domingo, 27 de setembro de 2015

Angola. REVOLUÇÃO, JÁ!



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

“Não é necessária autorização de ninguém para dar início a uma revolução”, disse Thabo Mbeki na abertura da II Conferência Africana da Juventude, que decorreu em Maputo, entre 22 e 25 deste mês. A conferência teve como tema “Democracia e Boa Governação” e contou com a participação de uma delegação de jovens revolucionários angolanos. A irónica observação de Mbeki parece mais actual do que nunca, entre nós, face aos acontecimentos dos últimos meses.

Revoluções não pedem licença. Revoluções acontecem quando há uma imperiosa urgência de mudança, face aos desmandos, à incompetência e à crueldade de regimes não democráticos.

A greve de fome de oito dos jovens democratas presos há mais de três meses, sem culpa formada, trouxe a este processo um dramatismo que já ninguém em Angola pode ignorar. Aflige-me a ligeireza com que nas redes sociais, ou nas caixas de comentários deste e de outros jornais, algumas pessoas se esforçam por desvalorizar o sacrifício dos jovens. Acho difícil não estar de acordo com as razões que os movem: democratizar Angola; fazer de Angola um país socialmente mais justo e mais livre. Acho difícil discordar dos métodos de luta de que se têm vindo a servir: manifestações pacíficas. Aceito, contudo, que haja opiniões diferentes, angolanos que se sintam felizes com o actual estado do país, e que considerem que vivemos numa democracia avançada. O que me custa a aceitar é que haja quem ironize com o sofrimento alheio.

Uma greve de fome não é atitude que se tome de ânimo leve. Trata-se, na verdade, de um instrumento de consciencialização do opressor. Jesus Cristo, que foi, antes de tudo, um filósofo da não-violência, como foi Gandhi ou Martin Luther King, exprimiu esta mesma ideia com uma lição que, infelizmente, poucos compreendem: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos insultam. Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra.”

Ao dar a outra face, ao invés de um murro, estamos a oferecer ao opressor a possibilidade de reflexão e de redenção. Quem opta pela luta não violenta, como Luaty e os seus companheiros, não pretende a submissão do opressor – está, pelo contrário, a tentar ajudá-lo. Está a estender-lhe a mão.

O regime angolano parece não conseguir ver isto. Face a uma situação social explosiva, recusa o diálogo e investe tudo na violência. É por isso que precisamos de uma revolução. Uma revolução dos espíritos, uma revolução como aquela que estes jovens heróis estão a realizar, sem brutalidade, sem maldade, sem agressão. Esta é, talvez, a última oportunidade que o Presidente da República tem para tentar uma transição pacífica para a democracia e abandonar o poder, entrando na História, com alguma dignidade. As horas passam, os dias passam, e o tempo não joga a seu favor.

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