Rui Peralta, Luanda
A Europa de hoje sofre uma velha ameaça: o fascismo, com novas caras mas de
tradicionais famílias. Hitler e Mussolini e os actores secundários da tragedia
fascista europeia (Salazar, Franco, os coronéis gregos e outros actores
secundários) parecem ter espalhado o seu ADN decrépito e degenerado. A
democratização do projecto europeu atravessa maus lençóis e os descendentes do
fascismo assumem posições de ataque, prontos para a maratona.
2015 fica marcado na Europa e na construção da Europa Democrática, como um ano
de grandes clivagens, marcado pelo terrorismo (o de Estado e o do fascismo
islâmico) e pela vaga de migrantes (também uma consequência do fascismo
islâmico e do terrorismo de Estado). O medo é sentimento dominante. A Europa teme
a China, teme a Rússia, teme as comunidades imigrantes, teme os refugiados (que
acreditam nos valores democráticos que a Europa espalhou pelo mundo) teme o
Islão, teme os pobres, teme a 3ª e a 4ª idade, teme a criatividade e a
inovação, teme o a democratização da vida social e económica, teme o mercado
aberto, é incapaz de discernir a diferença entre Estado e sector público,
teme…o Estado Democrático de Direito, uma vez que na Europa iniciou-se o
processo de reconversão deste em Estado Oligárquico de Direito.
É um medo com causas reais? Tanto como virtuais! Os desafios da economia-mundo
são sempre vastos, amplos e acumulados e apenas podem ser resolvidos através de
uma óptica cidadã, nunca sob a luneta míope do Estado ou nas neuroses do mercado
adulterado submetido às lógicas perversas da burocracia e das velhas elites
oligárquicas (as politicas e as económicas). Vivem os europeus numa Europa em
pânico, que continua a não conseguir gerar uma identidade europeia e que
continua submetida aos ditames das nações europeias, do bolor do lixo
identitário.
Os exemplos de ataques reais á democracia na Europa são vários e de diversa
índole. Observe-se o que se passou nas ultimas eleições na Polónia, com a
vitória do pterossauro Duda, com a FN em França, onde pode-se acrescentar o
estado de emergência e a tentação de cortar o Wi-Fi público, as experiências
com contas bancárias do Barclays no Chipre, os conluios entre os oligopólios e
os Estados para limitar liberdades públicas e privadas, sendo que tudo isto é
consentido pelos cidadãos, submetidos á insegurança e ao receio. É a neurose do
medo incutida nos amplos sectores da sociedade.
Feitas as contas, o que resta do projecto europeu? Pouco e cada vez menos.
Muito foi afogado pelo medo: a união politica, a união fiscal, a gestão da
eurolândia, a Europa Social…O que surge, firme que nem um rochedo incrustado na
vergonha de cada europeu, é a Europa-Fortaleza, cada vez mais militarista,
fascizante e concentracionária. O mal está feito. Em todas as frentes europeias
as portas e janelas estão fechadas, os protagonistas são de péssima qualidade,
os argumentistas enredam-se nas virgulas e, pelos caminhos que os actuais
carroceiros percorrem, não haverá soluções ou talvez só uma: a Final.
É evidente que por outros caminhos haverá outras alternativas. E, sendo a
Europa uma realidade pluridimensional (para fúria dos seu unidimensionais
adversários), plural, democrática e participativa outros trilhos serão
percorridos e outros rumos serão traçados. O projecto europeu poderá ser
reformulado e os seus princípios retomados. A Europa-Fortaleza deverá ser
destruída e das suas ruinas deverão ser preservadas as pedras que constituem a
memória da vergonha.
Sem comentários:
Enviar um comentário