quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Portugal. Legislativas. Passos ameaçou com o passado. Costa respondeu que não era Sócrates




Passos Coelho e António Costa debateram esta noite, durante cerca de 90 minutos, naquele que será o único frente-a-frente televisivo entre os dois candidatos.

Decorreu no Museu da Eletricidade esta quarta-feira o único debate televisivo entre Passos Coelho e António Costa. Conduzido por Clara de Sousa (SIC), Judite Sousa (TVI) e João Adelino Faria (RTP), frente-a-frente estavam o líder da coligação Portugal à Frente e o líder do principal partido da oposição, num debate tido como decisivo para as eleições de 4 de outubro.

A troika foi o tema de lançamento, com Passos Coelho a defender-se desde cedo. “Não seguimos políticas de austeridade por gosto”, salientou o primeiro-ministro, reconhecendo que “estes quatro anos foram de facto difíceis e duros” e “só foi possível chegar ao fim deste processo de forma satisfatória porque os portugueses foram extraordinários na sua vontade de superar as dificuldades”.

António Costa, por seu lado, entrou no debate referindo que Passos Coelho “não cumpriu no Governo aquilo a que se comprometeu na campanha eleitoral”. A “dívida não só não reduziu, como aumentou”, acrescentando que o líder do PSD “entra para a história como chefe do primeiro governo a entregar um país com menos riqueza do que recebeu”. “O único que fracassou foi o governo de Passos Coelho”, sentenciou.

Passos, por seu lado, recordou os casos da Irlanda e da Grécia – países também sujeitos a programas da troika – para dizer que foram países onde a perda de riqueza foi pior do que em Portugal. E foi nesta altura que José Sócrates fez a sua primeira ‘entrada’ no debate, com Passos Coelho a recordar o aumento de dívida no tempo de José Sócrates.

Para além da troika, o nome do ex-primeiro-ministro, atualmente em prisão domiciliária, surgiu por várias vezes no debate. Mas houve mais palavras a repetirem-se no debate: dívida, desemprego, plafonamento e, curiosamente, mistificação, palavra que serviu para Costa acusar Passos: “o senhor quis a troika”. E que levou Passos a responder que “foi o ministro das Finanças socialista”, respondeu Passos, apelidando o gesto de insistir na acusação como “ridículo”.

A palavra “mistificação” voltaria a ser recuperada mais tarde, com Passos Coelho a usá-la para se defender das acusações de Costa sobre o Governo já se ter comprometido em Bruxelas com novo corte de 600 milhões de euros naspensões.

O tema das pensões foi um dos que mereceu maior debate por pormenores técnicos. Se Costa acusava Passos Coelho de querer dar início à privatização daSegurança Social, através do plafonamento, Passos Coelho respondia que o PS também preparava a sua forma de plafonamento, e que o risco era maior. “As medidas que o PS tem previstas perfazem mais de 600 milhões”, acusou.

O debate foi fluído, sem grandes interrupções. Perante o desafio de explicar não tanto o que distinguia ambos os candidatos, mas o que podiam ter a seu favor perante o adversário, Costa afirmava que o seu programa “assenta na correção dos erros que o Governo cometeu”. Passos Coelho, por seu lado, respondia, apelidando as ideias de Costa como “política à José Sócrates”.

Se António Costa começou ‘ao ataque’, puxando por gráficos, inclusive dos tempos de Vítor Gaspar, Passos Coelho viu-se primeiro a defender-se das críticas sobre o que prometera e não cumprira. Respondendo, em mais do que um momento, com alusões ao ex-primeiro-ministro.

Quando o debate chegou aos números do desemprego, Passos Coelho recordou a mudança na tendência, defendendo a existência de um “saldo líquido favorável” agora que a legislatura está a chegar ao fim.

Já Costa, por seu lado, defendia que o importante era “criar não só emprego, mas emprego digno”, acrescentando ainda que “o que mais tem incentivado a emigração não foi só o conselho para que emigrassem, é de facto essa geração não encontrar futuro em Portugal”. E mantinha-se ao ataque, considerando que o Governo tem gasto “milhões de euros da União Europeia a subsidiar estágios”.

Nenhum dos candidatos, porém, se comprometeu com números em concreto de desemprego. “Todos aprendemos com os erros e não ouvirá da minha boca uma promessa quantificada”, disse mesmo a dada altura António Costa.

Passos, por seu lado, disse ainda que as “famílias portuguesas estão angustiadas é com serem postos em causa todos os esforços” feitos até agora. “Olham para si e vêm um regresso ao passado”, disse a António Costa.  E o secretário-geral soube aproveitar a deixa e respondeu: “tem saudades de debater com Sócrates. Agora terá de debater comigo”.

Pedro Filipe Pina – Notícias ao Minuto

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