terça-feira, 27 de outubro de 2015

AMÍLCAR CABRAL FOI “A MAIOR FIGURA DA LIBERTAÇÃO” EM ÁFRICA



Repórter de guerra em Angola, Moçambique e Guiné, critica MPLA por ter contratado “mercenários sul-africanos” para matar Savimbi


O jornalista e repórter de guerra sul-africano Al Venter considera Amílcar Cabral “pai” das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, “a maior figura da libertação” em África, “bem acima” dos restantes líderes dos movimentos de libertação no continente.

Al Venter, 78 anos, cobriu as três frentes das guerras que Portugal manteve entre 1961 e 1974 – Angola, Guiné e Moçambique – lançou agora Portugal e as Guerrilhas de África, editado este mês em Portugal pelo Clube de Autor, um reflexo da vivência ao longo dos 13 anos de conflitos entre os militares portugueses e os movimentos de libertação em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Amílcar Cabral “está bem acima de qualquer outro líder de movimentos de libertação, não só nos antigos territórios portugueses mas de todos os africanos”, afirma Al Venter, em entrevista por email à agência Lusa. O PAIGC “tinha um exército agressivo e disciplinado”, salientou.

Além disso, afirma o jornalista, “Cabral soube aproveitar a geografia da Guiné, que não tinha os problemas encontrados pela Frelimo ou pelo MPLA, que eram obrigados a percorrer centenas ou milhares de quilómetros para movimentarem as tropas e o armamento pesado”.

Além disso, reforçou, o PAIGC de Cabral era “solidamente” apoiado pelo regime de Sékou Touré, da vizinha Guiné-Conacri (onde o movimento tinha a sua base militar), que contava com o apoio da então União Soviética, o que ajudou no conflito e na declaração unilateral da independência a 24 de Setembro de 1973, oito meses depois de, ironicamente, Amílcar Cabral ter sido assassinado precisamente em Conacri.

Sobre Angola, o repórter de guerra mostrou-se “crítico” face ao MPLA, sobretudo por, já depois da independência, ter agido de forma a pôr cobro ao cessar-fogo que permitiu as eleições de 1992 e de ter “assassinado” o líder da UNITA, Jonas Savimbi, em 2002, depois de ter contratado “um bando de mercenários sul-africanos”.

Al Verter considera Savimbi “um dos maiores líderes da guerrilha do século XX” antes da independência de Angola, que soube ser sempre “extremamente cauteloso” e evitar as sucessivas tentativas para o assassinarem.

Al Venter disse nunca ter percebido por que razão os Estados Unidos decidiram apoiar o líder da FNLA, Holden Roberto, associado a Mobutu Sese Seko, ex-presidente do Zaire (actual RD Congo), homem que considerou “corrupto e alcoólico”.

Em relação a Moçambique, Verter refere que quer a Frelimo quer a Renamo combateram “inteligentemente” contra Portugal, inteligência que “faltou a ambos” na guerra, apesar de considerar que Afonso Dhlakama liderava, na altura, um “exército insurgente invulgarmente competente”.

“Se as guerrilhas estavam prontas para enfrentar as forças portuguesas no terreno? Sim, tanto na Guiné como em Moçambique e não em Angola, embora, neste último caso, a guerra durou o tempo suficiente para o MPLA o tentar verdadeiramente”, concluiu.

Rede Angola, com Agência Lusa

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