O
secretário-geral do PCP citou hoje o histórico líder comunista Álvaro Cunhal,
recordando os seus esforços de convergência, nomeadamente com o PS, mas
assegurou que o partido "não será muleta de ninguém" e "não se
deixa sitiar".
Jerónimo
de Sousa discursou na apresentação do "Tomo VI das Obras Escolhidas"
do antigo secretário-geral, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, reportando-se ao
ano de 1976, já depois do "Verão Quente" de 1975 e do 25 de Novembro,
que terminou o denominado Processo de Revolução em Curso (PREC), traçando
paralelismos com a atual situação de entendimento com socialistas, liderados
por António Costa.
"Hoje,
está aberto o caminho e podem dar-se os primeiros passos para inverter o rumo
de empobrecimento e de exploração destes últimos anos. Na passada terça-feira,
dia 10 [data de aniversário do falecido Cunhal], culminando quatro anos de luta
dos trabalhadores e das massas populares foi rejeitado na Assembleia da
República o Governo PSD/CDS. É conhecida a subscrição da 'Posição Conjunta PS
PCP Sobre Solução Política'", congratulou-se.
O
líder comunista descreveu aquela como "uma iniciativa de uma força com
vontade e identidade própria, que afirma o seu programa e projeto. Uma força,
como afirmou Álvaro Cunhal, que não será muleta de ninguém, que não se deixa
sitiar, não deixou no passado, não deixa no presente e não deixará no
futuro".
"Há
quem diga que só agora falamos do PS. Quem se dedicar a passar os olhos pelas
intervenções, as entrevistas e artigos deste VI tomo, verificará o enorme
esforço do PCP na procura de um entendimento para salvar a democracia, as
conquistas da Revolução [dos Cravos] e para a concretização de uma política a
favor do povo. Entendimento que só não se concretizou pela opção própria do
PS", afirmou Jerónimo de Sousa, referindo-se às opções do então líder
socialista, Mário Soares, e suas alianças a PSD e CDS-PP.
Recorrendo
a palavras exatas de Cunhal, há 40 anos, o secretário-geral do PCP questionou:
"para onde vamos?", "que caminho vamos seguir?", face a
"um momento em que foi infligida uma profunda derrota ao Governo PSD/CDS e
ao seu projeto de exploração e empobrecimento do povo, e perante os graves
problemas que o país enfrenta e este Governo deixa".
Jerónimo
de Sousa recordou a histórica "esforçada intervenção e ação de um partido,
dos trabalhadores, suas organizações e do movimento popular de massas",
então, "numa realidade complexa", num "país em que as forças da
contrarrevolução impunham em vastas zonas a sua lei, perseguindo, intimidando e
ameaçando os comunistas e outros democratas, promovendo assaltos a centros de
trabalho, sindicatos e outras organizações progressistas, extinguindo e
coartando liberdades".
O
líder comunista comparou também os tempos que se vivem em Portugal aos do VI
Governo Provisório (1975/76), liderado por Pinheiro de Azevedo e ainda com dois
comunistas no elenco, considerando que se tornam a ouvir "as maiores
calúnias", as "mais grosseiras mentiras" e os "mais
violentos ataques contra o PCP, as forças democráticas e o movimento
operário", enquanto se "procura uma solução política para isolar e
travar a ofensiva da coligação PSD/CDS", a qual afirmou estar "no
desespero da sua iminente derrota".
HPG
// SMA – Lusa - ontem
Sem comentários:
Enviar um comentário