José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
“Não
é necessária autorização de ninguém para dar início a uma revolução”, disse
Thabo Mbeki na abertura da II Conferência Africana da Juventude, que decorreu
em Maputo, entre 22 e 25 deste mês. A conferência teve como tema “Democracia e
Boa Governação” e contou com a participação de uma delegação de jovens
revolucionários angolanos. A irónica observação de Mbeki parece mais actual do
que nunca, entre nós, face aos acontecimentos dos últimos meses.
Revoluções
não pedem licença. Revoluções acontecem quando há uma imperiosa urgência de
mudança, face aos desmandos, à incompetência e à crueldade de regimes não
democráticos.
A
greve de fome de oito dos jovens democratas presos há mais de três meses, sem
culpa formada, trouxe a este processo um dramatismo que já ninguém em Angola
pode ignorar. Aflige-me a ligeireza com que nas redes sociais, ou nas caixas de
comentários deste e de outros jornais, algumas pessoas se esforçam por
desvalorizar o sacrifício dos jovens. Acho difícil não estar de acordo com as
razões que os movem: democratizar Angola; fazer de Angola um país socialmente
mais justo e mais livre. Acho difícil discordar dos métodos de luta de que se
têm vindo a servir: manifestações pacíficas. Aceito, contudo, que haja opiniões
diferentes, angolanos que se sintam felizes com o actual estado do país, e que
considerem que vivemos numa democracia avançada. O que me custa a aceitar é que
haja quem ironize com o sofrimento alheio.
Uma
greve de fome não é atitude que se tome de ânimo leve. Trata-se, na verdade, de
um instrumento de consciencialização do opressor. Jesus Cristo, que foi, antes
de tudo, um filósofo da não-violência, como foi Gandhi ou Martin Luther King,
exprimiu esta mesma ideia com uma lição que, infelizmente, poucos compreendem:
“Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei aos que vos
maldizem, orai pelos que vos insultam. Ao que te bate numa face, oferece-lhe
também a outra.”
Ao
dar a outra face, ao invés de um murro, estamos a oferecer ao opressor a
possibilidade de reflexão e de redenção. Quem opta pela luta não violenta, como
Luaty e os seus companheiros, não pretende a submissão do opressor – está, pelo
contrário, a tentar ajudá-lo. Está a estender-lhe a mão.
O
regime angolano parece não conseguir ver isto. Face a uma situação social
explosiva, recusa o diálogo e investe tudo na violência. É por isso que
precisamos de uma revolução. Uma revolução dos espíritos, uma revolução como
aquela que estes jovens heróis estão a realizar, sem brutalidade, sem maldade,
sem agressão. Esta é, talvez, a última oportunidade que o Presidente da
República tem para tentar uma transição pacífica para a democracia e abandonar
o poder, entrando na História, com alguma dignidade. As horas passam, os dias
passam, e o tempo não joga a seu favor.
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