Martinho Júnior, Luanda
1
– A aristocracia financeira mundial, constituída com a acumulação capitalista
desde o berço da revolução industrial, enferma de processos mentais e de
lógicas geradas e desenvolvidas com os ambientes próprios duma competição
feroz, que em muitos sectores foi inibindo concorrências, sublimando-se em
cartéis, poderosos bancos e multinacionais, agregados a clãs que procuram a
todo o transe o domínio, de forma a melhor fazer prevalecer suas próprias
estratégias e vontades.
Essa
aristocracia, ferozmente egocêntrica, fora dos núcleos duros financeiros
estabelecem alguma elasticidade nas suas articulações, de forma a tornarem-se
adequadamente reitoras dos destinos da humanidade, o que é particularmente
sensível em “barómetros” que se constituíram em “lobbies”que
filtram os interesses e as vontades para dentro dos sistemas sócio-políticos de
conveniência histórica.
As “democracias
representativas” surgidas nesse artifício, aprestam-se a esse tipo de
ambientes por que a “representação” reflecte e desenvolve mecanismos
de interconexão entre os interesses constituídos, as vontades dominantes e o
espectro sócio-político, quer em aberto, quer “behind the scenes”,
submetendo sistemas e aparelhos, instrumentalizando-os para depois, quando se
passa à execução, estabelecer a geometria variável e a plasticidade da maior ou
menor persuasão na acção.
O
que se passa com os “média de referência” é esclarecedor e vulnerável
a quaisquer investigações de estudiosos na matéria, em especial em circuitos
nacionais das pequenas nações subjacentes, como acontece com evidência em
espaços como os da Europa e América Latina: esses “média” são
instrumentalizados pelas oligarquias com expressão nacional ou regional, elas
próprias integradas nos tentáculos estimulados pelos interesses da aristocracia
financeira mundial, disponíveis em função duma globalização que passa a ser um
complexo exercício de domínio, escalonado e em patamares, inerente à formação
das multinacionais e dos cartéis e sensíveis ao seu respectivo raio de acção.
As
oligarquias desempenham uma função intermédia na cadeia de transmissão da
vontade e dos interesses da aristocracia financeira mundial e por isso os “media” a
elas agregados fazem parte integrante do seu carácter, da sua vocação, da
complexa teia de interesses e vontades que anima os ambientes em que elas se
movem, assim como nos seus desempenhos.
2
– O processo revolucionário cubano gerado a partir da história de
relacionamentos do povo cubano com os complexos plasmas sócio-políticos e
culturais dos Estados Unidos, é um resultado também da reflexão e consciência
crítica sobre os fenómenos da acumulação de capitais que afectaram a vida do
gigante a norte, no âmbito da transição da ocupação do território em direcção
oeste para a fase de formação do carácter do império em vias de sublimar
processos de globalização dominantes, que conduzem os expedientes em direcção
ao exercício da hegemonia unipolar.
Esse
processo é profundamente dialéctico e complexo, a ponto de jogar com o carácter
dos ambientes culturais e históricos: a hegemonia serve-se particularmente da
amplitude anglo-saxónia (matriz da revolução industrial, articulada por via do
império britânico) e Cuba sobretudo da amálgama de culturas ameríndias,
hispânicas e africanas, que emanam do diversificado plasma das expressões
latino-americanas, o que é aproveitado intramuros, no espaço nacional da maior
ilha do Caribe, assim como nos vínculos que se distendem em função dos seus
relacionamentos internacionais.
É
dessa forma que o norte dominante entendeu usar a insularidade do fulcro
revolucionário implantado historicamente em Cuba para se decidir pelo bloqueio
e a revolução cubana, emanação história do seu próprio povo, com ele
identificada e identificada com as culturas ameríndias, hispânicas e africanas,
se estabelecer em resistência com caboucos firmes.
A
revolução cubana é nos seus alvores um acto profundamente crítico, em termos de
conhecimento, consciência e rebeldia em relação ao “diktat” do norte,
um historicamente fortalecido acto de resistência, profundamente dialéctico e
ao mesmo tempo dinâmico, também animado com uma elevada carga emocional que
possibilita criatividade, imaginação e a concentração do enorme potencial de
energia nas projecções elaboradas a partir dela própria, sem ferir (antes pelo
contrário, empolgando-se) a sua conexão humana que é fundamentalmente o povo
cubano.
A
revolução cubana impõe-se desse modo, como um longo processo de luta,
resgatando direitos humanos para quem nunca os teve, quando a norte há tantas
tendências no sentido dominante do termo, que são utilizadas e manipuladas para
que Cuba e tantos outros não consigam realizar por completo esse legítimo
resgate e desígnio!
3
– É a partir da revolução cubana e por via do internacionalismo, da
solidariedade e dos vínculos substantivos assim criados, que a energia da
resistência surge a nível internacional, num perfeito contraste com os
processos dominantes, identificando-se com os substratos sociais alvos da
opressão e do domínio e por isso assumindo em bastantes processos um papel
antagónico.
A
percepção com os olhos de África desse internacionalismo e dessa solidariedade,
é essa e por isso os combatentes do Movimento de Libertação em África, um
projecto que tal como a Revolução Cubana traduz também a aspiração de levar por
diante resgates inadiáveis sobre direitos humano que não eram reconhecidos a
África, reconhecem pois que a cultura gerada em Cuba no âmbito da revolução
cubana é muito mais que resistência, é um farol energético refinado e
substantivo que possibilita irradiações a qualquer distância, por sua
intrínseca qualidade e capacidade humana de mobilização e vontade de empenho…
4
– Há assim um argumento contrastante entre os que advogam os direitos humanos
reflectindo o carácter do norte e os que advogam os direitos humanos surgidos
nos processos revolucionários e das Lutas de Libertação a sul, desde os
processos da Indochina, até aos processos latino-americanos, passando pelos
africanos e tudo isso é parte integrante da expressão e do carácter
não-alinhado.
O
entendimento sobre os direitos humanos a sul estão oxigenados e podem-se
articular com qualquer tipo de culturas, pois as maiorias oprimidas e
exploradas assumem o fulcro da consciência que se pode considerar colectiva e
ampla.
O
entendimento dos direitos humanos do norte estão azotados, é egocêntrico,
concentracionário, excludente, serve-se do exercício do poder dominante que foi
desembocando no eixo da globalização em termos de instauração dos processos
vinculativos à hegemonia unipolar!
A
norte exclui-se, a sul integra-se!
5
– Um barómetro anual dessa situação, desde 1992, reflecte-se na tomada das
medidas de bloqueio por parte da aristocracia financeira mundial em relação a
Cuba, instrumentalizando as poderosas administrações federais e estaduais
norte-americanas, independentemente da geometria variável que ela esteja a
decidir.
O
contraste, em cada ano que passa é esclarecedor na votação da Assembleia Geral
da ONU em relação ao bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba, inscreve-se nessa
retrospectiva profundamente dialéctica e, ao mesmo tempo, é um indicador de
quanto a humanidade está ávida duma nova lógica que integre e não exclua, está
ávida de lógica com sentido e vida, está ávida de direitos humanos conformes à
Revolução Cubana e ao Movimento de Libertação em África e não no egocentrismo
atroz das interpretações do norte!
Com
os olhos de Angola e na presente conjuntura, aqueles fanáticos que neste
momento não respeitam a história do Movimento de Libertação em África, não
respeitam a plataforma alcançada com o estado democrático e de direito em que
Angola se encontra, não respeitam as Instituições angolanas, avaliando o que o
norte impõe, em nome duma liberdade dos 1% sobre o resto, através de
comportamentos, atitudes e ideologias como as professadas por Gene Sharp,
excluem, não integram e são prova do mais doentio egocentrismo, a ponto de
empurrarem jovens instrumentalizados, doutrinados, manipulados e por fim
detidos em função de sua comprovada vocação para a exclusão como para soluções
radicais e não consensuais em direcção à morte, quando a vida está garantida
por lei e para todos em Angola!
Quem
segue doutrinas, em Cuba como em Angola, como as de Gene Sharp, exclui, impõe o
desespero e não a esperança e leva os fanatizados por via de suas próprias
lógicas, nesse sentido da morte, ainda que com isso procurem efeitos de
propaganda e contra propaganda que classificam aberrantemente de “vitoriosos”!
Esperemos
que nos Estados Unidos, as opções mais recentes dos Democratas com Barack
Hussein Obama, estejam iluminadas dessa questão essencial também para o próprio
povo norte-americano e sua tão complexa sociedade!
A
leitura da votação deste ano, na Assembleia Geralda ONU, ocorrida há dias: Cuba
191, Estados Unidos 2…
**Quadro
que em 2014 reflectia o resultado anual das votações contra o bloqueio por
parte da Assembleia Anual da ONUe a favor dum exercício em prol dos direitos
humanos efectivamente globais.
A
consultar (Martinho Júnior)
-
O bloqueio a Cuba é também um afronta a África – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/o-bloqueio-cuba-e-tambem-uma-afronta.html
-
Bloqueio impossível – http://paginaglobal.blogspot.com/2014/01/bloqueio-impossivel.html
-
A liberdade e sua subversão – http://paginaglobal.blogspot.com/2014/04/a-liberdade-e-sua-subversao.html
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