domingo, 2 de agosto de 2015

ANÁTEMA FEUDAL – II



 Martinho Júnior, Luanda

2 – Os Estados Unidos detêm de longe o maior pendor ofensivo no âmbito dos programas do exercício de hegemonia unipolar, no que diz respeito aos seus instrumentos militares, com o Pentágono a estabelecer a quadrícula do mundo e com a disseminação de bases, que ultrapassam as 800, em todos os continentes.

Por essa razão os orçamentos para garantir essa cobertura típica dum império, que exige um enorme esforço de organização e manobra, são de longe os maiores do mundo, comparativamente a todos os outros.

Essa cobertura determina que sejam os Estados Unidos a deter o maior número de aviões e de porta-aviões, pois uma parte substancial das suas forças estão fora do seu território e as bases circundam o globo, embora haja concentrações em função das tónicas geo estratégicas e dos conflitos em curso.

Neste momento os Estados Unidos procuram aligeirar a sua presença no Oriente Médio, fortalecendo a NATO na Europa do Leste, em torno do contencioso da Ucrânia, ao mesmo tempo que começam a concentrar esforços e meios em direcção à China, via Pacífico.

Quer dizer que os Estados Unidos estão a todo o transe a procurar conter a emergência dos BRICS, começando por fixar a Rússia a oeste e a China a partir do Pacífico, integrando aliados como o Japão, a Coreia do Sul, as Filipinas e outros que procura manipular alimentando discórdias e disputas regionais.

A doutrina Obama aproveita a doutrina Bush, ao colocar o Estado Islâmico como prioridade em termos de ameaça, a par da Rússia, de modo a poder aproveitar o esboço de “conflito de civilizações” que herdou.

À falta de “comunismo”, quem detém o poder ofensivo precisa de ter um contraditório na definição da ameaça, que cumpra com um papel que justifique o seu próprio poder.

Os Estados Unidos para o efeito dominam em muitas regiões do globo e mantêm uma panóplia de alianças, que enquadram autênticos regimes de vassalagem, como os casos multilaterais da NATO,“Organização do Tratado do Atlântico Norte”, ou do ANZUS, “Pacto Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos”, ou os casos bilaterais como o Japão, ou as Filipinas.

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Por tabela, em África, a situação é similar, particularmente com o “laboratório” criado com a implantação do AFRICOM: a partir da destruição da Líbia, semeou-se o caos no Sahara, no Sahel, até Ogaden… e agora há toda a justificação para os Estados Unidos e seus vassalos da OTAN,“socorrerem” os débeis estados africanos que lhes caem nos braços em estranhas “parcerias”, a fim de fazerem face aos mentores tácticos do caos herdado, ao “terrorismo” do AQMI, do Boko Haram, ou do al Shabaad…

As suas forças situam-se sobretudo no hemisfério norte, mas também fazem cobertura de seus interesses no hemisfério sul, onde não é preciso muito, nem muitos recursos, para assumir a liderança em proveito da aristocracia financeira mundial.

A internacionalização do dólar e as manipulações que com ele são feitas, permitem que uma grande parte das verbas para os orçamentos sejam provenientes de outros, inclusive de alguns dos alvos (casos da Rússia e da China).

O recurso a ideologias de raiz feudal é comum nas doutrinas militares que os Estados Unidos têm vindo a elaborar.

Os Estados Unidos implantam assim as dialécticas manipuladoras, estabelecendo artificiosamente campos de “conflito de civilizações”, de “conflitos étnicos”, ou de “conflitos religiosos”…

Desde a IIª Guerra Mundial que os Estados Unidos estão por isso em conflito permanente onde quer que seja, com guerras de intensidade variável e recorrendo a todo o tipo de justificações, depois do “laboratório” de suas manipulações e ingerências.

Durante o período da “Guerra Fria”, os Estados Unidos disseminaram ingerências em todos os continentes e agora multiplicaram essas ingerências, ainda que alterando as perspectivas geo estratégicas de suas condutas tendo em conta a interligação de interesses e das capacidades de resposta que encontrem por parte de quem lhes é resistente.

O capitalismo, selvagem ou não, procurará sempre fórmulas “concorrenciais” que estimulem processos dialécticos de manipulação e ingerência, pois de outra maneira é impossível a implantação do domínio indispensável.

Mentores da tese, estimulam agora a antítese, para que a síntese seja o mais proveitosa possível.

A “guerra entre civilizações”, a “guerra entre etnias”, ou a “guerra entre religiões”, com todos os ingredientes de “guerra psicológica”, faz parte de suas mais estimulantes agendas e ementas que servem aos processos de domínio de que se socorre a hegemonia unipolar, ou seja, o que move as potencialidades de manipulação, ingerência e sobretudo de agressão ofensiva.

As “revoluções coloridas”, ou as “primaveras árabes”, inscrevem-se nessa guerra psicológica sem fim e de carácter sempre retrógrado, semeando o caos, dividindo sempre, subvertendo outras opções, ou interesses, corroendo todas as iniciativas e geo estratégias de paz! 

Imagem: Mapa de William Blum, relativo às acções levadas a cabo pelos Estados Unidos depois da IIª Guerra Mundial.

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