Pequim,
29 out (Lusa) - A China, nação mais populosa do mundo com 1.370 milhões de
habitantes, decidiu hoje abolir a política de "um casal, um filho",
pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980.
"Era
inevitável", comenta à Lusa um funcionário de um órgão estatal chinês,
aludindo à crescente pressão no sistema de pensões do país, fruto do rápido
envelhecimento da sociedade.
"A
questão agora é saber quem é que tem tempo e dinheiro para criar duas
crianças?", acrescentou.
A
decisão foi anunciada após uma reunião de quatro dias à porta fechada entre o
Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), a cúpula do poder na China, e
que serviu para delinear as prioridades do 13.º plano quinquenal (2016-2020).
Pelas
contas do Governo, sem aquela política, em vez de cerca de 1.350 milhões de
habitantes, a China teria hoje quase 1.700 milhões.
Já
em 2013, a direção do PCC decidiu aliviar a política, permitindo aos casais em
que ambos os cônjuges são filhos únicos ter um segundo filho.
Porém,
o número de casais que se inscreveram para ter um segundo filho (cerca de
700.000) ficou muito aquém dos dois milhões previstos pelas autoridades.
"O
esperado 'baby boom' não aconteceu e a vontade das pessoas de ter mais filhos
irá diminuir com o desenvolvimento económico", comentou então Cai Fang,
vice-diretor da Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS).
Quando
Deng Xiaoping impôs a política do filho único, a China era ainda um país pobre
e isolado, longe de conhecer o trepidante crescimento económico que viria a
transfigurar a sociedade chinesa.
Hoje,
nas grandes metrópoles chinesas, muitos jovens rompem com a tradição, optando
por casar tarde e ter apenas um filho, independentemente da flexibilização
ditada pelo Governo.
A
população ativa começou a diminuir e a taxa de fertilidade, que na década de
1970 era 4,77 filhos por mulher, desceu para 1,4, atingindo quase o nível de
alerta de 1,3, considerado globalmente como "a armadilha da baixa
fertilidade".
Segundo
dados oficiais, em 2050, um terço da população chinesa terá 60 ou mais anos e
haverá menos trabalhadores para sustentar cada reformado
Entretanto,
e fruto da tradição feudal que dá preferência a filhos do sexo masculino, a
política de filho único gerou um excedente de 33 milhões de homens: no final de
2014, a diferença, à nascença, era de 115,8 rapazes por 100 raparigas.
Os
números sugerem um outro efeito perverso da política: de acordo com dados oficiais
chineses, desde 1971, os hospitais do país executaram 336 milhões de abortos e
196 milhões de esterilizações.
A
maioria dos abortos ocorre quando o feto é do sexo feminino.
Para
Pequim, a política de filho único tratou-se de um mal necessário, permitindo o
aumento do Produto Interno Bruto 'per capita', da esperança média de vida
(agora em 75 anos) ou do nível de escolaridade da população.
JOYP
// EL
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