana, colidia
com o facto de estar sozinha com os filhos e não ter onde os deixar, pelo que
colocava a possibilidade de se ver obrigada a sair do SNS. Em resposta a esta
justa pretensão, a diretora--executiva informou-a secamente que nada iria
mudar.
Perante
tamanha insensatez, com um baixo salário e sentindo--se maltratada, a MF
procurou emprego na Europa e já tem contrato para emigrar para a Suécia, depois
de ser submetida e aprovada em várias provas de seleção, estando atualmente a
aprender a língua sueca num curso intensivo.
Só
depois de apresentar a carta de exoneração a estultíssima gestão do ACES propôs
alguma flexibilidade. Tarde de mais.
Dizem
os livros básicos de gestão que os recursos humanos, particularmente os mais
diferenciados (mas todos, obviamente), devem ser tratados com um mínimo de
dignidade e respeito. Todavia, parece que no Ministério da Saúde (MS) ninguém
percebe nada de gestão de recursos humanos. Não há quem lhes ensine? Eu poderia
fazê-lo!
Espanta-me
que o MS continue a nomear alguns desqualificados militantes partidários para
presidentes de ACES e que continue a ignorar e nada faça para evitar as causas
da emigração de tantas centenas de médicos, que muita falta fazem aos doentes
portugueses.
Estando
Portugal a formar médicos acima das necessidades, é por todas estas razões e
por culpas próprias que, infelizmente, o MS não cumprirá a promessa de dar um
MF a todos os portugueses até ao fim da atual legislatura.
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