quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Portugal. COISAS DE CAMPANHA



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

O cabeça de lista da PaF tirou um coelho da cartola. Apertado pelos lesados do BES, quis fazer boa figura dialogando com quem o insultava e lançou a ideia, tosca, de abrir uma subscrição pública para que os que ficaram sem as poupanças de uma vida possam recorrer à Justiça. Parece brincadeira de mau gosto. E a prudência ou as boas maneiras não recomendam humor com quem está desesperado.

Revelando mais bom senso do que o homem que governa o país, os lesados do BES ignoraram as palavras do candidato da coligação PSD-CDS. Consideram a proposta "indigna de um estadista", palavras do advogado que representa os lesados. E ontem fizeram uma contraproposta: pedem a isenção de taxas e custos judiciais nos processos que vão acionar para tentar recuperar o investimento.

O candidato Pedro Passos Coelho tem agora de voltar a vestir a pele de primeiro-ministro e decidir a resposta a dar a estas pessoas. Uma coisa é lançar ideias na refrega da campanha, outra é decidir perante uma proposta concreta de gente que se diz enganada pelos reguladores, precisamente aqueles que deviam garantir a confiança. Gente que já pouco ou nada tem a perder e que não hesita chamar, olhos nos olhos, mentiroso ao primeiro-ministro.

Tudo parecia correr bem enquanto o governante estava no recato de S. Bento, com as notícias da retoma. Mas Passos Coelho teve de sair à rua, dar a cara pelas políticas que fizeram Portugal sair da crise. E mostrar porquê. Enfim, é a campanha dia a dia, que se encarregará de lembrar a Passos e a Portas que por trás dos números estão pessoas. As que deixaram de integrar a estatística do desemprego, não porque estejam empregadas, mas porque simplesmente esgotaram o prazo para receber o subsídio; os pais que viram os filhos emigrar em busca de emprego, após anos de sacrifício para lhes pagar o curso superior; os reformados que sentiram os cortes brutais; os professores sem escola...

Eles vão andar aí até 4 de outubro. Mais ou menos organizados. E não bastará à dupla Passos/Portas recorrer a Sócrates para justificar todo o mal que aconteceu aos portugueses. Como lhe dizia ontem uma idosa durante uma ação de campanha em Paço d"Arcos, "agora o engenheiro José Sócrates paga por tudo e mais alguma coisa". "Quer que pague eu?", replicou Passos. Apenas pelos quatro anos.

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