David
Pontes* – Jornal de Notícias, opinião
Para
quem tenha algum curriculum de vida este não é um título estranho. Era o nome
de uma série de meados da década de 1970 que inaugurou com muito sucesso um
género que hoje é rei na televisão, o das minisséries.
É
a história de dois irmãos nos Estados Unidos, um rico e um pobre, e dos
conflitos entre os dois. O rico não consegue ser feliz apesar do dinheiro, até
porque o pobre não para de lhe atazanar a vida, nomeadamente por amarem a mesma
mulher.
E
assim, em jeito de tosca parábola, se explica por que mesmo que os ricos sejam
muito ricos não poderão deixar de ser "irmãos" de destino dos pobres
e de como é tão verdadeira a conclusão do relatório da OCDE, que diz que o
fosso entre ricos e pobres está a alargar-se e a travar o crescimento económico.
Os
números, impressionantes, estão umas páginas à frente, e podemos constatar que
Portugal, apesar de registar uma ligeira diminuição, mantém um registo
deplorável como sétimo país mais desigual na lista de 30 da OCDE e como o país
mais desigual no universo da União Europeia.
Um
dos valores com peso político é o que nos diz que no pico da crise, entre 2009
e 2013, os 10% mais ricos viram o seu rendimento cair 8%, enquanto o dos 10%
mais pobres recuou 24%. Dados muito longe de estarem em sintonia com a
propalada distribuição equitativa da crise que o primeiro-ministro vem
apregoado.
Outra
frase, da mesma fonte, desmentida com vigor por este relatório é a de "nós
sabemos que só sairemos desta situação empobrecendo". Este empobrecer que
se tem acentuado nas classes mais baixas reforça as desigualdades e para a OCDE
não há dúvida de que "a desigualdade tende a influenciar negativamente o
crescimento do PIB e é a distância crescente dos 40% mais pobres em relação ao
resto da sociedade que está a contribuir para esse efeito".
No
"La Vanguardia ",
Oriol Amat, professor de Economia em Barcelona, avançava algumas razões para
que este fosso se continue a manter, mesmo que as economias cresçam e que bem
se podem aplicar a Portugal: fiscalidade pouco progressiva; o fosso salarial
entre os bem preparados para um mundo tecnológico e os trabalhadores
indiferenciados, a recuperação dos mercados financeiros que só serve os
detentores de grandes patrimónios; e os cortes nos serviços básicos, como os
gastos em saúde e educação.
Era
bom que os partidos que vão concorrer às próximas eleições dissessem o que vão
fazer para diminuir o fosso entre ricos e pobres, não na busca de qualquer
igualitarismo absurdo, mas na procura de uma sociedade saudável para todos. Até
porque, convém lembrar, o irmão pobre da minissérie era lutador de boxe e
dava-se com gangsters, o que não será muito tranquilizador para o irmão rico.
*Subdiretor