Rui Peralta, Luanda
A
divisão internacional do trabalho criou o contraste entre centros
industrializados e periferias não industrializadas, sendo estas ultimas
obrigadas a participar no comércio mundial através da exportação de
matérias-primas e produtos que não requeriam elevados níveis de produtividade.
O segundo assalto ao continente africano, neste novo quadro da economia-mundo,
foi lançado no século XIX, espelhado na Conferência de Berlim, em 1885, que
permitiu a usurpação e a valorização dos recursos. Desta forma foi gerado o
factor principal que impede o desenvolvimento africano, causa principal dos
diversos problemas que constituem a rede de obstáculos á afirmação das
economias africanas na economia-mundo: burocracia, corrupção, ineficiência do
aparelho produtivo, debilidade industrial e da submissão ao neocolonialismo.
Foi
precisamente no ponto em que o capitalismo se cruzou com a História
pré-colonial, através dos modelos de colonização aplicados no século XIX
(aplicados após o holocausto da escravatura) que o camponês africano foi
incorporado na economia-mundo e submetido aos monopólios, que reduziram ao
mínimo as remunerações de trabalho e exponenciaram o esbanjamento de terras. A extracção
mineira foi alimentada por uma mão-de-obra barata proveniente da economia rural
comunitária e as empresas concessionárias pilharam as terras abandonadas em
consequência das migrações camponesas.
A
estagnação e a regressão da produtividade agrícola, males persistentes das
economias africanas actuais, têm início neste fenómeno e foram agravadas e
alimentadas pelos conflitos internos e pelas guerras que assolaram o
continente. A industrialização carece de financiamento e é ilusório procura-lo
apenas no equilíbrio das contas públicas e da balança externa, sem primeiro
atacar o foco que o gerou. A atomização das nações africanas tornou-se uma realidade
quase irreversível, originada pelas fracturas do modelo capitalista de
colonização produziu no tecido social africano (actualmente estes factores de
atomização são aproveitados pelas dinâmicas externas, deixando as sociedades
africanas absolutamente destruturadas).
Urge,
pois, criar uma Nova Cultura Politica Africana, que aprofunde os processos de
libertação nacional, a modernização das economias e a melhoria das condições
sociais, para que o domínio neocolonial seja varrido do continente e África
assuma o seu trilho na economia-mundo, não como periferia, mas em pé de
igualdade com todos os povos do mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário