quinta-feira, 29 de outubro de 2015

China abole política de filho único, mas "baby boom" terá que esperar



Pequim, 29 out (Lusa) - A China, nação mais populosa do mundo com 1.370 milhões de habitantes, decidiu hoje abolir a política de "um casal, um filho", pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980.

"Era inevitável", comenta à Lusa um funcionário de um órgão estatal chinês, aludindo à crescente pressão no sistema de pensões do país, fruto do rápido envelhecimento da sociedade.

"A questão agora é saber quem é que tem tempo e dinheiro para criar duas crianças?", acrescentou.

A decisão foi anunciada após uma reunião de quatro dias à porta fechada entre o Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), a cúpula do poder na China, e que serviu para delinear as prioridades do 13.º plano quinquenal (2016-2020).

Pelas contas do Governo, sem aquela política, em vez de cerca de 1.350 milhões de habitantes, a China teria hoje quase 1.700 milhões.

Já em 2013, a direção do PCC decidiu aliviar a política, permitindo aos casais em que ambos os cônjuges são filhos únicos ter um segundo filho.

Porém, o número de casais que se inscreveram para ter um segundo filho (cerca de 700.000) ficou muito aquém dos dois milhões previstos pelas autoridades.

"O esperado 'baby boom' não aconteceu e a vontade das pessoas de ter mais filhos irá diminuir com o desenvolvimento económico", comentou então Cai Fang, vice-diretor da Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS).

Quando Deng Xiaoping impôs a política do filho único, a China era ainda um país pobre e isolado, longe de conhecer o trepidante crescimento económico que viria a transfigurar a sociedade chinesa.

Hoje, nas grandes metrópoles chinesas, muitos jovens rompem com a tradição, optando por casar tarde e ter apenas um filho, independentemente da flexibilização ditada pelo Governo.

A população ativa começou a diminuir e a taxa de fertilidade, que na década de 1970 era 4,77 filhos por mulher, desceu para 1,4, atingindo quase o nível de alerta de 1,3, considerado globalmente como "a armadilha da baixa fertilidade".

Segundo dados oficiais, em 2050, um terço da população chinesa terá 60 ou mais anos e haverá menos trabalhadores para sustentar cada reformado

Entretanto, e fruto da tradição feudal que dá preferência a filhos do sexo masculino, a política de filho único gerou um excedente de 33 milhões de homens: no final de 2014, a diferença, à nascença, era de 115,8 rapazes por 100 raparigas.

Os números sugerem um outro efeito perverso da política: de acordo com dados oficiais chineses, desde 1971, os hospitais do país executaram 336 milhões de abortos e 196 milhões de esterilizações.

A maioria dos abortos ocorre quando o feto é do sexo feminino.

Para Pequim, a política de filho único tratou-se de um mal necessário, permitindo o aumento do Produto Interno Bruto 'per capita', da esperança média de vida (agora em 75 anos) ou do nível de escolaridade da população.

JOYP // EL

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