domingo, 10 de janeiro de 2016

Cabo Verde. ECONOMIA NÃO RECUPEROU EM 2015




O início de 2016 trouxe más notícias para a economia do ano anterior. O PIB cresceu, afinal, muito abaixo do projectado e ficou a dever-se, principalmente, ao aumento dos impostos. Desta vez, nem foi necessária a revisão em baixa do FMI, os números foram publicados pelo INE, no seu relatório das Contas Nacionais Trimestrais.

2015 vai registar um crescimento do PIB pouco acima do 1 por cento, no limite inferior da projecção recentemente divulgada pelo Banco de Cabo Verde [Relatório de Política Monetária de Dezembro de 2015] e muito longe da previsão avançada em Outubro do ano passado pelo Fundo Monetário Internacional, 3,5 por cento.

Esta é uma das principais conclusões que se podem tirar da análise das Contas Nacionais Trimestrais publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística no início deste ano. Segundo o documento, depois do crescimento de 1 por cento no primeiro trimestre de 2015, o segundo trimestre ficou-se pelos 0,1 por cento e o terceiro chegou a 1,4. Falta saber o resultado do último trimestre para se fazer a média de crescimento anual do PIB. E este é um aumento que ficará a dever-se, essencialmente, ao crescimento dos impostos, uma vez que o Valor Acrescentado Bruto deve crescer num valor inferior a 0,5 por cento.

Além disso, o crescimento de 1.4 por cento em relação ao trimestre homólogo [ver tabela] pode em grande medida ser atribuído ao efeito base, já que há um ano a evolução fora negativa (- 0.7 por cento). Continua a assistir-se ao crescimento do PIB inferior ao crescimento da população, o que vai originar a descida do PIB per capita.

Afastada fica também a onda de optimismo que varreu o país quando apareceu a projecção do FMI para 2015. Apesar dos 3,5 por cento avançados pelo Fundo Monetário Internacional já se terem repetido noutros anos, acabando sempre por ser revistos em baixa. Desta vez, bastaram as contas do INE para reduzir estas previsões. E há notícias mais pessimistas para 2016: segundo o mapa para o crescimento da economia deste ano, divulgado pelo FMI, Cabo Verde será um dos países abaixo dos 3 por cento (mais uma vez, longe das projecções do próprio FMI em Outubro, que apontavam para os 3,7 por cento).

Cabo Verde e Guiné-Bissau (onde é inclusive previsto um decréscimo da economia) são os únicos países da CEDEAO a figurarem com um crescimento tão baixo. Senegal e Gâmbia deverão crescer em taxas entre 3 e 4,9 por cento. Todos os outros estados membro da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental deverão crescer acima dos 5 por cento.

Produto interno bruto

O Produto Interno Bruto representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um determinado período.

O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia, e tem o objectivo principal de medir a actividade económica de uma região. Na contagem do PIB, considera-se apenas bens e serviços finais, excluindo da conta todos os bens de consumo intermediários [utilizados no processo de produção para serem transformados em bens finais].

Os bens de consumo estão divididos em duradouros, semi-duradouros e não duradouros. Os bens de consumo não duradouros são aqueles feitos para serem consumidos imediatamente, como os alimentos. Os bens de consumo duradouros são aqueles que podem ser utilizados várias vezes durante longos períodos, como um automóvel, e os semi-duradouros são os que se desgastam com o tempo, como calçado, roupas, etc.

Para analisar o comportamento do PIB de um país é preciso diferenciar o PIB nominal do PIB real.

PIB nominal calcula os preços correntes, ou seja, no ano em que o produto foi produzido e comercializado, o PIB real é calculado a preços constantes, onde é escolhido um ano-base para eliminar o efeito da inflação.

O PIB pode ser calculado a partir de três ópticas: despesa, oferta e rendimento. 

Na óptica da despesa, o valor do PIB é calculado a partir das despesas efectuadas pelos diversos agentes económicos em bens e serviços para utilização final, e corresponderá à despesa interna, que inclui a despesa das famílias e do Estado em bens de consumo e a despesa das empresas em investimentos.

Na óptica da oferta, o valor do PIB é calculado a partir do valor gerado em cada uma das empresas que operam na economia.

Já na óptica do rendimento, o valor do PIB é calculado a partir dos rendimentos de factores produtivos distribuídos pelas empresas, ou seja, a soma dos rendimentos do factor trabalho com os rendimentos de outros factores produtivos.

*Com quadro no original

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 736 de 06 de Janeiro de 2016.

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