José Goulão – Mundo Cão
O
novo governo da Polónia, que a púdica linguagem politicamente correcta dos
meios de “referência” qualifica como “ultraconservador”, decidiu abrir o ano
“curando o país de algumas doenças” através da instauração da censura oficial
nos meios de comunicação públicos. Bruxelas anuncia que vai pensar e debater o
assunto para depois, eventualmente, tomar uma decisão, que daqui a não se sabe
quanto tempo poderá culminar na suspensão do direito de voto do país – ou seja,
tal como na Hungria, a resposta não dará em nada, os intuitos censórios
vencerão.
O
Partido Direito e Justiça (PIS) que governa a Polónia há algumas semanas,
aproveitando o caminho que foi aberto pela cruel política económica da
extrema-direita neoliberal, é, em português comum, um partido fascista entre os
muitos que vão tomando posições governamentais e próximas disso através de toda
a Europa. É um partido semelhante ao Fidesz de Viktor Orban, na Hungria, dito
ultranacionalista ou ultraconservador e que, para encurtar definições e
traduzir a realidade, é simplesmente fascista. Tal como os seus aliados Jobbik,
que praticam o terrorismo através de grupos de assalto organizados à imagem e
semelhança das SA de Hitler.
O
partido governante da Polónia, é certo, não implanta a censura criando uma
equipa de coronéis armados de lápis azuis à maneira do antigamente, por exemplo
em Portugal. O método é mais polido, assente em leis aprovadas pelas
instituições no poder: transforma os meios de comunicação públicos, que são
sociedades de direito comercial controladas pelo Estado, em instituições
“culturais” gerida pelo Conselho Nacional dos Media, a criar. “Será o primeiro
passo para curar o país de algumas doenças”, adverte Jaroslav Kaczinsky, o
chefe do partido.
Uma
dessas doenças, explicada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Witold
Waszcykowski, tem como sintoma o facto de a sociedade polaca caminhar no sentido
“marxista” de “uma nova mistura de raças, um mundo de ciclistas e vegetarianos
que só se interessa por energias renováveis e se opõe a todas as religiões, o
que não tem a ver com as raízes polacas tradicionais”.
A
União Europeia reage prometendo que a 13 de Janeiro iniciará o debate sobre a
aplicação do “mecanismo do Estado Direito” a esta “suposta violação” pela
Polónia, mas conhecendo o que se passou perante a implantação dos mecanismos da
ditadura húngara, nada irá acontecer.
O
Partido Direito e Justiça declara-se “eurocéptico”, mas cumpre papéis
estratégicos que se tornaram fundamentais para a União Europeia no formato
actual: é um aliado fulcral da política alemã, é um dos gendarmes que assegura
a manutenção do regime fascista na Ucrânia, é um ponta de lança insubstituível
nas acções de provocação à Rússia, governa uma grande potência determinante na
transposição dos centros de decisão da União Europeia para Leste, sustenta as
políticas agressivas e de tendência igualmente neofascistas dos países do
Báltico e da Eslováquia. É significativo que o actual presidente do Conselho
Europeu seja Donald Tusk, ex-primeiro ministro polaco e um dos maiores
responsáveis para criação de condições que permitiram a subida dos fascistas ao
poder no seu país.
Enquanto
muitos políticos europeus debatem hoje a maneira de travar o passo à ascensão
fascista de Marine Le Pen em França, o fascismo implanta-se sem restrições no
Leste da Europa, a região onde tem raízes mais profundas e que não foram
extirpadas durante os 70 anos que já passaram sobre o fim da última grande
guerra.
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