segunda-feira, 9 de novembro de 2015

POLÍTICA FISCAL E DESENVOLVIMENTO NAS ECONOMIAS AFRICANAS



Rui Peralta, Luanda

Nas últimas décadas muitas nações em desenvolvimento registaram uma diminuição das obrigações fiscais, o que representou uma diminuição das receitas. Inverter essa situação é uma medida urgente, que permitirá financiar o desenvolvimento económico, social e cientifico das economias periféricas. A aplicação de políticas de desenvolvimento depende fundamentalmente do investimento público estatal que, por sua vez, encontra-se limitado pelas baixas receitas fiscais.

Na grande maioria das economias africanas as políticas fiscais são incipientes e muitas vezes irrealistas. Continuam a incidir sobre factores que afectam o trabalho (impostos sobre o rendimento de trabalho, que afectam os trabalhadores assalariados), o investimento produtivo (impostos industriais, por exemplo, ou sobre as exportações, quando estas existem), ou que afectam os consumidores (as receitas alfandegárias, por exemplo, têm o condão de recair sobre o consumidor final do produto, pouco ou nada afectando o importador de produtos acabados, que faz o consumidor pagar a tributação, ao diluir nos custos finais da mercadoria a carga tributária). Por sua vez as receitas sobre a propriedade, os investimentos imobiliários e os produtos financeiros e bancários são irrisórias e geralmente escamoteadas ou ignoradas.  

As receitas ficais africanas procedem, principalmente, de três fontes: impostos sobre bens e serviços; impostos sobre o comércio externo; e impostos directos. Nas economias africanas os impostos referentes ao património e á propriedade, assim como as contribuições á segurança social, são uma fonte descurada, ao contrário das economias centrais, desenvolvidas, que têm nestas contribuições a sua fonte principal. E isto dá que pensar. Não para afirmar, demagogicamente, que Africa deverá seguir o seu caminho, que não deve copiar modelos ocidentais, etc., mas para criar políticas fiscais inteligentes que reflictam as realidades económicas de cada Estado africano.

Não existem modelos únicos (nem pensamento único), mas permanecer com modelos que facilitam as actividades especuladoras e destroem as actividades produtivas, é permitir que as economias africanas mantenham numa posição periférica, submissa ao neocolonialismo. E esta é realidade na maioria das políticas fiscais praticadas no continente. É indispensável que as nações africanas tomem medidas para aumentar os seus ingressos fiscais, partindo dum vasto leque de opções que permitam o aumento do investimento produtivo, da produtividade e das condições de vida.  

O argumento de que taxas menores asseguram o cumprimento das obrigações e proporcionam maiores investimentos revelou-se um falso argumento. As correcções efectuadas, às pressas, para corrigir estas situações, revelaram-se ainda mais desastrosas. Muito pouco foi feito no que respeita á evasão fiscal, á fraude e ao assegurar de novas fontes tributárias, como a arrecadação das receitas dos emigrantes, por exemplo.

Por sua vez as reformas tributárias a efectuar, ou em curso, podem melhorar e/ou optimizar os impostos directos, por exemplo, assim como as restantes fontes tributarias tradicionais nas economias africanas. Aumentar a carga fiscal sobre uns sectores e diminuindo ou isentando, temporalmente, sobre outros sectores são opções que devem ser efectuadas após levantamentos profundos e não sobre o joelho, apenas porque o Estado está desfalcado. As políticas fiscais têm de ser implementadas em função dos objectivos do desenvolvimento e não em função de objectivos de curto-prazo ou vistas como se tratassem, apenas, de receitas do Estado, para serem exclusivamente usadas pelos aparelhos estatais, nos seus custos e desvarios.

Devem implementar-se políticas de rigor orçamental e medidas que assegurem (e facilitem) o cumprimento das obrigações. Limitar os custos burocráticos (e a autoridade do funcionalismo) ajuda a melhorar o cumprimento e a reduzir despesas parasitárias. Reduzir a evasão fiscal e dificultar a fraude não implica mais funcionalismo, nem mais policias e medidas de segurança, mas menos burocracia e a racionalização dos meios. Informatizar, de forma realista (e não como um comércio gerador de grandes comissionamentos), os serviços é uma excelente contribuição para o combate á evasão, fraude e corrupção fiscal. Optimizar a administração fiscal aumenta as receitas, não apenas porque torna mais efectiva a implementação das obrigações, mas também porque reduz os custos com a implementação das mesmas.

Concepções fiscais baseadas em valor agregado (como os impostos de valor acrescentado) que são predominantes nas economias europeias resultam ser ineficientes e geradores de baixos valores arrecadados nas economias africanas, devido ao vasto sector informal que predomina em África. Por sua vez a aplicação e consequente ampliação de forma brusca destes conceitos, prejudicará os mais pobres e os consumidores, de uma forma geral. Por sua vez aumentarão, inevitavelmente, os custos administrativos.

Em contrapartida devem-se criar novas fontes de receitas com impostos especiais sobre as bebidas alcoólicas, o tabaco, os produtos finais não essenciais, veículos de transporte individual, etc. Estes impostos não necessitam, para a sua aplicação, de aumento dos custos administrativos, podendo ser arrecadados á saída das fábricas ou á chegada aos portos e aeroportos, alargando a base da sua arrecadação e simplificando a mesma.

Deve, pois, a política fiscal ser um motor auxiliar para o desenvolvimento desenvolvimento e não um obstáculo ao desenvolvimento. E, acima de tudo, um mecanismo de participação democrática e um objectivo da cidadania, uma obrigação geradora de direitos, liberdades e garantias.

"Explosão demográfica" africana trará nova vaga de refugiados à Europa - especialista



O antigo representante do secretário-geral da ONU em África Victor Ângelo alertou hoje que o grande fluxo de refugiados para a Europa se vai manter nos próximos anos e que outro se seguirá, devido à "explosão demográfica" africana.

Para Victor Ângelo, a solução para este problema "não é fácil" porque passa por "travar o fluxo" na sua origem, ou seja, países como a Síria, "onde há uma crise profunda há cinco anos", onde estão instalados 1.300 grupos armados e onde um processo político vai levar um ano ou dois a desenvolver-se e completar-se.

"Não vai ser possível travá-lo já [o fluxo de refugiados para a Europa], vai demorar algum tempo. Certamente, o ano de 2016 vai ser semelhante ao ano 2015 em termos de grandes movimentos de massas. Provavelmente, em 2017, vamos ver um afrouxamento desses movimentos. Mas na realidade, mesmo que se consiga resolver o problema do Médio oriente, depois começa a surgir o problema de África", afirmou.

Victor Ângelo falava aos jornalistas à margem de uma conferência em Macau, em que foi orador, dedicada ao tema dos refugiados e aos desafios que coloca à Europa.

O antigo representante do secretário-geral da ONU em países como o Chade, Zimbabué, Serra Leoa ou República Centro-Africana sublinhou que "do lado africano há uma explosão demográfica que está em curso" e, "mais tarde ou mais cedo", os jovens daquele continente procurarão uma solução de vida na Europa.

A este propósito, lamentou, durante a conferência, que a Europa tenha, por exemplo, deixado de apoiar e financiar na década de 1980 programas agrícolas em África, essenciais para fixar populações.

Para Victor Ângelo, a resposta europeia à crise dos refugiados passa ainda, entre outros aspetos, por uma "resposta comum", sublinhando que a questão pode ter implicações ao nível da coesão da União Europeia e abrir espaço à desintegração.

Outra consequência que pode surgir é este problema ser explorado por partidos europeus radicais "profundamente racistas" e "profundamente antieuropeus", uma "combinação explosiva" que, aliás, é já uma "tendência cada vez mais visível", considerou.

Para Victor Ângelo, a resposta imediata que a UE tem tentado dar ao fluxo de refugiados "não tem estado de modo algum à altura, antes pelo contrário", apontando que apenas uma ou duas centenas de pessoas, das centenas de milhares que chegaram em 2015 à Europa, viram os seus casos encaminhados.

"Temos de lado um 'iceberg' e do outro lado um cubo de gelo", ilustrou.

Victor Ângelo sublinhou ainda, na conferência, a importância dos apoios às agências da Nações Unidas que lidam com os refugiados, dizendo que a crise migratória deste ano também coincidiu com uma "quebra muito importante" nas verbas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e outras estruturas da ONU, que levaram à saída de milhares de pessoas dos campos de refugiados onde se encontravam.

Esta conferência foi organizada pelo Programa Académico da União Europeia para Macau, em parceria com a Fundação Rui Cunha e a Associação de Imprensa em Língua Portuguesa e Inglesa de Macau.

Victor Ângelo integra atualmente a organização não-governamental suíça PeaceNexus e é consultor da NATO.

MP // EL - Lusa

Portugal. Catarina Martins (BE) diz que programa é "mixórdia de temáticas" a rejeitar pela democracia



A porta-voz do BE classificou hoje o programa de Governo PSD/CDS-PP como uma "mixórdia de temáticas" com muito "humor negro", prognosticando-lhe o 'chumbo', sem "jogadas políticas", considerando que "foi a democracia a rejeitar" o documento.

Em resposta a Catarina Martins, no debate parlamentar, o primeiro-ministro, Passos Coelho, recusou a ideia sugerida de que o executivo conjunto com Paulo Portas é "uma central de negócios" e provocou a deputada bloquista com uma questão - "quem catequizou quem", no "acordo político que terão acordado com o PS".

"Temos hoje, de facto, um debate estranho, sobre um programa de Governo que antes de o ser já não era. A rejeição está anunciada", sentenciou Catarina Martins, defendendo que "se PSD e CDS não têm deputadas e deputados suficientes para fazer passar o programa é porque os eleitores" lhes "retiraram essa confiança" e "não são jogadas politicas, é a democracia a funcionar, foi a democracia que rejeitou o programa".

A parlamentar bloquista insistiu que o documento da coligação PSD/CDS-PP "é um programa de vendas" e o elenco governativo "uma central de negócios", além de conter "humor negro" como prioridades, acrescentando que o Governo foi um "bom aluno de Berlim", sem qualquer Orçamento do Estado que respeitasse a Constituição, além de ter triplicado a dívida e acabar 2014 com mesmo défice de 2011.

Para Catarina Martins a tal "mixórdia de temáticas" são os diversos itens do documento, como o "desafio demográfico", após o executivo "ter mandado emigrar tudo e todos", conceder "benefícios fiscais para as famílias com mais rendimentos", bem como o "ridículo programa VEM" [destinado a apoiar o regresso de emigrantes].

Outra prioridade - "valorizar as pessoas" surge depois de o primeiro-ministro ter chamado "piegas" à população, segundo a porta-voz do BE. Outra intenção governamental - "defender e revigorar o Estado social" não passa, para Catarina Martins, da "criação de um Estado paralelo com contratualização com privados para tudo".

"À medida que ouvia, ia crescendo em mim a curiosidade para conhecer os termos do acordo político que terão acordado com o PS. Os portugueses ainda não perceberam quem catequizou quem", ironizou Passos Coelho, assumindo depois o derrube de muros entre as esquerdas, defendido pelos socialistas para questionar: "Afinal, quem saltou o muro? Deixou de existir? Passou a imaginário? Quais as posições relativas que cada um ocupa?".

O líder do executivo lembrou que herdou um país "à beira da bancarrota" e protagonizou o início de "reformas estruturais e que estão em marcha" para "deixar para trás o fatalismo da pobreza e da reincidência na irresponsabilidade".

HPG // SMA - Lusa

Só a direita anti-democrática recusa a regra da maioria - Carlos César, presidente PS



O líder parlamentar do PS defendeu hoje que só a "direita" antidemocrática recusa a regra da maioria, considerou que o PSD radicalizou-se e que os socialistas, mesmo com maioria absoluta, teriam um programa semelhante ao atual.

Posições de Carlos César no seu discurso de fundo no debate do programa do Governo, em que apelou a uma cultura de tolerância e de respeito mútuo face às divergências, mas que foi muito contestado pelas bancadas do PSD e do CDS.

Numa alusão à questão da legitimidade de um Governo alternativo formado pelo PS, com suporte parlamentar do PCP, Bloco de Esquerda e "Os Verdes", Carlos César declarou: "Para a aceitação da investidura deste Governo não sobressai nem o valor nem o desvalor da tradição, mas tão só o valor da democracia cujo resultado a prosseguir é o da maioria. Só a direita que se dá mal com a democracia não aceita a maioria e só a direita que convive mal com a democracia não aceita opiniões contrárias", disse, gerando sonoros protestos entre deputados sociais-democratas e centristas.

Numa síntese do que poderá ser um Governo alternativo liderado pelo PS, o ex-presidente do Governo Regional do Açores colocou como missões fundamentais "recuperar [o país] sem descontrolar e reformar sem fragilizar".

Mas o presidente do PS também deixou alguns recados ao próprio chefe de Estado sobre a necessidade de um Governo alternativo respeitar os compromissos internacionais de Portugal: "O PS não recebe lições de europeísmo de ninguém, incluindo de todos os atuais titulares de órgãos de soberania, mas o Governo de Portugal terá de passar a ter uma voz ativa, na Europa, na defesa dos interesses do nosso país e também na defesa do projeto europeu, não entendido apenas na ótica de um grande mercado. Divergimos da subserviência e da desistência do Governo PSD/PP", afirmou.

Na sua intervenção, o líder da bancada socialista defendeu a tese de que o PS, se tivesse ganho as eleições com maioria absoluta, "poderia não estar a celebrar com a mesma formalidade ou a discutir com a mesma profundidade com o Bloco de Esquerda ou com o PCP um acordo de políticas, mas estaria, certamente, a procurar governar com um programa e conteúdos muito semelhantes aos que se proporá fazer em consequência dos acordos que acabou por concretizar com esses partidos".

"Na verdade, nos últimos anos, a direita portuguesa reconfigurou-se e radicalizou-se, incluindo nesse movimento o afastamento do PSD das suas raízes e emanações históricas e essenciais. A prova é que procurou o CDS, e não o PS, antes e logo após estas eleições", sustentou o presidente do PS.

PMF // SMA - Lusa

Portugal. Jerónimo (PCP) diz que programa "é mais do mesmo, colorido com proclamações"



O secretário-geral comunista afirmou hoje que o programa do Governo PSD/CDS-PP "é mais do mesmo, colorido com mais algumas proclamações", enquanto o primeiro-ministro explorou algumas contradições entre PCP e PS, nomeadamente em relação à banca e ao euro.

Em resposta a Jerónimo de Sousa, no debate parlamentar, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, questionou o deputado do PCP sobre se não se importava de onerar o Estado com o custo de eventuais nacionalizações de bancos e perguntou se o PS continuava ou não a ser "farinha do mesmo saco" da coligação PSD/CDS-PP como os comunistas diziam em campanha.

"Mais do mesmo, podíamos dizer, colorido com mais algumas proclamações. Este 'mais do mesmo' é digno que se louve na sua coerência", afirmou Jerónimo de Sousa, lamentando que, "depois de tantos sacrifícios, tantas vidas empobrecidas", o Governo não tenha resolvido "nenhum dos problemas estruturais" e "a única coisa que garantiu foi o lucro, os dividendos, os privilégios dos grandes grupos económicos e financeiros".

Na opinião do líder comunista, "não foi nada por crueldade, má-fé ou vendetta, foi por opção politica" e, enquanto a política seguida "continuar a reforçar as fortunas nas mãos de uns quantos, os pobres aumentarão sempre mais".

"Fizeram uma campanha a afirmar que há que não estragar o que já foi feito. Como assim? São responsáveis por estragar a vida e os direitos a milhões de portugueses", insurgiu-se contra os "cortes em salários e pensões", dificuldades sofridas por "pequenos e médios empresários e agricultores, nas forças de segurança, entre os militares e homens e mulheres da ciência e da cultura".

"Vem agora falar em defender e revigorar o Estado social, mas depois escreve e propõe liberdade de acesso à saúde, liberdade de escolha do projeto educativo, ou seja, serviços mínimos para os pobres e dinheiros públicos para financiar a educação e a saúde dos mais ricos", lamentou o parlamentar do PCP, sublinhando o "encharcamento com mais de mil milhões de euros do Banif", que ainda só devolveu uma prestação ao Estado pela sua recapitalização face à perseguição do fisco aos contribuintes - "ai de um português que se atrase em dois ou três meses na renda da casa!".

O líder do executivo conjunto com Paulo Portas, presidente do CDS-PP, declarou que "não é opção do Governo andar a nacionalizar a banca e, nessa medida, a socializar as perdas privadas".

"Prefiro mil vezes, conforme foi utilizado nestes quatro anos, disponibilizar meios públicos para a capitalização adequada dos bancos com relevância, aguardando que possam viabilizar os seus programas de reajustamento e reembolsar o Estado, do que tomar toda a dívida dos bancos que não foram geridos com prudência", disse Passos Coelho, questionando se Jerónimo de Sousa não se importava de impor esse custo aos portugueses.

O chefe do executivo recordou ainda recentes propostas do PCP no Parlamento Europeu, favoráveis à preparação de Portugal para a saída do euro para confrontar o secretário-geral comunista com a discordância face aos princípios europeístas do novo parceiro, o PS, com o qual celebrou um acordo para um Governo alternativo.

"Começo a ter dificuldade em identificar uma célebre asserção sua - são todos farinha do mesmo saco. No fundo no fundo, são todos iguais. O PCP é diferente", continuou Passos Coelho, concluindo "haver alguma contradição, pelo menos até conhecer o teor do acordo político que via ser revelado", perguntando se "as medidas e as políticas, finalmente, vão tirar do mesmo saco de farinha o PS".

HPG // ZO - Lusa

Portugal. Prossegue privatização da TAP e de transportes de Lisboa e Porto – Passos



O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que o governo vai prosseguir o processo de privatização da TAP e dos transportes públicos de Lisboa e do Porto, dizendo agir dentro da lei e das competências dos governos de gestão.

"Não vamos parar o processo de privatização da TAP, e não vamos parar o processo de privatização da TAP na medida em que foi espoletado e desenvolvido não à margem da lei, como a senhora deputada [Ana Paula Vitorino] diz, mas dentro da lei", afirmou Passos Coelho.

Em resposta à deputada socialista Ana Paula Vitorino, mas também ao comunista António Filipe, que questionou a competência de um governo de gestão para tais atos, Passos Coelho afirmou que os processos dos transportes públicos de Lisboa e do Porto vão igualmente prosseguir e que isso acontecerá no respeito dos poderes dos governos de gestão "que são muito mais amplos do que se pode pensar à primeira vista".

ACL // SMA - Lusa

Portugal. GOVERNO MORTO. GOVERNO POSTO - TSF




SEGUIR O DEBATE EM DIRETO SOBRE A QUEDA DO GOVERNO CAVACO-PASSOS-PORTAS NA "AR TV" OU NA "TSF" DÁ SONO. É UMA GRANDE SECA. ASSIM ESTÃO A CONSIDERAR MUITOS PORTUGUESES. A HIPOCRISIA DE PASSOS, AS MENTIRAS, SOBRESSAEM NAS INTERPELAÇÕES A PASSOS COELHO. MAS TEM DE SER ASSIM. A DEMOCRACIA DEVE CUMPRIR-SE.  AS INTERPELAÇÕES DEVEM SER FEITAS. AS MENTIRAS DE UM PASSOS SISTEMATICAMENTE MANIPULADOR DAS PALAVRAS QUE O ELEVAM A MENTIROSO COMPULSIVO, NÃO SÃO SURPRESA.

AMANHÃ, TERÇA-FEIRA, 10, O GOVERNO MAIS CURTO DA HISTÓRIA DA DEMOCRACIA DE PORTUGAL CAIRÁ. UMA NOVA FASE DA VIDA POLÍTICA NACIONAL VAI INICIAR-SE. CAVACO SILVA NÃO SE ATREVERÁ A NÃO ACEITAR O GOVERNO PARLAMENTARMENTE APOIADO POR MAIORIA ELEITA PELOS PORTUGUESES, SOB PENA DE FICAR NA HISTÓRIA AINDA MAIS SUJO DE QUE AQUILO DE QUE JÁ ESTÁ E QUE O IDENTIFICA COMO AGENTE DA ALTA FINANÇA NACIONAL E ESTRANGEIRA. UM PÉSSIMO E NEFASTO PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

UM GOVERNO MORTO DARÁ LUGAR A UM GOVERNO POSTO NA REPÚBLICA, PARAFRASEANDO O "REI MORTO, REI POSTO" DA MONARQUIA. O GOVERNO DE PASSOS MORREU! VIVA O NOVO GOVERNO DA MAIORIA DE ESQUERDA!

A MUDANÇA VAI PASSAR POR PORTUGAL. É O QUE ALMEJAMOS E A ATUAL CONJUNTURA POLÍTICA PERMITIRÁ.

Redação PG

Portugal. E O ÓSCAR VAI PARA…



Ângelo Alves*

Desde 2010 que a associação de editores de jornais e revistas da Alemanha entrega o Prémio «Europeu do Ano». Na sua primeira edição o prémio foi atribuído a Durão Barroso e nos anos subsequentes a figuras com Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu e ex-governante polaco ou a Enda Kenny, primeiro-ministro iIrlandês e ex-vice-presidente do Partido Popular Europeu. Este ano foi dedicado «aos 11 milhões de pessoas que vivem em Portugal». Quem o entregou, e proferiu esta elucidativa frase, foi o comissário Günther Öttinger, actual Comissário para a Economia, ex-vice-presidente da segunda Comissão Barroso, conhecido pela aberta ingerência nos assuntos internos de vários estados e célebre pela atoarda de que os países mais endividados deveriam ter as suas bandeiras a meia haste nos edifícios da União Europeia. Segundo Öttinger o prémio é entregue porque Portugal aplicou bem o programa da troika e conseguiu «encontrar o caminho para mais emprego e competitividade». Mas disse mais: o prémio era também um pedido para que os tais 11 milhões «possam manter uma estabilidade» (…) «sem oscilações». Se parássemos por aqui a coisa dava para rir.

Mas não, o caso é mesmo grave e não dá para rir. Do lado do receptor do prémio estava Rui Machete, o ainda ministro dos Negócios Estrangeiros que afirmou que «cumprimos o que nos foi pedido e ajudámos a Alemanha a justificar o seu papel de liderança», que destacou «o auxílio da Alemanha» e que notou que a língua portuguesa é muito falada no Mundo e que isso tem permitido aos «investidores alemães acesso a importantes mercados lusófonos». Falando em alemão realçou que o Prémio era «uma grande responsabilidade para Portugal» e que portanto o próximo governo «tem o dever de manter o rumo».

A inqualificável e vergonhosa atitude de Machete, profundamente lesiva da soberania, independência e dignidade nacionais só tem uma explicação: a seita que tenta manter-se no poder em Portugal é a versão nacional de uma seita maior da qual Öttinger é uma das sinistras figuras de proa. Mas Machete conseguiu o impensável: não só insultou os portugueses e participou activamente na chantagem e ingerência externa – com toda a gravidade que este facto comporta quando falamos do MNE – como conseguiu ser mais cínico e hipócrita que Öttinger. Da nossa parte, acaba de ganhar o Óscar da vergonha nacional.

*Edição de 05 novembro do jornal Avante! - opinião

Portugal. MANUEL ALEGRE EMOCIONADO AO OUVIR JERÓNIMO E A DECISÃO DO PCP



Manuel Alegre, histórico dirigente socialista, falava aos jornalistas à entrada para a reunião da Comissão Política Nacional do PS, em Lisboa, na qual participa a título de convidado pela direção de António Costa.

"Venho aqui partilhar um momento histórico. Ouvi com emoção as palavras do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e a posição do PCP", declarou Manuel Alegre, numa referência ao anúncio em que os comunistas deram por fechado o acordo político para a formação de um Governo do PS, suportado no parlamento pelas restantes forças de esquerda.

Manuel Alegre aproveitou para "enviar um abraço a Jerónimo de Sousa na sequência da decisão tomada pelo Comité Central do PCP.

"Eles [PCP] contribuíram para um alargamento da nossa democracia e para a construção de uma solução que o povo português precisa", acrescentou o ex-candidato presidencial.

A Comissão Política Nacional do PS prepara-se hoje para aprovar a conclusão de acordos políticos com o PCP, Bloco de Esquerda e "Os Verdes" para a formação de um executivo socialista, assim como a apresentação de uma moção de rejeição ao Governo PSD/CDS.

Lusa, em TSF – Foto Mário Cruz / Lusa

Portugal. GOVERNO DE GESTÃO SERIA “GOLPE CONSTITUCIONAL”



Carlos Carvalhas, um dos elementos do Comité Central do PCP que ontem aprovou o acordo com o PS, diz que Cavaco Silva não tem alernativa a não ser dar posse a um governo de esquerda. O contrário seria um "golpe constitucional" do Presidente da República.

O homem que sucedeu a Álvaro Cunhal na liderança do PCP não está preocupado com as críticas que dizem que o Partido Comunista renuncia ao ADN do partido, ao chegar a acordo com o PS. Carlos Carvalhas considera "interessante" essa preocupação, mas entende que o entendimento com os socialistas não retira qualquer identidade ao PCP. O mais importante, diz Carvalhas, é "afastar a direita mais trauliteira do poder", já que as "divergências mantêm-se" e as "nossas perspectivas são outras".

Carvalhas diz à TSF que considera perfeitamente natural o apoio do PCP a um governo do PS; e entende que ontem foi mesmo um "dia inédito", permitido por um "quadro político muito especial". O homem que esteve à frente dos comunistas durante 12 anos espera do "medidas positivas resultantes das negociações" que resultaram no acordo.

Carlos Carvalhas sublinha que o Presidente da República não tem outra alternativa que não seja dar posse a um governo do PS. Caso contrário estaria a dar "um golpe constitucional", algo que faria com que Cavaco Silva perdesse toda a legitimidade.

Sobre o facto de o PCP não integrar o governo de esquerda, desenhado por António Costa, Carvalhas considera "normal".

TSF

Portugal. A METADE DE UM PRESIDENTE




Portugal ficou abismado ao perceber que tinha apenas a metade, com um corte vertical, do Presidente da República. E pior, a metade desprovida de coração, já que é exclusivamente de direita, e todos sabem que aquele órgão que responde pela sensibilidade humana fica do lado esquerdo.

Já o povo tinha esta impressão ao ouvir as suas considerações expostas em público há tantos anos, enquanto a nação empobrecia e a miséria dos trabalhadores aumentava enquanto o número de milionários aumentava.

Mas agora foi afirmado pelo próprio Presidente, cujo conceito de democracia não admite a voz da esquerda. É verdade que ele também não revela conhecer a existência de um Parlamento que tem a função de aprovar ou não um governo de acordo com os votos de direita e, já está, somados aos de esquerda. Parece confundir os tempos e decide como se fosse um Imperador sem coroa mas com gravata, como manda a moda.

Se fosse só o Presidente, já era grave. Mas todos os governantes empossados por desejo do Presidente, raciocinam da mesma maneira, pela metade vertical.

Esta descoberta é de tal maneira inesperada que muitos dos que se consideram "de direita", sem negar que existem os "de esquerda", desvinculam-se publicamente dos que assumem a sua metade orgulhosamente como se lhes bastasse. Afinal, ter coração sempre foi uma necessidade física e mentalmente imprescindível aos seres humanos, especialmente aos que assumem funções de responsabilidade na liderança dos povos.

Temos visto que esta condição, que assolou a governação do país tem, alguns seguidores que distraidamente andavam junto aos que, sendo normais, optam agora pela esquerda que representa a maioria da população. Quem, depois de constatar que Portugal está no plano inclinado, em vias de perder a sua independência e ver a sua dignidade espezinhada pelos que só têm uma metade, na vertical, a direita, não escolhe o caminho que sempre foi seguido pela esquerda?

Trata-se de uma epidemia? Há cura para tão estranha patologia? Urge combater esta perversão do género humano, antes que seja tarde.

*Zillah Branco (na foto) -  Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.

Portugal: HAVERÁ QUEM NÃO ACHE QUE JÁ CHEGARAM 4 ANOS DE AUSTERA CRISE?




No próximo dia de 10 de Novembro, se tudo seguir de acordo com as previsões, o Governo de Passos Coelho e da coligação PàF cairá na Assembleia da República portuguesa, devido a uma coligação de interesse político entre o PS, o BE, o PCP e o Verdes - estes coligados na CDU - (ou seja, nada de anormal em democracia).

Pelo menos o PCP, pela voz do seu secretário-geral e em véspera de entrega no parlamento do programa de governo da coligação PàF  e face ao ultimato de Costa de tudo estar resolvido antes do debate, veio a afirmar, hoje, que  aprova o programa debatido com o PS.

A dúvida, pertinente, é se o PCP, e de Sousa, também o fará com próximo e futuros orçamentos? E irá assinar um documento nesses termos e em conjunto com o BE de quem ainda ontem, sob o protesto de estarem a divulgar antecipadamente factos sob segredo, fazia críticas bem fortes? Na realidade Catarina Martins, a porta-voz do BE, mais parece uma sólida e bem informada ministeriável do que somente uma "sponsor", como a CDU, do Governo do PS. Dupla questão que se põe e com pertinência

Só que nesse dia, e após essa votação, alguém, algures, onde ninguém sabe bem onde é, estará a bater palmas feliz; não porque faria 102 anos se fosse vivo, mas por, ao fim de 40 anos, conseguir o que viu ser negado em 25 de Novembro de 1975: o Poder. Essa personalidade, chamava-se, em vida, Álvaro Barreirinha Cunhal.

Nesse dia, esteja onde ele estiver, deixará de dizer o que disse em 1976, face a Mário Soares, e passará a dizer bem alto: Olhe que sim! Sr. Doutor, olhe que sim!

Ora este acordo – e se for como preconizam, sem a presença dos outros parceiros no Governo - é também uma vitória do BE e do PCP. Porque se der para o torto, só haverá um único culpado: o PS! E isso vai se reflectir em próximos actos leitorais.

Veremos se nessa altura os dirigentes socialistas conseguirão que o PS português não se torne num novo PASOK ou num PSOE.

Se por acaso fosse assessor de algum dirigente de cúpula PS – e não sou, como alguns, se lerem isto (certamente muito poucos) dirão – nunca quereria derrubar o Governo de Passos e deixava-o cair de podre.

É que se com um Governo do PS e o novo apoio parlamentar, o PSD e CDS-PP nada farão, no imediato, para o derrubar. Vão esperar para ver o que dará as eleições presidenciais e como o possível no Governo manterá equilibradas as contas do País.

Ora caso a coligação PàF estivesse no poder, se o novo presente eleito for da mesma área política que o putativo novo Governo – como seria e será natural – ele daria imediata via a eleições antecipadas e, aí, o PS teria mais possibilidades de vencer, e, talvez, se não com maioria absoluta, com um larguíssima maioria.

São muitos “ses” e veremos como vai ser no futuro imediato. De certeza, nesta altura, e em várias frentes e em vários sectores haverá quem esteja já a verificar as suas armas políticas para os próximos tempos!

Só se espera que, com tanta despesa e menos receitas não acabe, depois, tudo voltar ao mesmo e com impacto maior. Porque, fazendo fé no documento ontem apresentado, viver só do consumo interno, não me parece que faça desenvolver o País.

É que 4 anos já foram demais e muitos parecem esquecer que os contribuintes que vivem e pagam impostos em Portugal sofreram e de que maneira os efeitos de um memorando/crise que não estavam preparados.

Agora na dúvida não irão de certeza desbaratar o que lhes querem “oferecer” de retorno.

Realmente 4 anos de inferno austero foi demais! Será que haverá quem ache que não chegaram?

*Investigador do CEI-IUL e CINAMIL - Na foto: Eugénio Costa Almeida 

**Eugénio Costa Almeida* – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Portugal. COMISSÃO POLÍTICA DO PS APROVA ACORDO À ESQUERDA



Acordo com PCP, BE e PEV garante "estabilidade na perspetiva de legislatura", mas em orçamentos do Estado haverá uma "apreciação conjunta" pelos quatro partidos. Socialistas apresentam moção de rejeição própria ao programa de governo PSD/CDS-PP.

Concluídas as negociações com PCP, Bloco de Esquerda e "Os Verdes", António Costa defende que estão "asseguradas as condições para garantir um governo estável, responsável, coerente e duradouro, na perspetiva de uma legislatura".

No final de quatro horas de reunião da Comissão Política, o líder socialista, numa declaração sem direito a perguntas por parte dos jornalistas, leu um comunicado em que fica assente que o atual acordo garante "A formação e viabilização parlamentar de um governo do PS com o programa aprovado [no sábado] na Comissão Nacional".

De acordo com o comunicado final da Comissão Política, dito pela voz de António Costa, a "estabilidade" de um governo com apoio de PCP, BE e "Os Verdes" fica garantida através da "não aprovação de eventuais moções de rejeição ou censura da iniciativa do PSD e do CDS".

Quanto a futuros orçamentos do Estado, o acordo determina que haverá apenas uma "apreciação conjunta" pelos quatro partidos que integram o acordo.

No mesmo texto, a Comissão Política afirma ainda que o entendimento à esquerda é sinónimo de respeito pelos "compromissos nacionais e internacionais" e que tem em vista uma "estratégia de consolidação das contas públicas assente no crescimento e no emprego", prometendo "lançar um novo impulso para a convergência na Europa".

O acordo com PCP, BE e Os Verdes não é assinado esta segunda-feira, dia em que os socialistas se dedicam à preparação do debate do programa de governo PSD/CDS-PP.

Moção de rejeição autónoma

No final do encontro, a Comissão Política mandatou o grupo parlamentar socialista para apresentar uma "moção de rejeição ao programa do Governo PSD/CDS-PP", por estarem criadas as "condições para forma um governo alternativo, estável, coerente e duradouro".

Uma moção de rejeição autónoma - que se segue aos anúncios de moções de rejeição por parte de PCP, BE e PEV - e que faz cair a ideia de uma moção única apresentada em conjunto pelos partidos da esquerda.

Na Comissão Política, o documento final, que dá o "sim" ao acordo à esquerda e à apresentação da moção de rejeição, foi aprovado com 69 votos a favor e cinco contra.

Críticos, mas pouco

Antes do final da reunião, Francisco Assis, eurodeputado e um dos mais críticos em relação ao acordo à esquerda, reafirmou as discordâncias com a linha seguida por António Costa, mas sublinhou que vai "respeitar as decisões tomadas democraticamente".

"Desejei boa sorte a António Costa, que vai ser primeiro-ministro e, obviamente, não vou fazer mais nenhuma consideração, porque o caso está internamente resolvido", acrescentou, garantindo ainda que, a partir de agora, se vai "remeter ao silêncio".

Já Sérgio Sousa Pinto, que se demitiu do Secretariado Nacional do PS e que se tem manifestado contra o acordo com PCP, BE e PEV, disse aos jornalistas que não vai criar "dificuldades adicionais".

"O PS já se pronunciou e já sufragou de forma muito expressiva a atual orientação e, portanto, há uma larga maioria no PS favorável a esta solução de governo que foi encontrada. Como militante disciplinado compete-me conformar-me com a decisão do partido", afirmou, dando ainda conta de que esta terça-feira votará o programa de governo PSD/CDS-PP alinhado com o grupo parlamentar socialista.

João Alexandre – TSF - Filipe Amorim/Global Imagens

Portugal. CAIU A MÁSCARA A ASSIS



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Nos tempos que correm, a Direita anda desesperada, macilenta, espumando ódio e profetizando desgraças, como se a nova data do apocalipse fosse 10 de novembro, dia em que este arremedo de Governo será chumbado (curiosamente, e para alimentar ainda mais os seus pesadelos, a data em que Álvaro Cunhal faria 102 anos...).

Mas, nas últimas semanas, a Direita arranjou um novo ídolo ao qual se agarra como uma espécie de "tábua de salvação" para que a coligação PSD/CDS se consiga perpetuar no poder. Basta estar atento às redes sociais, aos comentários às notícias da comunicação social, aos comentadores, para ver como, para a Direita, Francisco Assis se tornou esse ídolo e expoente da "responsabilidade" e da "inteligência" nacional. Bem sei que, nestes tempos de naufrágio da Direita, qualquer "tábua de salvação" parece boa... Mas a verdade é que Francisco Assis se pôs a jeito, disponível para o frete (?).

Naturalmente que Francisco Assis tem todo o direito de declarar: "(...) sou frontal e absolutamente contra a ideia de constituição de um qualquer Governo assente numa hipotética maioria de Esquerda (...)". Ou que "a representação binária do Parlamento configurada na oposição Direita/Esquerda é destituída de qualquer tipo de solidez doutrinária ou política".

A questão é que, ao contrário do que Francisco Assis pensa, o problema não é o seu pensamento. O problema é a sua incoerência. Porque há quem tenha memória. E eu, em particular, não esqueço o que se passou em 2005, no Porto. Nesse ano, Assis foi o candidato do PS à presidência da Câmara Municipal do Porto, tal como eu o fui pelas listas da CDU. E lá veio Assis "propor" uma coligação de Esquerda para derrubar a coligação PSD/CDS (personalizada por Rui Rio). Sabendo que essa coligação não se faria (até porque o PS tinha definido, em congresso, que as mesmas não se fariam), o objetivo era claro, ou seja, poder dizer: "Nós até queríamos, mas eles é que o inviabilizaram!"... E andou toda a campanha eleitoral a clamar que a CDU era a "muleta da Direita", sabendo que, não obstante a aceitação de pelouros delegados por Rio, a CDU tinha sido a mais consequente oposição às políticas de Direita na Câmara Municipal do Porto. Clamor que teve muito eco em alguns jornalistas comentadores da nossa praça, que, curiosamente e tal como Assis, agora temem a possibilidade de um Governo apoiado à Esquerda! Será que envelheceram e se aburguesaram ou que lhes caiu a máscara?

Portugal. PASSOS E PORTAS LEVAM A DEBATE PROGRAMA QUE JÁ ADIVINHAM CHUMBADO



Sofia Rodrigues - Público

O PS já leva ao Parlamento propostas negociadas com BE, PCP e PEV para melhorar rendimento dos trabalhadores. PSD e CDS vão dramatizar com o risco de um segundo resgate.

O Governo liderado por Passos Coelho vai ao Parlamento como se cumprisse um ritual. Já sabe que o programa que leva a debate será chumbado esta terça-feira por uma aliança entre PS, BE, PCP e PEV. O tom da coligação – pela voz de Passos Coelho, do vice-primeiro-ministro Paulo Portas, e dos ministros Maria Luís Albuquerque e Pedro Mota Soares – promete ser duro durante o debate e depois dele. O discurso do PSD e do CDS voltará a acenar com o risco de um segundo resgate como consequência da governação à esquerda.

Depois de assistir à formação de uma aliança à esquerda para a formação de um Governo liderado pelo PS, o actual Executivo tem de enfrentar um dia e meio de debate parlamentar que culminará com a votação de uma moção de rejeição. Apenas um texto será votado – o primeiro que der entrada na mesa da Assembleia – e deverá ser o do PS, pelo seu valor simbólico.

Com o argumento da vitória eleitoral nas urnas nas legislativas de 4 de Outubro, a coligação PSD/CDS deverá fazer um discurso duro contra as forças de esquerda – que somam a maioria dos deputados no Parlamento – e sobretudo contra o PS de António Costa. Nas palavras dos dirigentes da coligação, o PS transformou uma derrota eleitoral em vitória e o seu Governo, não tem, por isso, legitimidade política.

Passos Coelho e Paulo Portas já se preparam para se sentar nas bancadas da oposição, caso o Presidente da República venha a indigitar o líder do PS como primeiro-ministro. Mas, para já, o Governo não quer queimar etapas – o tom da actuação pública tem sido esse até agora – e espera que o debate em torno do seu programa seja clarificador em torno dos riscos das propostas do PS.

Com a incerteza do tempo em que estarão na oposição – caso o PS venha a liderar um próximo Governo – o PSD e o CDS querem deixar claro que há dois projectos diferentes em cima da mesa. Um que fez a “recuperação económica” a partir de uma situação de emergência financeira e um outro que pretende “dar tudo a todos” e que pode representar o regresso a 2011, ou seja, a um outro resgate. Este argumentário recupera o debate da campanha eleitoral das legislativas.

Do outro lado, o PS e os restantes partidos à esquerda comprometem-se com propostas que repõem o rendimento dos trabalhadores de forma mais rápida do que propunha a coligação. Este princípio implica alterações no IRS, recuperação dos valores em alguns apoios sociais e um aumento do salário mínimo para 600 euros (até 2019). Os acordos negociados à esquerda prevêem ainda que um futuro Executivo PS possa travar as privatizações de transportes, incluindo a TAP.

Em contrapartida, o PS deixou cair o regime do despedimento conciliatório, que consta do programa do Governo PSD/CDS, bem como a descida temporária da TSU para os trabalhadores. No cenário socialista, a estimativa do défice para 2016 é de 2,8%, mais elevada do que a previsão do Governo (1,8%), mas fica abaixo dos 3%. E é no alegado descontrolo das contas públicas que a coligação irá centrar as suas atenções.

O tom duro contra António Costa já começou a notar-se com a resposta do CDS às acusações do líder do PS, que alegou uma aproximação do partido à Europa em troca de lugares no Governo de Durão Barroso em 2002. “Isso é falso. Em 1998, a moção discutida no congresso já era favorável ao euro e à União económica e Monetária ”, responde Diogo Feio, vice-presidente do partido. “António Costa está a tentar que os problemas da solução que engendrou se transformem em ataques, tentado enlamear o CDS. Não vamos deixar que António Costa tente enlamear o CDS”, afirmou o dirigente centrista. Diogo Feio rebateu ainda uma outra crítica sobre a possibilidade admitida por Paulo Portas de ceder o lugar de vice-primeiro-ministro no Governo, caso o PS viesse a integrar o Executivo com o PSD. “Nós respeitamos o resultado da votação. Nessa proposta o PS seria o segundo partido mais votado”, lembra o antigo líder parlamentar, deixando um conselho a Costa: “Ele que olhe um bocadinho para o espelho e faça um exame de consciência sobre a sua postura”.

Mesmo depois de ser chumbado nesta terça-feira, o programa de Governo vai ser o pretexto para os dirigentes do PSD e do CDS percorrerem os distritos com as propostas, já em tom de pré-campanha. A coligação espera que o desacordo à esquerda possa vir a determinar eleições antecipadas, já que o PS, sozinho, não tem a maioria dos deputados.

Com a expectativa de viverem dias difíceis no Parlamento, PSD e CDS vão defender um programa que deseja fazer pontes com o PS e que é forte nos apelos ao entendimento com o partido que partilha o cumprimento das regras europeias. Um esforço dado quase como perdido.

SALAFRÁRIOS!



Bom dia. Eis a atualidade em forma de grãos de café. Uns puros e outros manipulados, falsificados. Faz parte. Temos de ser nós, os consumidores, a saber selecionar e a deitar fora os grãos que não prestam. É quase sobrenatural o que por vezes quem escreve nos jornais julga saber e tenta transmitir aos outros. Coisas.

Hoje e amanhã são os últimos dias do resto da vida dos que têm andado por aí muito felizes à custa da infelicidade de milhões de portugueses. Salafrários!

Redação PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Pedro Candeias - Expresso

Quando a direita cansa, a esquerda avança

Este texto podia começar assim:

Por esta é que eu não esperava, uma coisa destas, incrível e inacreditável, em tantos anos de vida nunca imaginei que isto fosse possível, e como isto é incrível e inacreditável, meu deus, a partir de agora tudo é possível, caro leitor, já pensou no que isto vai ser daqui para a frente, incrível e inacreditável - e estaria a mentir. Porque não tenho assim tantos anos de vida e não passei pelo pré, durante e pós-25 de abril, apenas estudei e li o PREC, o Mário Soares e o Álvaro Cunhal, e eu e a minha família próxima e menos próxima pusemos o pezinho em Portugal, para cá ficar, já tinha 10 anos, no ano em que o Muro caiu. A minha perspetiva sobre a esquerda e a direita e o comunismo dos anos 70 e 80 começou nos anos 90, num banco de escola.

Por isso, este texto tem de começar com alguém que viveu isto, e escolho, entre as muitas frases que se ouviram e leram ontem, a de um militante histórico do PS: "A vida é uma aventura". É quase poético e não é de Manuel Alegre, mas de João Cravinho, seguro (e não Seguro) pelo braço da Anabela Neves da SIC, e foi declamado à entrada da Comissão Política do PS, onde a história iria ser reescrita. A gente que manda-naquilo-tudo (menos Sócrates) no Rato reuniu-se para dar a legitimar as duas ideias de António Costa: um acordo de governação à esquerda e a apresentação de uma moção de rejeição ao Programa do Governo da PàF. E ambas passaram, escreve a Cristina Figueiredo, que nos conta que se chegou a isto num trinta-e-um-de-boca, sem que Costa apresentasse nenhum documento aos socialistas. Então e o papel, qual papel, o teu papel?, não há. E, continua a Cristina, a oposição interna fez-se ouvir, através de Sérgio Sousa Pinto, que "arrasou" a guinada do PS, e de Francisco Assis.

O que acontece agora? Na terça-feira, PS, BE e PCP irão apresentar, cada um, a moção de rejeição à coligação PSD/CDS-P que, por sua vez, começa hoje a discutir o seu Programa de Governo no Parlamento. Hoje está de pé, amanhã cai. Ou, como dizia o Pimenta Machado sobre a bola, o que hoje for verdade, amanhã será mentira.

Ora, isto só foi possível porque, horas antes, na Soeiro Pereira Gomes, Jerónimo bradou Geronimo, aquele grito que os americanos usam quando saltam lá de cima: o Comité Central disse sim a António Costa, em "unanimidade informal" (não houve votos, explica a Rosa Pedroso Lima), comprometendo-se num apoio "definitivo" e "duradoro" numa "perspetiva de legislatura". Sendo este o Partido Comunista, é pouco católico falar num salto de fé; falemos, portanto, num salto quântico. Jerónimo aproveitou a deixa para criticar Cavaco, que fez "declaração deplorável" e entrou em confronto "com a Constituição portuguesa".

Os jornais de hoje fazem todos manchete com a história - ou quase todos, porque o CM opta por pôr apenas uma frase, entalada entre dois crimes e o Papa. O Público escreve: "PS avança com moção de rejeição própria do programa do Governo" e garante que a aliança entre os três partidos não garante orçamentos, que terão de ser negociados ano a ano. Este diário acrescenta que o programa alterado do PS "prevê menos défice do que o anterior" e revela algumas dasestratégias de Costa: "descontos de recibos verdes com base no meses recentes", "travar execuções fiscais de casas quando a dívida for baixa", "menos taxas e mais recursos humanos no Sistema Nacional de Saúde".

O DN puxa por Jerónimo de Sousa, diz que agora é o tempo de Cavaco e que Passos Coelho perde esta batalha mas voltará à guerra: "Passos defende programa já a pensar no regresso ao Parlamento e em eleições". No editorial, o André Macedoreflecte em cedências claras de Costa ao PCP e ao BE, sobretudo na "reversão da venda de 66% da TAP" e na "anulação dos processos de concessão e privatização dos transportes públicos urbanos".

O jornal i põe vermelho no branco e usa a expressão "Perestroika no PCP" para classificar "a unanimidade" no "apoio ao governo PS durante quatro anos", e o Jornal de Negócios é menos criativo na abordagem ao tema.

OUTRAS NOTÍCIAS

Na Birmânia, a liberdade chegou outra vez, 25 anos depois da sua última visita àquele lugar sudeste asiático. O país está a viver as suas segundas eleições livres em 50 anos de ditadura militar, e as sondagens favorecem Aung San Suu Kyi, que lidera as intenções de voto nas principais províncias - ainda assim, mesmo que ganhe, não é líquido que governe. A contagem dos votos será dura e longa, prevêem-se problemas e conflitos (já os houve, aliás, com a minoria muçulmana), e quem ganhar terá de enfrentar isto: violência sectária, corrupção, infraestruturas. E terá, sobretudo, de reconstruir uma nação de 30 milhões de pessoa numa latitude do planeta que já mudou enquanto esta esteve parada meio século.

Parados noutro tempo estão os homens do Estado Islâmico, que insistem em levar a guerra deles para planos impensáveis, onde não há civis ou militares, mas apenas os fiéis (que são eles) e os infiéis (os que não são eles) - e a queda do Boeing A321 em Sharm el-Sheikh, que matou 224 turistas russos, é apenas o último, e mais um, exemplo. Os investigadores têm 90% de certeza de que havia uma bomba a bordo do avião, porque se partiu ao meio em pleno voo, quando este estava em piloto automático, e porque se ouve um barulho na segunda gravação do cockpit. E, porque, o Estado Islâmico publicou um vídeo em que o narrador diz o seguinte: "Se matas, serás morto. Nunca deixaremos que infiéis e comunistas tenham paz e segurança, até que nos nossos países Muçulmanos tenham paz e segurança".

Dos voos que nunca deviam ter existido, para os voos que não vão existir: a Lufthansa anunciou que, hoje, 929 ligações da companhia alemã serão cancelados, o que afeta a vida de mais de mil passageiros. [A Lufthansa realiza, hoje, apenas um voo entre Portugal e Alemanha.] É a greve do pessoal de cabine que quermelhores salários, discutir reformas e pré-reformas, e proteger-se dos despedimentos. As negociações entre a administração da Luftanhsa e o sindicato começaram em 2013 e andam empatadas desde o final da semana passada.

Por falar em empate: na Croácia, as principais coligações (sim, coligações) de esquerda (sim, de esquerda) e de direita (sim, de direita) andaram taco a taco até à última hora nas eleições que foram vencidas pelos conservadores do HDZ. Isto interessa-nos porquê? Porque há uma crise de migrantes na Europa e tudo o que se decida naquela zona tem implicações na UE - e Portugal já recebeu os primeiros.

E, agora, desporto:

Miguel Oliveira fez o que tinha fazer e ganhou o Grande Prémio de Valencia (sexta vitória do ano, terceira consecutiva) e... não conquistou o título. Que não era impossível, mas improvável, já que a Danny Kent bastava acabar a corrida em 15º - e ele foi 9º. O português ficou a seis pontos do campeonato mundial na categoria Moto 3. Dois lances de escada acima, em MotoGP,Valentino Rossi chegou como líder e acabou como vice-campeão, a cinco pontos de Jorge Lorenzo. Rossi estava de castigo, partiu no último lugar da grelha, por que se armara em tigre na Malásia ao empurrar Màrquez, e acabou em quarto. "Este título [de Lorenzo] é um campeonato do Mundo para Espanha". Para o italiano, houve uma aliança espanhola para pô-lo K.O.

Na bola cá do burgo, nenhum dos grandes perdeu o seu assalto: oBenfica venceu o Boavista (2-0), o FC Porto bateu Vitória de Setúbal (2-0), e o Sporting derrotou o Arouca (1-0). As coisas são o que são e ficam como estão, pelo menos durante duas semanas, porque o campeonato vai parar.

FRASES

"Não há aqui nenhum golpe. O que há é democracia." Catarina Martins, numa versão "É a economia, estúpido!", no Funchal.

"Pela primeira vez em mais de 40 anos de democracia teremos um governo apoiado por toda a esquerda parlamentar. Hoje é o primeiro dia do resto da nossa vida
. Este é o primeiro dia do resto das nossas vidas". Daniel Oliveira, em modo Godinho, na sua página no Facebook.

"O PCP pode ter muitos defeitos, mas nunca foi um partido estúpido." Clara Ferreira Alves, morra-o-Comunismo-Pim-Pam-Pum, no Expresso.

"Não chega dizer que é duradouro e para a legislatura." Luís Marques Mendes, a pensar à La Longue, na SIC.

"Quem critica a esquerda passa a ser automaticamente fascista"Javier Cercas, jornalista e escritor espanhol, em entrevista ao Jornal i.

"Se não conseguirmos chegar a um acordo e se as inquietações do Reino Unido não forem ouvidas – o que acredito não venha a acontecer – teremos que reconsiderar se esta União Europeia é boa para nós. Como já disse anteriormente, não afasto qualquer possibilidade" David 'agarrem-me-que-eu-fujo' Cameron, numaviso à União Europeia

O QUE ANDO A LER

Da última vez que falámos, disse-lhe que andava às voltas com o "Lavoura Arcaica" de Raduan Nassar e o que lhe trago desta vez é outro livro do mesmo autor. É "Um Copo de Cólera", um romancecurto mas denso, que é a história de um dia num casal, e começa a partir no momento em que ele chega a casa dele para estar com ela. Jantam, dormem, acordam, tomam "o café da manhã", e é tudo normal e está tudo normal, mas os diálogos e a escrita sugerem uma tensão, uma corda permanente esticada, um prenúncio de que alguma coisa correrá mal. E corre, quando um episódio caricato e estúpido que envolve formigas e uma cerca estragada faz disparar a cólera no homem que a mulher não entende. E discutem, violentamente, e insultam-se, mutuamente, e separam-se para depois se juntarem à noite. Está tudo escrito de uma só vez, com vírgulas atrás de vírgulas, sem parágrafos, como se tivesse saído diretamente de Nassar para o papel, sem rasuras, mas com pensamentos atropelados e sobrepostos.

Num discurso limpo e claro, mas igualmente poético, leia amanhã oNicolau Santos, o keynesiano de serviço, que lhe explicará o que pode esperar a partir deste dia, que é histórico. E faça um favor a si próprio: vá passando os olhos pelo site do Expresso e às 18h ligue-se ao Expresso Diário.

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