Portugal
não é a Grécia. Todos de acordo. Mas talvez tenhamos alguma coisa a aprender
sobre a forma e a rapidez com que os gregos escolhem o seu primeiro-ministro.
O
líder do maior partido é convidado a formar Governo. Se garantir, em três dias,
que a sua proposta terá o aval do Parlamento - quer porque já tenha uma maioria
de deputados do seu partido (ou coligação de partidos) quer porque garanta o
apoio que lhe falta entre algum dos outros -, é imediatamente empossado. Se o
partido mais votado não for capaz de o fazer, a tarefa passa para o segundo, e
depois para o terceiro. Sendo que cada um negoceia com quem quer. Se o problema
não se resolver, marcam-se novas eleições.
E
assim se cumprem os requisitos de uma democracia evoluída. Dá-se prioridade ao
vencedor das eleições, mas não se excluem os restantes. Por uma razão singela.
Quando os gregos votam, tal como acontece com os portugueses, estão a escolher
quem os representa no Parlamento. Sendo que um voto no partido vencedor não
vale nem menos nem mais do que um voto nos perdedores. Vale o mesmo. E de
qualquer deles pode sair o futuro primeiro-ministro.
E
é precisamente aqui que Portugal diverge - e mal - da prática política grega.
Dá-se por adquirido que é o partido (ou coligação) mais votado o único com direito
a liderar um Governo. E que os restantes não devem fazer mais do que
submeter-se a esse princípio - tudo para o vencedor, nada para os vencidos. Um
princípio, diga--se, que não está inscrito na Constituição. O problema,
note-se, não está tanto no resultado - todos interiorizaram, no domingo
passado, que Passos Coelho conquistara a primazia de tentar formar um Governo
-, antes no processo.
Como
se já não bastasse o coro habitual e afinado de comentadores, senadores e
estadistas, Cavaco Silva resolveu rapidamente presidir ao jogo de encostar o PS
e António Costa à parede. Não há alternativa (onde é que já ouvimos isto?). Tem
de associar-se ao Governo dos dois partidos de Direita, viabilizar o seu
programa, assegurar os orçamentos, apoiar a reforma da Segurança Social. E
aguentar quatro anos. O que possam pensar os dirigentes ou militantes
socialistas sobre esse suicídio político não interessa. E ainda menos os seus
1,7 milhões de eleitores. Entregaram o voto, isto agora é com os iluminados da
República. Tudo aos vencedores, nada aos vencidos. Mesmo que os vencedores
tenham perdido 800 mil votos e representem menos de 40% dos eleitores. Mesmo
que os vencidos somem 2,7 milhões de votos e representem mais de 50% dos
eleitores. Bem, é verdade que alguns não são bem eleitores, antes uma turba de
revolucionários marxistas, leninistas e trotskistas prontos para trocarem a
NATO pelo Pacto de Varsóvia. Isso e o facto conhecido de comerem criancinhas ao
pequeno-almoço.
*Editor
executivo
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