sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Portugal. OS VOTOS NÃO VALEM O MESMO?



Rafael Barbosa* – Jornal de Notícias, opinião

Portugal não é a Grécia. Todos de acordo. Mas talvez tenhamos alguma coisa a aprender sobre a forma e a rapidez com que os gregos escolhem o seu primeiro-ministro.

O líder do maior partido é convidado a formar Governo. Se garantir, em três dias, que a sua proposta terá o aval do Parlamento - quer porque já tenha uma maioria de deputados do seu partido (ou coligação de partidos) quer porque garanta o apoio que lhe falta entre algum dos outros -, é imediatamente empossado. Se o partido mais votado não for capaz de o fazer, a tarefa passa para o segundo, e depois para o terceiro. Sendo que cada um negoceia com quem quer. Se o problema não se resolver, marcam-se novas eleições.

E assim se cumprem os requisitos de uma democracia evoluída. Dá-se prioridade ao vencedor das eleições, mas não se excluem os restantes. Por uma razão singela. Quando os gregos votam, tal como acontece com os portugueses, estão a escolher quem os representa no Parlamento. Sendo que um voto no partido vencedor não vale nem menos nem mais do que um voto nos perdedores. Vale o mesmo. E de qualquer deles pode sair o futuro primeiro-ministro.

E é precisamente aqui que Portugal diverge - e mal - da prática política grega. Dá-se por adquirido que é o partido (ou coligação) mais votado o único com direito a liderar um Governo. E que os restantes não devem fazer mais do que submeter-se a esse princípio - tudo para o vencedor, nada para os vencidos. Um princípio, diga--se, que não está inscrito na Constituição. O problema, note-se, não está tanto no resultado - todos interiorizaram, no domingo passado, que Passos Coelho conquistara a primazia de tentar formar um Governo -, antes no processo.

Como se já não bastasse o coro habitual e afinado de comentadores, senadores e estadistas, Cavaco Silva resolveu rapidamente presidir ao jogo de encostar o PS e António Costa à parede. Não há alternativa (onde é que já ouvimos isto?). Tem de associar-se ao Governo dos dois partidos de Direita, viabilizar o seu programa, assegurar os orçamentos, apoiar a reforma da Segurança Social. E aguentar quatro anos. O que possam pensar os dirigentes ou militantes socialistas sobre esse suicídio político não interessa. E ainda menos os seus 1,7 milhões de eleitores. Entregaram o voto, isto agora é com os iluminados da República. Tudo aos vencedores, nada aos vencidos. Mesmo que os vencedores tenham perdido 800 mil votos e representem menos de 40% dos eleitores. Mesmo que os vencidos somem 2,7 milhões de votos e representem mais de 50% dos eleitores. Bem, é verdade que alguns não são bem eleitores, antes uma turba de revolucionários marxistas, leninistas e trotskistas prontos para trocarem a NATO pelo Pacto de Varsóvia. Isso e o facto conhecido de comerem criancinhas ao pequeno-almoço.

*Editor executivo

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