Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
1
- A contribuinte Maria Luís Albuquerque está desiludida com o Estado português.
No início do ano passado, o Governo PSD/CDS prometeu-lhe, a ela e a todos os
contribuintes, a devolução de uma parte da sobretaxa de IRS, caso as receitas
fiscais superassem as previsões. Mais, criou no Portal das Finanças uma
aplicação através da qual cada contribuinte, incluindo Maria Luís Albuquerque,
poderia saber, a cada mês, quanto é que o Estado lhe devolveria no final do
ano. Maria Luís Albuquerque, como todos os contribuintes, desconfiou de tanta
fartura. Até porque estava bem ciente de que um ano eleitoral propicia
promessas vãs. Mas os meses foram passando e, de cada vez que consultava o
portal, o valor aumentava. Em finais de agosto, uma senhora muito parecida com
Maria Luís Albuquerque, mas no papel de ministra da Finanças, garantia que a
devolução seria de pelo menos 25%. A contribuinte Maria Luís Albuquerque já se
imaginava a comprar um plasma novo para a sala. Em setembro, já dava para
juntar uns sapatos, uma vez que, segundo o portal, já se atingia os 35%. Poucos
dias depois, a nossa contribuinte foi chamada às urnas e nem por um instante
hesitou. O seu voto foi direitinho para o partido daquela ministra simpática
que sabia de Finanças e prometia providenciar o financiamento para um
televisor, uns sapatos e sabe-se lá que outros mimos. Sucede que as eleições
passaram, o PSD e o CDS não conseguiram os votos suficientes para governar e a
devolução foi um ar que lhe deu. De repente, as receitas fiscais vieram por aí abaixo
e acabou-se a festa. No Portal das Finanças o único número visível passou a ser
o zero. E por estes dias lá apareceu a contribuinte Maria Luís Albuquerque na
televisão, lamentando que as suas expectativas tenham sido goradas. Penso que
no meio teatral é mais ou menos a isto que se chama uma farsa.
2
- Os sindicatos da Função Pública afetos à CGTP exigem a reposição do horário
semanal das 35 horas e convocaram uma greve para amanhã. A primeira contra o
novo Governo socialista. O tal que conta, entre outros, com o apoio parlamentar
do PCP. Que não por acaso é o partido de que são militantes muitos dos mais
importantes dirigentes sindicais. Acresce que o PS incluiu no seu programa a
recuperação das 35 horas. E, pasme-se, até já fez aprovar no Parlamento uma
proposta nesse sentido, no que foi acompanhado pelo PCP e pelo BE. Ou seja,
está assegurado que os funcionários públicos voltarão à semana de 35 horas. A
única dúvida é se a coisa se aplica a partir de amanhã, se daqui a uma semana.
E ainda assim haverá greve. É o que se pode chamar uma greve à cautela. Penso
que é a primeira. E, também à cautela, foi marcada para uma sexta-feira. Se é
para perder o salário, ao menos que dê para fim de semana prolongado.
Na
foto: A farsante
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