Alterar
a lei das rendas, baixar o IVA da restauração, repor as 35 horas e dois
feriados. Votos da maioria de esquerda na AR podem revogar 13 leis deste
Governo. E impor 28 que antes não passaram.
Repor o IVA
da restauração em 13%, as 35 horas como horário normal em toda a
função pública e os feriados do 1.º de dezembro e do 5 de outubro. Corrigir a nova lei das rendas e o novo regime das amas.
Abolição das taxas moderadoras no aborto, aumento do abono de família e
uma comissão parlamentar de inquérito à concessão do Metro do Porto e
da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto. Isto é o que poderá acontecer
em breve na Assembleia da República, pelo simples facto de PS, BE e PCP
juntos terem mais deputados que o PSD/CDS, que apoiam o Governo.
O
Observador analisou todas as propostas de lei do Governo, na última sessão
legislativa (já com António Costa à frente do PS), para ver quais as que
mereceram o voto contra do PS, PCP e BE, bem como os projetos de lei em
que estes três partidos se mostraram unidos(mas que chumbaram com votos contra
do PSD e CDS). E isso mostra bem em que pontos a maioria de esquerda está
unida, se mantiver a mesma posição de princípio.
Os
primeiros dias da nova Assembleia da República poderão ser uma sucessão de
reversão de medidas do Governo, à semelhança do que aconteceu em 2009 quando
José Sócrates perdeu a maioria absoluta. A oposição uniu-se na altura na
aprovou uma série de diplomas para anular decisões do anterior Governo antes
mesmo de ser aprovado o Orçamento do Estado. O primeiro-ministro acusou a
oposição de ser “desleal” por querer “discutir despesa sem o quadro
geral do Orçamento de Estado”.
Houve
uma sexta-feira, dia de votações, que ficou conhecida como a “sexta-feira
negra” para o Governo em que a oposição aprovou, na generalidade, 11 dos 13
diplomas com medidas “anti-crise”. Entre esses projetos lei, aprovados pelo
PSD, CDS, PCP e BE, constavam o adiamento da entrada em vigor do Código
Contributivo, a extinção do Pagamento Especial por Conta, alterações no prazo
de reembolso do IVA e um diploma que impunha ao Estado o pagamento de juros de
mora pelo atraso no cumprimento de “qualquer obrigação pecuniária”. As contas
de Sócrates somavam, com essas medidas aprovadas contra o Governo, em 800
milhões de euros.
Este
ano, será mais fácil a oposição unir-se do que em 2009 porque nessa altura isso
implicou que o PSD votasse ao lado do PCP e BE. Agora, os três partidos de
esquerda estão todos do mesmo lado. Vejamos então o que uniu a esquerda
– e o que, desta vez, a esquerda pode aprovar (ou revogar) sozinha.
Diplomas
que não passaram
PS
Repor as
35 horas por semana como período normal de trabalho na função pública.
Propor
a ponderação do número de dependentes para efeitos de isenção de taxas
moderadoras.
Densificação
do regime de empréstimos de manuais escolares, assegurando a sua
articulação com regime de acção social escolar no ensino básico e secundário e
com as competências das autarquias locais na matéria.
Aumento
do montante pago nos escalões do abono de família e do abono
pré-natal e alteração da majoração das famílias monoparentais.
Introduzir
maior equidade fiscal e maior justiça social no Código do Imposto Municipal
sobre Imóveis.
Proceder
à alteração das regras de inventariação, de expedição e de exportação de obras
e altera a taxa de IVA aplicável ao restauro de bens móveis culturais.
Determinar
as taxas de juro aplicáveis aos mutuários de crédito num contexto de taxa de
referência negativa.
Reposição
do IVA da restauração na taxa de 13%.
Alargar
às entidades que prosseguem atividades culturais a possibilidade de
consignação de uma quota do IRS.
Revogar
a Portaria que “Estabelece os critérios que permitem categorizar os serviços e
estabelecimentos do SNS, de acordo com a natureza das suas responsabilidades e
quadro de valências exercidas, e o seu posicionamento da rede hospitalar e
procede à sua classificação”.
Proceder
à […] alteração do Código Penal, cumprindo o disposto na Convenção do Conselho
da Europa para a proteção das crianças contra a exploração sexual e os
abusos sexuais (Convenção de Lanzarote).
Suspensão
das penhoras e vendas executivas de imóveis por dívidas fiscais.
Restabelecer
os feriados do 1.º de dezembro e do 5 de outubro.
Alterar
o Código de Processo Penal eliminando a possibilidade de julgamentos em
processo sumário para crimes puníveis com pena de prisão superior a cinco
anos.
BE
Revogar
a Lei das rendas.
Eliminar
as comissões por reembolso antecipado e de termo do contrato.
Eliminar
da impossibilidade legal de adoção por casais do mesmo sexo.
Alterar
o Código do Registo Civil, tendo em conta a procriação medicamente assistida, a
adoção e o apadrinhamento civil por casais do mesmo sexo.
Combater
o trabalho forçado e outras formas de exploração laboral (a empresa utilizadora
ou adjudicatária da obra ou serviço é solidariamente responsável pelas
violações das disposições legais relativas à segurança e saúde
dos trabalhadores temporários).
PCP
Instituir
o Programa Nacional de Combate à Precariedade Laboral e à Contratação Ilegal.
Estabelecer
uma cláusula de salvaguarda para efeitos de IMI e revogar a isenção
concedida aos fundos imobiliários.
Proibir
os bancos de alterar unilateralmente taxas de juro e outras condições
contratuais.
Determinar
a obrigatoriedade de as instituições de crédito disponibilizarem uma conta
de depósito à ordem padronizada, designada de “conta base”, e proibir a
cobrança de comissões, despesas ou outros encargos pelos serviços prestados no
âmbito dessa conta.
Alterar
o Regime que cria a contribuição Extraordinária sobre o setor energético.
Revogar
a Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso.
Revogar a Propina do Ensino de Português no Estrangeiro.
Adotar
medidas urgentes para a reparação dos direitos lesados pela paralisia da
plataforma informática CITIUS e para a normalização do funcionamento
dos tribunais judiciais.
Recusar
a privatização da Empresa Geral de Fomento, S.A. (EGF) e revogar o
Decreto-Lei que aprova o processo de reprivatização da Empresa Geral
do Fomento, S.A.
Diplomas
que passaram com voto contra de toda a oposição
PSD/CDS
Introdução
de taxas moderadoras para o aborto.
Alteração
da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, consagrando uma nova
modalidade de horário de trabalho – a meia jornada.
GOVERNO
Novo
Regime Jurídico do Acesso e Exercício da Atividade Seguradora e
Resseguradora.
Novo
Estatuto da Ordem dos Advogados que estabelece o regime jurídico de
criação, organização e funcionamento das associações públicas profissionais.
Sistema
de registo de identificação criminal de condenados pela prática de crimes
contra a autodeterminação sexual e a liberdade sexual de menor.
Alteração
da lei que aprova a lei de bases do desenvolvimento agrário.
Regime
Jurídico do Serviço Público de Transporte de Passageiros.
Alteração
da lei que aprova as regras aplicáveis à assunção de compromissos e aos pagamentos
em atraso das entidades públicas (serviços públicos que aumentem os
pagamentos em atraso obrigados a constituir uma reserva que corresponda a
metade do valor do aumento).
Alteração
das normas fiscais ambientais nos sectores da energia e emissões,
transportes, água, resíduos, ordenamento do território, florestas e
biodiversidade, introduzindo ainda um regime de tributação dos sacos de
plástico e um regime de incentivo ao abate de veículos em fim de vida, no
quadro de uma reforma da fiscalidade ambiental.
Reforma
do IRS, orientada para a família, para a simplificação e para a mobilidade
social.
Novo
Regime do Arrendamento Apoiado para Habitação.
Revisão
do regime jurídico do arrendamento urbano (alargar o número de empresas
que podem aceder ao regime excecional e passam a ser abrangidas outras
entidades, como as instituições particulares de solidariedade social,
obriga a uma intervenção maior por parte das câmaras municipais no
reconhecimento das obras que terão obrigatoriamente de implicar um despejo dos
inquilinos).
Autorizar o Governo
a definir os termos e as condições para o acesso à profissão de ama e o
exercício da respetiva atividade.
Helena Pereira - Observador
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