Portugal
tem perto de 2 milhões de pessoas em risco de pobreza. Números que cresceram,
pelo menos até 2013, último ano com dados disponíveis no Instituto Nacional de
Estatística (INE).
Durante
a campanha eleitoral, a TSF selecionou 10 perguntas para a futura legislatura.
Hoje queremos saber qual a medida prioritária dos partidos para combater a
pobreza?
Segundo
o INE, a percentagem de idosos em risco de pobreza ronda os 15%. Nos adultos em
idade ativa atinge os 19%. Quanto às crianças e adolescentes, uma em cada
quatro (25,6%), perto de 470 mil, vivem numa família de baixos rendimentos.
A
presença de crianças numa família está aliás "associada ao aumento do
risco de pobreza", numa taxa que sobe para 38,4% nos agregados de apenas
uma mãe ou um pai, mas também nos casais com três ou mais filhos.
Pobreza
no Fim do Mundo?
Para
falar sobre pobreza com crianças, a TSF visitou um bairro social de Cascais
que, apesar da demolição das barracas e de um nome oficial diferente, continua
a ser conhecido como Bairro do Fim do Mundo. Uma zona marcada pelo desemprego,
exclusão social e insucesso escolar.
Para
as crianças, contudo, a palavra pobreza refere-se a algo distante que só vêem
quando saem do bairro e encontram mendigos, sem-abrigo ou pessoas com fome e
"a roupa rasgada".
O
coordenador pedagógico da ludoteca gerida por uma instituição católica que funciona
no centro deste bairro social consegue perceber, em parte, o que leva muitas
destas crianças a dizerem que não conhecem pobreza: é tudo uma questão de
comparação.
Pablo
Fortes explica que "a parte estética da pobreza é hoje muito diferente. O
bairro já não tem barracas e as irmãs [freiras] trazem por vezes fotografias de
África e os outros meninos não têm roupa, não têm calçado, não têm nada... As
crianças daqui comparam-se e pobreza, para elas, será um nível ainda mais
abaixo..."
O
responsável da ludoteca, que acompanha há vários anos as crianças no antigo
Bairro do Fim do Mundo, acrescenta que só mais tarde é que muitos destes miúdos
vão perceber as dificuldades que têm quando, por exemplo, precisarem de apoio
nos estudos e os pais não tiverem dinheiro ou se forem obrigados a desistir da
escola.
Bernardo
e Diogo têm 14 e 16 anos. Andam pelo bairro ao final da tarde e percebe-se que
já chegaram à idade em que compreendem melhor aquilo que distingue os pobres.
Admitem que "ninguém gosta de falar disso", mas sim, vêem
"bastante pobreza" no bairro e entre os colegas.
Os
dois amigos contam que cruzam-se com muitas pessoas que vão buscar comida ao
banco alimentar e Diogo diz que ele próprio costuma ir: "eu vou, não tenho
vergonha de dizer porque tenho necessidade e ninguém nasce rico".
O
coordenador da ludoteca acrescenta aquele que para ele é um dos principais
problemas da pobreza infantil: a desigualdade de oportunidades. "Estes
miúdos, até aos 18 anos, não têm as mesmas oportunidades que uma criança de classe
média ou média alta", pelo que "terem um percurso normal, sem grandes
percalços, até ao 12º ano, já é uma grande vitória pessoal".
Para
Pablo Fortes, a longo prazo, a pobreza em Portugal deve ser combatida sobretudo
de uma forma: apostando em quebrar logo na infância um ciclo de pobreza que,
com demasiada frequência, se prolonga durante várias gerações.
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