Guilherme
Dias – África Monitor*, opinião
A
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa não é uma entidade que faça
“manchetes” de jornais. Há um ano agarrou as atenções, com a adesão da Guiné
Equatorial. Mas pouco sobrou de toda a controvérsia, que opôs os “pró” aos
“anti-adesão”, estes muitas vezes munidos de argumentos puristas em relação à
lusofonia e de algum desconhecimento das realidades africanas. E aquilo que a
organização poderia ter ganho – em termos de visibilidade, de ímpeto, de peso –
não se confirmou.
Há que ter em conta que integrar um país numa organização
leva o seu tempo. E que o tempo em África leva« ainda mais tempo. “Leve-leve” é
o que dizem os são-tomenses, ali bem perto da Guiné Equatorial, a quem tem
ideias de fazer as coisas rápido. E não se pode esquecer que neste caso o trabalho
de integração é mais complicado do que alguma vez a CPLP teve perante si.
Igualmente há que levar em conta que a Guiné Equatorial viveu um ano difícil.
Dependente, tal como Angola, das exportações de petróleo, viu as suas receitas
caírem a pique. Sendo um país mais opaco do que outros na região, pouco se sabe
sobre o impacto desta quebra de receitas, como afetou a situação social e
política, de que forma o governo respondeu e que eficácia tiveram as medidas
aplicadas.
É também verdade que ainda muito pouco nos chega do novo país-membro
da comunidade lusófona. Se a comunicação social em Portugal dá pouca atenção a
outros países que não sejam Angola e Moçambique no plano económico, difícil
seria que fosse de outra forma. Mas o facto é que, um ano depois, é nulo o
sentimento de pertença da Guiné Equatorial à CPLP.
Um falado patrocínio nas
camisolas do Sporting foi logo tornado controverso, e mesmo num “caso” pela
intervenção da infatigável agitadora de causas avulsas Ana Gomes junto de uma
qualquer entidade – e paralelamente junto de todos os jornais que queiram
“comprar” mais uma bravata. Uns negócios imobiliários em Lisboa. Uma história
de uma reunião a que o representante da Guiné Equatorial na CPLP faltou.
No
Brasil, mais algumas polémicas envolvendo patrocínios a escolas de samba e o
“roteiro” de “lobbying” de Lula da Silva. Nos países africanos, as coisas
parecem ter corrido manifestamente melhor. Saliente-se a visita a Angola em
março de Teodoro Obiang, em que foi evidente a proximidade em relação ao líder
angolano, José Eduardo dos Santos, um dos mais firmes apoiantes de Malabo no
projeto de adesão – talvez mesmo o mais firme e decisivo.
Já este mês, o
vice-presidente Teodoro Nguema marcou presença nas cerimónias dos 40 anos da
independência de São Tomé e Príncipe. Mais importante, ficou o objetivo de
assinar acordos de cooperação económica que permitam estabelecer ligações
aéreas e marítimas entre os dois países.
Seria naturalmente desejável que o
processo já estivesse mais adiantado. Que já houvesse uma Embaixada de Portugal
e uma delegação do Aicep plenamente funcionais. Que já tivéssemos notícias de
negócios de empresas portuguesas. Que já tivéssemos estudantes
equato-guineenses em grande número nas universidades dos países lusófonos,
preparando o ensino da língua às próximas gerações. Que já tivéssemos nos
jornais e televisões dos países da CPLP o “pulso” daquilo que é a vida do país.
Mesmo que ligeiramente “filtrado”, tal como aquilo que nos chega de Luanda via
RTP África ou TPA. Infelizmente, estamos ainda longe disso.
Mas é importante
não perder de vista o objetivo. Há que integrar a Guiné Equatorial como membro
de pleno direito da CPLP – que o é. E essa integração tem que ser sentida e
vivida. Isto é algo de novo para a organização, leva tempo, tem muitos riscos e
muitos adversários – não faltarão os que nos próximos dias e semanas virão
qualificar de fracasso o processo de adesão. Dizer que Obiang não via nela mais
do que um artifício diplomático, e que aí se esgotou.
Para todos aqueles que,
como nós, sempre viram nesta adesão um potencial de energização da CPLP – e de
ajudar à abertura e à democratização de um país que mesmo em África não compara
bem em termos de governação e Direitos Humanos – os poucos resultados
alcançados no primeiro ano têm de ser sobretudo um apelo à mobilização. Para os
que estão à frente do processo, é uma chamada para fazerem mais e melhor.
*O
artigo é de 20 de Julho de 2015 em África Monitor mas nem por isso perde as características
correspondentes à realidade do país amordaçado, explorado e oprimido pela ditadura Obiang. (PG)
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