sexta-feira, 25 de setembro de 2015

ORÁCULO DA BUROCRACIA: O PROLETARIADO INTELECTUAL



Rui Peralta, Luanda

A enorme procura- resultante da insegurança sentida pelas classes médias em relação ao seu “status” social e do facto de em muitas economias periféricas esta ser a única forma de mobilidade social – gera um grupo social heterogéneo que sofre com as transformações económicas e sociais, em particular com a evolução dos processos produtivos e de trabalho. Este grupo social, heterogéneo quanto á sua formação (que engloba força de trabalho qualificada e não-qualificada, mas também muita força não produtiva, desqualificada), é uma espécie de “proletariado intelectual”.

Regularmente e de forma assídua, o Estado abre os portões dos corredores burocráticos, absorvendo milhares de candidatos (milhares porque foram criadas as empresas publicas – no fundo unidades estatais que não se encontram nem ao serviço nem sob controlo dos cidadãos – exactamente para absorver esta quantidade, que não pode ser absorvida pelo aparelho repressivo, ou coercivo, policial e militar, nem pelo funcionalismo) que desta forma tornam-se “guardiões do templo”. Os que ficam fora deste processo assumem a condição de opositores. Surgem, assim, dois componentes neste grupo do “proletariado intelectual”: um subgrupo composto pelos que “tiveram a sorte” de conseguir entrar para o interior da “fortaleza”, ficando sob sua protecção; outro subgrupo composto pelos que não foram admitidos, pelos que falharam o recrutamento.

Os primeiros são uma “horda de funcionários assalariados”, que por medo de perderem o “lugar ao sol” defendem o Estado em todas as circunstâncias (excepto, claro, quando o seu lugar é ameaçado por projectos de reforma administrativa ou estrutural). Os segundos são uma “horda rebelde” inquieta e irrequieta, que alimentam a oposição, na esperança de através das forças oposicionistas entrarem na “fortaleza”. Este subgrupo, muitas vezes é ludibriado pelos “oposicionistas” que quando se tornam Poder esquecem-nos e utilizam os funcionários que já encontraram no aparelho. Desiludidos e frustrados, este subgrupo passa a alimentar o “processo revolucionário”.

Eis pois, em pleno, o processo de seleccionamento da burocracia. Nela têm lugar os que são, os que poderão ser e os que virão a ser. De fora ficam, como sempre, os que nada são aos olhos dos que julgam ser.

Leituras aconselhadas
Michels, R. Para uma Sociologia dos Partidos Políticos na Democracia moderna Ed. Antígona, Lisboa, 2001
Weber, M. The theory of social and economic organisation Oxford University Press, 2007
Rizzi, B. A Burocratização do mundo Ed. Antígona, Lisboa, 1983

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