Rui Peralta, Luanda
A
enorme procura- resultante da insegurança sentida pelas classes médias em
relação ao seu “status” social e do facto de em muitas economias periféricas
esta ser a única forma de mobilidade social – gera um grupo social heterogéneo
que sofre com as transformações económicas e sociais, em particular com a
evolução dos processos produtivos e de trabalho. Este grupo social, heterogéneo
quanto á sua formação (que engloba força de trabalho qualificada e
não-qualificada, mas também muita força não produtiva, desqualificada), é uma
espécie de “proletariado intelectual”.
Regularmente
e de forma assídua, o Estado abre os portões dos corredores burocráticos,
absorvendo milhares de candidatos (milhares porque foram criadas as empresas
publicas – no fundo unidades estatais que não se encontram nem ao serviço nem
sob controlo dos cidadãos – exactamente para absorver esta quantidade, que não
pode ser absorvida pelo aparelho repressivo, ou coercivo, policial e militar,
nem pelo funcionalismo) que desta forma tornam-se “guardiões do templo”. Os que
ficam fora deste processo assumem a condição de opositores. Surgem, assim, dois
componentes neste grupo do “proletariado intelectual”: um subgrupo composto
pelos que “tiveram a sorte” de conseguir entrar para o interior da “fortaleza”,
ficando sob sua protecção; outro subgrupo composto pelos que não foram
admitidos, pelos que falharam o recrutamento.
Os
primeiros são uma “horda de funcionários assalariados”, que por medo de
perderem o “lugar ao sol” defendem o Estado em todas as circunstâncias
(excepto, claro, quando o seu lugar é ameaçado por projectos de reforma
administrativa ou estrutural). Os segundos são uma “horda rebelde” inquieta e
irrequieta, que alimentam a oposição, na esperança de através das forças
oposicionistas entrarem na “fortaleza”. Este subgrupo, muitas vezes é
ludibriado pelos “oposicionistas” que quando se tornam Poder esquecem-nos e utilizam
os funcionários que já encontraram no aparelho. Desiludidos e frustrados, este
subgrupo passa a alimentar o “processo revolucionário”.
Eis
pois, em pleno, o processo de seleccionamento da burocracia. Nela têm lugar os
que são, os que poderão ser e os que virão a ser. De fora ficam, como sempre,
os que nada são aos olhos dos que julgam ser.
Leituras
aconselhadas
Michels,
R. Para uma Sociologia dos Partidos Políticos na Democracia
moderna Ed. Antígona, Lisboa, 2001
Weber,
M. The theory of social and economic organisation Oxford University
Press, 2007
Rizzi,
B. A Burocratização do mundo Ed. Antígona, Lisboa, 1983
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