terça-feira, 27 de outubro de 2015

A URGÊNCIA DE UMA NOVA CULTURA POLÍTICA AFRICANA



Rui Peralta, Luanda

A divisão internacional do trabalho criou o contraste entre centros industrializados e periferias não industrializadas, sendo estas ultimas obrigadas a participar no comércio mundial através da exportação de matérias-primas e produtos que não requeriam elevados níveis de produtividade. O segundo assalto ao continente africano, neste novo quadro da economia-mundo, foi lançado no século XIX, espelhado na Conferência de Berlim, em 1885, que permitiu a usurpação e a valorização dos recursos. Desta forma foi gerado o factor principal que impede o desenvolvimento africano, causa principal dos diversos problemas que constituem a rede de obstáculos á afirmação das economias africanas na economia-mundo: burocracia, corrupção, ineficiência do aparelho produtivo, debilidade industrial e da submissão ao neocolonialismo.

Foi precisamente no ponto em que o capitalismo se cruzou com a História pré-colonial, através dos modelos de colonização aplicados no século XIX (aplicados após o holocausto da escravatura) que o camponês africano foi incorporado na economia-mundo e submetido aos monopólios, que reduziram ao mínimo as remunerações de trabalho e exponenciaram o esbanjamento de terras. A extracção mineira foi alimentada por uma mão-de-obra barata proveniente da economia rural comunitária e as empresas concessionárias pilharam as terras abandonadas em consequência das migrações camponesas.

A estagnação e a regressão da produtividade agrícola, males persistentes das economias africanas actuais, têm início neste fenómeno e foram agravadas e alimentadas pelos conflitos internos e pelas guerras que assolaram o continente. A industrialização carece de financiamento e é ilusório procura-lo apenas no equilíbrio das contas públicas e da balança externa, sem primeiro atacar o foco que o gerou. A atomização das nações africanas tornou-se uma realidade quase irreversível, originada pelas fracturas do modelo capitalista de colonização produziu no tecido social africano (actualmente estes factores de atomização são aproveitados pelas dinâmicas externas, deixando as sociedades africanas absolutamente destruturadas).

Urge, pois, criar uma Nova Cultura Politica Africana, que aprofunde os processos de libertação nacional, a modernização das economias e a melhoria das condições sociais, para que o domínio neocolonial seja varrido do continente e África assuma o seu trilho na economia-mundo, não como periferia, mas em pé de igualdade com todos os povos do mundo.

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