Martinho Júnior, Luanda
5
– A VIIª Cimeira das Américas envolvendo o reaparecimento com “plenos
poderes” da revolução cubana, em pé de igualdade institucional, face a
face e cumprindo com uma estrita igualdade, precisamente no mesmo patamar de
todos os outros estados componentes das Américas, Estados Unidos e Canadá
incluídos, ocorreu praticamente na altura em que Cuba festeja o 54º
aniversário da vitória em Girón.
Ciosa
de sua história de resistência e revolução, Cuba, 54 anos depois de Girón,
assume clarividente esta outra vitória, pois a sua presença na Organização de
Estados Americanos, dá-se após décadas de forçada ausência, que incluem a
ausência em todas as Cimeiras anteriores!
O
discurso de Raul de Castro em grande parte sintetiza o histórico da revolução
cubana desde 1961 e ao mesmo tempo quanto se tornaram inspiradoras todas as
experiências acumuladas, mesmo as que pareciam mais negativas para Cuba,
experiências que afinal estão colocadas ao serviço da identidade comum das
Américas, muito para lá de sua identidade para com o povo cubano, ou para com
os estados e povos mais progressistas da região.
Ciosa
de sua história, Cuba e sua revolução, não abdicaram da legitimidade imensa
gerada por via das experiências que se foram desenrolando desde o triunfo da
revolução e desde Praia Girón, algumas delas experiências intensamente
traumatizantes, mas iniciou um novo ciclo prestigiante para a vanguarda:
procurou motivar a administração de Barack Hussein Obama a começar a demarcação
em relação à aristocracia financeira mundial, seus falcões e “tea parties”,
estendendo a possibilidade do enorme potencial da solidariedade latino
americana e afrodescendente, tendo em conta as características que se vão agora
tornando dominantes nas culturas onde se inscreve o eleitorado norte-americano,
algo que corresponde a uma autêntica “insurgência no hemisfério cristão
ocidental”!
Entre
uma hegemonia unipolar cujo carácter se identifica com o nazismo e o fascismo,
por que serve ao domínio de 1% sobre o resto da humanidade, (que só pela força,
pela constante manipulação, pela ingerência, pelo embuste e quantas vezes pelo
crime se pode impor), é a vanguarda cubana e com ela a América Latina que
começa a estender a mão no sentido dos Estados Unidos e do Canadá, os únicos
estados da América membros da NATO, poderem assumir um lugar digno no âmbito da
multipolaridade e darem uma contribuição útil, ética e moralmente recomendável,
em benefício de toda a humanidade!
A
partir de agora, mantendo-se a tendência, nenhuma administração mais que venha
a ocupar o poder nos Estados Unidos ou no Canadá, poderá deixar de contar com
essa mão de solidariedade estendida, por que todos podem caber na
multipolaridade e na emergência que conduz a um amplo renascimento de toda a
humanidade… bastará cumprir com responsabilidade um papel construtivo e
respeitador de outros estados e povos.
Se
é certo que os Estados Unidos mantêm mais de 50 bases militares espalhadas na
região (só 5 países não as têm em seu território), é cada vez mais evidente a
sua inutilidade e o desperdício que elas representam, num perverso processo que
ancora o Estados Unidos ao passado.
Tudo
isso se encaixa perfeitamente nas alterações que se estão a vitalizar por
dentro das religiões cristãs, bem na superestrutura ideológica dos estados, que
cobrem todo o espectro geográfico e humano “ocidental” (em especial
nas Américas, na Europa e em África) e também no próprio Vaticano onde Papas
pan-europeus de origem alemã, ou polaca, vinculados ao prolongamento da guerra
psicológica por inércia da Guerra Fria e de tendências ultraconservadoras de
acordo com formatação de “think tanks” ao nível dum “Bilderberg”,
dum “Le Cercle”, duma “Heritadge Foundation”, ou duma “Fundação
Konrad Adenauer”, deram lugar a um Papa de origem e vivência latino americana,
humilde mas lúcido e sensível para com os pobres, capaz de abrir uma janela de
entendimento sobre as razões profundas da Teologia de Libertação e do facto
dessa doutrina ter surgido e ganho persistência precisamente na América Latina
e ter a força de não se circunscrever só aí!
Entre
a corrupção dos Bancos Ambrosiano e do Vaticano, assim como os escândalos de
tantos padres pedófilos espalhados pelo mundo, tudo isso resultado do beco sem
saída em que o Vaticano ultraconservador caiu, o Papa Francisco procura
identificar-se com os pobres e, a partir deles, contribuir para encontrar
melhores opções em benefício de toda a humanidade, o que está em sintonia com a
afirmação de independência, de soberania, de integração, de solidariedade, de
emergência, da América Latina.
6
– Não foi pois de estranhar que os discursos dos outros Chefes de Estado Latino
Americanos presentes no Panamá dessem corpo e substância em torno da assumida vanguarda
da revolução cubana, ela própria partilhando com todos (Estados Unidos e Canadá
incluídos), suas experiências históricas, até por que para trás estão
iniciativas integradoras de suporte, desde o Mercosul, ao Celac, passando pelo
Unasul, pela Alba, pelo Petrocaribe!...
Todos
os Latino Americanos insistiram na necessidade de se pôr fim ao bloqueio a
Cuba, fizeram coro no que diz respeito à necessidade de Cuba ser retirada da
lista de “países terroristas” em vigor nos Estados Unidos, assim como
foram unânimes em considerar que a Venezuela não pode ser alguma vez
considerada uma ameaça aos Estados Unidos, até por causa das políticas de paz
com que se tem regido a região, por via de algumas organizações próprias, entre
elas a Celac!
Às
tensões, conflitos e guerras estimulados pelos falcões doutrinária e
ideologicamente ultra conservadores, verdadeiros “fundamentalistas
cristãos” aliados tácitos dos “fundamentalistas islâmicos”, a América
Latina propõe a busca construtiva e constante da paz, pela cultura do diálogo,
edificação de equilíbrios com possibilidades de neutralizar as assimetrias,
busca de consensos que conduzam a relacionamentos integradores e capazes de
respeitarem amplamente os direitos humanos de acordo com toda a abrangência
sócio-cultural do termo.
Nesse
quadro o discurso de Maduro em nome da Venezuela Bolivariana, foi oportuno e
sensível, ressaltando para além do facto da Venezuela jamais poder ser uma
ameaça aos Estados Unidos (contrariando assim o Decreto do Presidente Barack
Hussein Obama), estar toda a América Latina empenhada, desde 2005, em prol de
avanços que só se puderam alcançar pondo cobro ao neo liberalismo, assumindo
uma maior democratização vocacionada à participação popular, contrariando o
espectro da pobreza dando luta às desigualdades, possibilitando uma maior
distribuição da riqueza e inibindo o manancial doutrinário e ideológico
ultraconservador com que se haviam antes municiado e barricado as oligarquias
latino americanas, tendo como referência a sua “representatividade” no
que ao exercício de poder diz respeito.
O
discurso contundente da Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, focou a
ocupação das Malvinas e das políticas sincronizadas de Obama e Cameron em
conformidade, ou seja no sentido de potenciar divisões no espaço latino-americano,
incluindo por via de processos de desestabilização e derrube de governos
eleitos em processos democráticos.
A
América Latina luta também contra os resquícios coloniais do império!
Esta
ênfase foi reiterada pelos Presidentes de Cuba, da Venezuela, da Bolívia e do
Equador que se referiram ainda às ingerências de carácter económico, bem como à
apropriação de recursos estratégicos, no rescaldo da ALCA que foi tentada entre
1994 e 2005, na sequência da implosão Soviética, do desaparecimento dos países
socialistas da Europa e do derrube do muro de Berlim.
A
Mensagem do Para Francisco à VIIª Cimeira traduz a opção pelos povos; no seu
conteúdo o Papa adianta:
“El
mayor reto que tiene el mundo hoy es el de globalizar la fraternidad y la
solidaridad, no la discriminación y la indiferencia. Sin la distribución
equitativa de la riqueza no pueden resolverse los males de la sociedad”…
“Aún
muchos pobres recogen las migajas que caen de la mesa de los ricos. Los convoco
a realizar acciones directas en pos de las más desfavorecidos, a que la
atención en el seno de las familias sea prioritaria para los gobernantes”…
“Los
esfuerzos por tender puentes y buscar entendimiento nunca son vanos”…
7
– A Pátria Grande foi assumida e os latino-americanos podem começar a afirmar
com justeza que “temos Pátria Grande”, ou que “Pátria Grande somos
todos nós”!
A
plataforma de “Pátria Grande” foi estendida para além da Cimeira de
Chefes de Estado, com a realização de fóruns sociais, de direitos humanos, de
direitos dos povos indígenas, onde muitos assuntos relacionados com as
múltiplas identidades, com a libertação dos povos, com a riqueza dos processos
de independência, soberania e de integração foram discutidos, avaliados e
projectados.
As
administrações dos Estados Unidos e do Canadá retiraram-se antes dos discursos
de muitos dignitários latino-americanos, impedindo assim um Relatório final da
VIIª Cimeira, ao mesmo tempo que ONGs vinculadas aos respectivos sistemas de
inteligência, contrastaram no seu labor, com a plataforma da Pátria Grande,
procurando desvirtuá-la, confundi-la, ou subvertê-la nos propósitos inerentes à
sua essência.
Quer
Cuba, quer a Venezuela denunciaram as partes de sua competência e de forma a
salvaguardar a expressão efectiva da Pátria Grande, algo que vale a pena
abordar em sequência, mas importa desde já realçar que nem as bases militares,
nem a artificiosa “sociedade civil” presa aos tentáculos da USAID e
da NED, cada vez mais identificadas na sua manobra perante os povos, são já
suficientes para quebrar o ânimo eu todos estão a depositar na Pátria Grande!
“A
insurgência no hemisfério cristão ocidental”, vigorosa nesta VIIª Cimeira das
Américas, por via da substância integradora que vai dando fulgor à construção
da Pátria Grande, está em dialéctica contradição com a doutrina cristã
ultraconservadora que se propõe à iniciativa de dividir e dividir, para que 1%
melhor possa reinar e, apesar da ausência dos Estados Unidos e do Canadá em
relação a parte dos discursos de alguns dignitários das Américas, nem mesmo
isso poderá levar a que os dois representantes máximos desses países em muitos
assuntos de interesse comum tenham que efectivamente que optar pelo interesse
comum.
Um
sinal evidente nesse sentido, apesar da permanência de mais de 50 bases
militares norte-americanas espalhadas por todo o espaço latino-americano, é a
insistência para a construção da paz na Colômbia, sob mediação cubana.
Com
o sistema de agentes do império remetidos para uma defensiva porfiada, a
geometria variável das tensões, conflitos e guerras que ainda perduram nas
Américas estão e um nível de guerra psicológica de média-baixa intensidade,
incluindo por dentro das complexas e multifacetadas sociedades estadunidenses e
canadiana, que não estão imunes a tal.
A
partir desta VIIª Cimeira das Américas, “a insurgência no hemisfério
cristão ocidental” tem pernas para que muito do que diz respeito ao
passado não se volte mais a repetir nos termos do que se fez sentir nesse
passado.
Não
será essa uma razão suficiente da oportuna visita do Papa Francisco aos Estados
Unidos, passando previamente por Cuba?
Foto:
frente a frente entre Delegações de Cuba e dos Estados Unidos, chefiadas
respectivamente por Raul de Castro e Barack Hussein Obama.
A
consultar:
.
Playa Girón en el recuerdo – http://www.cubadebate.cu/noticias/2015/04/20/playa-giron-en-el-recuerdo/#.VTVx931dZy0
.
Pátria Grande – http://en.wikipedia.org/wiki/Patria_Grande
.
Pátria Grande – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=197740
. En
la Cumbre de
Panamá se fortaleció el bloque histórico de América Latina – http://www.correodelorinoco.gob.ve/politica/cumbre-panama-se-fortalecio-bloque-historico-america-latina/
.
A pior campanha terrorista é a que está a ser orquestrada em Washington – http://pt.euronews.com/2015/04/17/noam-chomsky-a-pior-campanha-terrorista-e-a-que-esta-a-ser-orquestrada-em/
.
Horizonte de lealdad y dignidade – http://www.correodelorinoco.gob.ve/politica/horizonte-lealtad-y-dignidad-opinion/
.
Latinoamérica después de Panamá – http://actualidad.rt.com/opinion/juan-manuel-karg/171914-latinoamerica-despues-panama
. Vinimos
a cumplir el mandato de Martí con la libertad conquistada con nuestras propias
manos –http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/raul-vinimos-a-cumplir-el-mandato-de-marti-con-la-libertad-conquistada-con-nuestras-propias-manos
.
Discurso completo de Raul de Casto – http://convencao2009.blogspot.com/2015/04/cuba-na-cupula-as-americas-discurso.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+blogspot%2FyqJas+%28Solid%C3%A1rios%29
. Maduro:
Los problemas de los venezolanos los resolvemos de acuerdo a nuestra
Constitución –http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/maduro-los-problemas-de-los-venezolanos-los-resolvemos-de-acuerdo-a-nuestra-constitucion
. Cristina
Fernández llamó a la sinceridad para discutir los problemas de la región – http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/cristina-fernandez-llamo-a-la-sinceridad-para-discutir-los-problemas-de-la-region
. Correa:
La paz no es ausencia de guerra, ya es hora de la segunda independencia – http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/correa-la-paz-no-es-ausencia-de-guerra-ya-es-hora-de-la-segunda-independencia
. Evo
Morales con los Pueblos: Nuestra América no se vende – http://www.cubadebate.cu/noticias/2015/04/10/evo-morales-interviene-en-la-cumbre-de-los-pueblos/#.VSgsFH1dZy0
. Dilma
Rousseff: El siglo XXI tiene que rescatar la esperanza – http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/dilma-rousseff-el-siglo-xxi-tiene-que-rescatar-la-esperanza
. Varela
espera que la visita del papa a EEUU ayude a levantar embargo a Cuba – http://www.correodelorinoco.gob.ve/multipolaridad/varela-espera-que-visita-papa-a-eeuu-ayude-a-levantar-embargo-a-cuba/