quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Portugal. TUDO A POSTOS PARA VER A CEGADA DESTA NOITE



Fernando Silva

A senhora Micas Tomette já está a fazer as pipocas, estão em fase terminal. Cá no prédio cheira a pipocas logo ali no patamar do terceiro andar apesar da Micas morar no quarto andar. O cheiro confunde-se com o cheiro que vem do quinto andar, onde mora o Xico do Talho, que se chama Francisco Morte. O Xico está na tarefa dos grelhados. É um pivete e fumaça que até dá dó pelos que lá em casa têm de andar às cabeçadas uns aos outros como se estivessem em Londres no meio do famoso smok, que é uma espécie de nevoeiro condensado. Toda esta descrição para dizer que os preparativos destes petiscos cá do prédio estão quase prontos. A ideia é ir comendo enquanto se pode e assistir por uma hora e meia ao debate entre Passos Coelho e António Costa.

A Mikas disse que por nada deste mundo perdia a cegada. Cegada? Sim – exclamou. E veio logo com a descrição do que era uma cegada nos seus tempos de menina e moça. Eram uns desgraçados que andavam pelos bairros de Lisboa a carregar uma espécie de biombo que armavam e por detrás manipulavam robertos. Isso era mais para as crianças. Para os adultos criavam umas palhaçadas e uns teatros improvisados que eram uma balbúrdia mas que dava para rir muito. Algumas vezes eram dramas e chorávamos. Era assim, pelas ruas dos bairros de Lisboa. Não havia dinheiro para teatros nem cinemas, nem para circos.  Valiam-nos os saltimbancos Como vamos ver o debate do Passos e do Costa… Ora, que se espera? Vai ser uma cegada.

Foi nesse momento que as pipocas ficaram prontas. Imensas. Um alguidar cheio delas. Foi também nesse momento que o Xico do Talho, o Morte, desceu com as carnes grelhadas a rirem-se de tão bronzeadas e dentro de uns três grandes contentores plásticos. Eu ofereci o vinho, o licor, os refrigerantes, pudins e bolos, assim como as batatas fritas… de pacote.

Ora então vamos lá sentar-nos a ver a cegada. Tudo a postos.

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