Rui
Sá – Jornal de Notícias, opinião
Nos
tempos que correm, a Direita anda desesperada, macilenta, espumando ódio e
profetizando desgraças, como se a nova data do apocalipse fosse 10 de novembro,
dia em que este arremedo de Governo será chumbado (curiosamente, e para
alimentar ainda mais os seus pesadelos, a data em que Álvaro Cunhal faria 102
anos...).
Mas,
nas últimas semanas, a Direita arranjou um novo ídolo ao qual se agarra como
uma espécie de "tábua de salvação" para que a coligação PSD/CDS se
consiga perpetuar no poder. Basta estar atento às redes sociais, aos
comentários às notícias da comunicação social, aos comentadores, para ver como,
para a Direita, Francisco Assis se tornou esse ídolo e expoente da
"responsabilidade" e da "inteligência" nacional. Bem sei
que, nestes tempos de naufrágio da Direita, qualquer "tábua de salvação"
parece boa... Mas a verdade é que Francisco Assis se pôs a jeito, disponível
para o frete (?).
Naturalmente
que Francisco Assis tem todo o direito de declarar: "(...) sou frontal e
absolutamente contra a ideia de constituição de um qualquer Governo assente
numa hipotética maioria de Esquerda (...)". Ou que "a representação
binária do Parlamento configurada na oposição Direita/Esquerda é destituída de
qualquer tipo de solidez doutrinária ou política".
A
questão é que, ao contrário do que Francisco Assis pensa, o problema não é o
seu pensamento. O problema é a sua incoerência. Porque há quem tenha memória. E
eu, em particular, não esqueço o que se passou em 2005, no Porto. Nesse ano,
Assis foi o candidato do PS à presidência da Câmara Municipal do Porto, tal
como eu o fui pelas listas da CDU. E lá veio Assis "propor" uma
coligação de Esquerda para derrubar a coligação PSD/CDS (personalizada por Rui
Rio). Sabendo que essa coligação não se faria (até porque o PS tinha definido,
em congresso, que as mesmas não se fariam), o objetivo era claro, ou seja,
poder dizer: "Nós até queríamos, mas eles é que o inviabilizaram!"...
E andou toda a campanha eleitoral a clamar que a CDU era a "muleta da
Direita", sabendo que, não obstante a aceitação de pelouros delegados por
Rio, a CDU tinha sido a mais consequente oposição às políticas de Direita na
Câmara Municipal do Porto. Clamor que teve muito eco em alguns jornalistas
comentadores da nossa praça, que, curiosamente e tal como Assis, agora temem a
possibilidade de um Governo apoiado à Esquerda! Será que envelheceram e se
aburguesaram ou que lhes caiu a máscara?
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