quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Portugal. Miguel Macedo, ex-ministro de Passos, suspeito de tráfico de influências



Carlos Rodrigues Lima – Diário de Notícias

Declarações do ex-ministro ao MP interrompidas pelas 21.00. Voltará a ser interrogado em data a anunciar.

Prevaricação de titular de cargo político e tráfico de influências foram os crimes imputados ontem ao ex-ministro da Administração Interna Miguel Macedo, que foi interrogado como arguido no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) no âmbito do caso dos vistos gold (autorizações de residência relacionadas com o investimento e a criação de emprego no país). O deputado do PSD esteve a ser ouvido até perto das 21.00, hora a que o interrogatório foi interrompido esperando-se agora que seja designada uma nova data para a sua continuação, como adiantou a Procuradoria-Geral da República em comunicado.

Em julho, a Assembleia da República levantou a imunidade parlamentar a Miguel Macedo para este poder ser ouvido no processo como arguido.

O Ministério Público imputa ao ex-ministro da Administração Interna a prática de quatro crimes: três de prevaricação por titular de cargo político e um de tráfico de influências no âmbito do processo dos vistos gold, batizado como Operação Labirinto. No documento entregue na AR, a procuradora do DCIAP Susana Figueiredo refere que, entre outras situações, Miguel Macedo forneceu ao seu ex-sócio Jaime Gomes (também arguido no processo) o caderno de encargos de um concurso público que ainda não tinha sido lançado.

Ainda segundo o documento, "no desenvolvimento de uma parceria informal de natureza lucrativa mantida com o arguido Jaime Gomes", Miguel Macedo "disponibilizou ao empresário documentação de natureza concursal pública internacional (caderno de encargos) numa fase prévia à sua publicitação".

O que, no entendimento do MP, conferiu a Jaime Gomes "uma posição de vantagem" em matéria de informação privilegiada, "em detrimento de outros potenciais interessados". No documento remetido à AR, a procuradora não identifica o concurso público em causa.

Além desta situação, o Ministério Público detalha mais três situações: a primeira está relacionada com a suspeita de que Miguel Macedo terá violado o "princípio da prossecução do interesse público" ao ordenar "verbalmente" a Manuel Palos (ex-diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, que está em prisão domiciliária) a nomeação de um oficial de ligação em Pequim, na China. Para o MP, esta ordem tinha como objetivo a "satisfação de interesses de natureza privada e lucrativa" de Jaime Gomes, António Figueiredo (ex--presidente do IRN que se encontra em prisão preventiva) e Zhu Xiadong, um cidadão chinês que foi constituído arguido no processo. Ou seja, o oficial de ligação seria mais uma maneira de angariar clientes chineses para os vistos gold.

Miguel Macedo é ainda suspeito de ter dado uma segunda ordem verbal a Manuel Palos para este agilizar (favorecer) uma empresa privada, a Intelligent Life Solutions (ILS), na emissão de vistos de estada temporária. Esta sociedade, como o DN já adiantou, tinha um acordo com o Ministério da Saúde da Líbia que previa o envio para Portugal de feridos de guerra. Jaime Gomes, por sua vez, tinha um contrato de prestação de serviços com a ILS, que volta a ser citada pelo MP numa terceira suspeita contra Miguel Macedo: aparentemente, o ex-ministro da Administração Interna "acedeu a interceder a favor da empresa ILS a fim de obter da Autoridade Tributária uma decisão favorável ilegal" num processo fiscal relativo ao IVA. A Operação Labirinto teve início em novembro de 2014. Ao que tudo indica, o Ministério Público deverá avançar com uma acusação até ao final de novembro deste ano. Isto se pretender que António Figueiredo se mantenha em prisão preventiva. Depois da acusação, os arguidos podem pedir a instrução.

*Título alterado por PG

Sem comentários:

Mais lidas da semana