Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
O
cabeça de lista da PaF tirou um coelho da cartola. Apertado pelos lesados do
BES, quis fazer boa figura dialogando com quem o insultava e lançou a ideia,
tosca, de abrir uma subscrição pública para que os que ficaram sem as poupanças
de uma vida possam recorrer à Justiça. Parece brincadeira de mau gosto. E a
prudência ou as boas maneiras não recomendam humor com quem está desesperado.
Revelando
mais bom senso do que o homem que governa o país, os lesados do BES ignoraram
as palavras do candidato da coligação PSD-CDS. Consideram a proposta
"indigna de um estadista", palavras do advogado que representa os
lesados. E ontem fizeram uma contraproposta: pedem a isenção de taxas e custos
judiciais nos processos que vão acionar para tentar recuperar o investimento.
O
candidato Pedro Passos Coelho tem agora de voltar a vestir a pele de
primeiro-ministro e decidir a resposta a dar a estas pessoas. Uma coisa é
lançar ideias na refrega da campanha, outra é decidir perante uma proposta
concreta de gente que se diz enganada pelos reguladores, precisamente aqueles
que deviam garantir a confiança. Gente que já pouco ou nada tem a perder e que
não hesita chamar, olhos nos olhos, mentiroso ao primeiro-ministro.
Tudo
parecia correr bem enquanto o governante estava no recato de S. Bento, com as
notícias da retoma. Mas Passos Coelho teve de sair à rua, dar a cara pelas
políticas que fizeram Portugal sair da crise. E mostrar porquê. Enfim, é a
campanha dia a dia, que se encarregará de lembrar a Passos e a Portas que por
trás dos números estão pessoas. As que deixaram de integrar a estatística do
desemprego, não porque estejam empregadas, mas porque simplesmente esgotaram o
prazo para receber o subsídio; os pais que viram os filhos emigrar em busca de
emprego, após anos de sacrifício para lhes pagar o curso superior; os
reformados que sentiram os cortes brutais; os professores sem escola...
Eles
vão andar aí até 4 de outubro. Mais ou menos organizados. E não bastará à dupla
Passos/Portas recorrer a Sócrates para justificar todo o mal que aconteceu aos
portugueses. Como lhe dizia ontem uma idosa durante uma ação de campanha em
Paço d"Arcos, "agora o engenheiro José Sócrates paga por tudo e mais
alguma coisa". "Quer que pague eu?", replicou Passos. Apenas
pelos quatro anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário