Também
há menores entre os sem-abrigo do Porto. Há famílias inteiras a viver nas ruas
da cidade e quem acompanha esta realidade aponta para casos cada vez mais
dramáticos. O número de pessoas sem casa aumenta a olhos vistos.
Não
existe propriamente um levantamento oficial, mas dados recolhidos pelo
movimento Uma Vida como a Arte revelam uma realidade dramática. Há, pelo menos,
100 crianças entre os 1.500 sem-abrigo referenciados na cidade do Porto.
Os
números não são oficiais porque foram variando a um ritmo assustadoramente
elevado à medida que os últimos anos avançaram e podem, dizem os técnicos ao
P24, estar desatualizados. O único dado adquirido é que a “crise provocou o
aumento substancial” de sem-abrigo nas ruas do Porto.
Há
os estrangeiros que perderam o trabalho e não têm como regressar ao país de
origem, os velhos cujas reformas deixaram de cobrir as despesas básicas, os que
ainda há poucos anos integravam a chamada classe média e que o desemprego
atirou entretanto para a rua. Entre outros, muitos outros, a quem vicissitudes
várias levaram a um desfecho comum: a rua como único ponto de abrigo. E há os
menores, crianças e jovens até aos 18 anos, que são obrigados a viver ao
relento.
“Há
famílias com filhos que não têm outra alternativa que não a rua. Têm sido
sinalizados cada vez mais casos desses. Neste momento tudo aponta [para] que
sejam cerca de 100”, revelou ao P24 o movimento Uma Vida como a Arte, com base
em dados recolhidos pelo seu pessoal.
Por
calcorrearem as ruas da cidade com frequência praticamente diária e conhecerem
de bem perto um cenário que eles próprios viveram na pele, ou ainda vivem, os
elementos do Uma Vida como a Arte apontam uma estimativa que deverá andar muito
próxima da realidade. “Há entre 1.000 e 1.500 pessoas que não têm teto na
cidade”, calculam.
Nesta
cifra, estão incluídos indivíduos que dormem literalmente na rua. E outros que,
“mesmo tendo um teto, não têm condições para o manter permanentemente e estão
dependentes do Estado para não voltarem a dormir ao relento”.
Entre
estes 1.500 cidadãos, está quem literalmente dorme na rua, quem é obrigado a
ocupar casas devolutas ou abandonadas porque não tem mais para onde ir e quem
tem quarto de pensão pago pelo Estado mas apenas lá está autorizado a passar a
noite. E, neste milhar e meio, não estão contabilizados os que recorrem a ajuda
alimentar mesmo possuindo telhado permanente. “Há cada vez mais casos de
miséria permanente, é muito assustador”, revolta-se La Salete Santos, do
movimento Uma Vida como a Arte.
É
vê-los nas filas para as refeições que várias instituições e associações
entregam diariamente na cidade – no Porto, o fenómeno é uma realidade bem
visível, enquanto nos concelhos limitrofes de Matosinhos, Gaia e Gondomar não
se conhecem assim tantas ‘sopas dos pobres’.
Foto:
Miguel Oliveira Sem-abrigo
O
artigo Há 100 crianças a dormir nas ruas do Porto pertence a Porto24.
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