Sílvia
da Oliveira – Diário de Notícias, opinião
A
primeira tentativa de venda do Novo Banco, o banco bom que resultou da
derrocada do BES, fracassou, sem surpresas. Ninguém antecipava um desfecho
diferente, mesmo antes de o Anbang ter batido com a porta. Mesmo que este grupo
chinês pagasse o que se pagava noutros tempos por bancos, não é difícil
concluir que está longe de ser o melhor futuro dono do Novo Banco. Aliás, dois
grupos chineses e um private equity norte-americano não são, propriamente,
motivo de regozijo. Foi o que sobrou de uma lista de 15 concorrentes, apurados
no início do ano para concorrer à operação. Ou seja, nem o Novo Banco é o que
se disse que era nem a corrida foi o festim que se desejou. Eduardo Stock, que
faz parte da equipa de Horta Osório, veio diretamente do inglês Lloyds, mas a
sua competência não faz milagres. O Novo Banco é, afinal, como nunca deixou de
ser, um problema, só que embrulhado num papel pseudo-reluzente em tons de verde
refrescante. E foi o Banco de Portugal, endossado pelo atual governo, que
embrulhou o problema.
Até
à emissão de um comunicado, esta terça-feira, a cancelar o concurso de venda do
Novo Banco, o Banco de Portugal fez o papel de um daqueles participantes do
Shark Tank, que deixa o palco sem conseguir convencer um único tubarão a
investir na ideia. Pior, o Banco de Portugal anuncia que dentro de algum tempo,
não se sabe bem quanto, promete regressar para insistir na mesma ideia, com o
mesmo problema, mas com outro embrulho, um pouco mais refrescante. Na próxima
tentativa de venda do Novo Banco, o acionista Fundo de Resolução assumirá
eventuais responsabilidades com casos pendentes nos tribunais, como é o caso da
Goldman Sachs e dos lesados do papel comercial do BES. O Novo Banco passará a
contar com um plano estratégico tendo em vista a criação de valor. E deixa de
ser uma imposição a venda de 100% do capital. Mas, mais importante do que isso,
o concurso de alienação do Novo Banco continuará a contar com a energia contagiante
do Banco de Portugal, que não desiste, nem mesmo perante a derrota. Porque, no
fim das contas, não há cá derrotas nem fracassos, ninguém perde, ganha-se
tempo, não há responsáveis, a culpa é dos mercados, dos gregos, dos europeus,
dos chineses e do resto do mundo, que se uniu contra o Novo Banco. De facto, ao
Banco de Portugal, que é como quem diz ao governo, que se refugia neste mandato
atribuído a Carlos Costa, e a nós não resta, depois da resolução do BES, grande
alternativa a não ser desejar que, com o tempo, o problema não se agrave.
Ninguém duvida de que essa é a prioridade de Carlos Costa, mas já nin-guém
entende entusiasmos desproporcionados, nem embrulhos desnecessários. Os
potenciais compradores não querem saber e os contribuintes não merecem.
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