No
fim-de-semana em que os cabo-verdianos assinalavam os 40 anos de independência,
o historiador Eduardo Camilo Pereira defendeu no Luxemburgo que o primeiro o
projecto de independência em relação a Portugal foi em 1822, com a criação do
partido Pro-Brasil.
“O
objectivo era separar Cabo Verde de Portugal e implantar uma república ligada
ao governo de Rio de Janeiro, com administração britânica. Quem estava por
detrás disso eram os liberais exaltados, a maioria residentes no Rio de
Janeiro, mas também em Cabo
Verde , onde os padres eram dos principais líderes do partido
Pro-Brasil”, disse o historiador cabo-verdiano ao CONTACTO.
Eduardo
Camilo Pereira esteve no sábado na sede do CLAE para apresentar a 3a edição do
seu livro “Política e Cultura: As revoltas dos Engenhos (1822), de Achada
Falcão (1841) e de Ribeirão Manuel (1910)”.
Para
o historiador e professor da Universidade de Cabo Verde, as revoltas foram “um
dos instrumentos do partido Pro-Brasil para fazer uma profunda revolução
política, social e económica em
Cabo Verde e conseguir a emancipação de Portugal”, entretanto
falhada.
As
duas primeiras edições do livro esgotaram-se rapidamente e a terceira vem
"provar a actualidade de temas como a escravatura" no arquipélago,
diz Eduardo Camilo Pereira.
"Há
todo um estereótipo construído por volta dessa altura e que se observa ainda
hoje. Algumas pessoas em
Cabo Verde ainda mantêm a mentalidade de que são civilizadas
e de que outras apenas possuem a força braçal. É o que pensam, por exemplo, das
pessoas do interior de Santiago, pessoas conotadas com força física".
"A
separação Norte-Sul" é outro dos exemplos ainda existentes na sociedade
cabo-verdiana, sustenta o historiador.
"Esse
regionalismo é um discurso forjado pelo então deputado Teófilo Dias e o
governador Joaquim Pereira Marinho, e que permanece até hoje. O Teófilo Dias
dizia que a ilha de Santiago nunca haveria de se civilizar, e não é por acaso
que o primeiro liceu foi construído na ilha de São Vicente, onde queriam
construir um modelo de desenvolvimento para as outras ilhas, com o objectivo de
exterminar os negros. A cidade ideal de Mindelo [capital de São Vicente],
mandada elaborar pelo Marquês Sá da Bandeira, foi criada para abrigar a
civilização e o escravo não podia entrar ali, segundo o governador Marinho, com
excepção daquele que tivesse um ofício reconhecido", acrescenta o
investigador, que defende o abandono desses preconceitos.
Sobre
a independência, de há 40 anos, o professor diz que “foi a melhor coisa que
poderia ter acontecido na história de Cabo Verde".
"Valeu
a pena a independência. O povo cabo-verdiano passou a ser respeitado pelo seu
trabalho e temos uma cultura reconhecida no mundo. Apesar de termos ainda
muitas dificuldades, acredito que somos um país viável", concluiu Eduardo
Camilo Pereira.
Henrique
de Burgo – Contacto
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