André
Macedo – Diário de Notícias, opinião
PSD
e CDS querem um Ministério da Cultura. Parece que é um passo na direção da
esquerda. Mas querem este ministério porque pensam que faz sentido? Estão
dispostos a dar-lhe o dinheiro que isso implica? A fatia de orçamento que é
preciso para que a ideia tenha meios para andar? Ou o projeto é ter um
ministério meio falido que se mistura com outras pastas sem qualquer lógica?
Ministério da Cultura, da Cidadania e da Igualdade, mas porque raio? Porque a
cultura é diferente e para pessoas diferentes, pessoas, digamos, mais
sensíveis? Em 2015 ainda estamos nesta discussão pré-histórica? Não pode ser. A
resposta é mais trivial: porque são assuntos que não interessam à maior parte
dos governantes e porque só importa alimentar um grupo qualquer que também quer
sentar-se à mesa do Orçamento. Portugal foi à falência e ainda lambe as
feridas, mas os políticos aprenderam pouco. A definição do que deve fazer um
Ministério da Cultura ou uma secretaria de Estado da Cultura não existe. Há
muitas opiniões, muitas vontades, algumas bem-intencionadas, mas entre o
património que definha e os subsídios que se espalham não se corporiza nenhuma
política pública com pés e cabeça. Mais importante do que um ministério
recheado de secretários de Estado, chefes de gabinete e direções-gerais que se
anulam reciprocamente em busca de poder e do vil metal, talvez fizesse sentido
perguntar o evidente: como é possível Portugal não ter um Museu dos
Descobrimentos? Um espaço que nenhum outro país poderia apresentar com a mesma
legitimidade e alcance e conhecimento direto. Temos uma história para contar.
Caravelas para mostrar. Heróis, aventureiros e vilões para retratar. Não é
exagero chamar-lhe epopeia. É uma narrativa que nos define, um século de
história que nos projeta no mundo de forma singular. Mas não. O importante é
ter um esplêndido Ministério da Cultura com muita gente para mandar e pagar. De
certa forma, também é uma atração turística.
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