O
estudante da Guiné-Bissau Francisco Ialá, de 35 anos, vive há 10 anos em Porto
Alegre, no sul do Brasil, onde enfrenta, quase diariamente, o preconceito e o
racismo. A sua ambição é defender os direitos dos outros.
Desde
pequeno que o guineense Francisco Ialá pretende fazer da luta pelos seus
direitos e dos outros a sua profissão. Na Guiné-Bissau, passou fome quando era
menino. Sobreviveu à guerra civil; Mas viu familiares morrerem nos confrontos.
Chegou ao Brasil em junho de 2005 e estudou primeiramente Ciências Sociais.
Entretanto, mudou de curso e estuda agora o que sempre sonhou: Direito.
Até
há pouco tempo, Francisco morou numa Casa de Estudante, localizada no centro da
cidade de Porto Alegre. Quando o guineense entrou, a residência abrigava cerca
de 50 pessoas. Vivendo no local, Francisco pode sentir na pele o racismo e o
preconceito impregnado pelos estudantes locais. "Quase me suicidei",
conta o estudante, que faz parte do grupo étnico balanta. "Podemos lidar com
todo o mundo, mas defendemos a nossa honra. Suicidamo-nos para preservar a
nossa honra", explica.
Numa
das frases escritas no mural da Casa do Estudante, os africanos eram apelidados
de "macacos". "Nem conseguia dormir", lembra Francisco
Ialá, que na residência teve ainda de ouvir acusações como
"estuprador" e "mal-educado".
Vigília
contra o racismo
O
sentimento de raiva somado ao desejo de justiça levou o guineense a realizar
uma vigília em frente ao Palácio do Governo Estadual no Dia da Consciência Negra
no Brasil, a 20 de novembro. Francisco protestou contra o racismo e o
preconceito, em especial com os africanos e haitianos.
Depois
de muita espera e insistência, o guineense foi recebido pelo governador José
Ivo Sartori. "Expliquei ao governador que, além de terem acusado os
africanos de estupro, expuseram o nome deles no mural da casa como os maiores
devedores. E o governador disse que isso não pode acontecer", conta,
acrescentando que José Ivo Sartori prometeu contactar a Secretaria de Direitos
Humanos para mais informações sobre o caso.
Aulas
de judo e direitos humanos
Há
mais de um ano, o estudante da Guiné-Bissau, que também é lutador de judo,
realiza trabalho voluntário numa escola de ensino fundamental, na zona norte de
Porto Alegre. "Chico", como é chamado pelos alunos, dá aulas de judo
e direitos humanos.
O
diretor da escola municipal, Altemir de Oliveira, destaca a contribuição do
imigrante africano para o futuro dos alunos. "Para nós, foi muito
importante ele vir para a escola. Estamos a viver esta questão da imigração e o
Francisco deu-nos uma contribuição sobre isso e sobre a questão do racismo que
as pessoas negras estão a sofrer aqui no Brasil". E também é "uma
forma de as crianças conviverem com essa diversidade e trabalhar a questão
racial em si", acrescenta.
Sobre
o curso que será concluído no final deste ano, Francisco Ialá destaca o seu
objetivo daqui para a frente: "Estou a estudar Direito, não só para me
defender a mim mesmo, mas também as pessoas que futuramente irão
necessitar".
Luciano
Nagel (Porto Alegre) – Deutsche Welle
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