Inês
Cardoso – Jornal de Notícias, opinião
Afinal,
parece que é tudo uma questão de azedume, como classifica o vice-presidente e
porta-voz do PSD. Marco António Costa queixa-se que a Oposição fica
particularmente ácida quando confrontada com as boas notícias na diminuição do desemprego.
E o azedume, concorde-se, é um sentimento lixado que tolda o espírito na altura
de fazer qualquer análise.
Recorrendo
à linguagem de mercearia que tomou conta do tema, confesso que apesar da total
inabilidade para a estatística consigo distinguir batatas de laranjas. Não é
difícil perceber, pelas várias análises que se foram lendo nos últimos dias,
que os números podem ser interpretados de muita maneira, mas nem com o mais
dourado otimismo, temperado pelo sol de agosto, se pode ignorar que o emprego
continua efetivamente a ser um problema. E não, não foi um lapso e não vou
falar de desemprego. O problema está mesmo no emprego. É exatamente porque um
condiciona o outro que se pode, na hora de fazer as contas, ser obrigado a
pesar laranjas para decidir se a saca de batatas encolheu ou ficou mais cheia.
Há,
a nível nacional, mais de 250 mil cidadãos em situação de subemprego - ou seja,
que têm um part-time indesejado e não conseguem aceder a um horário completo.
Quase idêntico número está em formação profissional ou em estágio. Perto de
500 mil pessoas emigraram durante esta legislatura e estão a trabalhar, mas no
estrangeiro. E há ainda que ter em conta o emprego sazonal, precário, que tende
a subir em ciclos de crescimento do turismo, como é este ano o caso.
Não
é preciso ser brilhante a matemática para perceber que os motivos para celebrar
as estatísticas do desemprego são curtos. E que é preciso fazer muito mais pela
economia para que a criação de emprego seja real, sustentada e assente em
relações contratuais estáveis. E, já agora, confirmada pela evolução dos
salários médios praticados.
É
certo que a silly season convida a sentimentos descontraídos, sol e mar com
fartura, sugestões leves de verão e primeiras páginas embelezadas por biquínis.
Discussões e temas sérios são para a rentrée, que ainda por cima este ano nos
trará política até mais não. Mas já que há tantos cidadãos desempregados ou em
part-times de verão, angustiados pela incerteza do amanhã, que nem sabem se hão
de rir ou chorar com este descascar de cebolas, permitam-me o azedume. Em nome
deles.
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