domingo, 6 de dezembro de 2015

DIREITA RADICAL AVANÇA EM FRANÇA E POR TODA A EUROPA. E EM PORTUGAL?



Mário Motta, Lisboa

A direita radical avança. O mesmo é dizer que a Europa e uma significativa parte do mundo ruma ao fascismo. A responsabilidade de os eleitores optarem por votar à direita é da esquerda. Tem sido a dita esquerda que sem imaginação e sem ideologia adequada, sem prática que se diferencie grandemente da direita radical em imensos aspetos, conduziu os eleitores à desilusão e a presenciar o espetáculo de corrupio no passeio da corrupção, dos tachos e ordenados milionários para correlegionários, familiares e amigos. Os valores dos políticos de governos alegadamente de esquerda são praticamente siameses dos de políticos da direita radical. Ou só direita, ou extrema-direita, ou fascistas. O descrédito sobre os políticos destas duas últimas décadas é enorme. Na Europa assim acontece. Os eleitores, sem alternativas à esquerda voltam-se para o populismo. Populismo esse que em muitos aspetos está à direita, principalmente nos partidos da direita europeia. O que está a acontecer em França é disso exemplo.

Le Pen quase venceu as eleições regionais com maioria. O dia de hoje termina assim, com o sucesso da direita radical em França. Le Pen exulta. Nem ela estava à espera de tamanho sucesso para a Frente Nacional. Entre outros encontramos um partido socialista francês responsável. Francois Hollande é um péssimo presidente, o seu governo é um péssimo governo. Muito mais péssimo ainda por ser descaracterizado, sem ideologia que se adapte à realidade dos tempos modernos. Dizem-se socialistas mas não o são. O PS francês é produto dos mercados. É um acena cabeça com milhares de cabelos de concordância com os mais à direita na Europa se esse for os vetores dos interesses dos mercados, e são. Hollande é uma amálgama de gelatina com pudim flan, abana por todo o lado. Quem pode afirmar com verdade que aquele dirigente é socialista? Ninguém. Porque não o é. E se ele não é socialista torna-se evidente que o partido está refém de não socialistas. Está refém de súcias de mandaretes dos mercados e das políticas de direita que alastram por todo o mundo. E também na Europa, bastante.

Desta “lição” que vem de França, assim como de uma grande parte dos países da União Europeia, deveriam tocar as campainhas aos dirigentes dos partidos da suposta esquerda europeia. Muitos deles estão a mais e filiados nos partidos errados, se atentarmos nas declarações de princípios e estatutos vincadamente de esquerda. Nos seus motivos de fundação e objetivos.

Em Portugal temos o exemplo do PS – que agora está no governo. Quantos no PS são realmente socialistas? O que é a esquerda para eles? O melhor é sorrirmos, para não chorarmos. Existem no PS militantes deslocados que deveriam encontrar no PSD ou no CDS o seu partido político, considerando as provas que já deram. Pior ainda por não serem simples militantes mas sim dirigentes. Dirigentes esses que posteriormente vão ser governantes, para além de deputados ou simplesmente autarcas. É evidente que as suas políticas se desviam para a direita, por essa ser a sua ideologia adquirida e natural. É evidente que causam confusão e desilusões aos eleitores. Dizem-se de esquerda mas governam à direita ou muito próximo dela (chamem-lhe como quiserem). Só que é uma direita encapotada, falsa, que mente. Como falsa é também a esquerda. Uma confusão que baralha e desilude os eleitores.

No Partido Socialista alguns desses deslocados estão agora mais visíveis, até para os eleitores mais ingénuos ou distraídos. Foram alguns desses que vimos reagir ao impulso ligeiramente à esquerda que António Costa deu ao partido e o caminho que escolheu ao entender-se com partidos de esquerda. Mas a memória das pessoas é curta.
  
Também no PSD acontece o mesmo. Passos Coelho é na realidade social-democrata? Governou e disso não deu provas. Desculpa-o a situação de crise? Não. O seu comportamento foi e é o de um medíocre “self made men” que rasa a vigarice quando nela não penetra profundamente. O que Passos quer é “safar-se”. A si e ao seu bando. De social-democrata nada tem. Como Portas, como Hollande, como Cameron ou Merkel, como tantos outros, são obtusos servidores dos mercados que ao juntarem-se estão a arrastar a Europa para a direita radical, a entregá-la de bandeja aos fascistas que se acoitam nas esquinas mais densas e escuras de uma democracia em colapso.

Por isso o futuro é negro e nazi-fascista, sob a capa de democracia declarada que na realidade não o é nem será.

Não se infira dos resultados em França, excelentes para a direita radical, como assim acontece noutros países, que os eleitores são fascistas. Não. O que eles não sabem é para onde se virar, em quem votar. Isso por razão simples: a desonestidade, débito democrático e incompetência dos atuais dirigentes da alegada esquerda. Em Portugal não há muitos fascistas (fascismo, que é no que isto vai acabar). Também em França não há muitos fascistas. O que há é muitos maus governantes, maus dirigentes, bons aldrabões, bons vigaristas, bons ladrões e bons corruptos. Na Europa não há muitos fascistas… Mas vai haver, se a esquerda e todos os partidos realmente democráticos não arrepiarem caminho e não se souberem depurar das ilegalidades, imoralidades e erros cometidos.

Podemos vir a desaguar numa Europa novamente dominada pelo nazi-fascismo. É isso que querem?

Eleições regionais em França. Líder da extrema-direita francesa exulta com "magnífico resultado"



A líder da Frente Nacional francesa (FN, extrema-direita), Marine Le Pen, congratulou-se hoje com o "magnífico resultado" na primeira volta das eleições regionais, após as primeiras projeções que fornecem uma ampla vantagem ao seu partido.

Marine Le Pen considerou que os resultados divulgados, e que atribuem entre 27,2% e 30,8% à sua formação, provam que a FN "é sem qualquer dúvida o primeiro partido da França".

Nesta perspetiva, e após a confirmação do sucesso eleitoral, a dirigente da direita nacionalista radical francesa reivindicou a sua capacidade em "realizar a unidade nacional".

"Temos vocação em realizar a unidade nacional de que o país necessita", afirmou.

No seu discurso, a líder ultradireitista assegurou ainda que o seu partido "é a única frente verdadeiramente republicana" e apelou a "todos os patriotas franceses" para se unirem em torno da FN na segunda volta, que decorre no próximo domingo, antes de denunciar o que definiu de "campanha de calúnias e intimidação" contra o seu partido.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Após eleições regionais. Porta-voz do Governo francês diz que esquerda é "maioria" em França



O porta-voz do Governo francês, Stéphane Le Foll, considerou hoje que a soma dos votos da esquerda é maioritária em França, apesar de o Partido Socialista (PSF) se situar como terceira força política na sequência das eleições regionais.

"O total da esquerda, a que se diz estar em dificuldades, deve ultrapassar os 36%, o que a torna no primeiro partido de França", declarou Foll no canal televisivo TF1, ao somar os votos obtidos pelos Verdes e pela Frente de Esquerda aos resultados obtidos pelos socialistas.

Segundo as primeiras projeções, a Frente Nacional (FN, extrema-direita) venceu hoje em pelo menos seis das 13 regiões na primeira volta das eleições regionais, com um resultado nacional recorde entre 27,2% e 30,8%.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Timor-Leste. ONDE ESTÁ A FRETILIN DE VICENTE REIS?



M. Azancot de Menezes*, Díli

No dia 20 de Dezembro de 2004, em nome do Partido Socialista de Timor (PST), estava eu temporariamente como Deputado no Parlamento Nacional, apresentei uma Declaração Política intitulada “Silenciar os oportunistas e protecção aos oprimidos”.

Estamos agora em Dezembro de 2015, pelo que, passados 11 anos, hoje, mais uma vez, faço um apelo, é altura de todos nós ponderarmos e reflectirmos todas as vicissitudes que atingem as camadas mais pobres e frágeis da nossa sociedade, pela falta de desenvolvimento económico e social, e olhar de uma forma correcta, sem preconceitos, para a grande desigualdade que se acumula no País, para procedermos a correcções absolutamente necessárias, em defesa dos pobres e excluídos de Timor-Leste.

Durante a heróica luta de Resistência pelo supremo valor da libertação da Pátria, a FRETILIN, revolucionária, socialista, prometeu libertar o povo da miséria, da opressão e do analfabetismo.

O manual político de 1975 defendia a FRETILIN como um movimento amplo, nacionalista e frentista e defendia um programa mínimo e vasto que veio a ser a pedra angular que impulsionou o movimento e a aderência popular à causa de libertação.

Os sacrifícios consentidos pelas camadas mais pobres, sectores frágeis da sociedade, nomeadamente, os agricultores, durante todo o trajecto da luta, árdua e difícil, mesmo antes da perda das bases de apoio, fundamentou-se na certeza inabalável, inquebrantável, e irreversível que depois da vitória haveria de proporcionar mais oportunidades para a emancipação e libertação do Povo, produzindo os bens de consumo, e firmar-se na verdadeira identidade cultural como Povo e como Nação.

Foi esse mesmo manual, ainda hoje lido nas áreas mais remotas, nas aldeias onde prevalece a fome e a miséria, onde reina o isolamento, onde a escuridão é a amiga fiel das famílias pobres, que inspirou a determinação, cimentou a coragem e colmatou a vontade de lutar de todos quanto se sentiram marginalizados pela imposição do colonialismo.

O Parlamento Nacional, o mesmo que no passado mês, de forma anti-democrática e inconstitucional, aprovou uma lei com o objectivo único de interromper o actual mandato da Comissão Nacional de Eleições (2013 / 2019) e expulsar os actuais Comissários antes das eleições, afirma defender princípios, direitos e deveres e liberdades fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, digna, honrosa, democrática e solidária.

A acreditar neste Parlamento Nacional, o povo deveria viver feliz, com saúde, com educação, com trabalho, ou seja, o povo estaria a usufruir da independência e da liberdade conquistada com sangue e lágrimas.

Passados tantos anos, o balanço é terrível e dramático. Os direitos e liberdades defendidos na Constituição da RDTL e pelo Parlamento Nacional não passam disso mesmo, palavras bonitas, que nada dizem aos pobres e oprimidos de Timor-Leste.

Libertar Timor-Leste é iniciar um processo de reconstrução integrado que dê oportunidade à participação de todo o Povo, com políticas de reconstrução que não marginalizem o Povo.

Se o governo implementa uma política de reconstrução onde o povo não produz e apenas consome o que é importado, caso do arroz, isto significa que se estão a edificar os primeiros passos para a opressão do Povo.

Praticamente tudo está a ser importado e isto significa necessariamente que os agricultores estão logicamente confrontados com a situação de abandonarem os campos e residirem nos centros urbanos, tornando-se trabalhadores cuja única força de trabalho que possuem é vender a sua força de trabalho para adquirir um salário magro e de fome.

Por outras palavras, somos independentes com bandeiras, órgãos eleitos, mas voltamos ao passado colonial onde se produzia para a auto-suficiência e são os comerciantes imigrantes que detêm o poder do comércio.

Falar de Reconstrução e de Desenvolvimento significa definir prioridades. Alocar verbas para comprar carros de luxo ou construir edifícios de menor importância e não haver verbas para accionar um plano agrícola é um erro e uma traição ao Povo que se diz defender e só pode originar descontentamento popular.

Falar de libertação do Povo significa definir prioridades. As prioridades são libertar o Povo da Fome, Libertar o Povo da Doença e Libertar o Povo do Analfabetismo!

E qual é a realidade? Timor-Leste é um País agrícola, então, os agricultores deveriam viver da venda dos seus produtos. Contudo, devido aos interesses privados e à incompetência de alguns membros do governo, e devido à corrupção que existe no País, não há leis para proteger de forma eficiente os produtos agrícolas nacionais e os agricultores timorenses quase não têm máquinas, nem subsídios do governo.

Em certas regiões do País produz-se muito arroz com casca (néle), contudo, por falta de máquinas descascadeiras, o arroz é importado em grande escala por empresas estrangeiras e nacionais, enquanto o Povo passa fome e vive na miséria porque nem sequer tem dinheiro para comprar o arroz importado.

Por todas estas razões estou orgulhosamente ao lado do PST porque este Partido que nunca esteve no poder entende que é urgente activar as áreas agrícolas. Isto quer dizer que o Povo deve produzir os artigos básicos, como o arroz, o milho e os vegetais, para seu consumo, e depois produzir para o mercado.

Não podemos falar de libertação e independência quando continuamos a depender dos artigos e dos produtos que vêm do estrangeiro. Por outro lado, o Povo só deve pagar taxas ou impostos se produzir. O governo não pode impor taxas e impostos contra um Povo que não produz economicamente!

Qualquer governo, independentemente da sua maioria, por mais democrático que seja, será um governo de minoria se quiser obrigar um Povo que não produz a pagar taxas e impostos.

A FRETILIN de Vicente Reis defendia a agricultura! A FRETILIN de Vicente Reis defendia os agricultores! A FRETILIN de Vicente Reis defendia uma educação e saúde para todos! A FRETILIN de Vicente Reis defendia os pobres e oprimidos de Timor-Leste!   
   
Onde está a FRETILIN de Vicente Reis?

*M. Azancot de Menezes é Secretário-Geral do PST (Timor-Leste)

MACAU VOLTOU HOJE A AFIRMAR-SE COMO “CIDADE LATINA”



Macau voltou hoje a afirmar-se como "cidade latina" com um desfile com 1.500 artistas e figurantes, locais e estrangeiros, com o qual iniciou as celebrações do 16.º aniversário da transferência da administração de Portugal para a China.

Macau é uma região administrativa especial da China desde 20 de dezembro de 1999, celebrando esta data com a parada "Macau, cidade latina" desde 2011, naquele que é um dos maiores eventos festivos do território e que este ano (tal como em 2014) custou 16 milhões de patacas (mais de 1,8 milhões de euros).

Este ano, o desfile, em que os Caretos de Podence representaram Portugal, serviu também para comemorar o décimo aniversário da classificação do centro histórico de Macau como património da humanidade pela Unesco, a agência das Nações Unidas para a Educação e a Cultura.

A parada, que atrai milhares de pessoas, é para continuar, "com certeza", seguindo o mesmo modelo e com a mesma dimensão, assegurou o presidente do Instituto Cultural do território, Guilherme Ung Vai Meng, em declarações aos jornalistas.

"Macau é pequeno, tem 600 mil habitantes, mas Macau tem quatro séculos de intercâmbio, não só entre Portugal e Macau, mas com o mundo ocidental. Macau é uma chave que abre muitas portas, entre a China e a Europa. É uma chave com quatro séculos, não é uma chave nova", afirmou, insistindo na ideia de que as ligações não se limitam a Portugal, mas ao "mundo latino, França, Itália, América do Sul e África".

"Essa é a nossa característica, importantíssima, de certeza que continuamos [a realizar este evento]", acrescentou.

Ao todo, foram 52 os grupos que hoje percorreram o trajeto entre as ruínas de São Paulo, símbolo de Macau, e a praça do Tap Seac, onde foram colocadas bancadas para o público assistir aos espetáculos e ao final do desfile.

Ung Vai Meng sublinhou que esta é uma forma de promover o centro histórico e a história de Macau no exterior.

Grupos e artistas de França, Indonésia, China, México, Guadalupe, Taiwan, Brasil ou Cuba, entre outros países e territórios, estiveram hoje nesta "parada latina", para além dos Caretos de Podence, que pela primeira vez viajaram até à Ásia.

"Vai ficar para a história do grupo", disse à Lusa o presidente da Associação do Grupo de Caretos, António Carneiro, satisfeito pela "reação muito positiva" do público aos caretos, "o grupo mais fotografado" e "diferenciado" do desfile.

"Onde vamos, voltamos sempre", vincou António Carneiro, admitindo "grandes expetativas" em relação a esta apresentação em Macau.

Uma comitiva de 20 pessoas de Macedo de Cavaleiros viajou até Macau para esta apresentação dos Caretos de Podence no oriente, que estão a preparar-se para avançar com uma candidatura a Património Imaterial da Humanidade.

Para além dos artistas e figurantes, este ano, em diversos locais do percurso do desfile "Macau, cidade latina" foram colocadas obras de jovens 'designers' locais, convidados expressamente pelo IC para fazerem criações com esse fim, que os residentes no território poderão levar para casa dentro de algum tempo, no âmbito de concursos que o instituto vai promover ou através de uma inscrição cujas regras serão posteriormente divulgadas.

MP // VC - Lusa

CHINA PERDOA JUROS DA DÍVIDA MOÇAMBICANA



A China vai perdoar os juros não vencidos até 2015 da dívida de Moçambique e rever em baixa os juros dos créditos a atribuir nos próximos anos, anunciou o Presidente moçambicano, citado hoje pela Agência Informação de Moçambique.

Falando à imprensa no final da segunda cimeira dos chefes de estado e de governo do Fórum de Cooperação China África (FOCAC), que terminou no sábado em Sandton, arredores de Joanesburgo, Filipe Nyusi disse ter obtido esta garantia do seu homólogo chinês, Xi Jinping, no encontro que ambos mantiveram na quinta-feira.

Nyusi não referiu valores, mas dados de um relatório do BPI sobre Moçambique, divulgado em maio, indicavam que a dívida à China ascendia a cerca de 886 milhões de dólares (814 milhões de euros ao câmbio atual) no primeiro semestre de 2014.

Segundo o chefe de Estado moçambicano, os juros dos créditos chineses a atribuir nos próximos anos serão igualmente revistos para valores inferiores aos atuais 1,5% ou dois por cento.

Nyusi espera que estas medidas contribuam para dar mais flexibilidade aos compromissos da dívida moçambicana, atrair mais investimento chinês e fortalecer o empresariado local, criando mais emprego e avanços na luta contra a pobreza.

No final do FOCAC, no qual Xi Jinping anunciou a disponibilização de 60 mil milhões de dólares (55 mil milhões de euros) em assistência e empréstimos aos países africanos, o Presidente moçambicano elencou a modernização da agricultura, industrialização, infraestruturas, recursos minerais, pescas, turismo e aumento do abastecimento de água e a energia como as áreas prioritárias para canalizar o apoio chinês.

Para Nyusi, a elevada participação de chefes de Estado e de governo, a qualidade dos assuntos discutidos e os resultados alcançados contribuíram para que a cimeira tenha sido um sucesso.

"Não foi um encontro de doadores, nem de petições. Foram discutidas parcerias", considerou.

No mesmo sentido, disse que o encontro com o homólogo chinês serviu para personalizar as relações e reforçar a cooperação entre os dois países, numa base de parceria.

"Queremos uma parceria, uma cooperação real, não de estender a mão", defendeu.

Em junho, a vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, anunciou em Maputo uma verba de 5 mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros) para investimentos chineses em Moçambique, durante os próximos anos.

A vice-ministra do Comércio da China assumiu o compromisso, no âmbito da V sessão da Comissão Conjunta de Cooperação entre Moçambique e China, realizada na capital moçambicana.

HB // SMA - Lusa

Angola. MPLA VIVE COM O FANTASMA DE GOLPE DE ESTADO E DA DEMOCRACIA



O MEDO DA MUDANÇA

William Tonet* - Folha 8 digital, opinião

O país está a ser irre­sponsavel­mente le­vado para o pico de sat­uração social, fruto das más políticas económi­cas, empreendidas pelo titular do poder execu­tivo. Se é certo que a cri­se mundial tem alguma influência, ela não pode servir de manga justifi­cativa para o desnorte total da actual situação financeira. Os cofres da banca central estão quase vazios e depois da saída do ex-ministro das Finanças, Carlos Lopes, a reserva finan­ceira do Estado, então avaliada em mais de 31 mil milhões de dólares, foi “selvaticamente” delapidada, a menos de metade, por uma “gang” alojada na mais alta roda do poder, originando o actual sufoco da falta de reacção do Estado aos inúmeros projectos públicos, bem como de divisas, na banca com­ercial, para atender as operações regulares da classe empresarial emergente e dos ci­dadãos em geral.

Os larápios partidocra­tas estão devidamente identificados, nominá-los não seria fastidioso, mas uma perda de tem­po, sabendo-se da impu­nidade que grassa pelos corredores palacianos do poder, que os torna, inimputáveis, ainda que traficantes de armas ou lavadores internacion­ais de dinheiro. E para blindar, institucional­mente, a ladroagem do erário público, os po­deres, judicial, policial, militar e legislativo, foram, prévia e astuta­mente feitos reféns pela suprema magistratura, que untando as mãos, lhes aprisionou even­tuais motivações con­testatárias.

Mas, para coroar a “ali­babagem regimental”, a oposição enfraquecida na utopia da existência de carris democráticos é silenciada, em função da cabimentação finan­ceira mensal, atribui­da pelos algozes, que dizem querer derrubar, esquecendo-se serem, aqueles, os detentores das chaves de toda máquina do aparelho do Estado.

Assim, só resta mesmo esperança na juventude irreverente, nacionalista e patriótica que, pese a sua fraqueza financeira, dá peito ao manifesto da honorabilidade e co­erência de princípios, cônscios da ingente tarefa de terem de lutar, para resgatar a cidada­nia da maioria dos au­tóctones, cada vez mais empobrecida e carente de oportunidades iguais e democracia.

Agora fica mais claro, as razões que levaram o Tribunal Constitucional a subverter a Constitu­ição, inviabilizando a in­terpelação do executivo por parte dos deputados da Assembleia Nacional.

Num país normal, com instituições fortes e in­dependentes, os corrup­tos seriam chamados a barra dos tribunais e enclausurados na Co­marca de Luanda ou em Calomboloca, in­felizmente, neste, cada vez mais anormal, as cadeias só escancaram as portas das fedorentas celas, aos inocentes, que denunciam os gatunos institucionais ou os “pil­ha galinhas”…

Uma pergunta, no final. Será por este e outros roubos milionários que os jaguares passaram a engalanar as garagens dos juízes do Tribunal Constitucional, levan­do-os, magistralmente, a subverter a formalidade constitucional de in­viabilizar a interpelação devida, dos deputados da Assembleia Nacion­al ao Executivo, sob o argumento estapafúr­dio de o Presidente da República ser órgão de soberania, sem nunca ter sido nominalmente eleito, nem ter sido cau­cionado pelo Titular do Poder Constituinte: o povo!

Assim com a perca precoce da virgindade e vitalidade parlamen­tar, a maioria dos ci­dadãos autóctones, não conseguem, ver quem os possa defender da opressão colonial a que estão sujeitos, com o roubo desenfreado das riquezas nacionais, por um grupo restrito de “ladrões de colarinho branco”, que prendem, torturam, assassinam e dão medalhas aos assas­sinos regimentais, como os bispos da Igreja Uni­versal e o de Hilbert Ganga, absolvidos por “relevantes serviços, ao regime totalitário que nos (des)governa.

*Diretor do Folha 8


Angola. SEGUNDA-FEIRA É DIA DE LUZ!



Luísa Rogério – Rede Angola, opinião

Imaginem um lugar onde é normal o consumidor pagar por algo que não usufrui. Imaginem que nesse lugar as pessoas se limitam a suspirar. Cruzam serenamente os braços à espera do acontecimento seguinte. Lá, os prestadores de serviço cultuam a prática de postergar esclarecimentos sobre situações que seriam insólitas noutros cantos do universo. Desnecessário estimular a imaginação. Sabemos que o lugar existe. É aqui! Luanda, a capital do país que comemora quarenta anos de independência. Os atentados aos direitos do consumidor servem para preencher infindáveis páginas de ensaios sobre péssimo serviço público. Entre o manancial de temas susceptíveis de mergulhar o citadino num estado de depressão profunda escolho aquele que, ano após ano, continua imbatível no topo das questões que mais dores de cabeça provocam ao luandense.

Em quase toda Luanda ouvem-se reclamações. Os casos caricatos de outrora perderam o estatuto. Vulgarizaram-se. Com excepção das novas centralidades, poucas zonas residenciais escapam do lugar-comum no que toca à falta de energia eléctrica. Causas e efeitos desse problema “cancerígeno” têm sido objecto de debate em diversos círculos. Aparentemente, o crescimento exponencial da cidade que alberga população em número muito superior ao que teria capacidade de suportar, assim como as obras em execução são factores que contribuem para uma espécie de vivência similar ao de uma aldeia feudal. Para ser factual, contam-se os anos no período pós-independência em que a escuridão não assolou Luanda. No início dos anos oitenta registaram-se os famosos derrubes de postos de energia eléctrica. Estávamos em guerra. Veio a paz. O ex-partido guerrilheiro abraçou os meios convencionais de luta política. A fasquia das expectactivas foi subindo. Entretanto, foram feitos investimentos avultados no sector de energia e águas. Com a construção da barragem de Kapanda augurou-se o fim dos problemas de energia em Luanda. Previsão falhada. Baixo caudal, humidade, enchentes e outros contratempos atribuídos à acção da natureza inviabilizaram o retorno à verdadeira normalidade. A aposta em novos investimentos e projectos em Cambambe juntou-se ao glossário para o entendimento do vasto dossier. A realidade é clara: o problema arrasta-se e a solução tarda. A meta para o termo do calvário parece ser 2017. Em termos matemáticos falta pouco para a mudança de cenário. Na prática, é preferível viver o presente sem conjecturas estarrecedoras.

Enfrentar penosas noites de calor sob a macabra sinfonia dos mosquitos e manter a disposição na manhã seguinte é possível quando o poder da mente substitui o termo infernal por sauna, como ironiza a Kizzy. Os optimistas dirão que calor, mosquitos e paludismos existem desde tempos imemoriais e ainda assim resistimos. O mesmo não se pode dizer dos produtos perecíveis e das parcas economias. Ir quase diariamente às compras implica aumento de despesas. Os geradores deixaram de ser as fontes alternativas de tempos idos. Só que o preço do combustível também já não é bonificado. Pouquíssimas bolsas estarão à altura de fazer face a tantos gastos.

Há áreas que recebem cerca de oito horas de luz por dia da rede pública, geralmente entre as 9 e 17 horas nos dias de benevolência. A lua tem sido a principal fonte de iluminação nocturna, a par dos famigerados geradores acompanhados do barulho ensurdecedor. Na maioria dos bairros de gente comum, os tais têm de ser desligados por volta da meia-noite por causa dos elevados riscos de acidentes. Os amigos do alheio são ousados ao ponto de roubarem os abastecedores de energia em pleno funcionamento. Como nem tudo pode ser sempre mau, pelo menos uma vez por semana a ENDE é justa. No meu bairro segunda-feira feira é dia de luz. É dia de dormir com a tranquilidade desconhecida dos combatentes de causas perdidas. De lavar, passar a ferro, assistir televisão, ler e usar ar-condiconado. Nesse dia de magia os olhares ansiosos postos nos relógios desaparecem. E levam a preocupação gerada pelo aproximar da hora de recolher da energia.

Ao contrário da irregularidade relativas ao abastecimento, as facturas mantém-se regulares. Bem feitas as contas, o cliente beneficia de menos de um terço do consumo a que tem direito. No fim do mês não é descontado sequer um décimo do valor pago em períodos de menores interrupções. Dito de outro modo, a empresa que não honra as obrigações contratuais prejudica o bolso do cidadão mal servido. Quantos milhares de clientes pagam indevidamente o que deixam de consumir? Um jurista ajudaria a dar nome às evidências. Preferencialmente depois do economista fazer todos os somatórios em busca da diferença à qual se juntaria os incomensuráveis danos morais.

Existem dificuldades eventualmente acentuadas pela dita crise económica. O que se passa, a definição de um horizonte temporal para a normalização e o estabelecimento de escalas com vista a distribuição de energia são aspectos que deveriam constar no plano de comunicação da empresa. Pior do que a falta de consideração para com o consumidor são as irritantes desculpas.

Pronto. Pausa na escrita. A carga está a acabar. Já escureceu. Vou ali assim acender as lanternas porque o gerador sucumbiu! Antes porém, deixo um recado: privatizem a distribuição de energia eléctrica, abrindo o negócio a quem mostrar competência para o gerir e satisfazer os clientes. Façam qualquer coisa para mudar este estado de coisas. Ou prestem um grande favor a este povo heróico e suficientemente generoso para não estabelecer ligações entre a escolha dos seus legítimos representantes e o péssimo serviço público que tem: demitam-se!

Angola. Isaías Samakuva reeleito presidente da UNITA com 82,8% dos votos



O atual presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, foi hoje reconduzido no cargo, para novo mandato, com o apoio de 82,8% dos votantes no XII congresso ordinário do partido.

Em funções há 12 anos, Samakuva foi reeleito com 949 dos votos dos delegados que participaram na votação (1.146), contra os 167 votos (14,5%) arrecadados pelo deputado Lukamba Paulo `Gato` e os 25 (1,7%) obtidos pelo também deputado Abílio Kamalata Numa.

O anúncio dos resultados desta eleição para a direção do partido, o ponto mais esperado de três dias de congresso, em Luanda, foi feito ao início da noite de sábado pelo presidente da comissão eleitoral, Alcides Sakala, depois de mais quase quatro horas de votação e duas horas de contagem dos votos em urna.

Samakuva será assim o candidato do maior partido da oposição às eleições gerais a realizar em agosto de 2017, tendo em conta a decisão, tomada durante o congresso, pelos 1.165 delegados.

De acordo com o porta-voz do congresso, Anastácio Rúben Sicato, os delegados analisaram ainda alterações aos estatutos, tendo ficado definido que não há limitação de mandatos para os cargos de direção, nomeadamente para presidente do partido, assunto que foi colocado em discussão face à recandidatura de Isaías Samakuva.

"Não há limitação de mandatos, ficou clarificado. Este era um ponto que estava omisso nos estatutos do partido, fizemos uma análise pelo mundo e praticamente não há casos de limitação de mandatos, a questão coloca-se mais no interesse dos próprios partidos e se naquele momento determinado candidato serve esses interesses ou não, do ponto de vista dos militantes", explicou à Lusa Anastácio Rúben Sicato.

A preparação deste congresso arrancou a 01 de julho e envolveu a realização de 18 conferências provinciais de militantes da UNITA, 164 municipais, cinco assembleias de núcleos das estruturas centrais e uma conferência dos antigos combatentes.

Para Anastácio Rúben Sicato, este encontro magno do partido, a começar pelo número de candidaturas à presidência e a forma como decorreram os trabalhos, serviu para "comprovar o exercício democrático" na UNITA.

"Nós pensamos que a mensagem que estamos a enviar para os angolanos é de que somos mesmo um partido democrático", concluiu o porta-voz do congresso ordinário, que só se repete dentro de quatro anos.

Lusa, em RTP, ontem

A HORA DA ÁFRICA E DA CHINA



Jornal de Angola, editorial

Na capital económica da África do Sul teve lugar o denominado Fórum de Cooperação de Joanesburgo, sob o lema "África-China Progredindo Juntos: Uma cooperação de ganhos mútuos para um desenvolvimento comum", que constituiu uma grande oportunidade para ambos os lados.

Numa altura em que a moeda chinesa yuan, também denominada de renmimbi, vai passar a fazer parte do buquê de moedas internacionais, os países africanos que forjam parcerias e alianças com a China terão muito a ganhar. Ao lado de outras moedas para a transacção internacional, o recurso à moeda chinesa como reserva de valor em todo o mundo, constitui, em termos económicos, financeiros e monetários, uma vantagem acrescida nas relações bilaterais.

Para espelhar bem a relevância do evento em Joanesburgo, que reúne não apenas governantes, mas também homens de negócios, Angola faz-se representar pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos que, à margem do encontro, teve já um tête-à-tête com o seu homólogo chinês, Xi Jinping.

Além da cooperação bilateral ao nível do desenvolvimento económico e o fortalecimento dos laços de amizade, os dois estadistas passaram em revista questões actuais relacionadas com a paz, a segurança, as alterações climáticas, entre outros temas.

A China tem sido um parceiro cuja disponibilidade para acompanhar Angola, desde os primórdios do alcance da paz, na reabilitação e recuperação das infra-estruturas, muitas delas de raiz, aos tempos actuais, contribuiu para as realizações que o país apresenta hoje. Tivesse o país ficado refém de uma série de condicionalismos impostos pelos parceiros ocidentais, tidos como tradicionais doadores, não teríamos as realizações que o país conheceu ao longo de pouco mais de 10 anos de paz.

Além das condições bonificadas em que são concedidos os empréstimos vindos da segunda maior economia do mundo, é de enaltecer a forma equidistante como o país mais populoso do planeta se mantém dos assuntos internos dos seus parceiros.

A parceria e cooperação entre Estados independentes e soberanos não se estabelecem por via de relações bilaterais verticais, em que enquanto uns impõem a partir de cima, outros são supostos a cumprir a partir de baixo, sob pena da rejeição das ajudas ou empréstimos.
Contrariando a Carta da ONU e demais legislação internacional, muitos Estados viram as suas soberanias "diminuídas" e os seus ordenamentos jurídicos gravemente "afectados" por causa das condições em que se processa(va)m as ajudas ou empréstimos.

A República Popular da China mudou o paradigma e promove com todos os países do continente relações económicas e comerciais baseadas no respeito pela soberania dos Estados, na não ingerência nos assuntos internos com reciprocidade de vantagens. Acreditamos que, numa altura em que a maioria dos países africanos ensaia medidas de diversificação económica, acederam rapidamente ao Fórum de Cooperação de Joanesburgo para fazer jus ao velho ditado segundo o qual "é no aproveitar que está o ganho". Os países africanos estão a tirar proveito do avanço económico da China, a negociar a transferência de tecnologia para acelerar o processo de industrialização do continente. Não temos dúvidas quanto ao potencial agrícola do continente e, como parte vital do processo de diversificação económica, a transformação da agricultura como aliada da indústria constitui uma saída vantajosa para combater indicadores que ainda nos preocupam a todos, como africanos. É preciso que os esforços de erradicação da fome, da pobreza extrema e do desemprego tenham continuidade com políticas agrícolas e industriais ali onde as condições são propícias.

É bem-vinda em todo o continente a predisposição chinesa para contribuir para o desenvolvimento do continente, através de investimento directo e financiamento de projectos, entre outras iniciativas.

Grande parte dos desafios para se retirarem os melhores benefícios da cooperação com a China depende largamente dos seus parceiros africanos, que deverão ser capazes e decisivos na identificação das suas prioridades.

Como disse o embaixador angolano na China, citado pela Rádio Nacional de Angola, a partir de Joanesburgo, "o dinheiro da parte chinesa existe, são os parceiros da China que têm de identificar os projectos para os investimentos que se impõem". Garcia Bires disse que “estamos a nível interno a observar quais são as nossas reais prioridades para, no próximo ano, apresentarmos à China para execução”.

Segundo dados avançados pelo Ministério do Comércio da China, mais de 2.000 empresas chinesas encontram-se em África, dando emprego a perto de cem mil africanos, numa altura em que as autoridades chinesas pretendem continuar a ver crescer os laços de cooperação e comércio. De facto, esperamos que o Fórum de Cooperação de Joanesburgo, que termina hoje na pátria de Nelson Mandela, constitua uma oportunidade para que os países africanos e a China progridam juntos. Não há dúvidas de que chegou, definitivamente, a hora da África e da China.

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Brasil. MORTE DE JOVENS NEGROS ELEVA SENSAÇÃO DE INJUSTIÇA NO PAÍS



Não pensei que veria o estado de direito, duramente conquistado, dando lugar a um estado de exceção e barbárie. Nas favelas e territórios de periferia, o encontro entre jovens negros e a polícia pode sempre ser fatal

Átila Roque - Ponte Jornalismo, Rio de Janeiro – em Correio do Brasil, opinião

Não dá para saber se falta uma ou duas gotas, mas o caldo está prestes a entornar. A chapa está quente, a paciência se esgotou, a tristeza, a sensação de injustiça é muito grande. A dor e a raiva produzem ódio. E o ódio não mede esforços nem recua diante de nada. Nossa frágil democracia se encontra ameaçada pelo espírito mesquinho, egoísta e racista que ainda viceja em nossa sociedade, incapaz de reagir e se indignar diante da violência seletiva que acomete milhares de jovens Brasil afora.

enho experimentado um sentimento de vergonha por ser parte de uma geração que tendo apanhado da polícia nos estertores da ditadura não conseguiu deixar como legado para os nossos filhos um Estado que coloque a defesa da vida e dos direitos de todas as pessoas em primeiro lugar. Não pensei que veria o estado de direito, duramente conquistado, dando lugar a um estado de exceção e barbárie.

Uma parte significativa da sociedade brasileira, em particular as classes médias e altas, têm convivido como se não lhe dissesse respeito, com a violência de uma polícia covarde que espanca adolescentes que protestam contra fechamento de escolas, como presenciamos nos últimos dias em São Paulo; e mata outros nas periferias de nossas cidades pelo simples fato de serem jovens e negros. Precisamos encarar de frente que a violência e o racismo continuam a fazer parte do sistema de práticas e valores que sustentam as desigualdades e regulam as relações de poder na sociedade brasileira.

O mito do país pacífico e racialmente democrático faliu faz tempo, mas ainda não foi devidamente exposto e admitido pela sociedade. Não gostamos do que vemos quando nos olhamos no espelho. O sistema de justiça e segurança pública cumpre o papel de reguladores da ordem e são os principais operadores de um sistema que se esmera em garantir que cada um saiba qual é o seu lugar e que não ouse reivindicar o direito à mobilidade social e espacial não autorizada.

A tragédia que se abateu sobre Wesley, Wilton, Roberto, Carlos Eduardo e Cleiton, os jovens e adolescentes negros assassinados por policiais no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, na zona norte do Rio de Janeiro, não foi um caso isolado. Nas favelas e territórios de periferia, o encontro entre jovens negros e a polícia pode sempre ser fatal.  Estamos diante de uma rotina em que a polícia adentra as periferias e favelas com a disposição de matar. A quantidade de tiros no carro em os rapazes se encontravam não deixa dúvidas sobre a intenção dos policiais. Estes cinco jovens foram executados brutalmente em nosso nome, não tenhamos ilusões, com armas e farta munição de guerra (111 tiros) financiada pelos nossos impostos. O pretexto da guerra contra o tráfico se presta a que estados de exceção de direitos sejam, na prática, decretados nesses territórios sob o olhar complacente da mídia, das autoridades e boa parte da sociedade.

É duro dizer isso sabendo que o preço pago por muitos policiais também é alto. Em certa medida podemos dizer que os profissionais de segurança pública que tem, com muita frequência a mesma origem social desses jovens, morrem em uma escala muito alta, assassinados simplesmente por serem policiais. A grande maioria, no entanto, fora de serviço. O ciclo de violência e a engrenagem da guerra torna a vida do policial tão descartável quanto a dos jovens que morrem em suas mãos, uma realidade somente comparável a situações de guerra. Mas não estamos em guerra e mesmo a guerra tem regras.

Há poucos meses, a Anistia Internacional lançou o relatório “Você matou meu filho – Homicídios cometidos pela Polícia Militar no Rio de Janeiro”. A pesquisa indica que nos últimos cinco anos, os autos de resistência representaram em média 16% do total de homicídios cometidos na capital fluminense. Em 2012 os homicídios decorrentes de ações de policiais em serviço chegou a representar cerca de 20% do total de homicídios. Sob qualquer ponto de vista estamos diante de um escândalo ético e de um retrato dramática da falência sistêmica do sistema de segurança pública.

A mesma pesquisa apontou o perfil das vítimas dos homicídios decorrentes de intervenção policial no Rio de Janeiro: 99,5% homens, 79% negros e 75% jovens. A área de segurança pública (AISP) responsável pela maior quantidade de mortes foi justamente a do 41º Batalhão da Polícia Militar, o mesmo ao qual pertencem os policiais acusados de executarem com 111 tiros os cinco jovens que tiveram a ousadia de transitar pela cidade e ultrapassar os “muros” nem tão invisíveis que os condenava a não sair de seus territórios.

O Brasil vive um estado de emergência. Estamos a ponto de perder a oportunidade histórica de acolher a potência da juventude das favelas e das periferias para criar um país mais generoso e justo. Não é favor, mas direito. E vai ser reivindicado de uma maneira ou de outra. A expectativa e a aspiração à igualdade avançou e não será interrompida. Ou paramos e damos uma resposta agora ou será tarde demais. A panela não vai aguentar muito tempo essa rotina de brutalidade e humilhação.

A História, sempre ela, certamente um dia cobrará o silêncio cúmplice da sociedade diante desse verdadeiro extermínio. E, espero, os nossos netos ou bisnetos pedirão desculpas pela inacreditável apatia de seus avós e bisavós que conseguiam dormir enquanto lá fora ocorria um massacre.

*Átila Roque é historiador e diretor executivo da Anistia Internacional.

Brasil. REDE DA DIGNIDADE CONTRA O GOLPE E A VIGARICE



O governo, emparedado pela lógica conservadora, paradoxalmente, passou a ter escolhas. Como disse a própria Dilma, 'não era mais possível viver chantageada'

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

A história apertou o passo e quando sacode a poeira ela derrama transparência por onde passa.

A retaliação de Eduardo Cunha contra o governo e contra o PT guarda semelhanças com uma cena recorrente da crônica policial.

Enredado em evidências grotescas de ilícitos e falcatruas, o presidente da Câmara sacou um processo de impeachment contra a Presidenta Dilma, depois que o PT –graças à corajosa decisão de seu presidente, Rui Falcão, determinou que o partido não acobertasse o delinquente no Conselho de Ética.

Cunha age como o sequestrador que saca o revólver e o coloca na cabeça do refém, exigindo salvo conduto para si e para o malote de dinheiro.

Eduardo Cunha aposta que os comparsas do lado de fora lhe darão cobertura na fuga cinematográfica para frente.

Talvez tenha razão a julgar pela adesão de pronto de tucanos, como os rapinosos Aécio e Serra, por exemplo.

Outros, aqueles que entendem a política como oportunismo, endossarão igualmente o meliante em nome da honradez.

Ou não é essa –há meses—a especialidade do colunismo isento na sua seletiva campanha anti-corrupção?

A cumplicidade desses comparsas está precificada no metabolismo político brasileiro desde 2005/2006.

Não se espere grandeza de onde impera a mediocridade básica das elites latino-americanas.

Aquela que sonega ao próprio país e ao povo o direito e a competência para se erguer como nação justa e soberana.

O vento implacável da história desnuda em 2015 os novos atores do velho enredo em cartaz em 1932, 1954, 1962, 1964, 1989, 2002, 2005, 2006, 2010 e 2014.

Com um agravante: há um pedaço da sociedade que se descolou definitivamente do país e tem como pátria o capital flutuante que não quer pertencer ao destino de nenhum povo.

Seu interesse e visão de mundo, portanto, são imiscíveis com a ideia de um regime do povo, para o povo e pelo povo.

E isso não é retórica, mas uma ameaça: eles consideram que a Constituição de 1988 prometeu mais do que é justo o dinheiro grosso ceder e que o PT teima em lembrar.

São aliados naturais do assaltante que ameaça agora um  mandato subscrito por 54 milhões de brasileiros.

Daí não sai nada a não ser golpe e dilapidação.

A mudança terá que vir do outro lado.

O lado do país que se avoca o direito de enxergar na justiça social a finalidade e o motor da luta pelo desenvolvimento brasileiro. E que tem na democracia a principal garantia de que esse processo é crível e consistente porque negociado, repactuado e legitimado nas diferentes manifestações de liberdade de um povo --nas lutas, nos escrutínios e nas mobilizações históricas de uma nação.

Estamos diante de um desses momentos que Celso Furtado denominava de ‘provas cruciais de uma nação’.

É, sobretudo, no caso brasileiro, a hora da verdade para as forças progressistas.

Cabe-lhes superar o empate corrosivo que paralisa a sociedade e desacredita a democracia.

Trata-se de vencer a prostração e o sectarismo, fazendo da mobilização contra o golpe o impulso que faltava para uma repactuação do país em torno dos interesses majoritários de seu povo.

Lideranças políticas e sociais não podem piscar.

O enclausuramento ideológico, o acanhamento organizativo e a indiferenciação, diante  da qual a juventude não se reconhece e a militância se recolhe-- devem ser dispensados de uma vez por todas.

Que ninguém se iluda: o apoio ao impeachment tem por trás um projeto econômico devastador

Nele não cabem as urgências e direitos da maioria da população brasileira.

Um notável volume de investimentos é requerido nesse momento para adequar a logística social e a infraestrutura às dimensões de uma nação que incorporou milhões de pobres ao mercado de consumo nos últimos anos.

Agora lhes deve a cidadania plena.

O novo giro da engrenagem terá que ocorrer num momento paradoxal.

Uma tempestade perfeita cobra respostas em várias frentes: prover a infraestrutura, combater a inflação, resgatar a industrialização, dar progressividade ao sistema tributário, ajustar o câmbio, modular o consumo.

Tudo junto e com a mesma prioridade.

Ao mesmo tempo, porém, o labirinto encerra a oportunidade histórica de inovar  metas e métodos.

A plataforma do arrocho, com a qual o conservadorismo capturou o governo  --e agora pretende concluir o assalto tomando-lhe o mandato,  envelheceu miseravelmente ao escancarar  sua incapacidade  para ir além de uma recessão destrutiva.

PIB, emprego, investimento e consumo despencam sob o timão de um ajuste que desajusta o bolso do povo pobre e agrava as contas fiscais da nação.

O interesse conservador que antes pretendia usar o governo para escalpelar as ruas, subtraindo-lhe conquistas e recursos, agora quer usar as ruas e o impeachment para derrubar o governo.

A bipolaridade reflete a ansiedade típica de quem sabe que tem pouco tempo porque aquilo que a rua exige e espera colide com o que o mercado pretende.

Quem dará coerência ao desenvolvimento brasileiro nessa encruzilhada?

Antes turva, a resposta emerge límpida após o assaltante colocar a arma na cabeça do refém nesta tarde da terça-feira, 2 de dezembro de 2015.

A nova coerência macroeconômica terá que ser buscada na correlação de forças redesenhada pela divisão entre os que se alinharão na cumplicidade ao chantagista e os que vão se juntar ao governo para ampliar o espaço  de um novo contrato de crescimento para a nação brasileira.

Emparedado pela lógica conservadora o governo Dilma, paradoxalmente, passou a ter escolhas.

Como disse a própria Presidenta, em desabafo, ’não era mais possível viver chantageada’.

Dilma deve, sim, negociar. Com o Brasil que trabalha e quer trabalhar. Com o capital que produz e quer produzir.

Isso define uma límpida conduta para as próximas horas, os próximos dias, meses e, sobretudo uma próxima reforma ministerial definidora de uma verdadeira governabilidade, com o direito de recorrer ao povo para construir o passo seguinte do crescimento.

O bônus não autoriza o conjunto das forças progressistas a adotar a agenda da fragmentação suicida.

O discurso cego às interações estruturais é confortável . Mas leva ao impasse autodestrutivo e à inconsequência histórica.

A responsabilidade de interferir num processo histórico pressupõe a adoção de balizas que impeçam o retrocesso e assegurem coerência às mudanças.

O jogo é pesado.

Avançar à bordo da composição de forças que delimitou a ação progressista até aqui tornou-se cada dia mais penoso.

Esgotou-se um capítulo.

Não apenas por conta da saturação de um ciclo econômico.

Mas também porque se descuidou de prover a sociedade de canais democráticos para viabilizar o passo seguinte do processo.

Faltava a locomotiva da história apitar outra vez para esticar os limites do possível na repactuação do novo capítulo do crescimento brasileiro.

Foi o que o assalto à mão armada de Cunha desencadeou nas últimas horas.

A presidenta Dilma viu o bonde passar e não hesitou.

Reagiu na direção certa em pronunciamento à Nação

Antes dela, Rui Falcão, Pimenta e outros tiveram a coragem de rechaçar o chantagista e alinhar o PT  ao clamor dos milhões de brasileiros que não aceitam mais compactuar com um sistema político que se tornou um biombo desmoralizado do poder econômico, a serviço de banqueiros e bandidos.

Ao assumir o risco de uma represália que se confirmou, o PT indiretamente reaproximou-se dos que entendem que a soberania popular é  o único impulso capaz de harmonizar os conflitos e sacolejos de uma transição de ciclo de desenvolvimento.

O tempo urge.

O assalto conservador ao mandato de Dilma  joga uma cartada de vida ou morte contra o relógio político.

À medida que apodrece a reputação de seus centuriões, e os savorolas da ética entram em combustão explosiva, restou-lhes apostar tudo no estreito espaço de tempo entre a desmoralização absoluta e a capacidade residual de articular o golpe.

A coragem de Dilma e do PT, a solidariedade do PSOL logo na primeira hora da escalada, o levante maciço nas redes sociais ensejam esperança e legitimidade.

Em 1961 Brizola opôs ao golpe contra Jango uma bem-sucedida mobilização nacional liderada pela Rede da Legalidade.

Que Lula, Luciana, Boulos, Stédile, Vagner Freitas, intelectuais, estudantes, empresários produtivos, personalidades e democratas em geral se unam e se organizem.

Essa é a hora e ninguém fará isso por nós.

Que Dilma recorra diariamente, se preciso, à cadeia nacional para afrontar o monólogo golpista e liderar a resistência nacional.

É o seu mandato que está em jogo.

E que disso nasça uma gigantesca rede da dignidade contra o golpe e a vigarice.

Com ela, e somente com ela, emergirá o impulso que falta para abrir passagem ao país que o Brasil poderia ser, mas que ainda não é –e que interesses poderosos não querem que venha a ser.

ARGENTINA À VENDA, TRATAR COM SENHOR MACRI NA CASA ROSADA EM 2016 - Latuff



Carlos Latuff, Porto Alegre – Opera Mundi

De oposição neoliberal, Maurício Macri venceu as eleições no domingo (22/11) na disputa com o candidato kirchnerista Daniel Scioli

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador de Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Para encontrar outras charges do autor, clique aqui.

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Eleições na Venezuela: 19 milhões vão às urnas neste domingo eleger novos deputados do país



Vanessa Martina Silva, São Paulo – Opera Mundi

Votação vai definir se governo seguirá ou não tendo maioria no Congresso; pesquisas de intenção mostram vantagem da oposição, mas cenário é indefinido

A Venezuela celebra, neste domingo (04/12), a primeira eleição legislativa desde a morte do ex-presidente Hugo Chávez, em 2013, e a primeira da gestão de Nicolás Maduro. Estão em jogo no pleito o cargo de 167 deputados da Assembleia Nacional e a maioria do Congresso, historicamente dominada pelo chavismo.

Estão convocados para participar do pleito 19.496.296 venezuelanos, que deverão escolher entre os 1.799 candidatos no país, onde o voto não é obrigatório, mas a participação dos eleitores costuma ficar acima dos 60%, como na votação de 2010.


Entre os aspirantes ao cargo, estão duas forças principais

• Grande Polo Patriótico – coalizão que tem como maior expoente o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e congrega também os seguintes partidos e movimentos: Tupamaro, Partido Comunista da Venezuela, Podemos (Pela Democracia) e Pátria para Todos;

• MUD (Mesa da Unidade Democrática) – coalizão de partidos opositores na qual se destacam o PJ (Primeiro Justiça), do ex-candidato à presidência Henrique Capriles; AD (Ação Democrática); ABP (Aliança Bravo Povo) e VP (Vontade Popular), movimento fundado pelo líder opositor Leopoldo López, detido desde o ano passado por incitação a protestos violentos e tentativa de golpe.

Maior número de votos X maioria

Na Venezuela, vigora o “sistema eleitoral paralelo”, espécie de sistema eleitoral misto, segundo o qual são realizadas duas eleições simultâneas:

• cargos nominais (em que o eleitor vota diretamente no candidato). Neste sistema serão eleitos 113 cadeiras nas 87 circunscrições eleitorais, que são um conglomerado de municípios e regiões que variam por estado;

• representação proporcional (na qual se vota em deputados em lista fechada pelos partidos). Neste sistema serão eleitos 87 deputados que são repartidos em cotas que variam entre um e três deputados dependendo do estado e são divididos de maneira proporcional entre as listas;

Assim, cada eleitor pode emitir até quatro votos, dependendo de sua circunscrição. Ou seja, pode votar em até dois candidatos nominais e um voto terá que ser dado necessariamente nos deputados da lista de sua preferência. Nas regiões onde são eleitas lideranças indígenas, os eleitores terão que eleger um candidato a mais.

Devido à complexidade do sistema eleitoral do país, a obtenção da maioria dos votos por determinada coalizão não determina o maior número de cadeiras no Congresso.

Em 2010, a oposição conquistou 51% do total de votos nacional, mas obteve representação de 40% da Assembleia Nacional. Isso porque os estados com maior quantidade de eleitores do país (Zulia, Miranda, Carabobo, Lara, Aragua e o Distrito Capital (Caracas) têm 52% dos eleitores e escolhem 64 deputados. Os demais 18 estados, no interior do país e com maioria historicamente chavista, elegem os 101 deputados restantes.

Sistema auditável

O voto na Venezuela é eletrônico e auditável, o que significa que é possível recuperar mecanicamente os votos que são impressos e depositados em uma urna. “Na primeira estação, o eleitor se identifica com sua cédula de identidade e digital. Depois, encontra-se com a máquina. Após escolher seu candidato na tela, confirma o nome no monitor e aperta ‘votar’. A máquina imprimirá o comprovante, o eleitor confirma seu voto e o deposita na urna. Depois assina o caderno de votação e pinta seu dedo mindinho com a tinta indelével”, explicou a vice-presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela, Sandra Oblitas, em entrevista à Comunica Sul em 2013.

Todo esse processo faz com que o sistema eleitoral do país seja avalizado como seguro por observadores internacionais e entidades de monitoramento de eleições como o Instituto Jimmy Carter que, em seu relatório pré-eleitoral para o pleito de outubro de 2012, afirmou que “o sistema de votação da Venezuela é um dos mais conceituados sistemas automatizados do mundo”.

Ainda assim, a oposição tem difundido a possibilidade de fraude entre diversos meios de comunicação internacionais. No encerramento da campanha na última quinta-feira, Lilian Tintori, esposa de Leopoldo López, foi taxativa: “podem acontecer duas coisas em 6 de dezembro: ou ganha a oposição ou houve fraude”.

Pesquisas

Como comprovado nas últimas eleições na América Latina, as pesquisas pré-eleitorais não têm se mostrado precisas. É o que ocorre também historicamente na Venezuela.

Nas últimas semanas, diversas empresas que medem a intenção de voto no país têm divulgado uma vantagem da MUD sobre o Polo Democrático, que oscilaria entre 60% e 40% da preferência dos eleitores, dependendo da empresa, e 30% e 20% para os governistas.

Mas, nos últimos dias, as consultas têm revelado um aumento da popularidade de Maduro, que passou de cerca de 20% para 32% no final de novembro.

Foto: Efe

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