sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

POLÓNIA INICIA "TERAPIA PELA CENSURA"



José Goulão – Mundo Cão

O novo governo da Polónia, que a púdica linguagem politicamente correcta dos meios de “referência” qualifica como “ultraconservador”, decidiu abrir o ano “curando o país de algumas doenças” através da instauração da censura oficial nos meios de comunicação públicos. Bruxelas anuncia que vai pensar e debater o assunto para depois, eventualmente, tomar uma decisão, que daqui a não se sabe quanto tempo poderá culminar na suspensão do direito de voto do país – ou seja, tal como na Hungria, a resposta não dará em nada, os intuitos censórios vencerão.

O Partido Direito e Justiça (PIS) que governa a Polónia há algumas semanas, aproveitando o caminho que foi aberto pela cruel política económica da extrema-direita neoliberal, é, em português comum, um partido fascista entre os muitos que vão tomando posições governamentais e próximas disso através de toda a Europa. É um partido semelhante ao Fidesz de Viktor Orban, na Hungria, dito ultranacionalista ou ultraconservador e que, para encurtar definições e traduzir a realidade, é simplesmente fascista. Tal como os seus aliados Jobbik, que praticam o terrorismo através de grupos de assalto organizados à imagem e semelhança das SA de Hitler.

O partido governante da Polónia, é certo, não implanta a censura criando uma equipa de coronéis armados de lápis azuis à maneira do antigamente, por exemplo em Portugal. O método é mais polido, assente em leis aprovadas pelas instituições no poder: transforma os meios de comunicação públicos, que são sociedades de direito comercial controladas pelo Estado, em instituições “culturais” gerida pelo Conselho Nacional dos Media, a criar. “Será o primeiro passo para curar o país de algumas doenças”, adverte Jaroslav Kaczinsky, o chefe do partido.

Uma dessas doenças, explicada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Witold Waszcykowski, tem como sintoma o facto de a sociedade polaca caminhar no sentido “marxista” de “uma nova mistura de raças, um mundo de ciclistas e vegetarianos que só se interessa por energias renováveis e se opõe a todas as religiões, o que não tem a ver com as raízes polacas tradicionais”.

A União Europeia reage prometendo que a 13 de Janeiro iniciará o debate sobre a aplicação do “mecanismo do Estado Direito” a esta “suposta violação” pela Polónia, mas conhecendo o que se passou perante a implantação dos mecanismos da ditadura húngara, nada irá acontecer.

O Partido Direito e Justiça declara-se “eurocéptico”, mas cumpre papéis estratégicos que se tornaram fundamentais para a União Europeia no formato actual: é um aliado fulcral da política alemã, é um dos gendarmes que assegura a manutenção do regime fascista na Ucrânia, é um ponta de lança insubstituível nas acções de provocação à Rússia, governa uma grande potência determinante na transposição dos centros de decisão da União Europeia para Leste, sustenta as políticas agressivas e de tendência igualmente neofascistas dos países do Báltico e da Eslováquia. É significativo que o actual presidente do Conselho Europeu seja Donald Tusk, ex-primeiro ministro polaco e um dos maiores responsáveis para criação de condições que permitiram a subida dos fascistas ao poder no seu país.

Enquanto muitos políticos europeus debatem hoje a maneira de travar o passo à ascensão fascista de Marine Le Pen em França, o fascismo implanta-se sem restrições no Leste da Europa, a região onde tem raízes mais profundas e que não foram extirpadas durante os 70 anos que já passaram sobre o fim da última grande guerra.

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