quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O GRANDE OBSTÁCULO AO DESENVOLVIMENTO



 Rui Peralta, Luanda

O burocratismo é inimigo da liberdade individual e da opinião pública, além de impedir a distribuição e produção de riqueza. Se observarmos as relações de trabalho nas estruturas burocráticas concluiremos que estas vão desde as estruturas altamente hierarquizadas (como o exemplo histórico do Estado Prussiano), até às ineficazes e caóticas estruturas burocráticas das economias periféricas.

A mentalidade burocrática molda o caracter e gera uma completa “pobreza de espirito”. Caracteriza-se pela ineficiência generalizada, a falta de respeito para com o utente/cliente, pela corrupção, caça á promoção, bajulação, subserviência rastejante, anulação da personalidade e da individualidade, além de alimentar o processo de filistização pequeno-burguesa da sociedade. A apatia generaliza-se e torna irreversível o processo de destruturação das nações.

O espirito burocrático, em condições extremas (embora correntes nas economias periféricas) ultrapassa o organismo estatal e implanta-se no sector privado. Surgem então fenómenos como a anulação dos direitos dos consumidores (anulação efectuada por processos que colocam os consumidores no ultimo grau da escala), os clientes vêem-se transformados em utentes e estes em lixo, um camada de mal-agradecidos que não reconhecem a produção nacional e que contestam o preço que pagam pelo “produto nacional”, mesmo que este de nacional apenas tenha a moeda em que é trocado.

Os exemplos mais gritantes destas situações de filistização geral da sociedade observam-se quando entramos numa loja e ficamos a aguardar que nos atendam, ou quando na mesma loja adquirimos a mercadoria no rés-do-chão, pagamos no 2º piso e recebemos a mesma no 1º piso, tendo ainda de mostrar faturas e mercadoria na porta ao sair. Ou quando vamos ao banco e somos submetidos a uma dose de assinaturas e de comparações de assinaturas, de documentos de identificação, antes de podermos mexer no nosso dinheiro, mas que é tratado como se fosse coisa dos senhores que estão no outro lado do balcão, mais próximos das residências dos deuses. Ou quando para comprar um telemóvel temos de mostrar a certidão de nascimento ou um documento a comprovar que não temos cadastro, ou que estamos legais.

É um mundo surreal, onde a anormalidade torna-se norma. É um mercado grotesco, onde o lojista não quer ganhar dinheiro a vender mas a ver Bilhetes de Identidade, como se fosse um policia, ou um dono do Hotel não tem o Hotel para nós dormirmos, pagando, mas sim quer é o Bilhete de Identidade ou o passaporte e só depois é que recebe o dinheiro. É a aberração total da Segurança em nome da Estabilidade. É a Paz dos cemitérios, representada por zombies disfarçados de empresários.

Como é lógico tudo isto tem um preço: a pobreza, o subdesenvolvimento e o parasitismo social. Depois tudo implode gerando um enorme caos económico: hiperinflação, crise financeira, desemprego, empresas fechadas, salários em atraso, dívidas eternas, créditos malparados, Bancos transformados em sorvedouros e os cofres, os olhos, os estômagos, os cérebros…vazios!

Leituras aconselhadas
Bobbio, N. Teoria Generale della Politica Ed. Einaudi, Torino, 1999
Rizzi, B. A Burocratização do Mundo Ed. Antígona, Lisboa, 1983
Peters, T. and Waterman, R. In Search of Excellence Ed. Harper & Row, NY, 1982

Guiné-Bissau. PR ESTÁ A PÔR EM RISCO ESFORÇOS PARA ULTRAPASSAR CRISE NO PAÍS - UE



Bissau, 08 out (Lusa) - A Alta Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa e de Segurança, Federica Mogherini, considerou hoje que o Presidente da República da Guiné-Bissau está a colocar em risco os esforços para ultrapassar a crise política no país. 

"A rejeição de um novo Governo pelo Presidente da Guiné-Bissau está a reavivar a tensão política no país e a pôr em risco os esforços para ultrapassar a crise política", anunciou Mogherini num comunicado conjunto com o comissário europeu para a Cooperação Internacional e o Desenvolvimento, Neven Mimica.

Na declaração, os dois dirigentes europeus consideram "urgente" que a Guiné-Bissau tenha "um governo estável, que lhe permita prosseguir o processo de reforma e reconstrução".

"Isso também é crucial para a implementação do apoio internacional anunciado na Mesa Redonda de Doadores realizada em Bruxelas no início deste ano", acrescentam.

A UE declara apoio aos esforços em curso da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "para ajudar o país a alcançar uma solução duradoura para os atuais desafios políticos e institucionais".

"Todos os atores políticos e instituições na Guiné-Bissau precisam de assumir as suas responsabilidades para conduzir o país de volta ao caminho da estabilidade e reforçar o Estado de Direito", acrescentam.

De acordo com o comunicado, a UE "continuará a acompanhar de perto a situação na Guiné-Bissau, juntamente com outros parceiros internacionais, incluindo a ONU, a União Africana, a CEDEAO e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa".

O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, pediu na terça-feira ao primeiro-ministro (PM) que reformule a proposta de Governo entregue na sexta, por integrar o ex-PM, Domingos Simões Pereira, e vários membros do anterior Governo - que Vaz demitiu por considerá-los, entre outras razões, suspeitos de ilegalidades.

O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), partido maioritário do Parlamento guineense, lamentou a atitude do chefe de Estado, ao qual pediu "provas das acusações" de ilegalidade. 

LFO // EL - LUSA

Moçambique. AFONSO DHLAKAMA REAPARECE APÓS DUAS SEMANAS EM PARTE INCERTA



O líder da RENAMO Afonso Dhlakama, reapareceu esta quinta-feira (08.10) na Gorongosa, centro de Moçambique, após ter desaparecido há quase duas semanas.

No início da tarde Afonso Dhlakama saiu das matas da Gorongosa, na zona de Macucuá, e se apresentou aos jornalistas e observadores convidados pela RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) para assistir ao reaparecimento público do líder da oposição.

O líder do principal partido da oposição em Moçambique limitou-se a agradecer a presença dos convidados, referindo que, após o incidente do dia 25 de setembro em Gondola, província de Manica, percorreu dezenas de quilómetros a pé pelo planalto e atravessou o rio Púnguè até à região da Gorongosa, província de Sofala.

"Mando uma mensagem para o povo. Contem comigo, não iremos desistir por temer a morte. Não tenho medo de morrer, para mim, já morri", afirmou Dhlakama, numa breve declaração aos jornalistas, acrescentando que a Renamo vai continuar a trabalhar e afastando qualquer vontade de vingança.

Reaparecimento testemunhado por mediadores no diálogo Governo/Oposição

Além dos jornalistas e dirigentes da RENAMO, a operação de retirada de Dhlakama da chamada parte incerta foi testemunhada por organizações da sociedade civil, como a presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabota, e por vários mediadores no diálogo de longo-prazo entre oposição e Governo, como o académico Lourenço do Rosário e os líderes religiosos Dinis Sengulane, Anastácio Chembenze e Saide Abibo.

O líder da oposição saiu esta quinta-feira da mesma região onde permaneceu escondido durante quase dois anos, na última crise com o Governo e que só terminou com um acordo de paz, assinado a 05 de setembro de 2014 em Maputo, com o ex-Presidente Armando Guebuza, após 17 meses de confrontações militares na região centro, que deixarem um número desconhecido de mortos e milhares de deslocados.

Lusa, em Deutsche Welle

Moçambique. SOFALA VAI EXPORTAR CARNE DE CROCODILO



O projecto está a cargo da AGRIPEC, uma empresa local que afirma ter mais de 26 mil crocodilos e 2745 ovos expostos em vários pavilhões instalados no posto administrativo de Nhangau, arredores da cidade da Beira.

Segundo Zita Guimarães, administradora da AGRIPEC, citado hoje pelo
Notícias, existe a capacidade instalada de exportar anualmente entre 30 e 50 toneladas de carne de crocodilo, sobretudo a cauda daquele réptil.

A carne de crocodilo, que é descrita pelos nutricionistas como rica em proteínas, começa a interessar cada vez mais gente localmente, tendo a AGRIPEC vendido só neste ano mais de cinco toneladas.

A empresa, fundada em 2008, vai exportar ainda este ano três mil peles cruas de crocodilo para países como Portugal, Itália, Japão e Coreia do Sul.

Com uma meta anual fixada de recolher dois mil ovos, a empresa opera ao longo do rio Zambeze, concretamente nos distritos de Chemba, Caia e Marromeu, tendo capturado no ano passado um total de 80 crocodilos.

Para já estima-se que 25 mil crocodilos foram artificialmente chocados naquela estância turística, onde o animal maior, denominado Guimarães, pesa acima de uma tonelada e mede cerca de cinco metros de comprimento.

Na globalidade os répteis de Nhangau consomem diariamente cerca de uma tonelada e meia de ração específica, que inclui carne bovina, frango e baratas.

Os crocodilos domesticados na Beira, na versão dos seus mentores, já não constituem perigo para o Homem, graças à experiência de convivência pacífica adquirida pelos respectivos técnicos no vizinho Zimbabwe.

Conforme disse ter observado o
Notícias no terreno, todos os crocodilos são chamados por nomes próprios adoptados à mesa da refeição logo ao começar do dia.

Pela primeira vez este ano, os rios Púngoè e Búzi também foram alvos da pesquisa para a recolha de ovos e captura de crocodilos com vista a reduzir o conflito Homem/fauna bravia, que grassa as comunidades ribeirinhas.

Segundo o jornal, o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, que durante a sua recente visita de trabalho à província de Sofala escalou aquela zona turística, considerou a actividade de criação de crocodilo como de alto risco.

Confirmou que os pratos de rissóis e carne de crocodilo servidos à comitiva podiam servir de bandeira de Moçambique além-fronteiras depois de autorização para a sua exportação.

O governante encorajou a iniciativa e estimulou mesmo o gesto da transformação dos recursos naturais e faunísticos em riquezas para o desenvolvimento do país, criando riqueza e postos de emprego.

(AIM) FF

Amnistia e ONG pedem “acção urgente” do governo contra as violações de direitos humanos



A declaração refere o seu apoio à recente resolução do Parlamento Europeu sobre Angola.

A Amnistia Internacional (AI) e várias outras organizações não-governamentais pedem a libertação de todos os presos políticos bem como a “acção urgente contra o crescente número de violações dos direitos humanos” registado em Angola nos últimos tempos, refere a declaração publicada online ontem pela AI.

À margem da resolução do Parlamento Europeu (PE), do dia 10 de Setembro, que apela à “liberdade de todos os presos políticos e defensores dos direitos humanos”, a declaração indica que “é crucial para a União Europeia, Estados-membro e outros actores internacionais fornecerem o apoio político e material necessário aos defensores dos direitos do Homem, aos seus advogados, familiares, além de engajar as autoridades angolanas nos direitos humanos em todos os níveis de relações, incluindo políticas, comerciais e de desenvolvimento.”

A carta foi assinada pela AI e por mais 14 Organizações Não-Governamentais e termina com o apelo ao governo angolano para aplicar as medidas referidas na resolução do PE e respeitar o direito dos cidadãos de fazerem uso da liberdade de expressão e reunião, além de encorajar o diálogo entre governantes e PE sobre as “questões muito graves detalhadas na resolução”.

A resolução do PE, não-legislativa, foi aprovada com 550 votos a favor, 14 contra e 60 abstenções. O comunicado final (que também inclui recomendações sobre a situação na Ucrânia e no Azerbaijão) refere que os deputados europeus expressaram “a sua preocupação com a deterioração dos direitos humanos em Angola” e exortam as “autoridades de Angola a libertar imediatamente todos os prisioneiros políticos e os defensores de direitos humanos”.

Rede Angola – Foto: Ana Brígida/RA

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Angola. VIDA DE LUATY BEIRÃO EM “RISCO IMINENTE”



Segundo a família, o activista terá perdido mais de 10 quilos desde que iniciou a greve de fome, há 18 dias. Vigília em solidariedade foi remarcada para a Sagrada Família.

O activista Luaty Beirão, preso há mais de cem dias por alegada tentativa de golpe de Estado, chegou hoje ao 18.º dia de greve de fome e encontra-se extremamente debilitado, de acordo com a família. Uma vigília em solidariedade estava marcada para hoje, às 18h, para o Largo da Independência, mas foi remarcada de última hora para a Igreja da Sagrada Família.

O preso político foi visitado hoje por um grupo de dez pessoas na Cadeia de Calomboloca, mas apenas a sua mãe foi autorizada a vê-lo.

De acordo com o irmão de Luaty, Pedro Beirão, o activista corre risco de morte e encontra-se bastante debilitado.

“A diferença de sábado para hoje é abismal. Ele desmaiou esta manhã e consegue ficar de pé por apenas alguns segundos”, afirmou ao Rede Angola.

“A sua saliva é castanha e ele não consegue engolir absolutamente nada. É um estágio bastante avançado de greve de fome”, acrescenta.

De acordo com o médico Alberto Galvão-Teles, “a saliva escura poderá ter a ver com alguma hemorragia” que o activista poderá ter tido.

Segundo Pedro Beirão, Luaty diz que “sente que internamente está algo a ceder”. O preso político já terá perdido dez quilos desde o princípio da greve de fome.

Desde anteontem que o activista já nem sequer consegue beber água, pois sente o estômago a arder. “Não tendo comida no estômago há dias, os ácidos estão a criar dificuldades para que se consiga alimentar. Os ácidos vão corroendo o estômago”, afirma o médico.

A situação é preocupante porque sem ingerir líquidos, “o que acontece é a morte das células, a pouco e pouco”, acrescenta Galvão-Teles. “Ele tem de beber líquidos de qualquer maneira”, alerta o especialista.

Ainda de acordo com o irmão do activista, a família não obteve qualquer informação se Luaty está a ter qualquer tipo de atendimento médico. “Ninguém diz absolutamente nada, não sabemos se está a ter acompanhamento médico na cadeia”.

Na última sexta-feira, Luaty chegou a ser transferido para o hospital-prisão de São Paulo, mas, segundo a família retornou a Calomboloca sem ter realizado qualquer exame médico.

Luaty Beirão está preso desde o dia 20 de Junho e faz parte de um grupo conhecido como 15+1, que segundo a Procuradoria Geral da República, estava a planear actos preparatórios para um golpe de Estado. A defesa dos activistas questiona a afirmação.

A acompanhar a detenção dos activistas desde o inicio, a Amnistia Internacional de Portugal fez agora o caso chegar à sede da instituição no Reino Unido. Hoje foi exigida em Londres a libertação imediata dos activistas.

Consequências médicas da greve de fome

De acordo com um estudo do Departamento de Saúde Britânico e da revista médica The Lancet, as consequências de uma greve de fome dependem de indivíduo para indivíduo mas, normalmente, o risco de morte por desnutrição de pessoas em bom estado de saúde antes de recorrerem a esta forma radical de protesto coloca-se a partir das seis semanas.

O caso muda de figura para pessoas que estejam com problemas de saúde ou já debilitadas antes de iniciarem a greve, como é o caso de Luaty Beirão, em que o risco de morte por desnutrição já se coloca ao fim de três semanas sem ingestão de comida. O activista está quase a completar três semanas.

Se uma pessoa se recusa a ingerir líquidos, ou se já não consegue ingeri-los, então “a deterioração é muito rápida”, com o risco de morte ao fim de sete a 14 dias.

Por estranho que possa parecer, durante uma greve de fome, ao fim de dois ou três dias a pessoa deixa de ter vontade de comer, refere a referida revista, citada pelo site Ciência Online. Ao fim de duas semanas, as pessoas começam a ter dificuldade em manter-se em pé, sofrem de tonturas, os seus movimentos tornam-se lentos e perde-se coordenação motora. Em virtude da baixa frequência cardíaca, a sensação de frio é constante.

Também, ao fim de duas ou três semanas, com a descida dos níveis de vitamina B1, podem vir os problemas neurológicos graves, défice cognitivo e perda de visão. 

Angola. PAZ E HARMONIA



Jornal de Angola, editorial

Um dos nossos grandes males  é sem dúvida a violência doméstica, que afecta principalmente mulheres e crianças. Qualquer sociedade, quando se confronta com graves problemas que causam danos de diversa natureza à comunidade, reage naturalmente aos seus efeitos e mobiliza meios para  contê-los. O homem gosta de paz e harmonia.

O fenómeno da violência  doméstica era tão grave no país que levou o legislador  ordinário a   produzir uma lei  que prevê penalidades aos que causam danos físicos e psicológicos a outrem, em defesa  da  dignidade  da pessoa humana. Não é demais  referir que a nossa Constituição dispõe que  “Angola  é uma República  soberana e independente baseada na dignidade da pessoas humana (...)”.

Andou bem o legislador ordinário quando optou por produzir direito  que protegesse a dignidade das pessoas, no sentido de se concretizar um   princípio fundamental da nossa Constituição.  As sociedades constroem o progresso com paz e solidariedade. E a solidariedade e a harmonia devem ser promovidas e preservadas na nossa comunidade.


A violência doméstica é um grave problema e não admira que haja organizações da sociedade civil a trabalhar no sentido de contribuírem para que  o problema  seja atenuado, recorrendo à educação  cívica.

Ninguém deve ficar indiferente perante situações que se traduzem no sofrimento de mulheres e crianças, que são vítimas de ofensas corporais. Ninguém deve ficar indiferente  quando velhos e crianças são abandonados por familiares, expondo-os a riscos diversos. Vulneráveis, as crianças e os velhos não estão em condições de assegurar o seu sustento, estando o Estado felizmente a assumir a responsabilidade da sua protecção.

Temos uma Constituição que protege as crianças e as pessoas da terceira idade, havendo já instituições do Estado vocacionadas para satisfazer necessidades básicas daqueles cidadãos que, por diversas razões, foram expulsos dos seus lares por familiares.

Temos de ter consciência de que a educação tem de desempenhar um papel importante no processo de eliminação ou, pelo menos, de redução  dos casos de violência  doméstica. A educação é fundamental para a mudança de comportamentos e é positivo que se organizem campanhas destinadas a fazer com que os cidadãos tenham boas condutas no lar e fora dele.

Numa comunidade em que haja cidadãos  que tenham boas condutas impera a harmonia e a paz social. É dever de todos nós assumirmos comportamentos que promovam a boa convivência na comunidade. A harmonia cria condições para que uma comunidade possa chegar à prosperidade. A estabilidade das famílias é importante para a construção de uma sociedade de bem-estar material e espiritual.

Sendo  a violência doméstica um problema actual, importa que continuemos a prestar atenção a este fenómeno. As entidades do Estado e da sociedade civil que promovem a luta contra a violência doméstica não devem desistir dela, mesmo sendo complexo o processo para se acabar com os casos  de ofensas que atingem  pessoas que vivem num mesmo lar.

Temos  de  ser persistentes e criativos na busca das melhores soluções  para a prevenção dos casos de violência doméstica, em combinação  com a punição dos que cometem ilícitos criminais nos lares.

A acção repressiva contra os ilícitos criminais  nos lares não nos deve impedir de apostar consideravelmente em medidas preventivas. As medidas preventivas evitam muitos problemas. Vale a pena gastar tempo e dinheiro em acções preventivas para se combater a violência doméstica. Não devemos esperar que os problemas aconteçam. Devemos agir preventivamente, actuando por via de meios de difusão massiva e com a emissão de mensagens que atinjam as famílias e que apelem à harmonia e à boa convivência nos lares.

Todos os grandes males devem ter grandes remédios.E se a violência doméstica é um grande mal, é tempo de se trabalhar para se arranjarem as terapias adequadas à complexidade do problema. Temos instituições do Estado e organizações  da sociedade  que lidam com o problema  da violência doméstica e são notáveis as suas contribuições em acções, por exemplo, de mediação em conflitos que ocorrem nos lares.

A Organização da Mulher Angolana (OMA) é sem dúvida uma das organizações que trabalham intensamente na resolução, de forma informal, de inúmeros conflitos nos lares em todo o país. Familiares de centenas de lares reconciliaram-se graças à intervenção da OMA, uma organização com  credibilidade e capacidade para resolver problemas nos lares.

Que a vasta  experiência adquirida  pela OMA seja aproveitada por outras organizações da sociedade, a fim de mais rapidamente vermos reduzidos os casos de violência doméstica, que causa sofrimento a muita gente.  Queremos todos que a paz e a harmonia reine nos nossos lares. Com famílias bem estruturadas, o país há-de avançar seguramente para o grande objectivo de todo nós que é o progresso social.

CONTROLE SOCIAL DO GRANDE IRMÃO AO BIG DATA



Como Estados e mega-corporações praticam, juntos, vigilância permanente. De que modo isso corrói vida privada — sem a qual não pode, segundo Rousseau e Hannah Arendt, haver liberdade

Ignacio Ramonet – Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho

A ideia de um mundo colocado sob “vigilância total” pareceu durante muito tempo um delírio utópico ou paranóico, fruto da imaginação mais ou menos alucinada dos obcecados pela conspiração. Mas é preciso reconhecer a evidência: vivemos, aqui e agora, sob o olhar de uma espécie de império da vigilância. Sem que saibamos, cada vez mais nos observam, nos espiam, nos vigiam, nos controlam, nos ficham. A cada dia novas tecnologias tornam-se mais refinadas, na perseguição do nosso rastro. Empresas comerciais e agências publicitárias registram nossa vida. Mas, sobretudo, sob o pretexto de lutar contra o terrorismo ou contra outras mazelas (pornografia infantil, lavagem de dinheiro, narcotráfico), os governos – incluindo os mais democráticos – se erigem em Grande Irmão e já não têm dúvidas em infringir suas próprias leis para nos espionar melhor. Secretamente, os novos Estados orwellianos buscam construir arquivos completos de nossos contatos e dados pessoais, exatamente como aparecem em diversos suportes eletrônicos.

Depois da onda de ataques terroristas que golpeou, há anos, cidades como Nova York, Paris, Boston, Otawa, Londres ou Madri, as autoridades não tiveram dúvidas em utilizar o grande pavor das sociedades abaladas para intensificar a vigilância e reduzir ainda mais a proteção de nossa vida privada.

Compreendamos: o problema não é a vigilância em geral, é a vigilância maciça clandestina. Num Estado democrático, as autoridades têm legitimidade, baseando-se na lei e com a autorização prévia de um juiz, para colocar sob vigilância pessoas que considerem suspeitas. Como disse Edward Snowden: “Não há nenhum problema em colocar sob escuta Osama Bin Laden. Sempre que os investigadores tenham que obter a permissão de um juiz – um juiz independente, genuíno, não um juiz secreto – e possam provar que existe uma boa razão para emitir uma ordem, podem executar esse trabalho. O problema surge quando nos controlam a todos, em massa, o tempo todo e sem nenhuma justificativa” (1).

Com a ajuda de algoritmos cada vez mais aperfeiçoados, milhares de pesquisadores, engenheiros, matemáticos, estadistas e profissionais de informática buscam e classificam a informação que geramos sobre nós mesmos. Satélites e drones de visão penetrante nos seguem do espaço. Nos terminais dos aeroportos, escâners biométricos analisam nosso andar, leem nossa íris e nossas impressões digitais. Câmaras de infravermelhos medem nossa temperatura. As pupilas silenciosas das câmeras de vídeo nos examinam nas calçadas das cidades ou nos corredores dos hipermercados. Também seguem nossa pista no trabalho, nas ruas, no ônibus, no banco, no metrô, no estádio, nos estacionamentos, em elevadores, em shoppings, nas estradas, nas estações, em aeroportos …

A revolução digital que vivemos, que já transformou tantas atividades e profissões, também modificou completamente os serviços de informação e de vigilância. Na época da internet, a vigilância passou a ser algo onipresente e imaterial, imperceptível, indetectável. Caracteriza-se tecnicamente por uma simplicidade espantosa. Acabaram-se os trabalhos de alvenaria para instalar cabos e microfones, como no célebre filme “A Conversação” (2), no qual podíamos ver como um grupo de “encanadores” apresentava, em uma feira dedicada às técnicas de vigilância, aparatos mais ou menos elaborados, equipados com caixas “informantes” transbordantes de cabos eléctricos que precisavam ser escondidas nos paredes ou no chão.

Vários escândalos ruidosos dessa época – o caso Watergate nos Estados Unidos, o dos “encanadores” do jornal Le Canard Enchaîné  na França –, fracassos humilhantes dos serviços de informação, demonstraram os limites desses antigos métodos mecânicos, facilmente detectáveis e localizáveis.”

Hoje, colocar alguém sob escuta passou a ser feito com facilidade desconcertante. Uma pessoa comum que queira espionar alguém à sua volta encontra no comércio, vendido livremente, um vasto leque de opções: meia dúzia de programas de informática para espiar (mSpy, GsmSpy, FlexiSpy, Spyera, EasySpy), que “leem” facilmente os conteúdos dos telefones celulares, mensagens de texto, correios eletrônicos, contas de Facebook, Whatsapp, Twitter etc. Com o auge do consumo on line, a vigilância comercial também se desenvolveu enormemente, criando um gigantesco mercado de dados pessoais que se converteram em mercadorias. Em cada conexão a uma pagina da rede, os cookies registram o conjunto das buscas realizadas e permitem estabelecer nosso perfil de consumidor. Em menos de vinte milésimos de segundo, a página visitada vende aos possíveis anunciantes a informação que nos diz respeito, revelada pelos cookies. Apenas alguns milésimos de segundo mais tarde, a publicidade que supostamente nos atinge com maior impacto aparece em nossa tela.

De alguma maneira, a vigilância se “privatizou” e “democratizou”. Já não é um assunto reservado aos serviços estatais de informação. Mas ao mesmo tempo, a capacidade de os Estados em matéria de espionagem maciça cresceu de modo exponencial. Isso também se deve à estreita cumplicidade com as grandes empresas privadas que dominam as indústrias de informática e de telecomunicações. Julian Assange afirma: “As novas organizações como Google, Apple, Amazon e Facebook armaram estreitos vínculos com o aparato de Estado em Washington, em particular com os responsáveis por Assuntos Exteriores” (3). Este complexo da segurança e do digital – Estado + aparato militar de segurança + indústrias gigantes da Web – constitui um verdadeiro império da vigilância cujo objetivo, muito concreto e muito claro, é colocar a Internet (toda a Internet e todos os internautas) sob escuta. Para controlar a sociedade.

Para as gerações de menos de quarenta anos, a rede é o ecossistema em que poliram sua mente, sua curiosidade, seus gostos e sua personalidade. De seu ponto de vista, Internet não é só uma ferramenta autônoma, utilizada para tarefas concretas. É uma imensa esfera intelectual onde se aprende a explorar livremente todos os saberes. Uma ágora sem limites, um fórum onde as pessoas se reúnem, dialogam, trocam e adquirem, frequentemente de modo compartilhado, cultura, conhecimentos e valores.

A Internet representa, aos olhos destas novas gerações, o que era para os mais velhos, de modo simultâneo, a escola e a biblioteca, a arte e a enciclopedia, a pólis e o templo, o mercado e a cooperativa, o estádio e o palco, a viagem e os jogos, o circo e o bordel… É tão fabuloso que “o indivíduo, em seu prazer por evoluir num universo tecnológico, não se preocupa em saber, e menos ainda em compreender, que as máquinas gerenciam seu dia a dia. Que cada um de seus atos e gestos é gravado, filtrado, analisado e, eventualmente, vigiado. Que, longe de libertá-lo de seus obstáculos físicos, a informática da comunicação constitui a ferramenta de vigilância e de controle mais incrível que o ser humano jamais pode criar” (4).

Essa intenção de controle total representa um perigo inédito para sociedades democráticas: “Permitir a vigilância da Internet – afirma Grenn Greenwald, o jornalista norte-americano que defundiu as revelações de Edward Snowden – é o mesmo que submeter a um controle estatal completo praticamente todas as formas de interação humana, inclusive o pensamento propriamente dito” (5).

Essa é a grande diferença em relação aos sistemas de vigilância que existiam antes. Sabemos, desde Michel Foucault, que a vigilância ocupa uma posição central na organização das sociedades modernas. Estas são “sociedades disciplinadoras”, onde o poder, por meio de técnicas e de estratégias complexas de vigilância, busca exercer o maior controle social possível (6).

Esta vontade por parte do Estado, de saber tudo sobre os cidadãos, está legitimada politicamente pela promessa de maior eficácia na administração burocrática da sociedade. O Estado afirma que será mais competitivo e, portanto, servirá melhor os cidadãos se os conhecer da forma mais profunda possível. Ao ter se tornado cada vez mais invasiva, a intrusão do Estado terminou provocando, já faz tempo, rejeição crescente entre os cidadãos que apreciam a proteção da vida privada. Desde 1835, Alexis de Tocqueville já assinalava que as democracias modernas de massa produzem cidadãos privados, cuja principal preocupação é a proteção de seus direitos. E que isso faz com que sejam particularmente exigentes e hostis às pretensões intrusivas e abusivas do Estado (7).

Esta tradição prolonga-se atualmente na figura dos “lançadores de alertas”, como Julian Assange e Edward Snowden, perseguidos ferozmente pelos Estados Unidos. Em sua defesa, Noam Chomsky afirma: “Para esses ‘lançadores de alertas’, sua luta por uma informação livre e transparente é uma luta quase natural. Terão êxito? Depende de nós. Snowden, Assange e outros agem na qualidade de cidadãos. Estão ajudando o público a descobrir o que fazem seus próprios governos. Existe acaso uma tarefa mais nobre para um cidadão livre? Mas são castigados severamente. Se Washington pudesse colocar as mãos neles, seria pior ainda. Nos Estados Unidos existe uma lei de espionagem que data do Primeira Guerra Mundial; Obama a tem usado para evitar que a informação divulgada por Assange e Snowden chegue ao público. O governo vai tentar de tudo, até mesmo o indizível, para proteger-se de seu ‘inimigo principal’. E o ‘inimigo principal’ de qualquer governo é o seu próprio povo” (8).

Na era da Internet, compartilhamos nossos pensamentos mais pessoais e íntimos, tanto profissionais como emocionais. Quando o Estado, com ajuda de tecnologias superpoderosas, decide escanear nosso uso da rede, não somente rebaixa suas funções como profana nossa intimidade, descarna literalmente nosso espírito e saqueia o refúgio da nossa vida privada.

Sem saber, fomos reduzidos, aos olhos dos novos “Estados de vigilância”, em clones do herói do filme “O Show de Truman” (9), expostos ao olhar de milhares de câmaras e à escuta de milhares de microfones que expõem nossa vida privada à curiosidade planetárias dos serviços de informação.

A esse respeito, Vince Cerf, um dos inventores da web, considera que “na época das tecnologias digitais modernas, a vida privada é uma anomalía…” (10). Leonard Kleinroc, um dos pioneiros da Internet, é ainda mais pessimista: “Basicamente – considera –, nossa vida privada acabou e é impossível recuperá-la” (11).

Por um lado, muitos cidadãos se resignam, como se o fim do direito ao anonimato fosse uma fatalidade de época. Por outro, esta preocupação de defender nossa vida privada pode parecer reacionária ou “suspeita”: só os que têm algo a esconder tentariam esquivar-se à vigilância do Estado. Este discurso – “Dá-me um pouco de tua liberdade, e a devolvo centuplicada em garantia de segurança” – é uma cilada. A segurança total não existe, nem pode existir. No entanto, a “vigilância total” converteu-se numa realidade indiscutível.

Contra a cilada da segurança, cantilena de todos os poderes, recordemos a lúcida advertência lançada por Benjamin Franklin, um dos autores da Constituição norte-americana: “Um povo disposto a sacrificar um pouco de liberdade por um pouco de segurança não merece nem a primeira nem a segunda. E acaba perdendo as duas”. É uma sentença de atualidade perfeita, e que deve nos encorajar a defender o direito à vida privada. Jean-Jacques Rousseau, filósofo iluminista e primeiro pensador a “descobrir” a intimidade, deu o exemplo. Ele foi, também, o primeiro a se rebelar contra a sociedade de seu tempo e contra a sua vontade inquisidora de querer controlar a consciência dos indivíduos.

“O fim da vida privada seria uma autêntica calamidade existencial”, sublinhou igualmente a filósofa contemporânea Hanna Arendt em seu livro “A condição humana” (12). Com formidável clarividência, sua obra aponta os perigos, para a democracia, de uma sociedade na qual a distinção entre a vida privada e a vida pública estaria estabelecida de forma insuficiente, o que, segundo Arendt, significaria o fim do homem livre. E arrastaria nossas sociedades, de maneira implacável, para novas formas de totalitarismo.

Nota
(1) Katrina van den Heuvel et Stephen F. Cohen, “Edward Snowden: A ‘Nation’ Interview”, The Nation, Nova York, 28 de outubro de 2014.
(2) A Conversação, 1973. Direção: Francis F. Coppola. Intérpretes: Gene Hackman, John Cazale, Cindy Williams, Harrison Ford, Robert Duvall. Palma de Ouro 1974 no Festival de Cannes.
(3) Ignacio Ramonet, “Entrevista a Julian Assange: ‘Google nos espia e informa ao Governo dos Estados Unidos’”, Le Monde diplomatique em espanhol, dezembro de 2014.
(4) Jean Guisnel, em seu prefácio do livro de Reg Whitaker, Tous fliqués. La vie privée sous surveillance, Denoël, París, 2001
(5) Glenn Greenwald, Sem lugar para esconder, Edward Snowden, a NSA, e a espionagem do governo americano, Editora Primeira Pessoa, 2014.
(6) Michel Foucault, Vigiar e punir, Editora Vozes, Petrópolis, 1987
(7) Alexis de Tocqueville, A democracia na América, Martins Fontes, 2005.
(8) Ignacio Ramonet, “Entrevista com Noam Chomsky: Contra o império da vigilância”, Le Monde diplomatique en español, abril de 2015.
(9) O Show de Truman (The Truman Show) (1998). Direção: Peter Weir. Intérpretes: Jim Carrey, Ed Harris.
(10) Marianne, París, 10 de abril de 2015.
(11) El País, Madrid, 13 de janeiro de 2015.
(12) Hanna Arendt, A condição humana, Editora Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2007.

“O SOCIALISMO É A RADICALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA” - Álvaro García Linera



'Sempre vale a pena quando se faz pelos mais pobres, pensando na melhoria de sua condição a longo prazo', declarou o vice-presidente boliviano

Instituto Lula – Carta Maior

Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia, apresentou conquistas e desafios postos ao governo de Evo Morales, primeiro indígena a chegar à Presidência do país vizinho, durante o debate “Bolívia: Dez anos de transformações políticas, étnicas e sociais”, organizado pelo Instituto Lula nesta segunda-feira (5), em São Paulo. Linera integrou mesa que incluiu ainda o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Luiz Dulci e Clara Ant, diretores do Instituto Lula.

Apesar do aprofundamento da crise econômica mundial, que derrubou tanto preços de combustíveis como das commodities e fragilizou a economia em toda a América Latina, a Bolívia acumula resultados positivos na última década. Desde que Morales foi eleito pela primeira vez, em 2006, a economia cresceu 300% em ritmo de expansão do PIB superior a 5% ao ano, enquanto a desigualdade despencou: se, em 2005, os 10% mais ricos acumulavam patrimônio 170 vezes maior que o dos 10% mais pobres, hoje, a elite econômica boliviana tem riqueza “apenas” 70 vezes maior que o dos mais pobres – um número duas vezes maior do que o objetivo do governo Evo para a próxima década, que é reduzir a distância entre décimo mais rico e décimo mais pobre da sociedade para uma proporção de 35 para 1.

A Bolívia ostenta ainda uma dívida do Estado de somente 19% do PIB, que, aliada a reservas internacionais no valor de 50% do PIB nacional, garantem que o Estado boliviano tenha uma margem de manobra fiscal cada vez mais rara desde o início da crise econômica em 2008.

A um público composto por gestores públicos, parlamentares, acadêmicos, militantes partidários e de movimentos sociais ou sindicais, Linera descreveu os cinco pontos programáticos para conquistar esses resultados. Para o vice-presidente, foram essenciais para o processo boliviano: 1) a ressignificação da democracia, de forma a incentivar a deliberação popular e comunitária sobre assuntos de Estado, em especial com reconhecimento e empoderamento das comunidades indígenas, organizadas em governos locais; 2) o debate sobre que tipos de posicionamentos um movimento ou partido com objetivos revolucionários pode adotar à frente do Estado; 3) a ousadia como valor maior da política econômica, em especial pela defesa dos mais pobres; 4) a luta permanente pela hegemonia cultural nos espaços de atividade e formação política, sem “internar-se” no interior de um governo; e 5) o processo de ascensão de governos progressistas a nível continental, que garantiu estabilidade para a realização de mudanças sociais em diversos países.

Em oposição a essas diretrizes de mudança social, há um modelo de democracia administrativamente conservadora, com política econômica heterodoxa, que concentra riqueza e privatiza bens comuns, regida por partidos sem capilaridade social e cuja prioridade máxima é apenas manter-se no controle do Estado, sem revolucionar suas estruturas. São vícios que, segundo Linera, coexistem na direita conservadora e na esquerda acomodada.

“O socialismo não se opõe à democracia, pelo contrário. O socialismo é a radicalização da democracia”, afirmou o vice-presidente. “Na economia, por exemplo, tomamos decisões sobre as quais não tínhamos sempre certeza dos riscos, mas que valeram a pena porque atenderam aos mais desprotegidos. Sempre vale a pena quando se faz pelos mais pobres, pensando na melhoria de sua condição a longo prazo”.

Lula fez a fala de encerramento do debate, em que declarou-se “orgulhoso” por ter conduzido um governo parceiro dos vizinhos regionais do Brasil, que contribuiu com a  estabilidade política e econômica do continente. Mas também fez um mea culpa. “Esse fenômeno [de governos progressistas simultâneos] que aconteceu em diversos países na nossa região, que não vimos no século 20 e estamos vendo agora no começo do século 21, tomara que continue. Não fizemos tudo que pudemos como governo e como partido para transformar nossas conquistas em uma relação de política internacional. Mas vamos fazer. O PT deve essa à América do Sul”, concluiu.

Créditos da foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Portugal. REQUIEM PELO BLOCO CENTRAL



Pedro Bacelar de Vasconcelos* – Jornal de Notícias, opinião

O bloco central acabou. A deliberação proposta por António Costa foi aprovada por maioria esmagadora, na madrugada da quarta-feira, pela Comissão Política do Partido Socialista.

E o secretário-geral foi mandatado para encetar conversações com os partidos à sua esquerda e à sua direita, no quadro parlamentar resultante das eleições de 4 de outubro. Finalmente, fechou-se um ciclo político que dominou o nosso modelo de representação democrática durante 40 anos - desde as eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975.

Segundo um comunicado emitido na noite de terça-feira, o senhor Presidente da República "encarregou" Passos Coelho de conversar com o PS para criar condições que garantam a formação de um "Governo estável e duradouro". No mínimo, diríamos que é uma incumbência bizarra. Porque o sistema de governo de base parlamentar consagrado pela nossa Constituição atribui essa tarefa ao partido vencedor nas eleições legislativas. Ao Presidente da República apenas compete, em primeiro lugar, que aguarde a contagem de todos os votos. Segundo, ouvir o que têm para lhe dizer todos os partidos políticos representados na Assembleia da República. Terceiro, ponderar se o nome que lhe foi proposto corresponde ao sentido da vontade democrática expressa nos resultados eleitorais e se tem o indispensável apoio parlamentar. E, uma vez concluído esse processo, nomear por fim o primeiro-ministro que preencha as condições requeridas.

Provavelmente, esta diligência presidencial extemporânea foi executada a pedido da própria coligação de Direita que agora se confronta com o fracasso da estratégia que adotou. Porque, se aquilo que efetivamente preocupa o Presidente é assegurar uma governação "estável e duradoura", nesse caso, pareceria mais lógico e racional que ele começasse por condenar a precipitação do PSD e CDS em fechar já um compromisso de Governo que, além de minoritário, só pode restringir o leque de opções capaz de assegurar a aprovação do Parlamento.

Mas a lógica é outra. Cavaco Silva e Passos Coelho gostavam de ressuscitar o cadáver do bloco central, depois de terem assinado a certidão de óbito há quatro anos e meio, em 2011. Nem a circunstância de o programa de estabilidade chumbado na Assembleia da República ter a bênção prévia da Europa e da Alemanha impediram o PSD de negociar uma aliança negativa com o PCP e o Bloco de Esquerda para precipitar as eleições legislativas antecipadas que entronaram o Governo da Direita mais radical de toda a história da nossa democracia. Um Governo que se arrastou, moribundo, ao longo dos dois últimos anos, graças à empenhada benevolência presidencial, e que por puro oportunismo criou expressamente para esta campanha eleitoral a ficção dos "cofres cheios" e da "recuperação económica", do fim dos cortes nos salários e nas pensões, e de um cínico empenhamento em combater as desigualdades que sempre promoveu. Um paraíso que desapareceu mal foram conhecidos os magros resultados eleitorais, para reaparecerem as graves dificuldades que o Governo da Direita se encarregou de agravar. E perante a nova realidade, veio o apelo aos consensos de que se esqueceram ao longo de toda a legislatura e a dramatização do "sentido de responsabilidade" com que procuram estrangular o PS, tal como a Direita europeia liquidou os socialistas gregos, numa Grécia apenas poupada à expulsão do euro graças à solidariedade dos socialistas europeus e à corajosa lucidez de Tsipras.

Na decapitação do PS, residia a derradeira esperança da coligação de Direita e dos seus aliados e servidores. Mas enganaram-se. O Parlamento tornou-se agora o centro da nossa vida democrática. Cada um dos eleitos é responsável pelo cumprimento do mandato que recebeu e a satisfação dos compromissos que assumiu perante os eleitores. A vocação dos socialistas não é servir de muleta à Direita nem de bode expiatório à Esquerda. Estarão no centro dos debates e da construção de soluções, sem interlocutores privilegiados, porque o Parlamento é, por definição constitucional, "a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses".

*Professor de Direito Constitucional

Portugal. “SANTUÁRIO DE FÁTIMA É UMA MÁFIA PODEROSA”



Dezasseis anos depois de "Fátima nunca mais", o padre Mário de Oliveira regressa à temática das aparições com o não menos polémico "Fátima S.A.". O livro, que resulta de uma longa investigação feita pelo presbítero-jornalista, demonstra, segundo o autor, que "o Santuário de Fátima é uma máfia poderosa".

Frontal e polémico, como é seu timbre, o popular Padre Mário da Lixa, como também é conhecido, acusa a Igreja de ter cometido em Fátima um "crime lesa-humanidade" ao criar uma "encenação-ostentação", repleta de "vergonha, mentira e crime". Em entrevista ao JN, adianta mesmo que as "aparições só têm servido para ludibriar as populações mais desamparadas".

Por que diz que "Fátima, S. A." é antes de mais um livro de humor?

O terrorismo com que tive de lidar, à medida que mergulhava na chamada Documentação Crítica de Fátima (DCF), quase todos da responsabilidade do Cónego Formigão, é de tal monta, que, para poder prosseguir a minha investigação sem vomitar, tive de os ler na saudável chave de humor. A chave política e também teológica (Deus é Humor, tal como é Amor) mais eficaz que nos faz ver que, afinal, por baixo de toda aquela encenação-ostentação com que Fátima hoje se nos apresenta, a sua senhora vai nua e deixa ver que tudo aquilo mais não é do que vergonha, mentira e crime.

O título remete para o livro "Vaticano S.A.", de Gianluigi Nuzzi. Entre Fátima e o Vaticano, que diferenças estabelece?

O título impõe-se-me, à medida que me adentro nos malabarismos do clero de Ourém, perfidamente orientados pelo Cónego Formigão, o grande inventor das "aparições" de Fátima, à imagem e semelhança das "aparições" de Lourdes, em França. Com isso, o papa fez silenciar para sempre os teólogos católicos, o que perfaz um crime de lesa-inteligência e de lesa-humanidade, a juntar a tantos outros cometidos, ao longo dos séculos, pela Cúria romana. O que move o cónego Formigão é a restauração da diocese de Leiria e, simultaneamente, a recuperação do poder da igreja católica no país, manifestamente diminuído com a implantação da República de 1910. A qual não hesitou, e bem, em nacionalizar a maior parte do seu escandaloso património imobiliário espalhado por todo o país. E a prova do seu êxito é que, cem anos depois, o Santuário de Fátima é hoje a poderosa máfia que se vê e que conta com a famigerada bênção da máfia-mãe de todas as máfias, a Cúria romana.

O Papa Francisco propôs-se moralizar as finanças do Vaticano. Tem esperança que suceda o mesmo em Fátima?

Não duvido dos bons propósitos e das boas intenções de Jorge Bergoglio, mesmo depois que aceitou ser eleito papa, com o nome de Francisco. O Papa Francisco bem pode correr e saltar, surpreender as populações com comportamentos insólitos, mas tudo isso só serve para entreter os grandes media e desviar as atenções de tudo o que de sinistro a Cúria romana continua a fazer. Porque não é o papa que manda na Cúria romana, é a Cúria romana que o elege que manda no papa.

O que mais o surpreendeu na investigação?

Tudo me surpreendeu. Desde logo, a própria existência da DCF, compilada e autenticada com o aval pretensamente científico da Universidade Católica Portuguesa. Este meu novo livro é todo fruto desta DCF. Aliás, eu próprio não pensava voltar ao assunto Fátima, depois do meu primeiro livro, "Fátima nunca mais". Quando, porém, me caem diante dos olhos e nas mãos os primeiros volumes da pretensiosamente chamada DCF, eu próprio nem queria crer no que ali nos é dado a ler. As aberrações teológicas são tantas e é tão medonha e criminosa a manipulação, primeiro, das três crianças, e depois, após a morte dos dois irmãos - Jacinta, 7 anos, e Francisco, 8 anos - da única sobrevivente Lúcia, 10 anos, ao longo de toda a sua vida histórica, por parte do clero de Ourém, que é preciso ler para crer. Salta depressa à vista que, até a imediata restauração da diocese de Leiria e a rápida nomeação do seu primeiro bispo residencial são feitas à medida, para, com elas, impor como dignas de fé, as supostas seis encenações teatrais, de Maio a Outubro de 1917. Porém, bastou a imprevista intervenção do governador do concelho de Ourém, Artur de Oliveira Santos, o único homem honesto no meio de toda aquela cretinice clerical, decidir levar para sua casa em Ourém, no dia 13 de Agosto desse ano, as três crianças, Jacinta, Francisco e Lúcia, para que "a senhora que vinha do céu" faltasse à palavra dada no dia 13 de Maio. Nunca, até hoje, o clero de Ourém e a generalidade da hierarquia da igreja católica, lhe perdoaram esta mais do que oportuna intromissão no seu teatrinho das "aparições". E, para que as seis "aparições" iniciadas em Maio e terminadas em Outubro, sempre no mesmo dia, à mesma hora e no mesmo local, não ficassem reduzidas apenas a cinco, o Cónego Formigão, faz escrever um pequeno relato para memória futura, a dizer que a "aparição" referente a 13 de Agosto veio a acontecer no dia 19, numa outra hora e num outro local. Caricato demais, para merecer qualquer credibilidade por parte de alguém com o mínimo de bom senso e de honestidade intelectual.

Encontrou algum condicionamento durante essa pesquisa?

Objetivamente, não. Interiormente, sim. Sou presbítero-jornalista, formado-formatado durante 12 anos pelo seminário do Porto, filho do Concílio de Trento, como todos os demais seminários diocesanos, e trago comigo as marcas degenerativas do fator religioso, que essa formação-formatação impunha, impõe. A luta interior que tive de travar para expulsar da minha mente-consciência todas essas crenças infantilizadoras, foi e continua a ser titânica. Só a minha libertação interior me habilitou a mergulhar em todo o tenebroso labirinto que são os documentos que integram os volumes da DCF, e ver o humilhante e o inumano que tudo aquilo é.

Foi há 16 anos que escreveu "Fátima nunca mais". Lamenta que o livro não tenha provocado mudanças na gestão do Santuário?

Obviamente que lamento. Não tanto por mim. Sim, pela instituição igreja católica romana. A sua teimosia em fazer de conta que esse livro não existe só contribui para o acelerado processo da sua descredibilização, fruto da sua cegueira. Nem sequer a igreja católica se dá conta de que, com as sucessivas peregrinações a Fátima, como expressão suprasumo da fé católica, está hoje a ser a mais eficiente fábrica de produção de ateísmo e de ateus, mulheres e homens. Para sua vergonha. E para acelerada corrupção da sociedade. Consequentemente, não é de estranhar que esteja a ser lançada fora pelas gerações mais jovens.

Como se explica que, perante as denúncias feitas, os donativos ao Santuário continuem a bater recordes?

É a velha 'estória' da pescadinha de rabo na boca. As populações, milenarmente subjugadas, humilhadas, desamparadas, são criminosamente levadas a pensar-acreditar que, por si próprias, não podem fazer nada e que o alívio para os seus quotidianos de dores só pode vir de fora delas. As populações deixam-se arrastar para aqueles locais e aquelas instituições que lhes são criminosamente apresentados como libertadores. O desastre humano é total. Se repetido, ano após ano, geração após geração, o estado de degradação e desamparo agrava-se e as populações acabam por morrer no seu inferno de dores.

Mesmo perante as provas mais irrefutáveis, julga que a atitude dos crentes face às aparições não se alteraria?

Enquanto não desaparecerem as causas que produzem multidões e multidões de vítimas, de desempregados, de escravizados, de migrantes-refugiados, de assalariados, de analfabetos políticos, culturais, artísticos, as provas mais irrefutáveis apenas servem para radicalizar ainda mais os fanatismos religiosos, fruto de ancestrais e inconscientes medos que elas trazem nos genes, como outros tantos demónios mudos, que lhes roubam continuadamente a voz e a vez. A própria Ciência, se não é humilde e intrinsecamente cordial, acaba por se tornar perversa. Agride ainda mais as multidões condenadas pelo sistema de poder a terem de viver em labirintos sem saída.

Acredita que, desta vez, foi muito mais longe na desmistificação das aparições?

É, agora, sobejamente claro que Fátima e a sua senhora não têm nada a ver com Maria, a mãe de Jesus. Que tudo aquilo é negócio, pura idolatria. Se "Fátima, nunca mais" "matou" Fátima, "Fátima S.A." faz a "autópsia" ao cadáver. Com um pormenor nada despiciendo. Neste meu novolLivro, tudo é devidamente fundamentado na DCF, disponibilizada e publicada pelo próprio Santuário, inclusive, com transcrições de partes significativas desses documentos.

Mesmo para um cético, como é o seu caso, não acha que Fátima desempenha um papel fulcral na sociedade portuguesa?

Quem o não reconhece? A questão que nos havemos de colocar é o tipo de "papel fulcral na sociedade portuguesa" que Fátima representa. E aqui tenho de dizer, sem que a voz me trema, que no que respeita à igreja católica romana, Fátima é a vergonha das vergonhas. E se a fé católica romana é assim tão rasca, como a dos fatimistas, então, é muito mais digno ser-se agnóstico ou ateu. Já no que respeita ao turismo religioso, propriamente dito, é óbvio que, sem Fátima, as empresas que têm o mau gosto de se lhe dedicarem, sofrerão um rombo sem igual, se Fátima vier a cair em descrédito. Mas, também aqui, é bom sublinhar que se o turismo religioso é tão rasca como o que Fátima proporciona, os turistas só terão a ganhar, se passarem a viajar para o ar puro das montanhas, onde o veneno do Mercado ainda não chegou, e para a simplicidade das aldeias do interior. Este tipo de turismo alternativo ao religioso faz muito melhor à saúde e sai muito mais barato. Mas não sou ingénuo. Sei perfeitamente que o Mercado financeiro jamais vai por aí, tão pouco está interessado em que as populações vão por aí. De modo algum, quer populações com saúde e bem-estar, alegres e em relação umas com as outras. É por isso que, para as agências de turismo religioso do Mercado financeiro, Fátima é o local ideal para manter populações deprimidas, tristes, alienadas, humilhadas, autoflageladas, geração após geração. O que não deixa de constituir um crime de lesa-humanidade que polícia alguma do mundo investiga, tão pouco, desaconselha. Até estimula e protege.

Sem Fátima, a orfandade ou o desamparo espiritual não seriam ainda maiores?

Pelo contrário. Tudo em Fátima é altamente deprimente. Orfandade. Desamparo espiritual. Só gente deprimida, órfã, desamparada espiritualmente, é capaz de dizer que se sente lá bem. Como o dependente da droga se sente bem em locais fechados onde todos os que os frequentam são outros tantos consumidores compulsivos. Como o dependente do futebol dos milhões, se sente bem, sentado ou de pé, nas bancadas de luxuosas e grandiosas catedrais das respetivas máfias do dito, disfarçadas de clubes de futebol. Fátima é a negação de todos estes valores humanos. Em Fátima, o sofrimento é rei. A depressão é regra. O viver de joelhos é o objetivo último. Uma vergonha, uma degradação humana a céu aberto.

Após este livro sente que pouco mais ficou por dizer sobre Fátima?

As "aparições" só têm servido para ludibriar as populações mais desamparadas. São erradamente levadas a pensar que a solução para os seus graves e dolorosos problemas se resolvem com peregrinações a pé ou de carro para lá. Fátima não faz parte da fé católica, pelo que nenhum católico deixa de o ser, por não acreditar em Fátima. Vou ainda mais longe e afirmo, também sem que a voz me trema: um bom católico não deve acreditar em Fátima. Pelo que aqueles católicos, elas e eles, que acreditam e correm para Fátima, não passam de católicos medíocres.

Sérgio Almeida – Jornal de Notícias

Portugal. “PADRE EDGAR” É CANDIDATO DO PCP A BELÉM



O madeirense Edgar Silva, de 53 anos, foi o nome escolhido pelo PCP como candidato à Presidência da República.

Conhecido por "Padre Edgar", pela sua ligação à vida sacerdotal durante muitos anos, Edgar Silva candidatou-se pela primeira vez pelo PCP, numas listas da CDU, em 1996, nas regionais madeirenses. Nessas eleições, conseguiu o melhor resultado numa região há muito controlado pelo PSD de Jardim.

Segundo o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, "a candidatura é para levar até ao fim".

Jerónimo admitiu que apenas numa segunda volta o PCP possa vir a apoiar um outro candidato à Esquerda, depois "de uma avaliação" daquilo que resultar do primeiro sufrágio.

"Tudo faremos para que na Presidência da República esteja alguém que assuma claramente este compromisso com o povo português: de cumprir e fazer cumprir a Constituição", assegurou.

O anúncio surge no rescaldo das legislativas e poucas horas após a reunião com o PS.

Edgar Silva, nascido no Funchal, foi um padre e responsável por muitos projectos na área social, principalmente de apoio a crianças de rua. É membro do PCP, desde 1998, e integra o Comité Central.

A apresentação da declaração de candidatura, já com a presença de Edgar Silva, ocorrerá em Lisboa, já no próximo dia 15.

Nuno Miguel Ropio -  Na foto: Carlos Carvalhas com Edgar Silva (à direita na imagem) - NUNO PINTO FERNANDES//GLOBAL IMAGENS

QUASE 3 MILHÕES NA POBREZA. CAVACO E GOVERNO REDOBRAM INSENSIBILIDADE




É uma vergonha que numa República exista um individuo na presidência que se comporta como um monarca ridículo e insensível à pobreza que se instalou e instala em Portugal, mais vergonha ainda por ser um protetor do governo que faz gáudio de ter empobrecido o país e afirma com todo o descaramento que “Portugal está melhor”, falando da crise como passado. Um PR que cumprisse a Constituição (como jurou) devia exigir que os seus preferidos do governo - que protege - tomassem medidas para enfrentar a miséria que assola os portugueses, quase três milhões. Uma vergonha, que só não é para aqueles que dirigem (mal) os destinos do país saracoteando docilmente em sintonia com banqueiros e grandes empresários, destinando às populações o desprezo semelhante ao longo e terrível período do fascismo salazarista. Desprezo que viamos sair de Belém, de São Bento e dos ministérios no Terreiro do Paço. E são estes, nos atuais poderes, indiferentes boçais à miséria que grassa no país, que tudo querem e tudo fazem para se perpetuarem nos poderes por mais anos, gerando, certamente, mais miséria. Ser humano que se digna não pode aceitar que esta situação prossiga e que muito provavelmente se agrave. Urge romper os grilhões que Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas têm imposto aos portugueses. Urge meter na ordem democrática e de justiça social os que têm espezinhado essas duas vertentes indissociáveis do regime democrático. Nem Cavaco, nem o seu governo, merecem mais contemplações ou benefícios da dúvida. Os portugueses exprimiram o seu repúdio às políticas daqueles serviçais do grande capital nas recentes eleições legislativas. Dali resultou uma maioria clara de esquerda. A esquerda que se entenda e que liberte o país e os portugueses de tais avantesmas e de outras que ao longo de décadas têm depauperado Portugal e enriquecido de modo inexplicável. Por coincidência (?) Portugal e os portugueses têm empobrecido. Basta de miséria. Democracia, justiça e liberdade é imperativo que não podemos continuar a permitir que seja negado aos portugueses. 

Da peça retirada do Jornal de Notícias (a seguir) é evidenciado que as mulheres são as maiores vítimas - e em maior número - do empobrecimento imposto à maioria dos portugueses... Provavelmente ocorrerá aos sociopatas que detêm os poderes: "Façam pela vida, prostituam-se." Não é difícil concluir que Portugal tem uma elite política (arco da governação) e do grande capital que é doentia, que está a conspurcar o país, para além de o roubar e de o vender -  por não sentirem que é a sua Pátria, por serem parte integrante de uma pátria diferente, a pátria do cifrão. (MM / PG)

Mais mulheres em risco de pobreza

A população em risco de pobreza ou exclusão social manteve-se nos 27,5% em 2014 mas os dados do INE apontam para um agravamento da situação entre as mulheres.

Apesar de as percentagens não mostrarem uma alteração entre 2013 e 2014, houve menos 14431 pessoas em situação de risco de pobreza ou exclusão social no ano passado, totalizando 2853076.

Esta situação pode ter sido reflexo da população residente em Portugal ter diminuído naqueles dois anos, passando de 2867507 em 2013 para 2853076 em 2014.

Segundo os dados atualizados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR), 28,1% das mulheres residentes em Portugal estavam em risco de pobreza ou exclusão social no ano passado, uma percentagem que representa 1531774 mulheres.

Comparando com 2013, verificou-se um aumento de 0,7%, referem os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Já entre o sexo masculino, a situação inverteu-se com uma redução de casos de risco de pobreza ou exclusão social: em 2014, havia 1314619 homens nesta situação (26,7%), menos 0,8% do que no ano anterior.

O indicador população residente em risco de pobreza ou exclusão social combina dois indicadores construídos com base em informação relativa ao ano de referência do rendimento (Taxa de risco de pobreza após transferências sociais e Intensidade laboral per capita muito reduzida) com um indicador com informação relativa ao ano do inquérito (Taxa de privação material severa).

Entre 2009 e 2014, a população residente em risco de pobreza ou exclusão social aumentou de 24,9% para 27,5% em 2014.

Dados provisórios do INE relativos a 2014 sobre a situação de privação material referem que nesse ano 25,7% dos residentes em Portugal viviam em privação material e 10,6% em situação de privação material severa, dados semelhantes aos registados no ano anterior.

As famílias com crianças são as que mais frequentemente se encontram em privação material (26,3%) e em privação material severa (11,3%).

Jornal de Notícias

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