quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Brasil. CORRESPONDENTE DE GUERRA



João Almeida Moreira – Dinheiro Vivo, opinião

Há um raro consenso no Brasil: a economia, sob Dilma, piorou. Não só os números frios - gelados, aliás -o provam. A própria presidente reconhece-o, através de sucessivos mea culpa. Mas porque é que piorou?

A partir dessa pergunta, acabam os consensos no Brasil.

O colunista Vinícius Torres Freire, da "Folha de S. Paulo", lista os principais motivos da crise.

Resumindo, as causas foram, segundo ele, a concessão de subsídios às empresas, através de empréstimos baratos de bancos públicos, enquanto o governo ia pedindo empréstimos caros e com isso aumentando a dívida pública.

Também o "Minha Casa, Minha Vida", programa social que atribuiu milhões de moradias com custos públicos evidentes.

Por outro lado, o facto de se ter baixado a conta da luz e de não se terem contido os gastos cada vez mais altos com segurança social, reformas ou pensões. E de o salário mínimo andar a ser aumentado acima do possível e as despesas com saúde e educação acima do orçamentado.

No mesmo jornal, mas duas edições depois, Rogério Cerqueira Leite faz outra lista.

A crise deve-se, também resumindo, 1) à recessão mundial com preponderância na China, 2) à desmoralização do PT por culpa do Mensalão e da Operação Lava-Jato, 3) aos despudorados métodos de chantagem do Congresso Nacional, 4) à campanha colérica da oposição, 5) à obsessão dos "media" pela perda das conquistas da plebe ao longo dos últimos anos.

As duas análises, apenas exemplos, são escritas num tom veemente, inconciliável. E, no entanto, elas são precisamente o seu contrário: conciliáveis. Não se anulam, completam-se.

Houve, sim, interferência exagerada de Dilma - e todos sabemos como os mercados, essa entidade virtual, se enervam quando lhes tocam (mas quando os deixam à solta, a coisa pode derivar numa crise como a de 2008...). E sim, a presidente não teve sorte nenhuma com as conjunturas nacionais e internacionais. Nem tudo é culpa dela e nem tudo é obra do acaso.

Desde a eleição apertada de Outubro de 2014, o clima no Brasil tornou-se branco e preto, uma guerra de claques ou, para utilizar a expressão mais comum no país, um eterno Fla-Flu de opiniões. Falta moderação.

Não a moderação interesseira de membros do PMDB, que estão em teoria ao lado do PT mas na prática já de olho na boleia que o PSDB lhes possa dar para o Planalto na eleição seguinte, e por isso dão uma no cravo e outra na ferradura sob a capa de um "sentido de estado" que nunca tiveram. Ou a moderação calculada de Lula, que critica e elogia a sucessora e o seu partido apenas com os seus objetivos eleitorais pessoais em mente.

Falta moderação na opinião pública - e na opinião publicada. Não se consegue sobre determinado objeto ou assunto, ter um olhar fanático e inteligente ao mesmo tempo. Não é só a unanimidade, como dizia o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, que é burra: o extremismo, como ele concordaria, também é. O país extremou-se, logo estupidificou-se.

E um correspondente internacional no Brasil, assim, sente-se quase como um correspondente de guerra num país onde bastava um pouco de paz para resolver os problemas.

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