quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O FIM DA ERA BUSH EM ANGOLA




1 – O ano de 2015 em Angola é cronologicamente um marco muito sensível: com ele acaba a nefasta influência da “era Bush”, que azotou os destinos do país desde 2002, enquanto cesta de impactos dum quadro de globalização obsoleto, alienante e gerador de desequilíbrios de toda a ordem.

Anunciam-se grandes transformações para a humanidade e no que diz respeito ao seu posicionamento em relação ao planeta, pelo que para Angola o renascimento africano estará mais livre da contaminação provocada pela geo estratégia dominante que utilizava o petróleo como paradigma de sua própria arquitectura e engenharia, prendendo à sua influência perniciosa os produtores do crude e a própria OPEP.

O fim dos encantos, o tragar final da amarga “cenoura” norte-americana em relação ao petróleo, está a marcar agora o ambiente psicológico e sócio-político do país, obrigando os principais partidos a reverem (e a reverem-se) em suas ideologias, aptidões e estratégias, enquanto o estado angolano implementa uma nova orientação no sentido da diversificação da economia!

Angola, depois de vencer os obstáculos da guerra imposta por via de Savimbi, (é preciso não esquecer a “guerra dos diamantes de sangue” que dilacerou mais que as precedentes a sociedade angolana e todo o país), viu-se obrigada a “colar-se” à “doutrina Bush” (tal era a vulnerabilidade em 2002).

Entre outras coisas, chegou-se ao ponto de, em função dos impactos de toda a ordem por si gerados, axabou por surgir um inusitado “apartheid social” (os “condomínios” murados e com arame farpado que se foram construindo, são reveladores do desequilíbrio social que assolou Angola neste período).

Há, na leitura dos últimos trinta anos obrigatoriamente a fazer-se, um registo necessariamente muito crítico em relação aos destinos do Movimento de Libertação em África, no que a Angola diz respeito: houve uma pressa demasiada (e drástica) em pôr fim, antes mesmo da implosão do socialismo real na Europa e o colapso da URSS (em 1985), ao modelo centralizado de economia, ao Partido do Trabalho e ao rigor nos termos de gestão do estado angolano, comparativamente ao facto de ter sido tão lento chegar-se à conclusão da urgência em se começar a diversificação da economia, respeitando o rigor e a responsabilidade que o estado angolano merece por parte de todos os cidadãos.

2 – A recuperação do sentido de responsabilidade e de rigor em relação à gestão do estado angolano torna-se hoje numa questão decisiva, pois quer se queira quer não, é ainda o estado angolano o actor central da vida em Angola, tendo em conta a necessidade do Movimento de Libertação ter assumido a obrigação histórica de levar a cabo a prolongada luta contra o subdesenvolvimento, agora com outras possibilidades em termos das capacitações de desenvolvimento sustentável e amigo do planeta.

O estado angolano entre muitas outras iniciativas precisa não só de ser desburocratizado… precisa dum novo corpo de leis que se adapte à nova orientação, precisa de implementar responsabilidade e rigor sobre a sua própria gestão, precisa de eliminar “gorduras” contraproducentes…

Colocar de parte o materialismo dialéctico tem sido um lapso completamente avulso: nunca a alienação teve um campo de manobra tão vasto e tão nocivo ao Movimento de Libertação como hoje (a situação do espectro doutrinário, ideológico e sócio-político em Angola é prova disso), pelo que recuperar os termos justos do socialismo enquanto doutrina intrinsecamente de paz, é um desafio mais que evidente e necessário!

3 – Desde que os relacionamentos de Angola com os Estados Unidos, nos precisos termos da“doutrina Bush” foram lançados em 2002, que eu tenho sido sempre muito crítico em relação à sua“densidade”, tendo em conta os nocivos impactos na esfera sócio-política, para além do grau de alienação que provocou, que entre outras coisas possibilitou o campo de manobra em África para a tácita disseminação do fascismo islâmico, como para o lançamento de ingerências e manipulações de toda a ordem, conforme entre outras acções, o quadro das “revoluções coloridas” e “primaveras árabes”.

Fazer hoje o ponto de situação por via de “O Laboratório AFRICOM” é para mim inventariar com consciência crítica a nocividade da “era Bush”, de que Obama não se conseguiu ver completamente livre em relação a África e por isso uma obrigação cívica no quadro da lógica com sentido de vida, da paz e das possibilidades do renascimento africano.

A espectativa de que o ano de 2016 é inaugural em Angola duma era mais digna, justa e equilibrada em termos humanos e mais respeitadora para com o planeta, é legítima de minha parte, enquanto “velho camelo” cuja única “performance” tem sido a aptidão de atravessar tão largos desertos… de mais de trinta anos!

Reorientar a identificação para com todo o povo angolano (em benefício da identidade nacional) e cuidar muito melhor dos relacionamentos com as minorias (quantas vezes culturalmente e socio-politicamente marginalizadas, ou mesmo hostilizadas) são reptos que se colocam ao próprio estado angolano, que está ainda muito cru em outra equação: no necessário balanço entre a segurança colectiva e a liberdade individual.

Uma geo estratégia tendo em conta a questão da vida, ou seja uma geo estratégia assente na interpretação físico-geográfica-ambiental em relação aos recursos hídricos, levando em conta a sustentabilidade da própria vida humana, é indispensável quando se pensa começar a agir em termos de diversificação económica.

De qualquer modo julgo que a partir de agora os constrangimentos da “era Bush” começam a ser finalmente ultrapassados aqui em Angola, para bem do povo angolano, de toda a região, de África e de toda a humanidade!

Num momento em que a tensão entre os processos e factores de hegemonia unipolar são confrontados com a emergência multipolar, há que saber optar!

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