O
Presidente de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, considera ainda
faltar muito, 40 anos depois da independência do país, para criar as condições
necessárias à satisfação das necessidades básicas da população são-tomense.
"Não
soubemos gerir muito bem esse processo de mudança (...) enquanto não fizermos
isso, o Homem são-tomense não se pode dizer livre", disse, numa entrevista
à agência Lusa.
"A
12 de julho, conseguimos libertar a terra da dominação colonial, mas ainda não
tínhamos conseguido libertar-nos. A libertação é um processo".
"Depois
de 12 de julho, começámos a viver uma nova era (...) tivemos um processo muito
importante (...) criaram-se no partido único duas tendências que se
confrontaram de forma democrática", disse sobre a implantação do
multipartidarismo em São Tomé
e Príncipe.
Essa
luta de tendências no Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP)
"abriu o país para o sistema democrático", com a conferência nacional
em 1991, a primeira realizada em África, de acordo com Pinto da Costa.
"Chegámos
a este processo de abertura porque houve uma evolução na sociedade (...) havia
necessidade de nos adaptarmos à vontade expressa da população são-tomense, a
necessidade de abrirmos o espaço para surgimento de outras forças
políticas", disse.
Pinto
da Costa referiu a existência de problemas e de "má gestão e falhas no
processo de desenvolvimento" e defendeu o diálogo entre diferentes
quadrantes políticos e da sociedade "para fazer surgir consensos
necessários para o desenvolvimento do país".
"Quarenta
anos de independência não é muito (...). O diálogo é importantíssimo",
sublinhou. "As maiorias absolutas [nas eleições legislativas] que, no
nosso caso, são utilizadas para excluir e não incluir, são maiorias absolutas
que criam um clima que, mais cedo ou mais tarde, pode ser altamente prejudicial
para o desenvolvimento do país", advertiu.
A
estabilidade no país "não depende unicamente do Governo fazer os quatro
anos da legislatura no poder", mas de políticas corretas, que respondam às
preocupações, em termos de emprego, salário, educação e saúde, considerou.
"Se
não forem feitas nesse sentido, a estabilidade não está garantida",
destacou o Presidente, que reduziu a relação institucional com o Governo ao
encontro quinzenal para tratar de assuntos correntes.
"Este
permanente desentendimento entre os são-tomenses resulta do seguinte: há quem
queira comer tudo e são poucos e não querem deixar nada ao resto e são
muitos", explicou.
Pinto
da Costa afirmou caber aos "políticos criar as condições para permitir que
os agentes económicos joguem" um papel decisivo no desenvolvimento dos
países, sublinhando as "ótimas relações e uma série de acordos existentes
com os países vizinhos" como Angola, Nigéria, Guiné Equatorial, Gabão e
Camarões.
"Na
realidade, há pouca coisa e é preciso casar os interesses económicos dos nossos
países", defendeu.
Sobre
a corrupção, o Presidente são-tomense pediu uma ação conjunta "de todos os
partidos políticos" contra "um autêntico cancro na sociedade e
altamente prejudicial para o processo de desenvolvimento do país (...) que tem
grandes potencialidades para se desenvolver e para resolver os problemas"
da população.
Manuel
Pinto da Costa afirmou que, passados 40 anos, as relações com Portugal são
boas, destacando a língua portuguesa como fator de união e "uma
herança".
"Nós
não combatemos Portugal, combatemos o sistema colonial português (...) há uma
ligação, não temos que ter complexos nenhuns", declarou.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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