quarta-feira, 22 de abril de 2015

VIIª CIMEIRA DAS AMÉRICAS: “A INSURGÊNCIA NO HEMISFÉRIO CRISTÃO OCIDENTAL!” – II



Martinho Júnior, Luanda 

5 – A VIIª Cimeira das Américas envolvendo o reaparecimento com “plenos poderes” da revolução cubana, em pé de igualdade institucional, face a face e cumprindo com uma estrita igualdade, precisamente no mesmo patamar de todos os outros estados componentes das Américas, Estados Unidos e Canadá incluídos, ocorreu praticamente na altura em que Cuba festeja o 54º aniversário da vitória em Girón.

Ciosa de sua história de resistência e revolução, Cuba, 54 anos depois de Girón, assume clarividente esta outra vitória, pois a sua presença na Organização de Estados Americanos, dá-se após décadas de forçada ausência, que incluem a ausência em todas as Cimeiras anteriores!

O discurso de Raul de Castro em grande parte sintetiza o histórico da revolução cubana desde 1961 e ao mesmo tempo quanto se tornaram inspiradoras todas as experiências acumuladas, mesmo as que pareciam mais negativas para Cuba, experiências que afinal estão colocadas ao serviço da identidade comum das Américas, muito para lá de sua identidade para com o povo cubano, ou para com os estados e povos mais progressistas da região.

Ciosa de sua história, Cuba e sua revolução, não abdicaram da legitimidade imensa gerada por via das experiências que se foram desenrolando desde o triunfo da revolução e desde Praia Girón, algumas delas experiências intensamente traumatizantes, mas iniciou um novo ciclo prestigiante para a vanguarda: procurou motivar a administração de Barack Hussein Obama a começar a demarcação em relação à aristocracia financeira mundial, seus falcões e “tea parties”, estendendo a possibilidade do enorme potencial da solidariedade latino americana e afrodescendente, tendo em conta as características que se vão agora tornando dominantes nas culturas onde se inscreve o eleitorado norte-americano, algo que corresponde a uma autêntica “insurgência no hemisfério cristão ocidental”!

Entre uma hegemonia unipolar cujo carácter se identifica com o nazismo e o fascismo, por que serve ao domínio de 1% sobre o resto da humanidade, (que só pela força, pela constante manipulação, pela ingerência, pelo embuste e quantas vezes pelo crime se pode impor), é a vanguarda cubana e com ela a América Latina que começa a estender a mão no sentido dos Estados Unidos e do Canadá, os únicos estados da América membros da NATO, poderem assumir um lugar digno no âmbito da multipolaridade e darem uma contribuição útil, ética e moralmente recomendável, em benefício de toda a humanidade!

A partir de agora, mantendo-se a tendência, nenhuma administração mais que venha a ocupar o poder nos Estados Unidos ou no Canadá, poderá deixar de contar com essa mão de solidariedade estendida, por que todos podem caber na multipolaridade e na emergência que conduz a um amplo renascimento de toda a humanidade… bastará cumprir com responsabilidade um papel construtivo e respeitador de outros estados e povos.

Se é certo que os Estados Unidos mantêm mais de 50 bases militares espalhadas na região (só 5 países não as têm em seu território), é cada vez mais evidente a sua inutilidade e o desperdício que elas representam, num perverso processo que ancora o Estados Unidos ao passado.

Tudo isso se encaixa perfeitamente nas alterações que se estão a vitalizar por dentro das religiões cristãs, bem na superestrutura ideológica dos estados, que cobrem todo o espectro geográfico e humano “ocidental” (em especial nas Américas, na Europa e em África) e também no próprio Vaticano onde Papas pan-europeus de origem alemã, ou polaca, vinculados ao prolongamento da guerra psicológica por inércia da Guerra Fria e de tendências ultraconservadoras de acordo com formatação de “think tanks” ao nível dum “Bilderberg”, dum “Le Cercle”, duma “Heritadge Foundation”, ou duma “Fundação Konrad Adenauer”, deram lugar a um Papa de origem e vivência latino americana, humilde mas lúcido e sensível para com os pobres, capaz de abrir uma janela de entendimento sobre as razões profundas da Teologia de Libertação e do facto dessa doutrina ter surgido e ganho persistência precisamente na América Latina e ter a força de não se circunscrever só aí!

Entre a corrupção dos Bancos Ambrosiano e do Vaticano, assim como os escândalos de tantos padres pedófilos espalhados pelo mundo, tudo isso resultado do beco sem saída em que o Vaticano ultraconservador caiu, o Papa Francisco procura identificar-se com os pobres e, a partir deles, contribuir para encontrar melhores opções em benefício de toda a humanidade, o que está em sintonia com a afirmação de independência, de soberania, de integração, de solidariedade, de emergência, da América Latina.

6 – Não foi pois de estranhar que os discursos dos outros Chefes de Estado Latino Americanos presentes no Panamá dessem corpo e substância em torno da assumida vanguarda da revolução cubana, ela própria partilhando com todos (Estados Unidos e Canadá incluídos), suas experiências históricas, até por que para trás estão iniciativas integradoras de suporte, desde o Mercosul, ao Celac, passando pelo Unasul, pela Alba, pelo Petrocaribe!...

Todos os Latino Americanos insistiram na necessidade de se pôr fim ao bloqueio a Cuba, fizeram coro no que diz respeito à necessidade de Cuba ser retirada da lista de “países terroristas” em vigor nos Estados Unidos, assim como foram unânimes em considerar que a Venezuela não pode ser alguma vez considerada uma ameaça aos Estados Unidos, até por causa das políticas de paz com que se tem regido a região, por via de algumas organizações próprias, entre elas a Celac!

Às tensões, conflitos e guerras estimulados pelos falcões doutrinária e ideologicamente ultra conservadores, verdadeiros “fundamentalistas cristãos” aliados tácitos dos “fundamentalistas islâmicos”, a América Latina propõe a busca construtiva e constante da paz, pela cultura do diálogo, edificação de equilíbrios com possibilidades de neutralizar as assimetrias, busca de consensos que conduzam a relacionamentos integradores e capazes de respeitarem amplamente os direitos humanos de acordo com toda a abrangência sócio-cultural do termo.

Nesse quadro o discurso de Maduro em nome da Venezuela Bolivariana, foi oportuno e sensível, ressaltando para além do facto da Venezuela jamais poder ser uma ameaça aos Estados Unidos (contrariando assim o Decreto do Presidente Barack Hussein Obama), estar toda a América Latina empenhada, desde 2005, em prol de avanços que só se puderam alcançar pondo cobro ao neo liberalismo, assumindo uma maior democratização vocacionada à participação popular, contrariando o espectro da pobreza dando luta às desigualdades, possibilitando uma maior distribuição da riqueza e inibindo o manancial doutrinário e ideológico ultraconservador com que se haviam antes municiado e barricado as oligarquias latino americanas, tendo como referência a sua “representatividade” no que ao exercício de poder diz respeito.

O discurso contundente da Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, focou a ocupação das Malvinas e das políticas sincronizadas de Obama e Cameron em conformidade, ou seja no sentido de potenciar divisões no espaço latino-americano, incluindo por via de processos de desestabilização e derrube de governos eleitos em processos democráticos.

A América Latina luta também contra os resquícios coloniais do império!

Esta ênfase foi reiterada pelos Presidentes de Cuba, da Venezuela, da Bolívia e do Equador que se referiram ainda às ingerências de carácter económico, bem como à apropriação de recursos estratégicos, no rescaldo da ALCA que foi tentada entre 1994 e 2005, na sequência da implosão Soviética, do desaparecimento dos países socialistas da Europa e do derrube do muro de Berlim.

A Mensagem do Para Francisco à VIIª Cimeira traduz a opção pelos povos; no seu conteúdo o Papa adianta:

“El mayor reto que tiene el mundo hoy es el de globalizar la fraternidad y la solidaridad, no la discriminación y la indiferencia. Sin la distribución equitativa de la riqueza no pueden resolverse los males de la sociedad”…

“Aún muchos pobres recogen las migajas que caen de la mesa de los ricos. Los convoco a realizar acciones directas en pos de las más desfavorecidos, a que la atención en el seno de las familias sea prioritaria para los gobernantes”…

“Los esfuerzos por tender puentes y buscar entendimiento nunca son vanos”…
  
7 – A Pátria Grande foi assumida e os latino-americanos podem começar a afirmar com justeza que “temos Pátria Grande”, ou que “Pátria Grande somos todos nós”!

A plataforma de “Pátria Grande” foi estendida para além da Cimeira de Chefes de Estado, com a realização de fóruns sociais, de direitos humanos, de direitos dos povos indígenas, onde muitos assuntos relacionados com as múltiplas identidades, com a libertação dos povos, com a riqueza dos processos de independência, soberania e de integração foram discutidos, avaliados e projectados.

As administrações dos Estados Unidos e do Canadá retiraram-se antes dos discursos de muitos dignitários latino-americanos, impedindo assim um Relatório final da VIIª Cimeira, ao mesmo tempo que ONGs vinculadas aos respectivos sistemas de inteligência, contrastaram no seu labor, com a plataforma da Pátria Grande, procurando desvirtuá-la, confundi-la, ou subvertê-la nos propósitos inerentes à sua essência.

Quer Cuba, quer a Venezuela denunciaram as partes de sua competência e de forma a salvaguardar a expressão efectiva da Pátria Grande, algo que vale a pena abordar em sequência, mas importa desde já realçar que nem as bases militares, nem a artificiosa “sociedade civil” presa aos tentáculos da USAID e da NED, cada vez mais identificadas na sua manobra perante os povos, são já suficientes para quebrar o ânimo eu todos estão a depositar na Pátria Grande!

“A insurgência no hemisfério cristão ocidental”, vigorosa nesta VIIª Cimeira das Américas, por via da substância integradora que vai dando fulgor à construção da Pátria Grande, está em dialéctica contradição com a doutrina cristã ultraconservadora que se propõe à iniciativa de dividir e dividir, para que 1% melhor possa reinar e, apesar da ausência dos Estados Unidos e do Canadá em relação a parte dos discursos de alguns dignitários das Américas, nem mesmo isso poderá levar a que os dois representantes máximos desses países em muitos assuntos de interesse comum tenham que efectivamente que optar pelo interesse comum.

Um sinal evidente nesse sentido, apesar da permanência de mais de 50 bases militares norte-americanas espalhadas por todo o espaço latino-americano, é a insistência para a construção da paz na Colômbia, sob mediação cubana.

Com o sistema de agentes do império remetidos para uma defensiva porfiada, a geometria variável das tensões, conflitos e guerras que ainda perduram nas Américas estão e um nível de guerra psicológica de média-baixa intensidade, incluindo por dentro das complexas e multifacetadas sociedades estadunidenses e canadiana, que não estão imunes a tal.

A partir desta VIIª Cimeira das Américas, “a insurgência no hemisfério cristão ocidental” tem pernas para que muito do que diz respeito ao passado não se volte mais a repetir nos termos do que se fez sentir nesse passado.

Não será essa uma razão suficiente da oportuna visita do Papa Francisco aos Estados Unidos, passando previamente por Cuba?

Foto: frente a frente entre Delegações de Cuba e dos Estados Unidos, chefiadas respectivamente por Raul de Castro e Barack Hussein Obama.

A consultar: 
. En la Cumbre de Panamá se fortaleció el bloque histórico de América Latina – http://www.correodelorinoco.gob.ve/politica/cumbre-panama-se-fortalecio-bloque-historico-america-latina/ 
. A pior campanha terrorista é a que está a ser orquestrada em Washington – http://pt.euronews.com/2015/04/17/noam-chomsky-a-pior-campanha-terrorista-e-a-que-esta-a-ser-orquestrada-em/ 
. Vinimos a cumplir el mandato de Martí con la libertad conquistada con nuestras propias manos –http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/raul-vinimos-a-cumplir-el-mandato-de-marti-con-la-libertad-conquistada-con-nuestras-propias-manos 
. Maduro: Los problemas de los venezolanos los resolvemos de acuerdo a nuestra Constitución –http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/maduro-los-problemas-de-los-venezolanos-los-resolvemos-de-acuerdo-a-nuestra-constitucion 
. Cristina Fernández llamó a la sinceridad para discutir los problemas de la región – http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/cristina-fernandez-llamo-a-la-sinceridad-para-discutir-los-problemas-de-la-region 
. Correa: La paz no es ausencia de guerra, ya es hora de la segunda independencia – http://www.granma.cu/cumbre-de-las-americas/2015-04-11/correa-la-paz-no-es-ausencia-de-guerra-ya-es-hora-de-la-segunda-independencia 
. Varela espera que la visita del papa a EEUU ayude a levantar embargo a Cuba – http://www.correodelorinoco.gob.ve/multipolaridad/varela-espera-que-visita-papa-a-eeuu-ayude-a-levantar-embargo-a-cuba/

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