Martinho Júnior, Luanda
1
– O ano de 2015 em Angola é cronologicamente um marco muito sensível: com ele
acaba a nefasta influência da “era Bush”, que azotou os destinos do país
desde 2002, enquanto cesta de impactos dum quadro de globalização obsoleto,
alienante e gerador de desequilíbrios de toda a ordem.
Anunciam-se
grandes transformações para a humanidade e no que diz respeito ao seu
posicionamento em relação ao planeta, pelo que para Angola o renascimento
africano estará mais livre da contaminação provocada pela geo estratégia
dominante que utilizava o petróleo como paradigma de sua própria arquitectura e
engenharia, prendendo à sua influência perniciosa os produtores do crude e a
própria OPEP.
O
fim dos encantos, o tragar final da amarga “cenoura” norte-americana
em relação ao petróleo, está a marcar agora o ambiente psicológico e
sócio-político do país, obrigando os principais partidos a reverem (e a
reverem-se) em suas ideologias, aptidões e estratégias, enquanto o estado
angolano implementa uma nova orientação no sentido da diversificação da
economia!
Angola,
depois de vencer os obstáculos da guerra imposta por via de Savimbi, (é preciso
não esquecer a “guerra dos diamantes de sangue” que dilacerou mais
que as precedentes a sociedade angolana e todo o país), viu-se obrigada a “colar-se” à “doutrina
Bush” (tal era a vulnerabilidade em 2002).
Entre
outras coisas, chegou-se ao ponto de, em função dos impactos de toda a ordem
por si gerados, axabou por surgir um inusitado “apartheid social” (os “condomínios” murados
e com arame farpado que se foram construindo, são reveladores do desequilíbrio
social que assolou Angola neste período).
Há,
na leitura dos últimos trinta anos obrigatoriamente a fazer-se, um registo
necessariamente muito crítico em relação aos destinos do Movimento de
Libertação em África, no que a Angola diz respeito: houve uma pressa demasiada
(e drástica) em pôr fim, antes mesmo da implosão do socialismo real na Europa e
o colapso da URSS (em 1985), ao modelo centralizado de economia, ao Partido do
Trabalho e ao rigor nos termos de gestão do estado angolano, comparativamente
ao facto de ter sido tão lento chegar-se à conclusão da urgência em se começar
a diversificação da economia, respeitando o rigor e a responsabilidade que o
estado angolano merece por parte de todos os cidadãos.
2
– A recuperação do sentido de responsabilidade e de rigor em relação à gestão
do estado angolano torna-se hoje numa questão decisiva, pois quer se queira
quer não, é ainda o estado angolano o actor central da vida em Angola, tendo em
conta a necessidade do Movimento de Libertação ter assumido a obrigação
histórica de levar a cabo a prolongada luta contra o subdesenvolvimento, agora
com outras possibilidades em termos das capacitações de desenvolvimento
sustentável e amigo do planeta.
O
estado angolano entre muitas outras iniciativas precisa não só de ser
desburocratizado… precisa dum novo corpo de leis que se adapte à nova
orientação, precisa de implementar responsabilidade e rigor sobre a sua própria
gestão, precisa de eliminar “gorduras” contraproducentes…
Colocar
de parte o materialismo dialéctico tem sido um lapso completamente avulso:
nunca a alienação teve um campo de manobra tão vasto e tão nocivo ao Movimento
de Libertação como hoje (a situação do espectro doutrinário, ideológico e
sócio-político em Angola é prova disso), pelo que recuperar os termos justos do
socialismo enquanto doutrina intrinsecamente de paz, é um desafio mais que
evidente e necessário!
3
– Desde que os relacionamentos de Angola com os Estados Unidos, nos precisos
termos da“doutrina Bush” foram lançados em 2002, que eu tenho sido sempre
muito crítico em relação à sua“densidade”, tendo em conta os nocivos impactos
na esfera sócio-política, para além do grau de alienação que provocou, que
entre outras coisas possibilitou o campo de manobra em África para a tácita
disseminação do fascismo islâmico, como para o lançamento de ingerências e
manipulações de toda a ordem, conforme entre outras acções, o quadro das “revoluções
coloridas” e “primaveras árabes”.
Fazer
hoje o ponto de situação por via de “O Laboratório AFRICOM” é para
mim inventariar com consciência crítica a nocividade da “era Bush”, de que
Obama não se conseguiu ver completamente livre em relação a África e por isso
uma obrigação cívica no quadro da lógica com sentido de vida, da paz e das
possibilidades do renascimento africano.
A
espectativa de que o ano de 2016 é inaugural em Angola duma era mais digna,
justa e equilibrada em termos humanos e mais respeitadora para com o planeta, é
legítima de minha parte, enquanto “velho camelo” cuja única “performance” tem
sido a aptidão de atravessar tão largos desertos… de mais de trinta anos!
Reorientar
a identificação para com todo o povo angolano (em benefício da identidade
nacional) e cuidar muito melhor dos relacionamentos com as minorias (quantas
vezes culturalmente e socio-politicamente marginalizadas, ou mesmo
hostilizadas) são reptos que se colocam ao próprio estado angolano, que está
ainda muito cru em outra equação: no necessário balanço entre a segurança
colectiva e a liberdade individual.
Uma
geo estratégia tendo em conta a questão da vida, ou seja uma geo estratégia
assente na interpretação físico-geográfica-ambiental em relação aos recursos
hídricos, levando em conta a sustentabilidade da própria vida humana, é indispensável
quando se pensa começar a agir em termos de diversificação económica.
De
qualquer modo julgo que a partir de agora os constrangimentos da “era
Bush” começam a ser finalmente ultrapassados aqui em Angola, para bem do
povo angolano, de toda a região, de África e de toda a humanidade!
Num
momento em que a tensão entre os processos e factores de hegemonia unipolar são
confrontados com a emergência multipolar, há que saber optar!
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