Conheça
os principais motivos para a queda na aprovação da presidente, que superou o
recorde negativo de Fernando Collor e é aprovada por apenas 8% dos brasileiros,
segundo o Datafolha.
A
popularidade da presidente Dilma Rousseff caiu para o pior
nível já alcançado por um chefe de Estado brasileiro desde que o
Instituto Datafolha começou essa medição.
Na
pesquisa divulgada nesta quinta-feira (06/08) pelo jornal Folha de S.
Paulo, o governo Dilma é reprovado por 71% dos entrevistados. Apenas 8%
consideram o governo bom ou ótimo.
De
acordo com o Datafolha, 66% dos entrevistados defendem que o Congresso abra um
processo de impeachment da presidente, mas apenas 38% acreditam que Dilma será
afastada do cargo.
Até
agora, o recordista de impopularidade entre os presidentes avaliados desde 1990
era Fernando Collor de Mello, que às vésperas de seu impeachment, em setembro
de 1992, tinha 9% de aprovação e 68% de reprovação.
A
DW Brasil lista as sete principais razões que explicam esse recorde negativo de
Dilma.
Mau
desempenho da economia
Quando
o bolso dos cidadãos reclama, fica difícil manter em alta a popularidade de
qualquer presidente. E, no Brasil, a situação da economia está especialmente
difícil – o país caminha a passos largos para a recessão. "Tem muita gente
desesperada e insatisfeita", comenta o cientista político David Fleischer,
da UnB.
O
Produto Interno Bruto (PIB) está caindo – recuou 0,2% no primeiro trimestre, e
o governo espera queda de 1,2% no ano. A inflação, que diminui o poder de
compra dos salários, está em alta, com as previsões se aproximando dos 10% ao
ano. A taxa de desemprego sobe a cada mês, e especialistas já falam que ela
pode alcançar os dois dígitos nos próximos meses.
Tudo
isso contrasta fortemente com a situação herdada por Dilma do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. No governo Lula, o PIB cresceu, o desemprego caiu, e
a inflação estava controlada. O bom desempenho da economia impulsionou a
popularidade do ex-presidente.
Escândalo
de corrupção na Petrobras
"Dilma
é uma pessoa honrada e não está envolvida em corrupção", afirmou
recentemente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E a própria
presidente declarou
à DW: "Um dos ônus [de combater a corrupção] é acharem que nós é que a
fazemos."
Mas,
honradez à parte, quando o partido da presidente é apontado como um dos
principais beneficiários de um esquema milionário de corrupção numa estatal do
porte da Petrobras, é impossível essa situação não respingar na imagem e não se
refletir na popularidade do mandatário, seja ele quem for.
E
o caso de Dilma tem ainda um agravante: a ligação dela com a Petrobras. A
petrolífera é subordinada ao Ministério de Minas e Energia, que Dilma ocupou de
2003 a 2005. Além disso, ela foi presidente do conselho de administração da
Petrobras de 2003 a 2010. Quando já era presidente, Dilma escolheu uma pessoa
muito próxima para comandar a estatal, Graça Foster, que só deixou o cargo com
o início do atual escândalo.
"Ela
foi ministra de Minas e Energia, da Casa Civil e depois presidente. Muita gente
acha impossível que ela não soubesse o que acontecia", comenta Fleischer,
que também destaca não haver sinais de que Dilma tenha lucrado pessoalmente com
a corrupção.
Dificuldades
na comunicação
Calada,
gerentona, durona, inflexível – esses são alguns dos adjetivos que costumam
acompanhar a presidente. Dilma está muito longe do estilo carismático e próximo
do povo cultivado pelo ex-presidente Lula. No Brasil, carisma faz a diferença
para um prefeito, governador ou presidente, e um estilo como o de Dilma não ajuda
a melhorar a popularidade de ninguém.
"O
governo tem um grave problema de comunicação", comenta o analista político
Gaspard Estrada, ligado ao Instituto de Ciências Políticas de Paris. Dilma não
gosta de dar entrevistas e passou meses em silêncio. Só há pouco
mudou de atitude, falando inicialmente com alguns veículos estrangeiros – entre
eles a DW – e depois com a imprensa brasileira.
"Sem
declarações, não há como a imprensa repercutir o ponto de vista do governo.
Assim o ambiente parece dominado por opiniões da oposição, que sempre tem
interesse em falar", diz Estrada.
Já
Lula falava regularmente com a imprensa no seu segundo mandato, após um período
de silêncio no primeiro. "Lula também ouvia mais os marqueteiros. Dilma é
muito convencida de que sabe tudo e que está sempre certa. Marqueteiro tem a
vida difícil com ela", diz Fleischer.
Crise
política
A
crise política pode não ter um efeito direto sobre a popularidade da
presidente, mas indiretamente influencia. Sem diálogo com os líderes do
Congresso, o governo não consegue aprovar as políticas que deseja para
recolocar o país nos trilhos. Como resultado, a economia não deslancha, e o
desempenho econômico é crucial para a aprovação de qualquer presidente.
A
crise política tem ainda outro efeito: lideranças políticas, mesmo dentro do
PT, começam a se afastar da presidente, que fica cada vez mais isolada.
"Nenhum político quer se associar seu nome a um presidente com tanta
reprovação", comenta Fleischer.
Desgaste
do PT no governo
Ser
governo desgasta mais a imagem de um partido governante do que ser oposição –
essa é uma regra não escrita da política. O PT já está há 13 anos no Palácio do
Planalto, e Dilma participa do governo desde o primeiro dia, inicialmente como
ministra de Lula e mais tarde como presidente. É natural que parte da queda da
popularidade venha do desgaste de ser governo.
Polarização
política
O
Brasil saiu tão polarizado da última eleição, vencida por Dilma com uma pequena
margem, que uma boa parte da população vai simplesmente ser contra a
presidente, não importa o que ela faça. E a polarização estimula os movimentos
contrários à presidente a sair para as ruas. Protestos em larga escala, como os
vistos neste ano no Brasil, também tem um efeito negativo na popularidade de
Dilma.
Movimento
cíclico
É
incomum, em qualquer parte do mundo, um presidente manter um alto nível de
popularidade ao longo de um longo período. Mesmo no Brasil, é raro o caso de um
presidente que tenha se mantido sempre popular – Lula é exceção e não regra. O
sobe e desce da popularidade têm também, portanto, um elemento cíclico natural.
"Raros
são os presidentes que não enfrentam uma queda de popularidade. Dilma saiu de
um patamar muito alto em 2013, era esperado que o número fosse cair. Atípicos
mesmo são presidentes como Lula, que conseguem manter os números altos por
tanto tempo", comenta Estrada.
O
cientista político Frédéric Louault, da Universidade Livre de Bruxelas,
concorda. "Esses números de popularidade, apesar de chamativos pela
velocidade com que se consolidaram, muitas vezes são cíclicos, mesmo em outros
países da região."
Ele
lembra ainda outro aspecto muito característico da democracia brasileira: a
centralização na figura do presidente, que passa a ser o responsável por tudo o
que acontece, ainda que não governe sozinho o país nem possa resolver todos os
problemas sozinho.
"No
Brasil, o povo tende a concentrar todas as suas expectativas no presidente, que
é uma figura que alimenta a imaginação. Isso é bom para o presidente quando as
coisas vão bem, já que as pessoas vão ligar esse bom momento ao governo que
está no poder. Mas, quando algumas coisas vão mal, o presidente é
responsabilizado por tudo que está acontecendo", afirma Louault.
Alexandre
Schossler / Jean-Philip Struck – Deutsche Welle
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