quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Angola. VIDA DE LUATY BEIRÃO EM “RISCO IMINENTE”



Segundo a família, o activista terá perdido mais de 10 quilos desde que iniciou a greve de fome, há 18 dias. Vigília em solidariedade foi remarcada para a Sagrada Família.

O activista Luaty Beirão, preso há mais de cem dias por alegada tentativa de golpe de Estado, chegou hoje ao 18.º dia de greve de fome e encontra-se extremamente debilitado, de acordo com a família. Uma vigília em solidariedade estava marcada para hoje, às 18h, para o Largo da Independência, mas foi remarcada de última hora para a Igreja da Sagrada Família.

O preso político foi visitado hoje por um grupo de dez pessoas na Cadeia de Calomboloca, mas apenas a sua mãe foi autorizada a vê-lo.

De acordo com o irmão de Luaty, Pedro Beirão, o activista corre risco de morte e encontra-se bastante debilitado.

“A diferença de sábado para hoje é abismal. Ele desmaiou esta manhã e consegue ficar de pé por apenas alguns segundos”, afirmou ao Rede Angola.

“A sua saliva é castanha e ele não consegue engolir absolutamente nada. É um estágio bastante avançado de greve de fome”, acrescenta.

De acordo com o médico Alberto Galvão-Teles, “a saliva escura poderá ter a ver com alguma hemorragia” que o activista poderá ter tido.

Segundo Pedro Beirão, Luaty diz que “sente que internamente está algo a ceder”. O preso político já terá perdido dez quilos desde o princípio da greve de fome.

Desde anteontem que o activista já nem sequer consegue beber água, pois sente o estômago a arder. “Não tendo comida no estômago há dias, os ácidos estão a criar dificuldades para que se consiga alimentar. Os ácidos vão corroendo o estômago”, afirma o médico.

A situação é preocupante porque sem ingerir líquidos, “o que acontece é a morte das células, a pouco e pouco”, acrescenta Galvão-Teles. “Ele tem de beber líquidos de qualquer maneira”, alerta o especialista.

Ainda de acordo com o irmão do activista, a família não obteve qualquer informação se Luaty está a ter qualquer tipo de atendimento médico. “Ninguém diz absolutamente nada, não sabemos se está a ter acompanhamento médico na cadeia”.

Na última sexta-feira, Luaty chegou a ser transferido para o hospital-prisão de São Paulo, mas, segundo a família retornou a Calomboloca sem ter realizado qualquer exame médico.

Luaty Beirão está preso desde o dia 20 de Junho e faz parte de um grupo conhecido como 15+1, que segundo a Procuradoria Geral da República, estava a planear actos preparatórios para um golpe de Estado. A defesa dos activistas questiona a afirmação.

A acompanhar a detenção dos activistas desde o inicio, a Amnistia Internacional de Portugal fez agora o caso chegar à sede da instituição no Reino Unido. Hoje foi exigida em Londres a libertação imediata dos activistas.

Consequências médicas da greve de fome

De acordo com um estudo do Departamento de Saúde Britânico e da revista médica The Lancet, as consequências de uma greve de fome dependem de indivíduo para indivíduo mas, normalmente, o risco de morte por desnutrição de pessoas em bom estado de saúde antes de recorrerem a esta forma radical de protesto coloca-se a partir das seis semanas.

O caso muda de figura para pessoas que estejam com problemas de saúde ou já debilitadas antes de iniciarem a greve, como é o caso de Luaty Beirão, em que o risco de morte por desnutrição já se coloca ao fim de três semanas sem ingestão de comida. O activista está quase a completar três semanas.

Se uma pessoa se recusa a ingerir líquidos, ou se já não consegue ingeri-los, então “a deterioração é muito rápida”, com o risco de morte ao fim de sete a 14 dias.

Por estranho que possa parecer, durante uma greve de fome, ao fim de dois ou três dias a pessoa deixa de ter vontade de comer, refere a referida revista, citada pelo site Ciência Online. Ao fim de duas semanas, as pessoas começam a ter dificuldade em manter-se em pé, sofrem de tonturas, os seus movimentos tornam-se lentos e perde-se coordenação motora. Em virtude da baixa frequência cardíaca, a sensação de frio é constante.

Também, ao fim de duas ou três semanas, com a descida dos níveis de vitamina B1, podem vir os problemas neurológicos graves, défice cognitivo e perda de visão. 

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