É Nicolau Santos num Expresso Curto. Passou o natal e é isto: temos no sapatinho
todos esses gajos que nos roubam mas continuam à solta. À solta e continuando a
roubar-nos. Lembro agora uma que o Menino Jesus me soprou ao ouvido. Porque é
que houve interferência sinuosa de Cavaco Silva no processo de Dias Loureiro? Porque não
incomodaram mais o protegido do PR? “Parem as investigações”. E pararam. Pois.
Quem
não deve não teme. Bla, bla, bla. Sou muito honesto. Bla, bla, bla… Pois.
Redação
PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Nicolau
Santos - Expresso
Os
Emídios Catuns que nos pregaram um calote de 6,3 mil milhões e andam à solta
Bom
dia.
Desculpem, mas não há peru, rabanadas e lampreias de ovos que me façam passar o engulho da fatura que neste final do ano veio parar outra vez aos bolsos dos contribuintes por mais um banco que entrega a alma ao criador, no caso o Banif, no caso mais 3 mil milhões. É de mais, é inaceitável, é uma ignomínia para todos os que estão desempregados ou caíram no limiar da pobreza por causa desta crise e mais uma violência brutal para os que continuam a pagar impostos (e que são apenas cerca de 50% de todos os contribuintes).
Todos nos lembramos do cortejo dos cinco maiores banqueiros portugueses (Ricardo Salgado, Fernando Ulrich, Nuno Amado, Faria de Oliveira e Carlos Santos Ferreira) a irem ao Ministério das Finanças e depois à TVI exigir ao então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, para pedir ajuda internacional. Todos nos lembramos como o santo e a senha da altura era o da insustentável dívida pública portuguesa por erros de gestão do Governo de José Sócrates. Todos nos lembramos das sucessivas reafirmações de que a banca estava sólida por parte do Banco de Portugal e do governador Carlos Costa. Todos nos lembramos dos testes de stress aos bancos conduzidos pela Autoridade Bancária Europeia – e como os bancos nacionais passaram sempre esses testes. E depois disso BPI, BCP, CGD e Banif tiveram de recorrer à linha de crédito de 12 mil milhões acordada com a troika. E depois disso o BES implodiu – e agora o Banif também. E depois disso só o BPI pagou até agora tudo o que lhe foi emprestado. E antes disso já o BPN e o BPP tinham implodido. E a Caixa vai ter de fazer um aumento de capital. E o Montepio é uma preocupação. É de mais! Chega! Basta!
No caso do Banif, é claro que o governador Carlos Costa tem enormes responsabilidades na forma como o problema acabou por ter de ser resolvido. No caso do BES foi ele também que seguiu a estratégia da resolução, da criação do Novo Banco e do falhanço total dessa estratégia – a venda rápida que não aconteceu, a venda sem despedimentos que também não vai acontecer, os 17 interessados que afinal eram só três, as propostas que não serviam, e o banco que era para ser vendido inteiro e agora vai ser vendido após uma severa cura de emagrecimento. É claro também que a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, tem responsabilidades diretas no caso, por inação ou omissão. E é claro que o ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, geriu politicamente o dossiê.
Mas não confundamos os políticos e o polícia com os bandidos, com os que levaram a banca portuguesa ao tapete. E para isso nada melhor do que ler o excelente texto que o Pedro Santos Guerreiro e a Isabel Vicente escreveram na revista do Expresso da semana passada com um título no limite mas que é um grito de alma: «O diabo que nos impariu» - ou como os bancos nacionais destruíram 40 mil milhões desde 2008. Aí se prova que houve seguramente muitos problemas, mas que a origem de tudo está no verdadeiro conúbio lunar que se viveu entre a banca e algumas empresas e alguns empresários do setor da construção. Perguntam os meus colegas: «Sabe quem é Emídio Catum? É um desses empresários da construção, que estava na lista de créditos do BES com empresas que entretanto faliram. Curiosamente, Catum estava também na lista dos maiores devedores ao BPN, com empresas de construção e imobiliário que também faliram». E como atuava Catum? «O padrão é o mesmo: empresas pedem crédito, não o pagam, vão à falência, têm administradores judiciais, não pagam nem têm mais ativos para pagar, o prejuízo fica no banco, o banco é intervencionado, o prejuízo passa para o Estado». Simples, não é, caro leitor?
A pergunta que se segue é: e o tal de Catum está preso? Não, claro que não. E assim, de Catum em Catum, ficámos nós que pagamos impostos com uma enorme dívida para pagar que um dia destes vai levar o Governo a aumentar de novo os impostos ou a cortar salários ou a baixar prestações sociais. Mas se fosse só o Catum… Infelizmente, não. Até as empresas de Luís Filipe Vieira deixaram uma dívida de 17 milhões do BPN à Parvalorem, do Estado, e tinham ainda por pagar 600 milhões de crédito do BES. O ex-líder da bancada parlamentar do PSD, Duarte Lima,deixou perdas tanto no Novo Banco como no BPN. Arlindo Carvalho, ex-ministro cavaquista, também está acusado por ilícitos relacionados com crédito concedido pelo BPN para compra de terrenos. E um dos homens fortes do cavaquismo, Dias Loureiro é arguido desde 2009 por compras de empresas em Porto Rico e Marrocos, suspeita de crimes fiscais e burlas. Mas seis anos depois, o Ministério Público ainda não acusou Dias Loureiro, nem o processo foi arquivado.
Dos 50 maiores devedores do BES, que acumulavam um crédito total de dez mil milhões de euros, «o peso de construtores e promotores imobiliários é avassalador». No BPN, «mais de 500 clientes com dívidas iguais ou superiores a meio milhão de euros deixaram de pagar». E a fatura a vir parar sempre aos bolsos dos mesmos. Por isso, o artigo de Pedro Santos Guerreiro e Isabel Vicente é imperdível. Para ao menos sabermos que o que aconteceu não foi por acaso. Que muita gente não pagou o que devia ou meteu dinheiro ao bolso – e esperou calmamente que o Estado viesse socializar os prejuízos enquanto eles privatizaram os lucros.
Desculpem, mas não há peru, rabanadas e lampreias de ovos que me façam passar o engulho da fatura que neste final do ano veio parar outra vez aos bolsos dos contribuintes por mais um banco que entrega a alma ao criador, no caso o Banif, no caso mais 3 mil milhões. É de mais, é inaceitável, é uma ignomínia para todos os que estão desempregados ou caíram no limiar da pobreza por causa desta crise e mais uma violência brutal para os que continuam a pagar impostos (e que são apenas cerca de 50% de todos os contribuintes).
Todos nos lembramos do cortejo dos cinco maiores banqueiros portugueses (Ricardo Salgado, Fernando Ulrich, Nuno Amado, Faria de Oliveira e Carlos Santos Ferreira) a irem ao Ministério das Finanças e depois à TVI exigir ao então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, para pedir ajuda internacional. Todos nos lembramos como o santo e a senha da altura era o da insustentável dívida pública portuguesa por erros de gestão do Governo de José Sócrates. Todos nos lembramos das sucessivas reafirmações de que a banca estava sólida por parte do Banco de Portugal e do governador Carlos Costa. Todos nos lembramos dos testes de stress aos bancos conduzidos pela Autoridade Bancária Europeia – e como os bancos nacionais passaram sempre esses testes. E depois disso BPI, BCP, CGD e Banif tiveram de recorrer à linha de crédito de 12 mil milhões acordada com a troika. E depois disso o BES implodiu – e agora o Banif também. E depois disso só o BPI pagou até agora tudo o que lhe foi emprestado. E antes disso já o BPN e o BPP tinham implodido. E a Caixa vai ter de fazer um aumento de capital. E o Montepio é uma preocupação. É de mais! Chega! Basta!
No caso do Banif, é claro que o governador Carlos Costa tem enormes responsabilidades na forma como o problema acabou por ter de ser resolvido. No caso do BES foi ele também que seguiu a estratégia da resolução, da criação do Novo Banco e do falhanço total dessa estratégia – a venda rápida que não aconteceu, a venda sem despedimentos que também não vai acontecer, os 17 interessados que afinal eram só três, as propostas que não serviam, e o banco que era para ser vendido inteiro e agora vai ser vendido após uma severa cura de emagrecimento. É claro também que a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, tem responsabilidades diretas no caso, por inação ou omissão. E é claro que o ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, geriu politicamente o dossiê.
Mas não confundamos os políticos e o polícia com os bandidos, com os que levaram a banca portuguesa ao tapete. E para isso nada melhor do que ler o excelente texto que o Pedro Santos Guerreiro e a Isabel Vicente escreveram na revista do Expresso da semana passada com um título no limite mas que é um grito de alma: «O diabo que nos impariu» - ou como os bancos nacionais destruíram 40 mil milhões desde 2008. Aí se prova que houve seguramente muitos problemas, mas que a origem de tudo está no verdadeiro conúbio lunar que se viveu entre a banca e algumas empresas e alguns empresários do setor da construção. Perguntam os meus colegas: «Sabe quem é Emídio Catum? É um desses empresários da construção, que estava na lista de créditos do BES com empresas que entretanto faliram. Curiosamente, Catum estava também na lista dos maiores devedores ao BPN, com empresas de construção e imobiliário que também faliram». E como atuava Catum? «O padrão é o mesmo: empresas pedem crédito, não o pagam, vão à falência, têm administradores judiciais, não pagam nem têm mais ativos para pagar, o prejuízo fica no banco, o banco é intervencionado, o prejuízo passa para o Estado». Simples, não é, caro leitor?
A pergunta que se segue é: e o tal de Catum está preso? Não, claro que não. E assim, de Catum em Catum, ficámos nós que pagamos impostos com uma enorme dívida para pagar que um dia destes vai levar o Governo a aumentar de novo os impostos ou a cortar salários ou a baixar prestações sociais. Mas se fosse só o Catum… Infelizmente, não. Até as empresas de Luís Filipe Vieira deixaram uma dívida de 17 milhões do BPN à Parvalorem, do Estado, e tinham ainda por pagar 600 milhões de crédito do BES. O ex-líder da bancada parlamentar do PSD, Duarte Lima,deixou perdas tanto no Novo Banco como no BPN. Arlindo Carvalho, ex-ministro cavaquista, também está acusado por ilícitos relacionados com crédito concedido pelo BPN para compra de terrenos. E um dos homens fortes do cavaquismo, Dias Loureiro é arguido desde 2009 por compras de empresas em Porto Rico e Marrocos, suspeita de crimes fiscais e burlas. Mas seis anos depois, o Ministério Público ainda não acusou Dias Loureiro, nem o processo foi arquivado.
Dos 50 maiores devedores do BES, que acumulavam um crédito total de dez mil milhões de euros, «o peso de construtores e promotores imobiliários é avassalador». No BPN, «mais de 500 clientes com dívidas iguais ou superiores a meio milhão de euros deixaram de pagar». E a fatura a vir parar sempre aos bolsos dos mesmos. Por isso, o artigo de Pedro Santos Guerreiro e Isabel Vicente é imperdível. Para ao menos sabermos que o que aconteceu não foi por acaso. Que muita gente não pagou o que devia ou meteu dinheiro ao bolso – e esperou calmamente que o Estado viesse socializar os prejuízos enquanto eles privatizaram os lucros.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Lá fora, a notícia mais importante é a tomada pelo exército iraquiano do controlo da cidade de Ramadi, ocupada pelo Daesh desde maio deste ano, ao conquistar o antigo edifício governamental que até agora funcionava como centro de operações dos terroristas. É o fim da campanha militar iniciada no dia 22, quando o Exército iraquiano, apoiado por aviões da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, conseguiu alcançar o centro da cidade.
Por seu turno, a NATO vai enviar aviões para proteger o espaço aéreo turco. Os aparelhos de vigilância vão ser transferidos da base aérea alemã de Geilenkirchen para a base de Konya, localizada no sul da Turquia. A decisão implica o envio de soldados alemães para o estrangeiro, mas não vai passar pelo Parlamento do país.
A forma de gerir a questão dos refugiados na Europa continua a dividir os governos do Velho Continente. O presidente da República Checa, Milos Zeman,disse taxativamente: «Estou profundamente convencido de que estamos perante uma invasão organizada e não um movimento espontâneo de refugiados». E acrescentou que, embora seja «possível» sentir compaixão pelas crianças, idosos e doentes que chegam de países em guerra, o mesmo não se pode dizer sobre os refugiados mais jovens: «A grande maioria dos migrantes ilegais são homens jovens, solteiros e de boa saúde. Pergunto-me por que não estão estes homens a pegar em armas e combater pela liberdade dos seus países, enfrentando o Estado Islâmico».
Para a ONU, pelo contrário, «o grande desafio é integrar os migrantes». «É vital investir na educação» dos refugiados que receberam direito de asilo, garante o porta-voz da organização intergovernamental.
Entretanto, o Japão e a Coreia de Sul chegaram a acordo sobre as escravas sexuais coreanas que foram obrigadas a servir os soldados do exército nipónico durante a II Guerra Mundial. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, pediu desculpa pelas chamadas «mulheres de conforto» e o Japão vai criar um fundo para indemnizar as sobreviventes e as suas famílias.
Por cá, na guerra dos direitos televisivos para a transmissão dos jogos de futebol, depois da NOS ter chegado a acordo com o Benfica por 400 milhões em dez anos, a MEO subiu a parada: 457,5 milhões para o Futebol Clube do Porto também por dez anos. Contudo, os acordos não são exatamente idênticos e o Jornal de Negócios tenta fazer a comparação. Resta agora saber o que irá o Sporting conseguir. E o Braga. E o Guimarães. E outros clubes. Porque o campeonato não se joga apenas com três e se uns tiverem cada vez mais dinheiro e outro menos, isso quer dizer que será cada vez menos competitivo e menos interessante. O que é mau para o negócio.
Uma boa notícia: só 1% das câmaras vão cobrar mais IMI em 2016. A maioria das autarquias do país optou por manter em 2016 as mesmas taxas de IMI cobradas este ano. Houve 46 que decidiram mesmo descer e apenas três subiram. Quase metade ficaram-se pela taxa mínima, de 0,3%.
Outra boa notícia: três em cada quatro empresas querem contratar em 2016, motivadas pela saída da troika e a queda da taxa de desemprego. Os salários deverão manter-se quase inalterados, mas há uma tendência de aposta em benefícios
O treinador do Sporting, Jorge Jesus, deu uma entrevista ao Jornal da Noite da TVI e considerou Benfica e Porto os favoritos à conquista do título de campeão nacional de futebol, «com o Sporting a entrar também de forma muito séria nesse duelo». E ontem à noite manteve-se uma tradição: um jantar de apoio à recandidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa, 77 anos, à presidência do FC Porto. E outra tradição: o humor do presidente, quando as coisas não lhe correm de feição. Sobre os assobios para o treinador Julen Lopetegui, disse: «Se com os assobios chegou a primeiro, então que continuem a assobiar mas logo desde o princípio, porque dá sorte».
E por falar em assobios, se o leitor tem a mania de mandar piropos às mulheres que vê na rua, então cuide-se e mude de comportamento. Desde agosto que uma alteração ao Código Penal, que passou despercebida, criminaliza com penas de prisão até 3 anos os tais piropos ou «propostas de teor sexual», como as caracteriza a lei.
No cinema, o mais recente filme da saga Star Wars tornou-se, nos Estados Unidos, o mais visto de sempre no dia de Natal, e tornou-se, globalmente, o mais rápido a gerar mil milhões de dólares em sala. Agora, é esperado que ultrapasse Avatar e Titanic e se torne recordista absoluto de bilheteira.
Enquanto escrevo, as fortes rajadas de vento fazem-se ouvir através de estridentes assobios. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou 12 distritos sob aviso amarelo, devido à previsão de vento forte entre domingo e segunda-feira,com rajadas de 70 a 100 quilómetros por hora. Lisboa não está na lista. E o mau tempo anda à solta pelo mundo: há cheias na Europa, Ásia e América Latina, onde o «pior El Niño em 15 anos provoca cheias devastadoras».
FRASES
"Sabe para onde vai o Mourinho? Para o Manchester United! Cheira-me, cheira-me, cheira-me". Marcelo Rebelo de Sousa, em Beja, em pré-campanha presidencial, SIC
"O Estado social é para mim, desde sempre, uma prioridade". Idem
"Arranja-me uma colherzinha para eu provar o puré de batata?".Marcelo Rebelo de Sousa, na escola de apoio a crianças desfavorecidas Vidas Coloridas, Beja, SIC
"Todos temos consciência que é necessário um Serviço Nacional de Saúde a funcionar como um relógio". Maria de Belém, em pré-campanha presidencial na Feira da Brandoa, SIC
"Era evidente que cortes a seguir a cortes acabava por dar mau resultado". Sampaio da Nóvoa em Reguengos de Monsaraz e em pré-campanha presidencial, sobre a morte de um jovem de 29 anos por falta de uma equipa de cirurgia, SIC
"(As medidas do Governo no caso Banif) não são de um tempo novo, são da velha política, são da política do antigamente". Edgar Silva, candidato comunista à Presidência da República, dizendo do Governo aquilo que o PCP não ousou fazer até agora, jornal i
O QUE NÃO LI MAS VOU LER
João Lobo Antunes é um dos maiores neurocirurgiões mundiais. Mas é muito mais do que isso. É um pensador. Reflete sobre a vida com a delicadeza mas também a certeza com que usou durante décadas o bisturi. Abriu cérebros, cortou tumores, salvou milhares de vidas. Mas também tem a sua dose de fracassos, como reconhece. «Há um que me vem à memória com frequência. A doente ficou cega e eu percebi no ato cirúrgico que isso estava a acontecer. E não dá para rebobinar o filme». É isso que conta numa magnífica entrevista à minha colega Luciana Leiderfarb, publicada na E, a revista do Expresso, na semana passada, a propósito do lançamento recente do seu livro «Ouvir Com Outros Olhos» (Gradiva).
Conheço Lobo Antunes como pessoa pública. Não mais do que isso. Tenho por ele uma enorme admiração. Mas o seu livro sobre Egas Moniz, o primeiro Nobel português de medicina (e único até agora nesta área) provocou-me, por razões muito pessoais, um enorme desconforto. Lobo Antunes defende os métodos utilizados por Egas Moniz para tratar doentes com disfunções de personalidade ou outras doenças cerebrais – métodos que hoje seriam considerados bárbaros e muito questionáveis. Eu vi o meu pai ser vítima dos métodos de Egas Moniz. Aos 24 anos, após uns súbitos ataques epiléticos, o meu avô e pai dele enviou-o a Portugal (viviam em Angola) para fazer exames médicos com Moniz. Este decidiu fazer uma radiografia de alto contraste ao cérebro, utilizando para isso um medicamento denominado Torotraste, que continha substâncias radioativas. Nada descobriu e os ataques epiléticos passaram. Trinta anos depois, aos 54 anos, o meu pai morreu numa semana. Diagnóstico: cancro no fígado. Ele não bebia nem fumava. O cancro veio do Torotraste, que tinha substâncias radioativas, que passado alguns anos destruíam o fígado dos pacientes sujeitos ao tratamento, provocando tumores. Morreram muitas pessoas por causa do Torotraste. Provavelmente mais de mil. O meu pai foi dos que durou mais: 30 anos. Mas mesmo assim morreu demasiado novo, aos 54 anos. É este o meu desconforto com João Lobo Antunes. Mas não deixarei de comprar este seu novo livro.
E pronto, está servido o Expresso Curto e forte, como convém após uns dias de excessos alimentares e de grande paz de espírito. Amanhã, com a sua pena afiada, a sua inteligência acutilante e o seu estilo inconfundível está cá ao seu dispor o Pedro Santos Guerreiro, com um fantástico Expresso Curto.
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