Bom
dia? Talvez. A anglofonia anda-nos a comer com molho de escabeche retardado. Depois
venham falar da defesa da língua portuguesa. E da lusofonia. Tretas.
Luísa Meireles, do
Expresso, business e estrangeirismos. Pois. E que “não me ocorre melhor título
para resumir a situação”. Eta carago! Provavelmente foi educada na velha Albion
via net e TV. Só isso, coisa de nada. Tão de nada como a língua portuguesa, que
abandalham, em que não aplicam os termos devidos (nem se lembram) recorrendo
aos estrangeirismos. Provincianos do piorio. Assimilados dos estrangeirismos. Portugueses?
Licenciados? Talvez.
Bom
dia? Talvez.
Redação
PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Luísa Meireles - Expresso
Voltámos
ao real business?
Sim,
tem razão quem não gosta, é mesmo mais do que um estrangeirismo, são palavras
estrangeiras. Mas não me ocorre melhor título para resumir a situação que se
instalou no país esta semana. Presidenciais? Já eram. Quer dizer, foram.
No domingo, e ganhou quem se previa que ganhasse. Por aí não há novidades, sem
ser pela curiosidade de, por exemplo, ser hoje que, como manda a tradição das
transições, se realizar o almoço
dos presidentes: o Presidente eleito Marcelo Rebelo de Sousa vai a Belém
partilhar a refeição com o Presidente em exercício, Aníbal Cavaco Silva.
Quem diz almoço diz também jantar: é que o mesmo tradicional encontro entre o Presidente eleito e o Primeiro-ministro também se realiza no mesmo dia, a convite deste. Além do lanche com Ferro Rodrigues, o presidente da Assembleia da República! Esperemos que tudo isto não resulte numa indigestão para Marcelo, que durante duas semanas de campanha se bastou a sandes e sumos.
A verdade é que o "novo tempo", melhor, o "novo ciclo" para não confundir as coisas, está prestes a começar. A contagem decrescente para a tomada de posse do novo Presidente é já ao virar da esquina, a 9 de março. Até lá, Marcelo terá o seu gabinete em Queluz, onde pode começar a preparar sua presidência - outro grande motivo de curiosidade, é verdade, mas que só será saciada ao longo do tempo. As análises das votações e das motivações dos eleitores já esgotaram os leitores.
Deve ser também por isso que voltámos ao business, as usual.E ele chama-se situação económica e financeira, orçamento de Estado, troika, exigências, opiniões e pontos de vista, isto é, a nossa vidinha de todos os dias.
A troika voltou a Lisboa esta semana (parece uma notícia antiga, mas não é) mas o contexto é outro - é a terceira avaliação desde o fim do memorando, a primeira deste novo Governo. A receita, essa, é que parece velha e daí a sensação dedéjà vu. Que quer a troika agora e o que vai encontrar?Catroga até comentou que ela vai ser "meiguinha", e António Costa desvalorizou: "visita de técnicos sem relevância política". Será mesmo? Certo é que o novo Governo reverteu medidas que estavam em vigor (e com o acordo da troika), mas algumas delas também eram temporárias e, por outro, constam dos acordos que sustentam o próprio do Govern. Ou não?
Claro que estamos a falar aqui de políticas económicas diferentes, e esse é o cerne da questão. A Comissão fez saber que manifesta "sérias reservas" sobre o draft do orçamento e escreveu uma carta ao Governo a pedir informações. Quer respostas até sexta-feira, mas adivinha-se que o processo negocial vai ser longo e a pressão grande. Costa diz que tem "bons argumentos", para as dúvidas da Comissão, que não está a falar de cedências, mas o problema é saber se tem força para os impor. Aparentemente, em Bruxelas, o chip não mudou, os técnicos continuam fiéis à linha de sempre, mas os políticos europeus em geral continuam?
A esperança de Costa é o exemplo de outros, já que aComissão Europeia fechou os olhos a Itália e França, que também não reduziram o défice estrutural de acordo com as regras (mas chumbou o espanhol). Mas espreite aqui para ter uma ideia do que está em causa em Portugal, como explica o João Silvestre. O outro João, o Vieira Pereira, está cheio de dúvidas e muito descrente. O editorial do Público também toma posição (a anormalidade dentro da normalidade). E este ponto de vista do Bruno Faria Lopes no Económico é interessante. Ora leia: Costa estica a corda porque pode. Bem como o do André Macedo (DN), que também fala desta negociação.
Internamente, a luta aquece: no Parlamento a esquerda chumbou a audição de Centeno (e não é por medo, diz), mas está garantido que o novo orçamento deverá mesmo entrar em vigor até 1 de abril. Centeno ignora críticas e garante que vai corrigir desequilíbrios do país. A oposição está contra, com a candidata a futura líder do C DS, Assunção Cristas a dizer que "tocou o despertador" para Costa. Ana Catarina Mendes dizia ontem na SIC que este é um orçamento para fazer crescer a economia e criar emprego e, ao mesmo tempo, melhorar as contas públicas, coisa que as agências de rating (sim, nessas ochip não mudou mesmo) não acreditam.
O real business também está ligado com a banca, que foi chamada a Frankfurt pelo Banco Central Europeu, preocupado com várias situações. Curiosamente, o BPI passou de prejuízos a lucros, (e rejeitou proposta de Isabel dos Santos sobre o Banco de Fomento de Angola) enquanto o Santander Totta se queixa que, afinal, o negócio de compra do Banif por 150 milhões não foi assim tão bom - descobriu "situações inesperadas", queixou-se o presidente, o que não impediu o banco de, tal como o BPI, revelar um aumento nos lucros (50,9% em relação ao ano anterior). O ministro Centeno já avisou que quer mudar o sistema de supervisão financeira, ao mesmo tempo que já tem pronta a lista de candidatos paramudar a administração da Caixa Geral de Depósitos.
Quem diz almoço diz também jantar: é que o mesmo tradicional encontro entre o Presidente eleito e o Primeiro-ministro também se realiza no mesmo dia, a convite deste. Além do lanche com Ferro Rodrigues, o presidente da Assembleia da República! Esperemos que tudo isto não resulte numa indigestão para Marcelo, que durante duas semanas de campanha se bastou a sandes e sumos.
A verdade é que o "novo tempo", melhor, o "novo ciclo" para não confundir as coisas, está prestes a começar. A contagem decrescente para a tomada de posse do novo Presidente é já ao virar da esquina, a 9 de março. Até lá, Marcelo terá o seu gabinete em Queluz, onde pode começar a preparar sua presidência - outro grande motivo de curiosidade, é verdade, mas que só será saciada ao longo do tempo. As análises das votações e das motivações dos eleitores já esgotaram os leitores.
Deve ser também por isso que voltámos ao business, as usual.E ele chama-se situação económica e financeira, orçamento de Estado, troika, exigências, opiniões e pontos de vista, isto é, a nossa vidinha de todos os dias.
A troika voltou a Lisboa esta semana (parece uma notícia antiga, mas não é) mas o contexto é outro - é a terceira avaliação desde o fim do memorando, a primeira deste novo Governo. A receita, essa, é que parece velha e daí a sensação dedéjà vu. Que quer a troika agora e o que vai encontrar?Catroga até comentou que ela vai ser "meiguinha", e António Costa desvalorizou: "visita de técnicos sem relevância política". Será mesmo? Certo é que o novo Governo reverteu medidas que estavam em vigor (e com o acordo da troika), mas algumas delas também eram temporárias e, por outro, constam dos acordos que sustentam o próprio do Govern. Ou não?
Claro que estamos a falar aqui de políticas económicas diferentes, e esse é o cerne da questão. A Comissão fez saber que manifesta "sérias reservas" sobre o draft do orçamento e escreveu uma carta ao Governo a pedir informações. Quer respostas até sexta-feira, mas adivinha-se que o processo negocial vai ser longo e a pressão grande. Costa diz que tem "bons argumentos", para as dúvidas da Comissão, que não está a falar de cedências, mas o problema é saber se tem força para os impor. Aparentemente, em Bruxelas, o chip não mudou, os técnicos continuam fiéis à linha de sempre, mas os políticos europeus em geral continuam?
A esperança de Costa é o exemplo de outros, já que aComissão Europeia fechou os olhos a Itália e França, que também não reduziram o défice estrutural de acordo com as regras (mas chumbou o espanhol). Mas espreite aqui para ter uma ideia do que está em causa em Portugal, como explica o João Silvestre. O outro João, o Vieira Pereira, está cheio de dúvidas e muito descrente. O editorial do Público também toma posição (a anormalidade dentro da normalidade). E este ponto de vista do Bruno Faria Lopes no Económico é interessante. Ora leia: Costa estica a corda porque pode. Bem como o do André Macedo (DN), que também fala desta negociação.
Internamente, a luta aquece: no Parlamento a esquerda chumbou a audição de Centeno (e não é por medo, diz), mas está garantido que o novo orçamento deverá mesmo entrar em vigor até 1 de abril. Centeno ignora críticas e garante que vai corrigir desequilíbrios do país. A oposição está contra, com a candidata a futura líder do C DS, Assunção Cristas a dizer que "tocou o despertador" para Costa. Ana Catarina Mendes dizia ontem na SIC que este é um orçamento para fazer crescer a economia e criar emprego e, ao mesmo tempo, melhorar as contas públicas, coisa que as agências de rating (sim, nessas ochip não mudou mesmo) não acreditam.
O real business também está ligado com a banca, que foi chamada a Frankfurt pelo Banco Central Europeu, preocupado com várias situações. Curiosamente, o BPI passou de prejuízos a lucros, (e rejeitou proposta de Isabel dos Santos sobre o Banco de Fomento de Angola) enquanto o Santander Totta se queixa que, afinal, o negócio de compra do Banif por 150 milhões não foi assim tão bom - descobriu "situações inesperadas", queixou-se o presidente, o que não impediu o banco de, tal como o BPI, revelar um aumento nos lucros (50,9% em relação ao ano anterior). O ministro Centeno já avisou que quer mudar o sistema de supervisão financeira, ao mesmo tempo que já tem pronta a lista de candidatos paramudar a administração da Caixa Geral de Depósitos.
OUTRAS NOTÍCIAS
Também as há, mas é preciso procurá-las. Continuamos ainda tão marcados pelo tempo velho que aquilo que faz notícia continua a ser o económico. Como esta, por exemplo, da manutenção da greve da função pública para amanhã pela Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública ( "Os trabalhadores sentem-se revoltados e humilhados", diz a coordenadora Ana Avoila), embora a Fesap (afeta à UGT) a tenha desconvocado. Mesmo assim, espera-se para hoje uma última reunião com o Governo para tentar travar a greve.
E economia continua a ser, embora falando de saúde. O ministro da pasta diz que encontrou um "buraco" de 230 milhões de euros (o anterior ministro, Paulo Macedo, falava de um défice de 30 milhões de euros) mas também que os hospitais vão ter de recrutar mais pessoal para responder ao regresso às 35 horas (mais dinheiro?) mas, para os utentes, há uma boa notícia: os tempos de espera nas urgências passarão a estar on-line em tempo real, de modo a que aqueles possam escolher.
Mas é também no capítulo da saúde que há notícias inquietantes: o vírus zika, que está a alarmar o Brail, chegou a Portugal, com cinco casos confirmados. Ja sabe, o zika pode provocar malformações nos fetos, em particular microcefalias. E é assustador ler este texto da Christiana Martins sobre o que se está a passar no Brasil: "Os médicos nunca viram nada assim, há uma geração comprometida” naquele país, alertam. Assustados ficamos já nós.
E também mal dispostos, se atentarmos nesta outra: Portugal continua sem progressos no Índice de Perceções deCorrupção, segundo revelam os resultados publicados pela Transparency International (uma ONG anticorrupção representada em Portugal pela Transparência e Integridade). Entre os países lusófonos, o Brasil foi o que mais caiu no índice de 2015, mas é Angola o pior colocado. O campeão da transparência é a Dinamarca.
Disse Dinamarca? O tal Estado ao qual nos habituámos a relacionar com bem-estar e boa educação, alto nível não apenas de vida, mas civilizacional? Pois é de lá que vem a mais escandalosa das notícias: o confisco dos bens dos refugiados. Como diz a Atlantic, é um exemplo de como não os receber. ASuécia, entretanto, parece querer seguir-lhe as pisadas: deu ordem de expulsão até 80.000 refugiados, enquanto a Comissão Europeia acusa a Grécia de negligenciar os seus deveres de fronteira (e esta respondeu) e ameaça fechar as fronteiras com este país. O drama dos refugiados está a minar a Europa e dá origem a acontecimentos como este, em Calais, em França, em que migrantes e habitantes locais se envolveram em conflito, obrigando à intervenção do exército. Como escreve o Daniel Ribeiro, em Calais nasce uma "selva-chique", ao lado da "selva-selva". A ministra da Justiça demitiu-se também por causa dos refugiados.
Em Espanha, continua o impasse para a formação de um novo Governo, depois das eleições de dezembro, que deram um resultado de combinações múltiplas mas, até agora, todas impossíveis. Agora, falou o senador Felipe González: “Nem o PP nem o PSOE deveriam impedir que o outro governasse". Faz críticas a um e alerta para os perigos ao outro. A ler.
Vendo o que se está a passar na Europa (e olhe-se para aPolónia, que se está a transformar num Estado nacionalista, anti-ocidental e arquicatólico - e não sou eu que o digo, apenas cito a Der Spiegel), só se pode dar razão ao jornalista Jean Quatremer, o mais bem informado dos correspondentes em Bruxelas (Liberation), que diz que "crise após crise, a Europa mergulha no abismo". A União Europeia passará de 2016?, interroga-se ele. Veremos. O pior é que não é o único a pensar assim.
Nos Estados Unidos, é tempo de começar a pensar nas eleições presidenciais do final do ano. A quatro dias do início da escolha dos candidatos às Presidenciais nos EUA, Hillary Clinton intensifica o apelo ao voto, enquanto o inefável Donald Trump (republicano) boicota o debate televisivo de hoje à noite porque não gosta da moderadora (Megyn Kelly).
Outro dado inquietante diz respeito a um relatório ontem divulgado pela Human Rights Watch, sobre os Direitos Humanos em 2016. Diz: "A Política do Medo Ameaça Direitos": “o medo de ataques terroristas e o fluxo massivo de refugiados estão a levar muitos governos ocidentais a reduzir a proteção dos direitos humanos. Tais medidas retrógradas ameaçam os direitos de todos, sem qualquer demonstração de eficácia em proteger as pessoas comuns". Não conheço melhor expressão para designar o que se vive hoje em tantas partes do mundo, a política do medo. O passado já demonstrou sobejamente ao que ela conduz.
Não menos perturbadores são os dados sobre desigualdades, divulgados pela Oxfam. Bastam estes números para saber de que falamos: Em 2015, apenas 62 indivíduos detinham a mesma riqueza que 3,6 mil milhões de pessoas, a metade mais afetada pela pobreza da humanidade (o link é em inglês, mas tem uma versão em português). Talvez fosse boa altura para a Europa começar a pensar em encetar uma política que leve a acabar com os paraísos fiscais, como sugere este texto do EUobserver.
Será que é por causa disto tudo que essa invenção curiosa chamada Relógio do Apocalipse foi adiantada agora em dois minutos pelos cientistas, ficando a três minutos do fim (23h.57)? Este relógio simbólico pretende indicar que vivemos uma situação tão perigosa como a da Guerra Fria. Doomsday Clock chamam-lhe os britânicos, cuja BBC reporta que o último ano de crise grave foi em 1991. O Telegraph expõe-lhe assim o problema.
FRASES
"2016 é o ano em que a Europa irá navegar em mar alto, contra vagalhões. Esse risco (da desagregação) existe, no Reino Unido (com o Brexit), nos países de leste que fecham frotnerias unilateralmente", Maria João Rodrigues, eurodeputada, à Visão
"Temos de deixar de considerar a Europa como a professora com a caneta vermelha e azul", Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano
"O nosso primeiro-ministro, que perdeu as eleições mas ainda assim ficou primeiro-ministro, esteve a sonhar um sonho cor-de-rosa durante estes dois meses, um cor-de-rosa de tintas bastante carregadas, um cor-de-rosa bastante avermelhado, e neste momento tocou um despertador”, Assunção Cristas, candidata a líder do CDS
O QUE ANDO A LER
Um livro curiosíssimo. Foi publicado há dez anos, mas só em 2015 chegou a Portugal, pela mão da Tinta da China. Chama-se"Terra Nullius, viagem aos antípodas", do latim, terra de ninguém, e faz parte da coleção de viagens da editora.É um mimo e não posso recomendá-lo mais como essencial para os tempos que correm. É sobre a "cultura da segregação", retratada através de uma viagem por esse imenso continente que é a Austrália, onde a Europa cabe inteirinha e ainda sobra. Aprendi imenso sobre esse continente onde os aborígenes foram dizimados porque ocupavam terras cobiçadas, ou simplesmente por puro preconceito. Na transição do século XIX para o século XX, os aborígenes serviram a brilhantes intelectuais europeus, como Engels, Freud, Durkheim ou Kropotkin, cada um no seu ramo, como exemplo no estudo da evolução humana. Nenhum deles, todavia, viu um aborígene na vida e o seu conhecimento baseou-se nas notas de um curioso a quem um clã fez o favor de realizar algumas cerimónias no pátio traseiro de uma estação telegráfica. "O passado não é um lugar tranquilo", escreve Carlos Vaz Marques, coordenador da coleção. Não é, não. Leia, se puder.
E por hoje chegámos ao fim. Mas antes uma advertência. O Expresso Diário (e online) traz-lhe doravante uma novidade: os web vídeos, que denominámos 2:59. Nestes escassos minutos, fenómenos da atualidade, complexos, são explicados com base em estudos e análises quantitativos, de modo a tornarem-se de compreensão simples. O Pedro Santos Guerreiro estreou-se a esclarecer porque é que apesar do petróleo estar barato a gasolina é cara. E vai ficar mais ainda. Esperamos que lhe agrade e, sobretudo, que tire proveito. O saber não ocupa lugar, é certo, só um pouquinho de tempo.
Tenha um bom dia! Amanhã é a vez do Valdemar Cruz lhe servir um cimbalino!
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