quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Portugal. PR “COMPORTA-SE COMO LIDER DE UMA SEITA”, ACUSA CATARINA MARTINS




“Não aceito que haja partidos com mais responsabilidade que outros”. Cavaco Silva fez “discurso de facção”, acusou líder do BE numa entrevista em tom muito duro.

Ao longo dos primeiros 15 minutos de uma entrevista que durou quase uma hora, Catarina Martins apontou o discurso a Cavaco Silva, lançando várias acusações.

Considerando que a comunicação do Presidente da República (PR) foi um “discurso absolutamente inaceitável que apela à instabilidade do país e procura perverter que é o próprio regime democrático e decisão eleitoral dos portugueses”, a líder do Bloco de Esquerda disse, na entrevista à TVI 24, que não contesta a decisão, mas sim “o que se seguiu no discurso”.

“Sendo certo que podia tomar a decisão formal que bem entendesse”, o PR “fez uma série de afirmações como quem diz que só há alguns partidos que podem ser chamadas a solução de governo e estabilidade”. Ao fazê-lo, “não está a insultar os partidos”, “está a dizer que um milhão de pessoas não valem nada (…) há um milhão de eleitores cuja voz não pode ser ouvida”, apontou Catarina Martins.

Sobre a escolha de Passos, a bloquista afirmou que “não tenho problema nenhum com essa legitimidade”, porque está na constituição, mas “essa candidatura mais votada [coligação PSD/CDS] não será capaz de passar o seu governo, porque será rejeitado, de passar o seu orçamento, porque será rejeitado”, É uma “solução que não tem futuro e nos faz perder tempo”.

Notando que Cavaco Silva “esqueceu-se de falar na constituição”, designou a comunicação de “discurso de facção. Consegue surpreender sendo ainda mais faccioso que os piores comentários de direita que temos ouvido”, acusou.

Catarina Martins contestou ainda o alegado “anti-europeísmo” dos bloquistas, e o modo como essa característica poderia impedir o Bloco de Esquerda de contribuir para um Governo – Cavaco Silva afirmou que “em 40 anos de democracia, nunca os governos de Portugal dependeram do apoio de forças políticas anti-europeístas, isto é, de forças políticas que, nos programas eleitorais com que se apresentaram ao povo português, defendem a revogação do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental, da União Bancária e do Pacto de Estabilidade e Crescimento, assim como o desmantelamento da União Económica e Monetária e a saída de Portugal do Euro, para além da dissolução da NATO, organização de que Portugal é membro fundador”.

O Presidente da República “não conhecerá a história portuguesa”, acusa Catarina Martins dizendo que “o primeiro [partido] que me lembro é o CDS-PP”, “que era anti-europeísta e foi assim que se afirmou. (...) É preciso ter algum desprezo pela memória colectiva quando fala nesses termos”, diz a líder do BE.

Sempre num tom duro contra Cavaco Silva, a dirigente do Bloco explicou que “não pode dizer que não há condições de estabilidade de um governo de esquerda” e dar posse a um governo sem maioria.

Garantindo que “há solução estável, viável para o nosso país, que quebra o ciclo de empobrecimento”, Catarina Martins questionou se “o Presidente da República acha mesmo que quando estamos a discutir se os pensionistas no mês de Janeiro vão ter mais dificuldade em chegar ao fim do mês, ou se vão ter mais folga, estão mesmo a pensar nas metas de tratados europeus que nunca foram sufragadas em Portugal e que nenhum país da UE cumpre?”

“O senhor Presidente da República teve um discurso quase de seita”, acusou, numa ideia que voltou a repetir. “Está a comportar-se como líder de seita, a tentar criar instabilidade e a fazer chantagem. É completamente inaceitável que assim seja. Não é aceitável que o Presidente da República venha dizer que não aceita soluções que sejam democraticamente sufragadas no país e no parlamento. Não é assim que está desenhado a ordem constitucional”, afirmou a dirigente do Bloco de Esquerda, a terceira força mais votada nas eleições de 4 de Outubro, após a coligação PàF e o PS.

“O que me choca, o que é inaceitável, é que venha trazer para cima da mesa uma espécie de veto sobre decisões políticas democráticas, como se já estivesse decidido o governo antes das eleições, como se de facto as eleições fossem uma fraude e tinha era que se manter o rumo que o senhor Presidente da República quer. Isso não é assim. O regime democrático não funciona assim. O que fez é algo muito grave em democracia. Utilizar o papel institucional para criar instabilidade e fazer chantagem sobre deputados eleitos democraticamente”.

Dizendo não saber se essa designada chantagem resultará, garante: “Comigo não será com certeza”.

Alexandre Frade Batista - Económico

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