Segundo
a família, o activista terá perdido mais de 10 quilos desde que iniciou a greve
de fome, há 18 dias. Vigília em solidariedade foi remarcada para a Sagrada
Família.
O
activista Luaty Beirão, preso há mais de cem dias por alegada tentativa de
golpe de Estado, chegou hoje ao 18.º dia de greve de fome e encontra-se
extremamente debilitado, de acordo com a família. Uma vigília em solidariedade
estava marcada para hoje, às 18h, para o Largo da Independência, mas foi
remarcada de última hora para a Igreja da Sagrada Família.
O
preso político foi visitado hoje por um grupo de dez pessoas na Cadeia de
Calomboloca, mas apenas a sua mãe foi autorizada a vê-lo.
De acordo
com o irmão de Luaty, Pedro Beirão, o activista corre risco de morte e
encontra-se bastante debilitado.
“A
diferença de sábado para hoje é abismal. Ele desmaiou esta manhã e consegue
ficar de pé por apenas alguns segundos”, afirmou ao Rede Angola.
“A
sua saliva é castanha e ele não consegue engolir absolutamente nada. É um
estágio bastante avançado de greve de fome”, acrescenta.
De
acordo com o médico Alberto Galvão-Teles, “a saliva escura poderá ter a ver com
alguma hemorragia” que o activista poderá ter tido.
Segundo
Pedro Beirão, Luaty diz que “sente que internamente está algo a ceder”. O preso
político já terá perdido dez quilos desde o princípio da greve de fome.
Desde
anteontem que o activista já nem sequer consegue beber água, pois sente o
estômago a arder. “Não tendo comida no estômago há dias, os ácidos estão a
criar dificuldades para que se consiga alimentar. Os ácidos vão corroendo o
estômago”, afirma o médico.
A
situação é preocupante porque sem ingerir líquidos, “o que acontece é a morte
das células, a pouco e pouco”, acrescenta Galvão-Teles. “Ele tem de beber
líquidos de qualquer maneira”, alerta o especialista.
Ainda
de acordo com o irmão do activista, a família não obteve qualquer
informação se Luaty está a ter qualquer tipo de atendimento médico. “Ninguém
diz absolutamente nada, não sabemos se está a ter acompanhamento médico na
cadeia”.
Na
última sexta-feira, Luaty chegou a ser transferido para o hospital-prisão de
São Paulo, mas, segundo a família retornou a Calomboloca sem ter realizado
qualquer exame médico.
Luaty
Beirão está preso desde o
dia 20 de Junho e faz parte de um grupo conhecido como 15+1, que
segundo a Procuradoria Geral da República, estava a planear actos preparatórios
para um golpe de Estado. A
defesa dos activistas questiona a afirmação.
A
acompanhar a detenção dos activistas desde o inicio, a Amnistia Internacional
de Portugal fez agora o caso chegar à sede da instituição no Reino Unido. Hoje
foi exigida em Londres a libertação imediata dos activistas.
Consequências
médicas da greve de fome
De
acordo com um estudo do Departamento de Saúde Britânico e da revista médica The
Lancet, as consequências de uma greve de fome dependem de indivíduo para
indivíduo mas, normalmente, o risco de morte por desnutrição de pessoas em bom
estado de saúde antes de recorrerem a esta forma radical de protesto coloca-se
a partir das seis semanas.
O
caso muda de figura para pessoas que estejam com problemas de saúde ou já
debilitadas antes de iniciarem a greve, como é o caso de Luaty Beirão, em que o
risco de morte por desnutrição já se coloca ao fim de três semanas sem ingestão
de comida. O activista está quase a completar três semanas.
Se
uma pessoa se recusa a ingerir líquidos, ou se já não consegue ingeri-los,
então “a deterioração é muito rápida”, com o risco de morte ao fim de sete a 14
dias.
Por
estranho que possa parecer, durante uma greve de fome, ao fim de dois ou três
dias a pessoa deixa de ter vontade de comer, refere a referida revista, citada
pelo site Ciência Online. Ao fim de duas semanas, as pessoas começam a ter
dificuldade em manter-se em pé, sofrem de tonturas, os seus movimentos
tornam-se lentos e perde-se coordenação motora. Em virtude da baixa frequência
cardíaca, a sensação de frio é constante.
Também,
ao fim de duas ou três semanas, com a descida dos níveis de vitamina B1, podem
vir os problemas neurológicos graves, défice cognitivo e perda de visão.
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